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k^
ACADEMIA
HUMILDES,
IGNORANTES
NO SITIO DE N. S. DA CONSOLAÇÃO
fua Prote^lora,
Dialogo entre hum Tbeologo , hum Letrado » hum Filofo-
fo , hum Ermitão , hum Eftudante , e hum Soldado ,
Qiie a todos os íeus Anjos , e Santos Advogados ,
efpecialmente a
SANTA MARIA MAGDALENA,
S. JOÃO NEPOMUCENO,
SANTARITA DECASSIA,
SANTO ANTÓNIO DE LISBOA
Dedica feu indigno Patrício
Fr. JOAQUIM DE S7^ RlTA,
A U G US T I N I A N o.
TOMO VIL
^
LISBOA,
Na Officina de MIGUEL MANESCAL DA COSTA,
Impreflbr do Santo Offlcio. Anno lyój.
Com as licenças necefsdrias.
V.7
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Jf'
'-*\ . «
Obra utiliífima para todas as pefloas Ecclefiaf-
tícas, e fcculares, que não tem livrarias próprias^
nem tempo para fe utilizarem dás^grandes públicas,
Summa excellente de toda a Thcojogia Myftica ^
e Moral , Filofofia antiga , e moderna , Mathemati-
ca , Direito Civil , e Canónico , de toda a Medici-
na , fciencias , Artes liberaes , e mecânicas.
Compendio breve de todas as noticias do mun«
do , c foas partes ^ Impérios y Reinos , Cidades ,
VilJas j Cafiellos ^ fabricas , moniimentos , coftu-
mes, ritos, eLeis. Da vida deChrifto Senhor noC-
fo j de fua Mâi Santiílima, de todos os Santos, e
Santas, e Veneráveis mais conhecidos, de todos os
milagres , e finaes prodigiofos , certps , e authenti^
cos. Das vidas de todos os Sumtnos Pontífices ^
Emperadores, Reis, Principes , é peíTcas dignas
de efpecial lembrança defde o principio do mundo
até' a ' preícnte. De roda a Hi^oria Sagrada , Ec-
cleíiaftica, é fecular, com a Chronologia dos tem-
pos. De todas as obras admiráveis da natureza , c
arte, mecànifmós, invenções, artefaftos antigos, c
teoderíios.
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AO LEITOR.
AMIGO. Sempre julguei me nao
íaberias com certeza o nome y que
te encubri nos primeiros féis To-
rnos com as letras D.F.j. CD. RBH, que
nada íignrfícavão, efó me encubriáo , ago-
ra o maior , e mais fuave preceito me obri-
ga a fahír a público, e nelle te digo que
dei principio a efta obra , e por efte já an-
tigo eílylo , por Eurrapelia ^ o mefmo fim
me obriga a continualla , e communicar-te
o muito que vi , li , e ouvi em todas as qua-
tro partem do mundo entre as principaes na-
ções da Europa , Mouros , Grentios , e Bár-
baros. Se me notares erros , avifa-me com
caridade , que me hei de emendar 9^0. hei
de agradecer ; e fe murmurares de hunm
virtude táo própria do meu eílado , Oeds
te ha de caftigar , porque eu amo > e ve-
nero a todos ^ e fendo o peior homem do
mundo > náo fei murmurar.
Vale.
ACA-
(O'
ACADEMIA
HXJMI^LBESí
IGNORANTES.
CONFERENCIAI.
OR A O muitas , e fncceflivas as
defgraças do Rct D. Affonfo Sr-
bid depois daquella horrível tem*
pejlade, caftigo dabLasfemia, qtti
proferira. Lerantáráo-íe contra él-
le os Reis Mouros j e feiídatarios
dé Granada', JVÍurcia, eXerês-coM
- 1^ j ( .;;.! ■ fiados .nos Reis de .Marrocos f».;ft
Tunes.^ dccjíiein útAv.çrío- v4fi)llos/èpara'itieltvíf
ekito^a-to mfidelidadè> ájnftá^So «ronn o9.Maur«9
de Sevilha , icuide oRei eftavá a»bUcandD'a.Crl)]!f»f
. GCíím. VIL A da '
{■> )
'3a ps^ Í"gáerTa , 4tfé o matalTem argtjn^s nó AT?f-'
çar y nome Arábigo j que fignificaya Palácio fortifi-
cado, e delicioso, eoofa introduzida pelos Mouros j
na Hefpanha para defeza dos Reis , e confetrida;)
tpelos Catholicos com o roefmo fim. Eriton D. Af-
Ifpofo niiiagrofamente efte perigo com a jonrtda ,
■ qae fez a Caftella no ipefmo tempo , e os Mooroa»
'tcftretanro deftrtiírão, efaqueárâo o melhor d»q«el-'
la fértil Província , que fe refiaurou com rios de
fanguetia campanfaa f^guinté*, at^ual finalizou per-
doantlo a vida-aHudicrRei deMurcia, cuja coroa
fe deo a Mahomad , .deixando-lhe fó rendas para
Tiver com decência. Edificou D. ASbnff^ alguns Caí^
tellos, e^-Praçasiias.Tijlinhanças ddMurciafpartfuR
maitír deftza : *èfcurfeceo todo o donceitO graríde^
qne deite fe fazia j faltando ao juramento , e ajufles
com o Rei Mouro "de Granada , contra :quem aju-
dou occiíltamente dsMburos de Cíuadix , e Mála-
ga. Queíxpu-/e-UiepeffoalAKnteoR.ei^JN^uro, que
defpedio cbíeíico', t etíé tíedíndo juftiçaf « Deos fe
recolheo efcandalizado. No caminlio o hnlpedárão
vários Grandes de Caftella , efpeciálqíêpte ÇJ^ Níj-
no Gonfálvesde Laraj cafa, que lov fejDpre vivei-
ro de traidores , «infames naHefpanha, qnc; o pcni--
fuadírão a fazer guerra aoRfei D-Afòufo, t}eqi|etn
eftavão efcandalizados já pelos graAJcs tribitroé^s
já pela Real prodigalidade , com t[Lic deo a Dona
Martha fna prima, rtiulher do EmpewJor de, Con-i
ftantinopia Balduina, ilepofto por Paleologo, e ca-
tivo do Sultão do Egypto , ttinta mil marcos de
prata para re%atalIo. Celebrou- o Rei com grande
jttbilo a Mifia nova;do Infante. D. Sancho de Ara-
($)
^o 9 filho do Rei D. Jaime , eleito Ârcebifpo de
Toledo , e as bodas de feu filho D. Fernando com
Dona Branca , filha de S. Luiz Rei de França , a
que fe fegoio o luto pela morte do Principe Con-
ndino ^ chamado Rei de Nápoles y degollado em
Praça pública y e o levantamento dos Grandes de
Caftelia com o titulo de não poderem tolerar o tri-
boco da Âlcavala. Com futnma brandura , indigna
da Mageftade j tolerou D» ÂiFonfo efta oufadia , po<»
dendo evitar logo todas as deígraças alturas , cor<^
«ando-lhes juftamente as cabeças^ Mandou-lhes Em<>
faaixadores , celebrou Cortes , e nada bailou para
iocegalios^ antes perdido o norte da fidelidade, fe
precipitarão no abyfmo de convidarem Aben Jo-
áephyEmperador de Marrocos, concra o feu natn*
ral fenhor.. Entáo fe vio Hiefpanha na ultima def*
graça ; e temendo-a os mefmos , que forâo caufa
ella y morreo o traidor Nuno de Lara em huma
batalha y onde os Mouros lhe cortáráo a cabeça y
que o Emperador de Marrocos mandoa em huma
lança io Rei de Granada^ que íentido de ver mor-
ara o bemfeitor, a quem devia a Coroa y a mandou
Qoxn decência a Córdova y para que os Catholicos
« enterraflem com o corpo. O Infante Ârcebifpo
ée Toledo y leal , mas pouco experimentado y fem
^fperat. o General D. Lopo de Haro , fahio a de-
fender aquelle Reino y e fendo cativo pelos Mou*
ro^ no primeiro encontro y e queftionando muitos
die quembavía de fer.prizioneiro 5 Atarfeiíhorde
^aiaga omatou^dehumacftooadá, cujo corpo com
A cabeça y 4i niSofeparadas.refgatou D.. Lopo de*
fmi por muita oura Morreo nefie tempo cm Villa«>
.' . : A ii Real
(4;)
Real o Príncipe D. Fernando , deixando dous fi«
lhos y D. Sancho ^ e D. Fernando de Lacerda , aos
quaes tirou logo a Coroa, que lhes competia , íea
tio D. Sancho y filho iegundo de D. Afibnfo ^ que
fendo vivo feu pai y lhe tomou o governo j dizendo
eftava incapaz para iíTo , fez liga com os defcon-
tentes , perfeguio os Mouros com notável deftreza y
e na Hefpanha certamente nova , porque evitando
batalhas, guarnecendo Praças , tomando-lhes os vi*
veres y e derrotando os foccorros ^ lhes fez abater
o orgulho em breves tempos. A Rainha Dona Vio-
lante juftamente fentida de que feu marido confen-
tiíTe foíTe jurado fucceíTor do Reino D.Sancho em
prejuizo de feus netos, a quem fó pertencia o Rei-
no , fe retirou com elles para Aragão. Intentarão
os Reis vizinhos decidir efta fucceí^ão , juntando-
fe com D. Afibnfo , mas D. Sancho os imppdio
fempre ; e conftando-lhe que feu pai convocava
Cortes geraes em Toledo, celebrou outras com os
feus parciaes em Valhadolid , onde por fentença
pública , e a mais iniqua , privou' a íeu pai D. Af-
fonfo do governo, deixando- lhe fò o titulo de Rei ^
que lhe ofiereciáo também os infames parciaes , e
não aceitou para melhor fe defender dos que. jufta-
mente lhe eftranhaváo efta; acção. D» Afibníb def^
amparado de todos fe valeo do Emperador de Mar-
rocos , a quem ( dizem os Hefpanhoes ) mandou a
fua coroa, alfaia de extraordinário preço, e incom-
parável eftimaçãp y ém penhor da ina. amizade. Veio
com eâFeíto o Mouro foccorrello: contra o filh^;
mas tão vil, e traidor, qne intentou prender o Rei
D. Affòofo 9 o qual aviíado fe retirou para Sevilha^
i ;: e em
(V)
€ emTiuma íolémne Janta , celebrada a 8 de Nof-
vembro de 1283 , com palavras horrorolas amaldi**
coou poblicamente a feu filho D. Sancho , o qnal
defprezando tudo , perfeguio com tal furor o pai-,
ifiie o neçeffitou a pedir foccorro fegunda vez ao
Empérador de Marrocos , logo ao Rei de Françaj,
e ultimamente ao Papa y que nada pode confeguir
com admoeftaçôes, e Legados 9 e acabou efta (cena
morrendo D. ÂfFonío em Sevilha aos 21 de Abril
de 1284. Ná hora da môfte renovou a maldição %
fea filho D. Sancho , e a Rainha Dona Violante
com fingular cuidado pagou as fuás muitas, e gran-
des dívidas logo. Dezenove annos de idade tinha
D.Sancho, por antonomafia o Bravo, quando duas
vezes amaldiçoado por feu pai lhe fnccedeo injufta^
mente no throno : foi o quarto defte nome , e ftf-
kagefimo quinto na Coroa principal de Hefpanha^
hum dos mais aborrecidos , que reinarão nella , €
que melhor foube fuftentar-fe no throno , que ufur-
pára. Os Reis de França embaraçados com agueii*
ra de Siciiia nâo pudérao introduzir á força de at^
imas em CaUelIa feu neto D. Afibnfo de Lacerda ,
fobrenome , que lhe grangeou o defeito , com qut
nafceo cuberto todo ae pello afpero, aque osHef^
panhoes chamão cerda. Quatro mil Cavalleiros prin^
cipaes em Badajoz , e quatrocentos em Talaveira j
Villa principal <le Toledo , açclamárão o verdadei^
ro Rei , e fucceíFor legitimo D. Afibnfo ; porém
D. Sancho , aue eftava cora fuperior partido , íct
degollar a tdaos , e feitois ein* 'qiiartoâ os niandoè
)>enddrarnos lugares mais públicos de todo orK^
no 4 borroroíb éipcâ:aculo ^ q«e inhindk) 'enir todcÃ
Tom. VII. A iii per.
perpetuo fileocio.- Os Inf«Qtes deshérdados ficarão
com algumas Villas por mercê , e D« Sancho feu
tio com a Coroa em paz j que lhe perturbarão os
Mouros com a^umas entradas j e efpecialmente
com o íitio de Tarifa , a quem governava D. A&
fonfo de Gufmão , Var^o deetema memoria nas
Hiftorias de Hefpanha ; porque cativando-lhe os
Mouros hum filho em huma efcaramuça , e moí»
trando-lho prezo y dizendo ^ que fe não entregava
,â Praça ^ lhe tirariâo a vida , refpondeo da mura-
lha y que mil deixaria degollar para a defender ; e
lançando fobre os efquadrôes huma catana , diflct
que fe não tinháo com que lhe cortar a cabeça y allí
lha ofierecia. Daqui foi fentaríe á meza com íua
mulher, ç. ouvindo hqm eftrondo na muralha , acu-
dio comendo, edizendo-lhe erâo lagrimas dos foi*
dados , porque eftavão os Mouros dégollando feu
filho , refpondeo : Cuidei que era outra coufa ; e fem
o menor çoçobro fe reítituio á meza íem commu*
iiicar a fua mulher coufa alguma. Levantarão p$
Mouros o fitio j em que fe achou o Emperador de
^arrocos com todo o feu poder : pouco depois
morreo D. Sancho , deixando a Coroa a feu filho
D. Fernando, Nefte meio tempo o Rei de Aragão
.concluio a defejada paz com França , fendo media-
neiro o Papa j e os Sicilianos vendo*fe defampara*
dos de D. Jaime Rei de Aragão , e temendo cahir
putra vez nas mãos dos Francezes bem lembrados
^as vefperas Sicilianas, elçgêrão por feq Rei a D.
Jpradique., irmão do Rei D. Jaltne , o qual fuften-^
tou aÇojroa cpntra todas as forças, edeftrezas de
França^ Morreo D. Sancho no^smnp de 129$;, ten*
do
do reinado onze aonos , e quatroí dias \ deixou ích
£iho na idade de dez annos y nomeou por Tutora
delle a Rainha , e muito contra fua vontade , em
íegundo lugar D. João de Lara ^ a quem pertendeô
obcigarr com efta honra , para que.nãa pçrturba0^
ã Monarquia ; mas como efta lhe tinha tiaio^^ e ellc
era executor do novo tributo da Siza j que inftituí*
ra D. Sancho , os povos capitaneados de dtaimos
orgulhofos defprezárâo as ordens , tomáráo as ar-
mais , e commettêrâo os maiores infultos nas vidas ^
honras , e fazendas dos que não queriâo íeguir o
levantamento. A provei tárâo*fe da occaíiáo os In«
fantes de Lacerda amparados dos Reis de Aragão j
e Portugal com o Infante D. João y irmão de D.
Sancho defunto ^ e o exercito defta liga tomou aU
Í rumas Praças , deftruio muitas j e a Kaiqha com
eu filho fe vio reduzida ao ultimo perigo ^ fendei
lhe neceflario íuftentar guerra contra o exercito d4
liga , e a Cafa de Lara. Houve vaíTalio tão infamo
traidor, que para tirar a Coroa ao menino perten-
deô par? mulher a mãi , dizendo-lhe, que f6 tendi)
p}ãrí(jto poderia confervar o filho ; * mas eUa coiq
Real , e memorável exemplo lhe refpondeo , que
mulheres da fua qualidade cafavão huma fó vez pa*
ra confervação das Monarquias , e que Deos er^
Pai y e Efpofo. das viuvas oaftas. ^cn o e^cperi^
mentpu y porque ofiFerecendo fua filha Qona Beatriz
ao Rei de Portugal , e pedindo Dona Confiai^
Infanta noíF^ para feu filho , fe desfez a jiga ; po^
rém o Rei de Aragão, que tinha nelle outro inte-
^eiie maiprvintroduzio D. Aflbnfo de Lacerda no
Reino [deMurcia, onde foi acdamado, e em agrar
de-
deciinentó 46 ò ekvdr po throao por alguns àitsj
lhe cedeo logo muitas Praças y qu€ o Rei de Âra«-
fâo pertendia. Finalizou efta Comedia , nomean*
lo-fe poif árbitros da luccefsão de Hefpanha os
Reiá^de Árag;S(o ^ e Portugal , que declararão ver^*»
diádeiro ilbcceâbr D. Fernando j obrigarão a D. Âf-
fbnfo de Lacerda renunciafle o direito , que tinha
á Goftka'^ e para íe manter com decoro, e grande^
sa de Infante , e feu irmão lhe nomeárSo algumas
Praças I e terras , que elle ao principio defprezou ;
Dias vendo-fe em fumma pobre» , mandou tomar
poíTe delias , que' todas hoje compõem o Ducado
dê Medina Coeli em feus defcendentes. Unírâo-fe
logo os Reis contra os Mouros j que vencerão em
duas batalhas , mas nem õ de AragSo pode con*-
ãuiftar Almeria , nem o de Caftella Algezira, e fó
epois tomou Gibraltar , Praça em todos os feculos
importantiíEma« Morreo D. Fernando de repente
em Jaen , tendo vinte e quatro annos , e nove roe-
zes de idade, quatònse^e alguns dias de reinado:
foi dèpoíitado o feu cadáver em Córdova , porque
âs calmas do mez de Setembro , em que faleceo ,
tiâo permittírâo conduzillo a Sevilha : deixou Co-
roa a feu filho D. Afibnfo , que tinha de idade
hum anno , e vinte e féis dias. Em quanto durou a
xtienoridadé do Rei D. Affonfo XI y e Rei ièxage-
fimo fetimo , padedép JGaftella os maiores traba-
lhos, guerras Civis, eínfultos, que deCde afua ref-
tauraçSo tinha experimentado ^ fendo a origem de
tudo a ambição de creaí o Rei para governar o
Reino. Chamo^lhe Affotifo undécimo na opinião
daqu^llfes > qti« numerãõ D; Affottifo Rei de Ara-
gão ,
(9)
gao ;, que hullamente- caíóu com Dona Urraca 1, €
lhe chamâo D. AâFonfo fetinio , fe* bem outros ò
não contao^ e lhe chámáo undécimo ^le no numero
dos Reis fexagefimo oitaroi ; e como efte he o ulr
timo dos Âffonfos ^ que reinarão em Caftella^ e t
matéria curiofa , antes de lhe contar a Tida ajuftaf
rei o feu numero , conforme a opinião dos Hiíliài»
riadores , que merecem nefta. matéria efpecial credi«
to. Na Monarquia dos Godos o primeiro foi Ata*
ulfo , 2. Sigerico, 5. Walia , 4. Theodoredo , 5í..Ttt*
rifmundo , 6. Theodoríco ^ 7. Eurico/ S^LÀlarico^
9* Gezaleico , lo. Amalarico y ti^ Theudio 9 12.
Theudifelo, 13. Agila, 14. Athanagildo^ i5'..Liur
va, ló. Leovigildo, 17. Recaredo^ 18. Liuva fe-
Êundo 9 19. Viâerico , 20. Gundemaro , 21» Sizet
uto , 22. Recaredo fecundo , 23. Suinthilá 9.24^
Sizenando, 25*. Chintila, 26.Tulga9 27. ChindaÃ-
vintho:, 28é Reccefvintho", 2:9. Wamba , 30. Flá-
vio E^vigio y 31. Egica y 32. Witiza, 33..D« Ro-
drigo, ultimo RéiGodo, 34. D.Peiaio^ ^fvD.Far
vila, 3^; D. Afibnfo L chamado o Cdtbolic0v3:7f
D. Froila , 38, D. Aurélio ^ 39. D* Silo ,' 40. Pj.
Miuregato , 41. D.Bermudo chamado o Diac^n^^
42. EX Aâbnfo IL chamado o Gafto, 434 D.; Ra-
miro L 44* DwOrdonhoL 4$i« D. Aifonío: III chy
mado o Grande , 46. D. Garcia y 47; D. Ordbnbò ÍU
48* D. Hroila 11. chamado o Cruel j ou Leprofp,
49, D.:Afe>nfo lY, chamado o Monge, ^5> d. D. Rar
miro 11. $':x^;D. Ordonho HL 5:2^ D» Sancho t
chamado oGojrda> s^rOiR^miroIIL 4'4* tXBerr
jnudaiU^ châmiido o'Gdtk>ro.,. jy. £); Afibnío V>
56»D.Beriin)ãoIIL S7»Oi Femando:.!. chaina^^
o Gran*
(IO)
f> Grande-, 5*8. D. Sancho IL $?• I^« Affonfo VL
^o. D. Afonfo (aqai he a diícordia nos Hiftoria-
dores fobre nuroecar D. £Fonfo de Aragão , que
nem ibi , nem podia fen Rei , pelo que fem o con*
tarmos no numero dos Reis, o incluímos, como fi-
«eráo ^k melhores , no numero dos Afibnfos , e a
efte j cpaé foi o herdeiro da Coroa , e a poíTuio ,
chamaremos) Ylii. 6j. D« Sancho HL oDefejado,
^2. O. Afbofo IX. 63. 0« Henrique I. 64. D. Fer-
nando IL o Sanca 6f.:D* AfiFoníoX. o Sabio, 66.
j3^Sancho IV. ò Bravo, ^7%^ Dr Fernando liL 68;,
D; AâSkiib XL a quem outros chamão fexageíimo
íecimo^, co&io:en ag6ra difle , porque náo querem
numerar D; Sancho !¥« o Bravo , que tyrannizou
o Rtino ^ fcus fclbrmhos iegirímos herdeiros , 69*
D. Pedro oGrúel, 70; D. Henrique IL 71. D João L
71. D. Henrique III. chamado o Doente , 7^. D.
Joáo IL 74- D- Henrique IV. 75:. Dl Fernando V*
76. IX Fiiippe L (efta he jfegunda diícordia ^^ porq-
ue v&o ohftabte íer elle iicciamadò , e reconhecia
, muitos chamão {eptuageCmafexta 'a Carlos I;
que no Imperiokle. Alemanha foi CarIo$ V.) ??• Cár-
Jôs* L 78i JFiiippe IL 79^ FiiippelIL . 80. Fiiippe IV.
«1. Gàrlos IL 8^. Fiiippe V^ 83. Fernando VL
-^4. Cat-Ios IIL qtiè hojcirelna.' Efte he^ o áielhor
modo db hotAer^v os^^ReW^ dé Heíjpanha >, entiíe/ os
quaes diíemos âgorW fei D. Aâbníci XI. fexageíimo
Ditava •Emqiiamio pois *daroa a fua menoridade,
e depois de Aiuitas akerau^Ôes , e dlIputas.,^OTèr*
TTárâo â MDnáéqain^oài »^nm locego Jua 'avá Db^
nti Marié^, Dt Joíor,'ít ©.* Pedro ^ tios pateraos*,
W 46MS iúMtí» i tettHia^infeliz . eaqpeâiçlo .^oitra ^os
-i*^i?. xi Mou-
z
( ti )
Mouros > na (pai morrêcáo ambo$% Entiáâò no
governo o Infante DéFilíppe ^ tio doReiyiX Joâò
Manoel , e D. João Seohar: âe: Bifaria ; pobém uefta
mtiltidáo de cabeças excttoitjiónras ^/c-tniaiòres di&
cordiasy qiie durarão ainda uiepobai c|u6:EX ÃflFoníb
entrou no governo.^ porque íendo efte o meio pam
o fócego publico, o Rei o perturbou, convidando
a . D. João Conde de Goipofcòa para bma ban^iifiK
te> no qual lhe tirarão a vidada foldados dalguar*
da. Abominarão oá Grandes^efta acção, e parecem
do-lhes fora aconfelhada por Do^ Alvará ^noes
Oibrio , Qu por hum Judeo chamado Jòfé , a quem
^CtoiyC^o Biéi .rooftravaoi grapde affeApí, matárââ
am22Qs;;,ier£esrta^;p!roceflò depois/ de -mqrtos ^flbe»
cDnfifc4rãairD9JÍiens..Acahádia jcfta (perturbação V^UÊf
os CaftélhánosLGontão com muita íincerídade:r,*i€S
o Rei Jíiga' comPdrtUgal ^^ eAragãa contra 09 Mouk
ro3> íi dos. quaes^^alcátaçon ^uma vdâoria^ c Blcatiç*i
ríaiíinuicástv fe nãoiimsffe a miltxia de <fc «atregatf
aod.ambres de Doba Leonor )d6 Gufmao/:,:fianhor«
ricay i)h]ft^, vinvarde D. Joaoide Velafco , ^aquiA
teve o (Reii dez £ttios ',' idos quaeâ. ífeCcendem jnobk
liffinbas iCafás iia:He(paDfaa; EntmtarHo oJBLei^do
Grimadai/íocGÒEtidbípDK. Aboaqeiiqtte *y fiíhojdp GLc3
de MárirocoEs ^ reftaurouiimiito^ do.que. tinbâ perdik
do , tomou Gnardamar , e Algezira , e faqueou o
tenno^ de^'€cffdwj.***xmfliiou^iififlii*Hic"&,"A'flwf*
fo , porém. jiefertái;âo t;antos Cavalheiros ^^ foJiía=
dos ' áp ;eiôékit0 V^'^icjí; ncHe ; tâf ff é)mç\^tt^ liU
k aTtevèo*'á^ffrefetitâfi-'ftatâlha , kntes fci liiiína paz
com os Mouros pouco honrada; Tudo.' ifto canfá-
rão os defcuidos do Rei no caftigo dos íiiblevados ,
e rc-
e rebeldes ; porédi elle conheceiido o erro , man-
dou cortar a cabeça a D. João de Haro, tomou os
eftados dos Laras, antiga pefte, e Temente de trai-
dores, defterrou muitos Grandes , e fubjugou a to-
dos. Náo ceísárão'poréi!Í os íeus trabalhos, edef-
goâos, efpecialmenee depois dehuma completa ri-
âoría naval , que os Mouros alcançarão dos Hef-
panhoes , .com a qual ameaçarão aChrifiandade pa-
ra a iiltima.raína. Por canfellio dos mais pruden-
tes j e leaes vàflallos fe únio o Rei com os de Por-
tugal, e Aragão, todos, e osGenovezes formarão
nova armada, e juntarão o maior exercito , que lhes
foi poíEvel :,^ com o! qual buícárSo. o dds Mouros,
que fe compunha de i^uméravelr g^nte,-.£ cercava
Tarifa. O intento dos Gatholicos^ ei'a obrigallos a
batalha campal, e os Mouros conhecendo a necef-
fidade, em que os havião depor dú aaceitar', quei-*
márão todas as maquinas , e uiftrumentos , còm que
expugnavãò os moros^ c pnzcrão o arraial no^fitia
mais eminente ,^è fegnro. No .diá 30 de^Onaibro
de 1340 fe confefsáráO', e cònunnngárão píiblifca-
mente os trcz Reis , exemplo ,xjue feguírâò todos
os Gabos , c a^ maior partb dos.íoldados , e feito
final i coníeçáráp^ a:paflFlf o^rio Salado. , que divi-
dia.os dous exercit09>,'íe'deo'nome a efta> batalha.
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„ o A , Na. Offiçlna ,dc; J^iguel Manefcal da
Coiia i ígipreíÇar da S. . 0|G[cio. Ánijò 1763.
• I Com todas as licenças necejfarias.
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CONFERENCIA H.
Overaayáo a vanguarda D.Joâprde Lara>
c D. João Manoel novamente admittidoâ
á graça do Rei D. Afibnfo por empenhos
de íea fogro Rei de Portugal. Eftes. tanto
cfue^chegácáo ao no , e encontrarão os iGavalIeiroci
Moiiros ^ t}ueLdffputavao dp^ flof Czcrão^aito f e tot
âo. o exercito Cá tholico^^jingoa;: que eftavão nova?
mente conjurados , e qneriáó entregar os trez Reis.|
e exércitos aos Mouros , de forte que os dous irmãos
D. Gonfaio La^To ^ e;.D; Garcia iLaíTo tomarão d
pQOtCk^iederâOkjpriocipio á^batalha^ èmr.que morrêt
rgo-duz^DtSos mH Mouros^ fkiárâo innuoieraveís c«%
tivQ5€om precicifos defpojos ^ e fó perderão as vi-^
das.viotcCathoUcos^ prodigio muito femelhanto
ao 4as:Navas .de Toloía^ A armada não fez acçã<^
algwna ^ porque os Artoopeoes medrofos riÍo levá-»
X^" as) ancoras V9 gaftando^ ò tempo em fingidas dirr
ifgencías. Mandou o Rer D. Affonfo a Roma D^
João Martins de Leiva por Embaixador ao PapafJ
que havia concedido a Cruzada para efta guerra 9 e
entre muitas poufas , de que conftava b;pre(ente^
lhe maqdott cem cavallos dos Mouros com cem al^r
fanges , ecem adargas penduradas nos arções das
feias , vinte e quatro bandeiras dos mefmos, o.ef-í
tendarteReal de D. AfFonfo^ ocavallo, em que en«
troa 71a piel^ija j e. outras couías efpeciaes ^ que fc
tomarão heila. iotentõu.o Reircontinuar a guerra)
^ apròyptar-fe daJEuga,' que V:argoa3iofatbeote í^tsh
Tom: VIL B ^x^-
a
( u )
prehendeo logo o Rei de Marrocos j temendo que
feu filtoen^ Afrrca tbe aflirt^ílb Rçfticf, fabendo
ue fora vetTcído , porém' éftava Caftella exbauíta
e dinheiros , e também de viveres j de forte que não
pode compIetirCàei&unm das mnjftasenmrèzfs^^jtiç
ideava. Seguiorfe lo^F^e, que aflijo todaKel^i
Sanha y e acabou adillei D. Afibnfo i vida a a6 <Íé
larço dt 1350 na idade dé trinta e oito aimos , féis
mezed , e vinte e trez dias. Eftava cercaadpGibral^
tar, quando morrep '^ pipio que fe kvantoa o fitio y -
eo eserd to acompanhou até Se^ifaía" o corpo j c co^
meçoli logo a gemer o Reino , temendo o génio af-
pêro de íeu filho, efucceíTor D.Pedro. No feu rei-
nado dizem' huos tivertf fMrincipio ,' outros que (é
renovara a antiga ) e cândida- xeretiKxita ddimitait
os Condes 9mCaftelIá# Biti>huíii vofo oheio de^vi*
nlio em lugar ;pubiico lançava o Rei trez ptdaçòa
depáo, eeraindo bem eníopados, tirava cooiaiâtò
hum 5 e o offerecia ao Conde novo y dizendo: tinud
Gi9fri?.Efte Tem aceitar 9 tirara outra fopa coifi fl
mão , ea òíFerecia ao Rei j dizendo zTmalReii lift^
Vezes íaziâo reciprdcambtice^efta offert á , até que O
Rei aceitava a fopa , e a comia , e logo o' Conde a
outra f ao que fe feguiâo as vozes do povo : Fiva ê
Rti , vivãio Gmde j Imitia o Cêndei Àb de Tra(-«
tâmara concedeo o Rei D. Affbnfo ter tK^ eterckó
caldeira i e cozinha feparada, e particular bandeira^
Fundou a Ordem da Monteza fujeita á de Càlatra*
va 9 cujo habito foi* himia Cruz encarnada fimples
em manto branco , e tomou o norpe da Villa àe Mot\^
teza ^ onde teve priácipio. Também fundou a Or«-
dem , e Gavallaría) da Banda, de que foi pt^imeiro
- / 'Grão
í ^s ))
GrâoMfcftre: entravia.ne&i £5 Fidalgos 7 e i^obres^
qac tinhao fervido dez annos na guerra^ ou no Pa^
ço. A fua iníignia era huma banda carn)ezim da lar-
gara^ de quatro dedos , lançada do hombro direito
para o Jado efquerdo com borlas y e ornato , cOmò.
hcge usâo entre nós os Gabos da milicia , quando
eftâo em adbxal exercício dopòfto j huma rede de re»-
troz encarnado j ufo , qne muitos querem tivefle prin-
cipio nefta Ordem da Banda, contra a melhor opinião
dos que aflentão ier muito , e muito mais aotigo éP*
te ufo entre os militares:, c nos torneios, e Juftas^
com divérfas cotes em humas , e outras funções^, don-
de nafceó pintarem nos efcudos huma , ou muitas
bandas, de que ufárâo nas divérfas batalhas, em qne
vencera , ou juftas ,' e torneios , em que forâo pre^
miadoSé D. Pedro Rei de Aragão em lugar da guer-
ra contra os infiéis tomou os Eftados a feu fobri-
nho Rei deMalhorca, inreíHdnra, que lhe dera fea
avÔL D. Jaime primeiro. O Emperador Andronico
chamou os Catalães para o defenderem , e a Conf^
tantinopla dos Turcos, o que fizerâo quatro mil in^
fantes, e quinhentos decavallo , que na primeira ba-
talha degollárão quinze milTurcos. A remuneração
foi matarem os Gregos aleirofamente aRiigier Ge<-
neral dos Catalães na Corte , e cercarem GallipoU
para extinguirem os mais, qne em duas batalhas ma^
tárão vinte e íeis mil Gregos^ a quem foccorrêrão os
Genorezes , e depois de queimarem a armada dè
Catalunha , fizerão prizioneiro a BerencueLEnten-»
fa , fucceflbr de Rugier/ Confenr4rão< !os Heípa*
nhoes defd^ o Gentilifmo a ridicularta ., p fuperftj^
ção dos^agonrqs y e vendd^iqi)eDé Pedro tomavd
-í. :-i B ii pof*
poflTé da Bleinó eiií tentpbxriclco^ara os .Cataláéè
ao Oficnte i^jalgárâo todos qàe feria iníeliciíSma^
mas não adirinhárão qíieelles igualmente o haviâo
rde fen Ficou em GalUpoli fubftituto de Berenguel
.Eatenfa o memorável Capitão 'Roberto de Roca-*
fort , o. qual vingou a prisão dó feu General ^de-
joilando muitos mil Gregos^ éGenoNrezes, até que
[oito Berenguel j veio a Catalunha y vendeo os feus
Eftados , juntou novo exercito , com que paflbu a
-Grécia^ e defunindo^fe defeu amigo ^ e companhei*
ro Rocafort y lhe preíentou batalha y em que foi
morto. Seguio-fe numa horrível guerra entre os
Catalães dos dous partidos, e Rocafort depois de
vencer algumas vezes os feus contrários y foi pre-
zo , e conduzido a Itália , ondt acabou a vida. Fi-
carão muitos Catalães valerofos em Grécia , 08
quaes y perdido o amor da pátria com o defejo da
honra y conquiftárão Áthenas y e outras Cidades ^
que offerecêrão a D. Fradique Rei de Sicilia com
o titulo de Ducado y efte lhes mandou Governado-
res para as Cidades , e Capitães para a guerra ., c
daqui nafceo chamarem-fe os Reis de Hefpanha
Duques de Athenas, eNeopatria depois que íbrão
fenhores de Aragão, e Sicilia. Quinze annos^.e fe-
te mezcs tinha D. Pedro , quando tomou o fceptro
de Caftella ; e fuccedendo pouco^ depois adoecer
tão gravemente y que os Médicos defconfiárão da
fua vida y os Grandes do Reino fizerão algumas
juntas , em que fe queftionou quem lhe havia de
fucceder. Recuperou a. faude D. Pedro , e conftan-
do-lhe o que os Grandes tinhão feito y e que íe fal-
lára em feiis irmãos > filhos de feju-pai y e de Dona
( Leo-
(«7)
Bedmír .Nanes: de GttfmMo^i a mandúti prender ^ é
depois matar ^è o mefmo fez a todos os Grandes ^
que lhe nâa pudérâo fugir , e a feus irmãos , e fi-
Uios de Doea Leonor U.:João Nunes, Grão Mef-^
tce-de Calatrava , e D/sFrádique , Grão Meftre de
Saot^Iago.:) Entregourfe tfcaodalofamente^aos amo*
res- de Done Maria de Padilba còm tal ezceíTo , que
ehegando^lhe:dÊíFjraoçji..íiia efpofa Dona Branca ,
£Df So néceflariãs todas asínftancias dos VarÓes mais
antfaorizadòs:para o obrigar]feni arcohíunmiar úina^
tríoMNiioii^ dft 4Ual fe fet»(à>ii. paffiidos áaui dias^
êi ultimamente annuHou , xomo quiz f para* cafai?
com Dona Joanna de Caftro , viuva de D^ Diogo
deHaro^ que tambiem deixou. em poucos dias. Ta<^
do em Gaftella ;erâolagrimaáI,\fufpiros f e lutos:^
pQrjtjue òs mortósi éfao iúmimcraTeia fem culpa ^
proéeflb ^ nem fentençáv^ de íbrce que até ifaandoa
enforcar hiun menino , quê vendo queriâo matav
fettjpat já velho, innocenteménte diflê queria mor-*
ter.por ellê. Ddafioa.o Rei. de Aragão , porque
poportíDde S..Lticar tomáÉíoduas 0áas da ma froiy
taroatras Girnovezas á tempo f que o Rei, fe diveí^í
tia. vendo. .copejar os aituos.. O Rei de Aragâò quia
Attisfáeelio :^ porém foi tkfprezado;: Dv Ifenríque >
tG. Tella^qiie eíbv^o re&giedos tm^ag^a dei!)
^er« mortetde iua inãí Dona Leonor de Gnfíiiâoq^
cnfcaa irmíoa^derfotárãol^p; exercito dc$ Càftelh^
eò Rot tolericomapdou logo tirar > vida aos ou-f
troa dou»- irmãos feus y e dos iobredi tos ; Infantes ;
daà (mães bum tinha quatorze^.outro: dezoito aiH
oos^^Vulirão^^íeiDOSiiMoaroSi (tbmo:fempfe:) dieáU»
défmioetv » Q« ifedro tcmGndpipa:«ufo(;pfz coo^rO
,3gwn.YU: ' Biii • Rei
%
logo foi prezo naQdade deSorik*, e oatro deDò*
nar JMarit jde Padiiha y que efte^e prezo em di?er-«
foá Caftellof,: e tnorreÒTio de Toledo. De outro ,
e;i^iQia ifilha Iduridáofss Hefpanhocs l e/>a]guQSi ffS
dh vcdiiáa odar mâis^ . Triom le íihdo*: aaiios tinha. Dj
^^nriou^ y quando tfobádciatiuidoí íèganda vez Rél
dei CaáoUa .'coin< foaiina alegria ^^ deCque íè fazia a««
ehedor pekaíuas iniiita8.,preiidas y^^oio docilj a&
fMd ,' je 4Hi^tií&iAcCIOppi»BcrSUcie^iKé muitos per«<
tiiukntrà áíGàlcqif^xií^t^^^wcipásB-BaíSia o Dnqae
deofieiKzaftrety^hao 4e'Edaardo IH Kei de Ii^Uh
têrrá.^:ppp.áia'mQlhér.Dona' Gonftan^a^ filha de
D. Polrai^oeidt Rainha: Dona Branca; D. Feman-
do^díecBomgaiiçicâiiiabífoçtQ de D. Sancho^Rei
étjCkStd\m;i'tí£>.Béáta^Qi.Âng^ pfci
dttl^^iirC^vChiqinm d ^nfiiAie wnbdrò!.pvomettido
fMdvHalehrofa entrega da Rei D.: Pedro ^ e íoldoa
do lêíierQitOL, mas <udo íatisfcsc DiiíHearique; .^do*
poÍ9 deiobrig&r^.isrpbtKmckqtea /Al embainharei!^ «as
efoaâ«ri^ aan^diâiinQGpiiròvaiIà^ icontrat)a.ki«
gltzeo-f 9 o^^fmíifíenQrabBocaQigni oDOLhi^marcx^
eelletite ahinda ronceora Iilgleza^ qne. foi ^ maior
íbccorre- piía^JSràinçi.^ Com efte. fibliz Rd ahiado
de todos refpinmOifteUa v mas quando feftejata
fltoÍ9*a^i£irin9nKV>ooReLjde'<[irán^ que têmcp
fe^.o^cotnptefnèntaddir^ luMn/lAimo
de^ibuitaó eobfniixecídíasiy-ie entre ellas huns dboi^
zeguin» Muuriícòi envenenados. Ufon delles tiRei
bum fò:df9 na ca^^^ibas iiTo baftou paratér íogo
eoftvii1s6ea:de nérvàst^o^e. lhe. ttrárSu» a lu^^-com
eWrw ftàdade/ idfe iHe^nfaa> ioda*» iqoc. toà»\ a gauH
tiV/AR va
(11)
«1 com jeípecialífineiífc''iFi)i depbfitado jdòm ó mn^
ioV fáiiíBo naiGora da" Sé dèlBurgos ,-eí>f asladàcici
para a Capella y.qae fundara na Sé ide Toledo no
mefmo fitio ^ cm que di^cm puzenr aVíirgem Se-^
nhora os pés i^ ouando fállou a Santo ild^fonío, 4
lhe deo. a GafuJa. Mandou que o entcrraflera no
habito de S« Domingos feu parente ^ éuja Religião
augmentou quanto lhe foi poíEveL A Capcila do
. feu enterro mudou o Emperador Carlos V para o
lugar , em que hoje le venera y com trinta e féis
Capelíães, aue celebrâo nella os Officios Divinos ^
e nella manaou enterrar feu filho j neto:, e mulher
res em féis maufoleos primorofos. Na hora da mor-
te deixou a feu filho herdeiro por eTpecial legado
os avifos feguintes efcritos pelo Biípo de Siguen-
ça^ que foi o feu (^nfeífor , e agonizante: que te«
tn^Bfi A Deos j e defeodefle a Igreja : que confer-
vafle Q exercito , e paz com 'França : que déffe li-
berdade aos cativos Chriftãos:*que tiveífe bons a-
migos , os melhores Minifkros , e criados : qcne ;con<*
fervalTís nas mercês, e hciur^s os que tinháo.íegui*
do a : íua paircialidade i mà^ que temefici nelles tem-
pre Incon&Hticiá y t falta de lealdade: que fiaíTe to-t
dosioa govjernos:-, e -empregos daquelles y que fe-
guírão a íeu irmão D* Pedro contra clle , porque
eftesrerão capazes de.dar.t vida para slhe defender
a Coroa , pof ferem ileaes j iconftaqtes:^ e fieis ^.os
quaos .cdm bons vfer Viços farião eíquec^r os aggra-
vos paífados: (coro letras de ouro deviâo eftar ef*
critas eAas palavras em todas %s pedras ^ de que
são conipoAas as cafas , e ruas de todas as Monar-
quias^ para qué leíTem .os vaífallos. de£ie meninos
-, quan-
( 22 )
quanto vale fôrerô leaés ^ éifidacdhftán temente -aos
Soberanos) . que não déflTecojffiáosynèm fe fiafle da*
queiles ^ àiit no tempo, da gaerra còm feu irmáo
eftiverão neutraes ^ porque eftes nem amavâo o
Rei y nem o vReino^ie tà bufcavao a fua conreni*
encia. Chamácâo ao Rei D. Henrique II o Princí*
pc das Ãercês pelas muitas y grandes , e quotidia-
nas , com que fez innumerareis raflallos ricos com
grande politica , porque lhe acudiâo com tudo o
lue tinhâo todos ; melhor porém lhe chamariâo o
\ahiOj e com mais razSo do que a D. Áffoníb Af^
tf ologo .) porque fò quem he fabio conhece o que
são vaflallos defte modo j e deixa taes confelhos a
hum filho; Goncedeo grandes privilégios , confir-
mou as Behetrias, que D. Pedro quiz extinguir ^ e
já vos difle he voz Grregá j que fignifica boa com-^
panhia y .ou goverqa popular com igualdade , de
que ha muito em Hefpanha ^ e em Portugal fò na
Minho. Eftabeleceo que os Confeífores dos Reis
de Hefpanha foflem da Sagrada Ordem dos Préga«*
dores , honrofo emprego , que tiverâo at^ que treio
de França Filippe V. Foi cafado com Dpna Joan-&
na Manoel, fillu do Iníâhte D.João Manoel, ne-
ta do Santo R.ei D. gemando III , da qual teve
D. João , que lhe fuccedeo ,' Dona Leonor ,- que
cafou com Carlos IIL Rei de Navarra ,, outro fii^^ho^
cujo nome fe. ignora , e muitos ei^urios. Vinte e
hum annos:^.e.trez mezes tiiiha D. João I ^ quan*
do foi acclamado em Burgos Rei de Caftella , re*
novou as pazes ctm França , e para maior firmeza
mandou a Londres huma grande armada ,1 que en-»
trando no rio Taáiefis , fez notável asilragoí. Qslfi^
..u:, gle-
^eseá para Iirípedireb c&$s viâçriús fecorrârão a
Portugal ,; oade mandouv tropas , que ientráráo em
Cafolhi) e antes da batalha íe cotiçloio a? pax, oue
durou pouco ç.porquç morrehdo o noflb.Rei Oi;
Ferbando.) pertendeo ò Rei D^^JpSo^^efté Reioq
pòrffua ttiúlher Dona Beatriz com o niáo^ f ucceflb ^
qée:rempre lamentará Hdpaoha^ ân q^antti> lem^
bráb o nonie do' Santo (3okide D; Nuno^iAlrareã
Refèira ^ doique tudo já: vos démo^ notícia^ na vida
dopRei D João I dé PortogiL: O de OaftôIII ptís
atuado dt todos pela do^ira^ e íaJBãibHidade dò iett
reniO) a que fe unia valor y prudência ^ e generòíi^
lade^ Mandou huma embaixada àò Sultão ao £gyp4
XOj pedindo^he déíTe libeixláde^i Ijeãói Rei4e : Ar-^
men^ ^^ a querti tinha préao xpat^taltlgoci^ quç lié
fome y e angttftia (ihe tinh^o mbrridò apouco anteb
mulher /^ ftuma filha« Liyrr à> remetteo com os
Embaixadores por França^^ oiMÍfs nenhum cafo <fi2e<^
râo delle-^ e em Heípanha foi :'reaebido çoqio Rei^
e para; £eu decprp ^lefQftefatadhexoalisiilou PJíoio
as^Vflias delMa^fid y e Anda^f.^Pafloa depom^fl
França para rniír-aqiiella^^otiBnda òomlhglater^^
contra òs infiéis-^ e>morré0:l5mPariz^ onde jas n^
Gapclla niór dbsTMongea:Gè1eítíbosJ>Celebrou o
Rei <Dones, 9 neUasíe queixarão q« Abbades dot
Moftdroé ;de^&<BerMÍci deHdf>dnh(^>'que os Padrò^
úrtfs yexavâo oa habitadoíes daa fuffi» herdades jd
com 'tributos , já quebrando os privilégios ^ e avo^
çaado.4ciI.jas..(:auía$,.QV£iis^ eq^mes^^Siu^tâo-ie
Juizes para Jecidir^efta fúpplica, os quaes.mandáT
r$o gi^írdtff os priv^^ilegios/dos Mòfteit^^ o Rei
tomôii a pfbtecçáo de^dcios ', ^úe baftoú 'jpara re-
(^4)
prtmie ti • ambição > é avaríiza dofi íioderofos j e coi^';
fervaf para^iempre os privilégios' iUcíw j como ve-
mps . emj Portugal noâ Mòftcíros Benedidlmc» , e
Cifierdeniftai^ e aindainoísrque íbijâp feas*,' e^^hojo
poh IbdiilMol!k:|joffdiicQ^[sãD vde outra^ <Rídrgíâe>
corno older(Sei)e<^cqiro&r':tónBXOÍi ao'Coilegíb*!de
Goimfhraí dpsrEremitas dé Santo: 'Agoftinha y cujo
Prefidéàter^ ^ c}beCÍepi:cfeQtar)a Reitor do -íbbredito
CóUffiiai^befOioridár oomlçodafa adçadá y Tribit4
Bàir^ jlifiiipí^^sè líiraíàrraiircati Tjodo.á t^(áf)o /iqaè
Itíà dbrob aipáÉ'idq30b^da)^iièff]a;G^MB Portugal,
e Daqtie de Alencaftre, ^ ndom cnja £lha: cafpu fea
primogehitò D.' Henrique V gaftono Rei D. Jóáò
eni.repai:aHTÀm{ilas:^iJáofttíTos^ Praças j e Gaí^el-^
lás^K^í^igecladréenyje arafbrmaDOoftuo^sr, p qtiaiH
do ma€ores|eiitidadm eQ^ierava haféiDf)eioado Heí^
panha:, morreotlefgnçkdaméhte.vcahÍDdo'do ca-^
valí6 phiinsi dizem lOjhiejnai caça ^ muros, que no: pU
cadtíro ). quando^ iotentava'enfinaQo; Reinou onzs
aanòs f e« ibi i iMoisdba} Monak-oa^ r^ que ; melh or co»
oheceo.V e foutie.di^^iaifl^a hotimí^rfalor , <3ÍmSafs^
cia 9 e fidelidade da 'oaoSDf Por jtiigwza j até^dí^^^
(como fe lê nos manuíoi^ttos do Cartório dos Da-
quês de MfedinaQdiJiqise fe foíTc Rei dos.poncós
Portuguezes 9 ql]e,oi'vênc|grâb;^tllí^Alj:ubarrota^ nSoi
£6 havia-de Juncar ttiààâoé Moufbs' de He^^hi^^
ínas conquiftar: todas -AaJcerraardo» infiéis na Afrb
ca^ e Afia. t- ,
LISBOA, Na pfficina de Miguel ]^ane(carjd»
Com todas as licenças necejf árias.
(»0
CONFERENCIA HL
FÂIeceo o Rei D.JoíoII no anno de 1390 ^
qneftiona-le o mez, e dia; e os que melhor
opinão, dizem foi a 9 de Outubro. Succc-
_^ deo-lhe feu filho D! Henrique III, chama-
do o Doente , porque na idade de dezefete annos
enfejrmoudemelancoiiahypocondriaca, achaque eol
todos osCèculos incurável , de quem diz Riverio
fora fempre flagello, eopprobrio dos Médicos. Ti-
nha doze annos , quando fubio ao throno y fe bem
aos dezefeis he que tomou poíTe do governo. En^
tretanto fe confervou a Monarquia com focego,
porque os Grandes , que iatentavâo governar to*
dos y vendo que não havia para tantos , fe conten-
tarão em que o Arcebifpo de Toledo, e D. Diogo
Furtado de Mendonça foflem 0$ tutores , e que ra-
voreceflTem aos principaes com os bens da Coroa;
Elles cumprirão com tal pontualidade eíl:^ iniquo ,
e infame ajufte , que o Rei , quando entrou a go-
vernar , fe achou íó com o nome , de forte que vm-*
do da caça com fome , e ordenando lhe deíFem a
cea , refpondêrão os familiares , que nada havia em
caía para comer , nem dinheiro para o comprar.
Mandou o Rei empenhar hum gabão , e com o di-
nheiro fe comprarão huns arrates de carneiro , que
forão todos os guizados da cea para elle , a Rai<*
nha, e mais familia. Em quanto fe fez efta diligen^
cia, foube o Rei que em cafa do Arcebifpo deTo«
ledo ceavão muitos Grandes^ e elle disfarçado en-f
Tora. VIL C woii
( »o
trou até á porta da fala, em que o Arcebifpo dava
o banquete^ vio nella íeu tio D.Fradique, o Con-
de de Tfaftama , o de Medina Coeli , D. Henrique
de Vilhena , D. João de Velafco , e D, AíFonfo de
Gufmâo. Ficou aíTombrado de ver a profusão ^ e
delicadeza dos guizados , e muito mais de ouvir di-
zer a todos : Bem haja quem o adquiria para nós co^
tnermos. Que terd o Rei para cear hoje ? Pobre bo^
mem\ e outros infames defatinos, que o fizerão re-
tirar para os não ouvir maiores. Na manhã feguin«*
te mandou entrar no Palácio com disfarce muita
gente de guerra , e mandou dizer aosGhindes que
eftava muito enfermo , e neceíEtava vieíTem logo
todos aíEftir-lhe para o aconfelharem em muitas
coufas , e ferem teftemunhas no feu teítamento.
Juntárão-fe com brevidade todos em huma fala , na
qual enttou o Rei armado com todas as armas , e
a efpada nua na mão , fentou-fe, e perguntou a ca-
da hum quantos Reis tinha conhecido na Hefpa-
nha 9 e Reino de Caftella. Refpondêráo conforme
o numero dos que tinhâo conhecido , e o Rei fe-
vero replicou , dizendo : Pois eu com ejies poucos an^
nos conheço mais de vinte Reis de Cajlella , que fois
vós , mas eu lhe ponho o retnedio. Mandou entrar na
fala os foldados j que eftavâo em outra occultos;
e conhecendo todos que intentava matallos, inter-
cedeo o Arcebifpo , pedindo as vidas com a condi»
çâo de que fem fahirem do Paço reftituiíFem todas
as Praças , e fazendas , que tínhSo ufurpado á Co-*
roa j e grandes fomas em dinheiro peto que tinhâo
injuftamente recebido. Sahírâo á noite fem jantar
ezhauftos de bens^ e dinheiros^ todos triftes, e al-
guns
y
guró defefperados ^ ficando o Rei opulento , e tão
acautelado, que todos os feus cuidados norefto da
vida empregou na cobrança, e augmento dafua fa^
zenda , de que fe feguio deixar grandes thefouros.
Na lua menoridade foráo os Mouros duas vezes
gloriofamente vencidos, e no fim daiuavida intea*
tava com grande exercito expulfallos de Hefpanha ,
quando a ultima enfermidade em Toledo lhe tirou
a vida no anno de 1406» Alli foi fepultado comièu
pai, e avô, e acclamado feu filho legitimo D» Joáo>,
Sue dons annos antes nafcêra de fua única efpoía
>ona Catharina , filha do Duque de AJeocaftre,
irmá da Rainha Dona Filippa de PortugaL Nâo
falrirâo Grandes, que com fumma infâmia intenta-
rão privar da Coroa o menino , e dar o Reino a
feu tio o Infante D. Fernando ; mas eile nâo ob»
ftante alguns efcandalos , que tinha do írniâo fale*
eido , ós reprehendeo de traidores , e desleaes , pro«-
tefbando dar a vida para defender o fobrinho na
pofie da Coroa ; e como os Monarcas repreíèntao
aDeos, efte fe obriga tanto dos que lhes são fieis^
<jue vifivelmente premiou Deos o Infante D. Fer-
nando por efta lealdade ao feu Rei com trez co-
roas , porque o fez depois Rei de Aragão , a íea
filho D. Affonfo Rei de Nápoles , e ao fegundo fih
Iho D.João Rei de Navarra. Entregou- fe o-goven-
no do Reino deCaftella na menoridade de D.Joáo
II á Rainha íua mãi , e a feu tio o memorável In^
fante D. Fernando , que regerão tudo com fumma
prudência , juftiça , zelo , e defintereífe publico».
Publicarão guerra contra os Mouros , governou^
Infante o exercito ^ conqui^oa Zabara ^ fi» JâVa»
C ii tar
(28)
tar o iitio de Jaen , que conftava de cem mil Mou-
ros, cercou Archidona, onde matou quinze mil, e
a ultima conquifta foi Antequera , donde partío a
tomar pofle do Reino de Aragão , como parente
mais próximo de D. João , e D. Martinho , que
morrerão fem filhos. Ficou a Rainha Dona Catha-
rina fó no governo , e mandou conquiftar as Ilhas
Canárias por Joáo de Betancur , Cavalheiro Fran-
cez. Intentava emprezas maiores , filhas da fua al-
ta comprehensâo , mas todas fe fruftrárâo com a
morte no anno de 141 8. Entregou- fe oRd^jBO Ar-
cebiípo de Toledo, o qual o cafou com CÍona Ma-
ria , irmã de D. Affònfo Rei de Aragão , e lhe en-
tregou o governo aos quatorze annos da fua idade
para elle o dar logo a D. João , e D. Henrique ,
irmãos do Rei de Aragão, que o tiverâo comopri-*
zioneiro, até que Ihesfugio hum dia na caça, maib-
dou prender , e confifcar os bens de D. Henrique ,
que depois lhe reftituio com a liberdade por empe-
nho dos Reis de Aragão , de que fe originarão
guerras civis , e diíTensôes contínuas , frutos do fum-
mo defcuido, que o Rei teve em humilhar a fober-
ba dos Grandes no principio. Eftes confeguírão que
o Principe herdeiro D, Henrique lhe negaíFe a o^
bediencia , e em fim opprimido de defgoftos mor-
reo no anno. de 145:4 , fatal para a Chriftandade
com a perda de Conftantinopla. Deixou trez filhos
de fua fegunda mulher Dona Ifabel, filha do Infan-
te D. João de Portugal , que forão D. Henrique IV,
que lhe fuccedeo , U. A^onfo , e Dona Ifabel , que
Adlceo a25' de Abril de 1451 , hum anno antes que
D. Feraando em Aragão ^ dous Aftros feliciífimos
da
(*9)
da Hefpanha , que Deos criou para expulfarem o9
Mouros delia. Caufa horror a todo o vaíTallo leal
contar , e ouvir o que fuccedeo no tempo deftes
dousReis, ambos cândidos, benignos, e iinceros;
porém neílas prendas naturaes tão exceíEvos , que
abafando do exceíTo ós vaflallos , forâo mais que
nunca traidores , infames , e atrevidos. Nunca Hef*
panha ( dizem os Eícritores feus naturaes ) fe vio
tão opprimída de guerras civis , como no tempo
de Henrique IV , e feu pai , porque no daquelld
chegarão a prendello , e nefte a depollo em eftatua,'
e publico cadafalfo. Macularão o credito da Rai-»
nha j ojfferecêrão aos dons irmãos a Coroa , e não fd
perdeo a nação Caftelhana a fidelidade ao Soberano ^
mas também o juízo. O. Affbnfo morreo na campa*
nha contra feu irmão , e Soberano, lendo cabeça aoa
conjurados ; Dona Ifabel fua irmã não quiz aceitar
a Coroa , que os traidores lhe offerecêrão , e oo*
cultamente cafou com D. Fernando Rei de Aragão*
Sentio iflb o Rei , temendo lhe intentafle tirar a
Coroa , porém contentou-fc com fazer jurar por
herdeira delia a Princeza Dona Joanna íua filha*
Depois aconfelhado por D.João Pacheco intentou:
prender os noivos , com quem tinha comido , e
paíTeado em Segóvia , porem D. Fernando fe retip^
rou para Aragão , Dona líabel para huma Praç»
forte , e tudo ceflbu morrendo logo D, Henrique
no anno de 1474- ^^ na hora da morte nomeou
por fucceíTora na Coroa a Princeza Dona Joanna y
que depois da guerra com Portugal , e outros in-
fortúnios , que já ouviftes y morreo oo Convent%
de Santa Clara de Coirabra , <é focegáàkia^o^ rebèW
Tpm. VIL C iii des
(30)
des forâò acclamados D. Fernando , e Dona Ifabel
Reis de Caftella , e Aragão. Começou o feliz rei*
nado de D. Fernando , e Dona Ifabel , eftabelecea-
do na Hefpanha o Sagrado Tribunal do Santo Of-
ficio. Quebrarão logo a paz os Mouros de Grana«
da , bem coftumado no tempo das guerras civis , e
pairarão á efpada todos os moradores da Cidade
de Alhama , o mefmo fizerão os Catholicos aos
Mouros de Zahara , e vizinhanças de Granada , de
forte que defefperados os Mouros depuzerão o Rei
cau& defta guerra , e em feu lugar acclamárâo Ali
Mulei Alcfedarbil , a que vulgarmente chamão os
Hiftoriadores o Rei Chiquito j que derrotou os
Catholicos defordenados com as prezas , e elle
pouco depois foi prezo, pelo Conde de Cabra*
D.Fernando lhe concedeo liberdade com alta poli-
tica para fomentar entre os Mouros huma fumma
difcordia , porque na fua aufencia tinhão reftituido
ao throno Alboazem antes depoAo ; e não poden-
do tolerar a guerra civil entre os dous , elegêrãa
terceiro chamado Mulei. Entretanto D. Fernanda
tomou todas as Praças, qiie podião foccorrer Gra-
nada , efpecialmente Málaga , em cuja defeza Mu-
lei acabou a vida y e foi reeleito Boadil y con-
auiftou logo com grande difficuldade Baza , Gua-
ix, e Almeria^ amftiodo fempre no exercito a va--
ronil Rainha , que foi a caufa de profeguir a con-
quifta , em que muitas vezes com grave fundamen-
to vacilou o Rei , e Cabos do exercito temerão a
ultima ruina de Hefpanha já pelos foccorros y que
^ efpçravâo, e não vierão de Africa , já pela muK
tidâioi e coaâ^Qcia doa bárbaros y cfinaln^ence por*
.'\ Ij que
(31 )
que o Sultão do Egypto mandou por féu Embaír
xador hum Retigiofo de Sâo Francifco com cartas
para o Rei D, Fernando , em que lhe dizia deixaf-
íe viver em paz os Mouros deHefpanha, aliás cor-
taria as cabeças a todos os Catholicos , que vivião
nos feus domínios. Refpondeo-lhe o Rei com boas
palavras, ehum notável prefente. Sitiou logo Gra*
nada com todo o vigor , edificando em circuito
delia huma nova Cidade chamada Santa Fé , que
muitos annos depois exiftio. Em fim no anno de
1492 íe rendeo a Cidade, ultimo refugio dos Ma-»
hometanos na Hefpanha : veio Boabdil ultimo Rei
Mouro nella entregar as chaves a D. Fernando,
Sue as deo á Rainha , efta ao Principe , e eâe a
)• Inhigo de Mendonça , Conde de Tendilha , que
a ficou governando. As condições forão liberdade
aos cativos Catholicos , fegu rança de vidas aos
Mouros , que ficaíTem pagando os tributos , que
antes lhes impuzerâo os feus Reis , e embarcações
para todos os que quizeífem paífar para Africa ,
entre os quaes foi o Rei com muitas mil familias.
Sahírão também nefle anno de Hefpanha oitocen^
tos mil Judeos, que não quizerão abraçar a Fé , e
ficarão muitos mil , que fe baptizarão fó para go-
zarem o que tinhâo , e inficionarem para fempre a«
quelles Reinos. Nefte tempo fe lhe offereceo Chri-
ftovão Cólon Genovez a defcubrir as índias Occi-
dentaes, empreza utiliflíma, que nós defprezámos,
e depois conhecemos era hum novo mundo. O Pa-
pa Alexandre VI lhe. deo a inveftidura de tudo o
que defcubriífe com obrigação de mandar para a-^
quellas terras Pregadores > que plantaífem a Fé Ca-^
tho-
( 30
tholica. Semiírao-fe as guerras de Itália contra
Carlos Vlir Rei de França , que tirara o Reino de
Nápoles a Fernando, fobrinho do Rei , que man-
dou a eflfa expedição o fempre memorável General
Gonfalo Fernandes de Córdova , chamado o gran-
de Capitão por an to no máfia j que venceo os Fran-
cezes , e reftituio o Reino a Fernando fegundo fi-
lho do Rei D. AíFonfo depofto y e fobrinho de D.
Fernando de Caftella. Abufou o novo Rei do be*
neficio, chamando os Turcos a Itália , e depois de
grandes queftôes na divisão de Nápoles entre Hef-
panha , e França , fe <ieo a Coroa a D. Affbnfo , fi-
lho fegundo do Rei de Caftella. Não foi efte iguala
mente ditofo em íua caía, porque noanno de 1496
lhe morreo o Principe herdeiro D. João , ficarão*
lhe duas filhas , Dona Ifabel , que cafou com D. Af-
fbnfo Principe de Portugal , e morreo paflados féis
mezeS) eDonaJoanna, que cafou com Filippe Ar-
chiduque de Auftria j da qual naíceo o Emperador
Carlos V. Faleceo a Rainha Dona Ifabel depois
do nafcimento de D. Carlos , que ordenou lhe íuc-
cedefle na Coroa tanto que chegaíFe á idade de vin-
te annos , e entretanto governaria feu marido D.
Fernando j o qual perfuadido daquelle incompará-
vel heroe o Cardeal Cifneiros da Ordem Seráfica y
e fazendo elle todos os gaftos , mandou Pedro Na-
varro com grande exercito a Africa , e tomou Orão»
Quiz pouco depois íoccorrer o Papa JuIio , contra
quem fe tinhão levantado em Itália muitos Car-
deaes j e João de Lebet Rei de Navarra oppofto
ao Papa lhe negou paíTagem pelos fens Eftados, do
que refulcou a guerra , e fuccefsão de Navarra ^ de
que
(33)
que daremos a fea tempo noticia. D« Fernando es-
tragou a faude , ufahdo de bebidas ardentes para
avivar o calor natural , de que lhe refulton huma
hydropezía. D. Filíppe Ârchiduque de Auftria , fi-
lho do Emperador Maximiliano , genro de D. Fer-
nando , julgando fuppofto o teftamento da Rainha
Dona líabel , veio a Hefpanha por mar , temendo
lhe embaraçaíTem o paíTo em Aragão , e como os
Grandes de Caftella já eftaváo divididos em bandos
depois que virão D. Fernando enfermo , efie rece-
beo a filha , e genro com todo o mimo em Valha-
dolid ; e ferenando o Cardeal Arcebiípo de Tole-
do as difierenças, que havia entre elles , foi accla-
mado Filippe com íua mulher , e depois feu filho
Carlos. Seguio-fe a morte dé D. Fernando , e de
feu genro brevemente, huns dizem que deveneno^
outros que de apoplexia ao fahir de hum efplendi-
do banquete j que lhe deo feu valido D. João Ma-
noel j tendo fó vinte e oito annos de idade. Foi o
homem mai^ gentil j e amável , que vio aquelle fe-
ciiloy motivo 9 porque a Rainha enloqueceo de pe-
na , (não dezelos antes da fua morte , como outros
dizem) e para alivio da fua extremofa íaudade não
permittio lhe deflem fepultura em quanto foi viva,
confervando o tumulo na íua camera , e junto ao
feu leito^ Governou aquella grande Monarquia o
Cardeal Cifneiros com fommo acerto ^ ad.mittindo
ao defpacho Adriano Florêncio , Meftre de Car-
ios V , que antes de chegar a Hefpanha o aliviou
jdo governo , e elle faleceo no adno de:iyi7 , não
4e pena de yer qaal rpmunjjrada; a fiia. fidelidade,
fiem òc veneno I cristo wmtfífiràjZQm^ p^a>nâo inr
íbcmar Cark» 4Q9^^ur }hç lerlo 4)pt>9ftQ6 ^ «as fim
•-•j de
(34)
de achaques, e bitentt e hnm annos de idade , pe«*
lo que pedio a Cariou o aliviaflfe do governo para
íe difpôr com íbcego para a morte. De Carlos V
havemos de fallar nas vidas dos Emperadores ; dos
Filippes 9 que lhe fuccedêrâo , já falíamos na ferie
dos Reis de Pomigal , e a feu tempo diremos o
pouco j que refta , como também as vidas de Filip-*
pe V 9 c íèus filhos D, Fernando , e D. Carlos ; a-
gora para maior percepçáo da Hiftoria de Hefpa-
nha ouvi feparados em diverfas claflfes os Príncipes
delia. Os Reis Godos , que a dominarão toda, são
os que já ouviftes numerar até D. Rodrigo , que
foi o trigeíimo terceiro , e ultimo ; agora os Reis
de Âfturias , e Leão foráo D. Pelaio , D. Favila ^
D. Aâbnfo Catholico, D. Froila, D. Aurelio.Fra-
tricida, D. Silo, D. Mauregato, D. Bermudo Di-
ácono, D. AíFonfo II o Cafto, D. Ramiro, D. Or-
donho , D. Affbnfo III o Grande , D. Garcia , D.
Ordonho II , D» Froila II o Cruel , ou Leprofo j
D. AflFonío IV o Monge , D. Ramiro II , D* Or-
donho III, D. Sancho o Gordo , D. Ramiro III *,
D. Bermudo II o Gotofo , D, AflFonfo V , D. Ber-
mudo III , e ultimo dos que fó gozáráo eftes dous
Reinos. Adverti mais , que a Monarquia dos Go-
dos , conforme a Chronologia mais aceita , teve
principio no anno de 4x1 do Naícin)ento de Chri«-
tto j e acabou no de ft t ; a dos Reis de Âfturias ^
em que fe comprehende Oviedo , e Leão , começos
em D. Pekio no anno de 716, e acabou em loiS*
Seguíraò-fe os Reis de Âfturias, Caftella , eLeâo^
que foráo 06 Ibguintes , coda os annos , em que co^
TtiêçárâoP a reinâf ,^^po!^oe áeíái ent^o avultou t
MonftrqQíakdeHeff|^ha%-D^ F^raando I o Grande
em
( Jsr )
em 1038 , D. Sancho II o Bravo cm 1066 , D. Af-
fbnfo VI em 1073 , D. Affonfo^ que não foi ^ nem
fe dere chamar Rei fctimo, em 1x09 , D. Affohfo
VIII nomefmoanno, porqae era o Rei verdadeiro^
D. Sancho III oDefejado em nj?^ D. AflfoníblX
em iiyS, D.Henrique I em 1ÍÍ4, D. Fernando II
o Santo em iii6j Ò. AffbnfoX o Sábio em 1252,
D. Sancho IV o Bravo em 1284 , D. AflFonfo XI
em 13 12 y D. Pedro o Cruel em i35ro , D. Henri-
que II em 13(^9 , -D; João I cm 1379, ^ D. Henri-
que III em 1390 , D.João II em 1407 , D. Henri-
que IV o Impotente èm 145*4 9 Dona Ifabel y que
cafon com D. Fernando Rei de Aragão o Catholi-
CO 9 em 1474. OsReisdeCaftella, Aragão, Leão^
e Afturias forão D. Fernanda j e D[ona Ifabel no
fobredito anno ; D. FiUppe.L^ e Dona Joanna^á
Louca em 15*05; D. Carlos. I,e no Império de A^
lemanha quinto, em ifiéi; D.FilippelI em i^sjíf
D* Filippe III em 15'98, D. Filippe IV cm 1621 ,
D. Carlos II em» 1^6^ j IX , Filippe V. ent 1700»
Os Reis 9 que fó dominarão Aragão^ forão D.Ra-!»
miro I em 1035' , D. Sapcho I era 1067 y D. Pe*
dro I em 1094^ D. Aâbnfo I em X102, D. Rami*
ro II o Monge em íi34> Dona Petronilha em 1137,
D. AflFonfo II o Cafto. em. 1162^ D. Pedro II emt
1196^ D; Jaime I em i2X^, D. Pedro III em 1276^
D. AflFonfo III em. 1285* , Dj Jaime II cm 1291^
D. AflFonfo IV em 1327, D.Pedro IV o Ceremos
niofo em 1336 , D; João I em 1395: y D. Fernando
o Jufiaem 141 o ,.D. AflFonfo V o Sábio , e Mag-
naniiho em 141a y D. João II em 1457 ^ D. Fer-
nando II ^ qi2e caiou com Doéa líábel herdeira de
CaftciJa • eiKiio' a» Coroas i.idç qnc cnr fcnhlírr:
,., -...•..,.. . • . ^- .- com
com a de Ârjgâo, em 1479. Os Reis de Navarra^
e Sobrarve até fe unir aquella Coroa á de Caftella
forâo Garcia Inhiguez em 75*8 , Fortum Garcia em
802 y Sancho Garcia em 815^ , Ximeno Garda em
85^3 j Inhigo Arifta em 870 , Garcia Inhigaez II em
888 y D. Sancho Abarca em 905^ , Garci Sanches
em 926 j Sancho Garcia , e D. Ramiro feii irmSo
cm ^66 , Garci II o Tremedor em 99) , D. San-
cho o Maior em 1000 , D. Garcia V em 1035',
D. Sancho IV , e primeiro de Aragão em 1076 y
D. Garcia VI filho de Ramiro em 1134 j D. San-
cho entre os de Navarra o Sábio em iis^o, Theo-^
baldo Conde de Campanha em 1234 , TheobaldoII
cm i2jr2, Henrique irmão de Theobaldo em 1270^
Dona Joanna , que cafoa-^om Filippe o Formofo
Rei de França , e primeiro do home em Navarra 9
em 1279, Luiz Hucim, decimo da França, e pri-
meiro de Navarra , fegundo dos Francezes y em
1313 , Filippe Longo de França , e Navarra pri-
meiro do nome nella:, em J31; 9 Carlos oFormoíb
em 1311 , Dona Jodnna filha de Luiz Hutim em
1318 , Carlos II em 1343 , Carlos III em 1387 ^
Dona Branca , filha de Carlos III j em i425r 9 D,
João I, marido de Dona Branca ^ em 1441 , Dona
Leonor de Aragão em 1479 > Francifco Febo de
Fòix em 1479 , Dona Çatharina , irmã de Febo^
cafada com João de Lebret Francez , em 1487. A
efies tirou o Reino de Navarra D. Fernando Rei
de Caftella, Aragão, Leão, e Afturias, e o deo a
feu filho , a quem fuccedêrão em todos os Reinos
Dona Joanna a Louca , e D. Filippe o Formofo , e
a eftes Carlos V , e fcus fucceflTores até o prefente*
LISBO À , Na OflScina de Miguei Manefcal da' Cofta , Impreflbr do
Saato Offitío. Anno 176 y C^m teias m Uanfêi ncajfmêu
(57)
'•■■ CONFEB,ENCf A ■IV.'/-;
Ei&i|iL|odàsi. as' novickas proniettidai >y c&
o: \á"comiçaà'tLé'\ e alguin d«^\^-twt5r6tartfttJ
ilos: '«oplíqi» IbrcvemefKe' o que he íFôrtifi*
ti?r^ -Tcaçâoij^ieíciw tennosc, coma tambôm- par^
lxS'^'qiwperttrlhcd.AI(iiliciat «a Cttmpairha^^.porqaa
idití-eíT» Itt^ néS(i)ÍEn£cx:lc{iaftiç3ci$v cQnirèó$;i^mioo
eáteocCèneiofiidaa raerraa^ eacçôès hefoicasi, ique fe
eftio referiado/ &ire]:'goftofo (reípondeo o Solda*!*
da)^o.<|ue:me enfinoti o: grande , e memorável Anr
diiéi Ribeiro Coutinho ^ eí/liipa iTida ..deinhama;jB
CSouiilFaa-y coropòfia pdo iveneuvel RelígiQ(b'/:é
inflgbè '^íEonario Fr.. Jorge da Prefencaçãoi':, da
Ordem dos Eremitas de Santo Ágoftinho, filho do
Defeoibargador Manoel Pinto de Mira , Embaixa«*
dor, do IVei D. João V na: Corte da Perfia: po^- or^
dem de JóáQ::de;Saidan1ia da Gamai A FcMificdçSo
cobidfou em vai lados , que divtdião os domínios^
e. impediãoy como hoje ^ os damnos , qqe fazem noà
alheios os animaes domeftícos : a defeza xiatnrál
dcpoJs imrentotí os Muros.fracos j e Ameias ^ qubti^
do víráo áugmâEt!a.d4s |]fél3:odia flSvândAiftrias^^e
conquiftas; e porque chegando o inimigo ao pé da
muralha j o nâo viáo os^ defeníores da parte fupe-
rior delia^ e eraquaíi inotil tòda^a défeza, ihe^ee*
tio xfármh deip^edentês.jre coofid&rartdo^depGâa
de'tfl}Htmajsr*iofc6tíidades:;qiie !eftes Gonpos avançai
d<>s bao^ot^váa a' força, neceflaria y^ihventáraoas
?Forrí39 \qtiad radas ^ejedondos ^ que durarão até o
.Xom. VU- D * an:.
(3?)
anno de 137S ^ em que Bartholomeu Schaarts in-
ventou f polvqrá ,j (jiej oflirç aij^e^ j cni^4<Hcrt*) náo
foi õ Âiithoír dt\\à) cõrià o'^ qde ficarão inúteis as
Fortificações antigas ; e poraue alguma parte das
37orre« náo íe vio do cotpo da Praçaif éí!o6 M^^*
tos livremente, faziâo o feu oíEoio y remedUrâo om
4tmnoi, eftendendo os lado» das Torres até^acabi-
rem em hum angulo , e chamarão a toda cfta^ra
antiga ,. e nova Balatftes. Divide-fe a Fortificação
eoi T^gular ^ e irregular: a primeira he aquella^
cujas partes femelbantes sâa iguaes. entre fi ^.ifto
he, todas as faces , flancos i&c. são iguaes no coiift^
primento j e altura : a íegunda pelo contrario he a
^ue não tem èfta igualdade , porque* o terreno hb
impropòrcionajdo^ea-nio permitte : huni&> è-Wt^
tia Jie repartida; em figuras, de lados y e pelo feii
numero (e lhe determina o nome ; a todos poréal
genericamente chamâo Polygono y mas ao de qaa*
tro lados Quadrado j ao de finco Pentágono y aò
Ò€ Íeis Heiagono ^ ao de fete Heptagono y aa dè
pito O£logono , ao de nove Enneagono, ao de dez
Decagono , ao de onze Undecagono , ao de doze
Duodecagono y Scc. e todos íe fbrtificão com miw
falhas^ e fbtfos. Ifto fuppofto , melhor percebereis
cft^s coBÍks ao fegiiinte Abcedario*
A
•
ANguh da efpalãa he a inclinação « ou conta-
£lo do flanco com;aface^ oqoal aeve fer ob«
tolo para dar capacidader^ao orelhão ', ou eíp^ílda^
cxirbrir o flanco immedtatOi Angulo Jlanquiudo he
aqaelle y qqe k ^ma pela inclinação y e conta-lo
* - --..-.. oas
( 3P )
dás sitias ftceè: V' qu0 for ve&x^ beo mtfnior/|>dfâ
que de fer mais agudo nafce diminuir- fe o flanto^
e pofta a bateria a huma face j arruina-fe grande
parte da outra, e de fer mais obtufo fegue-fe Ec^^
inimigo^iEÒnTliama fdbateHadiias^ibreoHas^ijfif^KJb
fianqueaio^ he àqneile y que fe forma pelaindinadío f
on contado 'do íflaitco conta cortina , e por iflo^
éMjfxoíyAnguiOf^ áãiChmtíMij too i Jngído i do Fimcêi: Jiél
W'£eiOtt\ú{^iitid^.Qpto^oiíki^ \ para (pie ie^ii»hem
âdfefididas todas^a ^arte^ da 'Biliitfrte oppòfto ^oá
wá qxji^^Àhtí coúrefymtáev» íB^ella. Anguto fulietuíe dá
eamrMjimpa he «qudle, que fe fiSrma ' pela: inclina-*
çàpyíè cb>ma6lo>dt64uastcaimral8fcarpas diante dos
Angiilòsí. iBinqt)eadM. Afigulà témfírakte . iJét contrai
^f^/irlieaqueUe^ qae fe fdrma^ela inolinaçSío^ e
câíntaâo^ das duas contraefcarpas diante da coitiy
na^ , qor fehipre férá obtiufo , e tanto ^ que todo a
fogodpflanoo poflaVatr^y^^d iallq^ear todo ò p1^
no da fioCb;/' Uos mais ÂngàloS^jj qiiâ'sâo os* dtf
C^entrbvda Bafç>^ do Pol^gAifo^da Gol«^ da Te^
nàlhâ j e Diminuto y efcuíaís notícias , porque si6
Ângulos imaginários y e que f(( formSo na idéa ,«
f libo 06 í£h^b!s;ii«s parr edr^eaveM iti» Praias.
4^á^ he tâa: a obrtf^ que condáz pará^l&zer bí^e^
ehtf tm huimiPraçan: confia* de Tf^indhenrâb , Apto^
chesydèdaAoa^ fiateriaa, Sapa ^ e Qakría. jffro^
tbes^V hulib^foflbs d« dezoito paímos de larguray
tu^àtff^ie indo de alto ^oueomoiftelbor pareCtt
aÒ0 BcríJeQbeálospermitte o verrenoyr tempio^>pe^
W>ai]aé^ !o6' expugnadoreb de hbafá > |tf aça -cubef^
tos » chegâo^ 4 elk com *hàimití y ^ «lof auMtitotf
'^^'i D ii até
(40)
a^é fazer fepa y galerÍA <^: mina , &ç.: O ittaisréxpl»!»
caremos .depois. i:i;> i:,.'; ■■>■ '• •
B
.^ ■• -'• r» ■ ■. ■ 7 » n . • .;*■•
A>
íi -7
I •
B^tífortfhs. huiè: cbrpo íjf^roíTaide terra ^toaipiM
titndídó: .por:idàu9*flancoá > ie duhs faces y: que
j^rtoâo huma. garganta^ a que dizmio GoW.: pôde
fer xihieio j vazio > truncado f deíliacádo /, e plano.
E^ :íe íÒrcna febre huma Jioha tòâa^ cujdxonifNri^*
wmntoícm efta obra ficatájiQdcfiqníaTehf-ic.coiDfeUir
& , criiBao 9 e eocóatrãò^ afi> de&zas :gòot ts ^òs Jli«4
luartcs collateraes y o. que tado feiaz^íÓ lemxaíbi
de neceí&dade y por exceder .o comprimento da cor«^
tma ao tina de.moíqttete! , e^pela Jdcfèioioíà ílargto^
Tãáo{otto.\Baí$Mrte deJlMado .bc Qqiut.dká Upan^
do do Gdrpô da Pracfl y cercadq dei toiTojCcxlo ^ e
o ^ preftimoibe detetídeir alguma iòbr^^ euupaite
firaca da mefma P/ruça ^ on fÒra della^ Balutirtt truti^
C4do Jie:aqàelk»f|(HÍIí ponMi íe/òtaia emiaMgulo re*
ÍBtraiite:^oiiid{e (eoAlbtjà qual forma ieJhêidá ipan
ra xi^ fi,ce^j'£kii íinba reélb/O efpaço isomprehendi^
do eptrA a^ fu^^if^patas.,: ficando occultá^ e íem íe
flanqu^AC algttma ;parte:.delle. Baluarfe vazuf^ be^iflr
queUç> «Hjo-tçprjifplepo idão chega «QCeu rficnúo:^
ctà Ihc^^uarDeçeiofcfeus^ flancoa, oâíoe».^ ca^Sd^
porqxie nâo d4. lugar .a ^ver conr<4iira.:jr-oiif:iari?
cheira np; xtmpO: ^^ brêcbí feita , que nSO fiqup. de-
baixo, do fggp: dp inimigo inteiramente?,.} ^^^ ^^
f íscellénteí! çftíSc Baluartes. , .pctrqiúís ift :pio$Í9U|} fa^o
cm todp.-Q.terfçop iÇpm.poaCo.crabaUio í:.£iriõí tnitj
migo abr^.ffiin^^.he ííicií:a contramiea^' fe lhe deíí
ta bombaaiá (odas/çahe(hinoJea.y42Ío « e fic^ q9
-.i íol-
(41)
fofdadds totaioiShte^Iitres. vdovfeoíidaàinor S/iIuiàtê
cbeia^ he aquelle , cujo cehtxo he tão folido de ter«
rapiéno^ como o reparo ^(aqué chamais: feni diT^
tinçâo /nucalha): e por âOTo ie la^ioimíga lhe fazirrè^
€lmyifaa»mneUr.Q3!de£eftfofea;ccntaâ ioSkiri
parapeitos j tmihobvm^imifit défendciem. daleij^
veftuia ^ e at:aqUí^;ve íe ojkiiibigo ieiakya na(br»
Gha:^^t1em poçiHTç^ríicãfaf^tfílas^QOvas tíbtú í^querdé
dffcpfoTies: leg^jfautB) çxpQiblâ;aaríeu^fegonJ(fe/a
Biilii&nrtt hft «qfaélbcp^itdrt^.tyQ^aRaiyiqur/^íe/fórii^
denhuni(flanaí>i^tâ)huina:ifftse:» «ii^mnad^^zeaiíeacàii
nofreiQin to idas^^ Praças: ^ itnaa*, ai mi ordtriarij^ l"fl*f
he-noa homaveques yrohraa cc^na^^ coroas ^'.&cl
4?r^^ife^:he a ^ruind.^que asl^s dos caohôes., 0a
fego^dál mioMrfái maumtifllitíís ^^ c Reparos 1^: do
íbitte;^i& poceUaíiTobein^ cljentxab.nn^l^ca^a. os^ict*!
tíÚgo&.sâátt^uçfa^hQiiyama ffeqâeáa eltívaçâo ^e t^t
1^9; ^Bio degrát)^fi0td9rf>ara peito ipela parte ia4
t^ior da Prftça^^na: faá aWca ordinária -he ^e pé ú
omio. 9 iervf^ pBÍs^ Oftjijiefetifer^ vejètò por £ma dtt
<k«liyjidadk .da:[^r^eitò)0fjíí»flb .yícsttivartmi^á^
«timígo ry que o . fiotep ta peflai^ ; BoKKete M'Clerign
he?huma obra em tud<> íemelhante^árteo^lha^dobre ^
Bpme mais ufado ^eifódiflFerB eiil ter os-ntoatí* pat%
r»Jll€)ÍP5., ^^r^í^ç Ite twibem -hiMoa obrft :da>/efpecifl
dsi réveliAi) â qual cotbivaaUoeiKe fe dâeftaQaT^e/fa'^
he da explanada para idçrQbr^inaralguma^decJividaVi
de : nlo tem fotíb 9 <x fen paírapôitò tem .trez péa
de alto , a qnem cerca hitm^paliflada^ outra n«
çaoipanh^.emdiftancia.de^ea^.^.ou doze paíTos: eoí
tudo he:©c9Qr que o /eV^fD)97 íjnajOl he outra coih
fa mi§. ciue J3.«» ^^ií^A^)f^9iáA^Vi%Xi<i%Aor:MAri3
Xom. Vir. D iii m^
( 4» )
rtira d^eriva^fe^ do verba aâivo Fnibon BimrAr^^
que íignifica fechar com buma j ou muitas barras :
são humas eftacadas attas quatro , ou finco pés , e
diftances humas de ov trás crez y; ou quatro com as
pontas das^eftacas armadas ode ferro , como^floréa
de l]2i yie^xrtisadas conibarras do mefmo, páo&Ve
taboas giipfias , de forte que fe'pofsáo bem defetw
éer , [fe ferem atacadasr pelos inimigos. Fatem-fe
as Barreiras nas^efitadasiy pelas qu^esa Praça (e
commuiiica'0ofn' a campánba ^ e ^cet^ os Tiveres ^
fixcorresv; &C. pàtu que fe não utilizem osí inimí-»
BQs defties neceflarios^caminhos : còftumão ter mo^
ilnetes nos lados para fahir por hum, e entrar bt]«
ma fó peflba , e ontro para o meímo eficito na*
carr^iageM , e beftad ^ e aâkn chamamos Barreiraé
de hum Refn* jJSiàuàc f iFroviocia y ou Dominiò
tudo o que lhe defende 'as^eí!ttiià^s*BãtériMSÍo
Kuns fbrte^y que os expiígnadore^ fazem nasFarsA^
Mas j ott iPraças de armas da campaytifaa diad«â^ dá
Fraca > q«e «istentão* . otooaiftar , «9 quaes cercão
d^foib^/fetcompôMÍiideeftâeap-^terri, facdsy «d^
\ t6es ^fite. pava 'cubi^M jogarem aatcilharia de
bater y^emortaífos contra to£ís as defezas , eobraé
dos fidflíAos. BmiaMtf hc hbm 'Regimento , porém
boje dlo io mefmo «Mfte á aoMf adé , tefça , ouquir-^
ta par^ delk-, dizendo r Pur/í^ > tf Regimenta êm
áous ) OH área hMãlbíis '^^ fíf^c Btigndlfire he hum Co*
tofieí mais afitigo^^, q»e /^verna íeis, ou mais Re*
gimentos ,. qtie chamâd* Bt^igáda , de foitte que hum
Exercfto & diridi^ em^ l^rigad^ , as Brigadas em
Bastai K($iÈii, oú Kegkneutbâ^^ e 'na ordem Sc pelejar
es Regimentou) éa'&Ét&âi($ei íe tômão a^^fubdivi*
j: V » ' dir
(43:)
dir em corpos menores chamados taxnbem Brigai»
das , e eftas taes Brigadas em Pelotões. O Exerci*
to nâo tem numero certo de Brigadas^ nem deRe«
gimentosf oo Batalhões ^ porém ak Brigadas^ que
íe formão dos Batalhões y e Brigadas*^ ttm numero
certo de Pebtões^ que por força háo de fer finco ,
e nunca menos ^ porque dando fogo hum y neceífi*
ta para carregar ^ atacar , è dar outra viez fogo o
teitipo , t]tie íó em dar fogo focceíEramente gaftao
os outros quatro.. O numero das Brigadas he ín^
certo , porque a regra he fó exhaurir ndlas a gen^
te do Batalhão : a frente dos Pelotões etta de feta
até oito 9 mas podião itt mais ^ c o fundo trez , «
íSio bafta para rós perceberes o qfiie oeâe humilde
cDogrefio fe conca. -.r
CJkhôneiras /qfve também íe chaiiitiò Bomhar^
iehras , sãò hm^s efpaçds abertos , que íe dev»
Jâ^ no corpo dò parapeito para ferviço da artilha^
siã: éada homa na parte interior he alta rrez pés^
larga K\Vk9tXxKí e meio, e rta garganta em diftanck de
dbus pés âã boca interior ttm dotis pés de largo;
na parte txurior tem de altura pé ú meio dei^ o
eordã0yt)u nivel do rerrflpkno, e de laírgura íete^
pard qae o fõgo^ nâo arriiine os merlões, a pe^ a^
tke tnavA àt hmn ponto 5 d os tiros ft pofsão cm^^
EST. Cimeira he huma obra femettianfe wó^ Cofire ^
« fò ^eteme enf que butfiasF vezes íe ki na erplau
Md^ y out^tfs' i^a^ftradá eikrilltf Av ^ e osttas na
íbfib* ! he etiten^adía ^uatroy dii'íirt€0 pá^^ « ^vâ^
da ídèré^tem fédbâis (iOiti^feHlrif^ycAècvra d*
grof-
(44)
groíTâs vigas > pranchas, e terra: cofiuma ter vintb
homens , para o que ha de ter feíTenta pés de coni*
primento, dez, ou doze de largo. Camizãj oaFar^
te Camiza fei chama ao que tem femelhança com
huma c^çnáida. Candieiros s2o huns pequenos pa4
rapeitos de madeira cobertos de faxina y-cheíos^o
terra da altura de pé e meio, os quaes fervem nos
aproches , minas , e galerias para cobrirem , e reí«
guardaram dos tiros. da Praça íitíada os trabi^lbat
dores : fazenvfe .dfi taboas dobradas, de finca até
kis pés de comprido , duas até trez polegadas tio
groíTura, pregadas humas junto das outras emduas
vigas a plumo cravadas fobre outra ao niyel, e br^
dinariamente.com rodas: tem. quando mais íeis pés
de alto y e as taboas dobrâo-fe á. prova deuiio£^9^
te. Cúvalleiros são humas. efcadas de terra , e'ce(^
toes cheios da mefma com parapeito de ceííôes , e
íacos Ao tiltimo degráo fupremo , divididos' eni
merlôes , e canhoneiras para os fddados offe^d»^
rem^ e fe defenderam de.fortidas» Cçlumna he-hunt
novo , e formidável fyftema de pelejar , chamado
oOvo , porque Moní. Folard;0 accommodou ás ar-^
mas, e manejos defte feculo ^ mas na verdade anti-^
quiflímo j porque deveo aos Xebanos a fua inveiw
J^ão, e ufo*: forma-fe de hum até féis Batalhoea^ Q
egundo o numero dos foldados, que houver para
a. fua formatura y fe determina a frente de vinte ^
vinte e quatro até trinta filas em terreno livre ^
mas no cubertp , embaraçado. ^ e de desfiladeiros
p6de a frpnte fer de de^efeis até trinta e quatro^
Os Batalhões .devem fer, de quinhentos homens,
dos quaes A .quinta parte fe arma de partazâpas,
ar-
( ^5" )
ihnasiji^iiie idev^érâo 4 (naAúrcoçio'.^ éinòmè'aos
Pa^thos^^ e o reftosâo FúzileíroSi Divide-fe a co«
lomna^emjttrez íefsôes y mas no combatei tácr imí-
dabrfiiqu&ifá £cd. entre ellas^o meficno campo , que
«edea emitias JElas/ÓâOificia es a guarnecem for-
mando ;na; frcot)e dc: oada íefsâo hiuha .fileira de
Seisi Gapitáes , féis Tenentes j e féis Sargentos y e
oSiuiaia íe repartciA .pklos flâncos;^^.:Arma*íè a co-
Iniima^fakenifliidò 9bn:dugJicandaf a. primeira, filei-
xa..tleífolda]d08:'deix:ailB dkcsiy quesiol os! da frente;;
^atagtiarda ^.e lados òonnopartazan^s^.) e:bmonetaF.
AsjrCòmpanhias de Granadeiros cobtem -aiietagiiar-^
àt.y.oúÍK lhes dá outro emprego iiSra da qoliimna ,
porqtieccriUi:fem ^IJea ie^acha t>em defqndidii com
aspartazanas ^ efpontÔes ^álabai^das ,ie .armas com
])bÍQneÍ0S>rd,ejque tock eâá ouriçáda«'.Ò feà modo
de jdar.fogò ou Jie por pelotões y ou por fileifasy
começando. pélas jdoeentro j e quando eftas difpa-
cãQyOS,íoldado9 daà primeiras fe lançâa de bruço»
novebãa'^ para qi^ os-iontros menos deftros não fa-
faojnoa feus corpos >o;:cftrago., que; Tó/intentaò h^
20r: nos* inimigos. Tem muitas>,edi verias evolu-
ções , '.dividindo^ fe , e dobrando^íè .para os lados
acsfnMSjqii^oKimpCi^silinha&ídfti^.inimi^ f ficando
iStMQzes.q ceaitoeni íCplumQái para obrarão mef-
moy è:]iompet os que. podem Âibrevir^ He admira-
rei o feui fogo , união 9? peza , e facilidade , com
qneuuía de todaa as j^as partes. Muitos louvâo
«ft|p fyítemâjy Ahdré:Ribeiro GoittinliQ còm outros
o:im[()ugnave parn.iiiQtjcia delle iflo Vosbafta. Cor^,
técco heihum rolo de pergaminho j^^panno , ou pa-
pel gr olíbi cheio do neceflj^rio para a carga de hum
ca-
canhã(^': luios^ sáo cheios de pólvora j iputros^^de
ferros miúdos, como pedaços dccadeas, balas pé«
quenas,. cabeças de pregos , canos de piilolas, ficCé
a fim de fazer maior deftroço. Caftelh he hum l»
gar rodeado de torres , e íbíTos , e algamas :TeiGC8
fòrtíficado .de miirálha; com hum bom parapeito.:
edificao-fe ctímmummente em lugares aomitiiíiiteB
de alguima paflagem. Cava he hum caminho aberto
na terra pairai aurtír os que trabalháo na trinchei ni
ÇavaUeiríh he hum montei' de terra elevadd ^^humaa
vezesuredoodo ^ontrasr. orado >'oUtvas quadrado^.;
em que fe pôe hiima plataforma cercada de fett>pa««
rapeito para cubrir os canhóes: : he feita efta oopin
para fe oppôr a alguma . bateeid , e deknbrir . me-*
Hior a campanha. Cavallo. de Frissã' he nome deriva»
dô da Villá;de Groeningen cm Frizíà , no fitio dá
anal forão yiftos a primeira vez : he huma* tra^e
de qiiafi hum pé de diâmetro de groflb , é oompri<*
da dedez^até doze pés, lavrada por' finco, oa féis
faces atravefiadas de eftacas^: com pontas de^feirois
póe-fê nas |)áfla]g^ps, y pôr onde bSodetii^ as Ttò^
{)as inimíg;as , nas entradas das brechas , e feme-^
hantes partes. Gatida de^JÍndarinba hQ huma* obr^
d|eftacada y cujos ladoânâd são* panilellosy lalar^friK»
do-fe para. a campanha: y 4! eftreítando^ie para ^o-pati»
te da Praça. Bftaobiiaf^ qoaodo cobre a- cortinando
corpo dá Praça ', e a ieu; revelím: , não differe da
fimples tenaUia mais que em fer mais eftreita da
parte dariPraça , feolfo os ramaes das tenalhai pa^
râkllos tínttc ã. Cazamatu hc huma praça; cui:ierta
de abobada na parte do: flanco , que eftá junto da
cortina , íeita^ para £izer fogo lobre o inimigo ^
que
qbe àccpmaiettet face oppofta y ou o Foffò.:^ Cefiffes
i2o: huns grandes coftos igualmente Itrgos em íl»
ma >..e :em^hatxai dá quati^. até oitoi pés de diame^
tto ^ iidtíiícis ^tté dtz de dlmra.': encheiíFie de :ter4
cé para: íer^iiem de iparaffeitò , algutnaa vezes fe
Ibrmão còmelle&aS ínerlôes das baterias , outras
▼ieseSrfe empregada nos aloj amentos ^de algam pof-^
to y ie.em mitrts: iemeihantes coufiia Cefpeie^^^o
torrôds -de teifra. frefca v^r^n^^ V^^^^^^^ jde hef^
y%,y de quaíIHum^pé^de oomprimentó', e. meio pé
dè groflò :.fervétai ^ara revàeftir o reparo jb para*
peito j e foflb ^ e para guarnecer -as galerias.^ Ha
tafiiheoi outra eípecíe de Cefpedes de hum pé do
cxifQprida', meio pé de largo y*e quatro polegadas
de groflb !por iguaJ. Chamada he o final v qor. eni
tempo dé>fitio le £iz com o toque de caixa, ou de
trombeta para íè tratar de al^macoufr. O'iadb/4
he hum forte de^quatro até íeis baluartes edificada
febre, algum' terreno ^' feparado da povoação pôií
neiode.hqma explanada para fofter os povos xni
réfpeito , e defeiidcUos fe o inimigo os <]uizefc íe*
nborear. Circtêmvalafáa he buma cava^oue osr fitia^
dores, fazem a tiro de * canhão xla Praça ' em todo to
ckx:uito do fen campo c he flanqueada ea diftanciaSs
deyidas', e guarnecida > de parapeito ; fna^^oíiindíf
dade he de fete até oito pés , e fua largura dèid&»
se : ferve :paraí impedii; aos fitiados os oãmbois ^ e
foccorros , e também para que ^)s íoldados úú^àsk
xs&jo^. dsifittfiis^^. C4japQ« MrfsMMs»- .cava
de féis até ícte pés. de alto np f^indo de hum foíFq
fócO| caminhando através dofoífo em linhas paral-
lelaâ de quinze até dezoito pés de intervallo , e
guarnecida de feu parapeito de àous* pés re metovde
alto com fhas feteiras ,'çi todò4> v^oTe cobre com
mantas de madoira carregadas dê t^mi^Columna 4ie
huma compoda filaideíbum exèrôíto ^y t^uánda vmií
emmarcha;^^^!!!»^^?^ bei hatn jfodcorror^iqne i^opfta
de Tropas,' dintteirò, e ihoniçôes.^ Cawi»ííjj7iw
rnl ;he o terceiro OBicíal Geral* de todosos Rtgiw
cnentâ8 4% Caviíllaria ligeira t examina) fe eftáo os
Regtixieaco9c'em:boiileftadQ f>pafia^lhes tboftrái-^os
obriga:. aos .Qfficiaes^ja ^erfàçáo Brifbâifobrij^açãòy
Commijfarh ^. Guerra he hum Official^eítabeiecidò
para. a: fpolUtica militar i^ p qual refolTe as-difficiiU
dadeq y^tque íbccedeal nò tempa das marchas y go*
Terna :Ó9 {viyandeiros ^«le difthíbuieos bilhetes^^toa
boletos párdi^bs aldjamentos',.é «iÇifte ás hinftrsá^
Conpta',apr4íches:isio as obras^ que o^ fitiádos fazem
para feirem imiteis os aprbches dos íitiadores. -Caru
trábhàtôriaiho^híím^ hsítcria( oppofta á do inimiga.
Câf^tn^ries. aao. Icertas. partes da muralha udiftames
hmnar dqsroutráa.de quinze atei vinte pés y aravi
çando^rfe o^ mais' que for' poffivel pára dentro do
terróno ^. e íe ajuntão dgumas^ vezes por meio 'de
arcxkrna : altura do cordão ;para foUerem aíEm me*
UiaralgbnM^paírce ^ reparo ^:e. fortificar o tecra^i»
fSkn&MoC^nnfãgfioriiaf y^^ iihràs^^ giioiw
uecidás os; parapeitos I a^quaès fe levantão dédei»i*
trp do Toflb diante da face ^ e do angulo flanqueai
do(.'paraHoá.xotirervar«ii;j ■ i/ .r.<^.-':)oi
. > t
m
r v\ ['''iiii I í ■ I iiT
ISBOA ~, Na Olficina de Miguel Manefcal dá
Cofta, ImpjeflTor do S. Officio. Anno 1763, ',
Com todas as licenfas neçejfarias\
(49)
CONFERENCIA V.
COntramina he hum caminho fubterraneo^
que os íitiados fazem para acharem a mina
do inimigo, e tirarem a pólvora , para que
dando fogo ao raftilho , náo tenha a mina
o defejado effeito. Também fe fazem as contrami-
nas , quando fe edificão as Fortificações , para evi-
tar o trabalho no tempo da necellldade. Contraef-
carpa he a parte inclinada do foíTo mais próxima á
campanha ; vulgarmente fe entende por efcarpa o
caminho cuberto , e a explanada. Contravallação he
hum foíTo guarnecido de parapeito flanqueado em
diftancia de mofquete feito pelos íitiadores para ie
cubrirem contra as fortidas dos íitiados. Cordão he
huma banda , ou faixa de pedras de meia volta y
que fe póe entre o fim da muralha , e principio do
parapeito , cercando toda a praça em roda. Cornat
são obras avançadas á campanha com dous baluar-
tes na frente juntos por huma cortina , e commu-
nicados á praça por dous ramaes. Coroa he huma
obra deftacada da praça , e unida ao foíFo principal
f)or meio de dous ramaês^ tendo na frente humba-
uarte inteiro , e a cada lado hum meio baluarte,
<|ue feajuntâo por duas cortinas: he guarnecida de
parapeito , e tem feu foífo. Coronel he o Oflícial ,
que governa hum Regimento. Corpo de batalha he
ogroflb do exercito, que marcha entre a vanguar-»»
da , e retaguarda. Corpo da guarda he hum pofto
guardado por íoldados governados por hum Offi-
Tom.VlI. E ciai.
ciai. Corpo de referva he hum deftacamcnto do cr-
ercito pofto detrás das linhas no dia do combate
para foccorrer os poftos mais fracos. Corredor he
o mefmo que eftrada encuberta. Cortadura he hu-
ma pequena linha de quatro até fínco toezas , que
fe accrefcenta i cortina , e ao orelhão para fe for«
mar a torre concava. Chama- íe também cortadura
a obra , que os íitiados fazem , quando temem nao
poderem fuftentar o pofto atacado. Cortina he a li-
nha do reparo 9 que fempre junta dousflancos. Cau^
raças são Cavalleiros armados de couraças.
D
DEcagono he a figura de dez lados , ou de dez
baluartes. Defcida dofojfo^ ou Sapa^ hehama
cava na eftrada encuberta guarnecida por fima de
páos y e taboas carregadas de terra para defender
do fogo dos fitiados aos que querem defcer ao foC»
fo. Defenfas são toda a íorte de obras , que flan*
queão outras partes da fortificação. Demigola he a
linha tirada do flanco ao angulo da gola. Desfilar
he marchar a quatro , ou a féis por manga , ou por
meia manga. Deftacamento he hum certo corpo de
gente de guerra tirado de outro maior para ir obrar
alguma acção. Diftancia dos Polygonos he a linha ti-
rada do extremo do flanco junto á cortina até o
lado exterior. Divisão he quando indo hum bata-
lhão em marcha , fe fepara , e divide em féis cor-
pos. Dobrar fileiras he hum mandamento dos íoU
dados para de duas fileiras fazerem huma. Dormir
d lerta , ou avançado , he paífar a noite com as ar-
mas na mão« Dragões são foldados , que peleijão a
ca-
( n ) .
cavallo, fe Mmbem a pé, são os primeiros, que vao
á guarda dos ataques , e fervem de fentineías per-
didas.
E
EMbofcada he o lugar , onde fe efconde algum
corpo de gente para afialtar de repente o ini^
migo. Encravar o canhão he metter-lhe por força
hum prego no fogão , a que chamais erradamente
ouvido , para que íe não poíTa ufar delle. Enfiar he
atirar por todo o comprimento de huma linha re-
fta. Enneagono he hum polygono, ou figura de no-
ve lados. Efcalada he hum ataque feito com efca-
das, encoftando-as ás muralhas , para que fubindo
por ellas, e por cada huma muitos foldados juntos^
poísão entrar a render a praça. Efcaramuça he a
piileja de alguns foldados deftacados de hum, e ou-
tro partido antes que os ^exércitos dem a batalha.
Efcarpa he o talud, ou inclinação da muralha defi»
ide o plano da praça até o foflb. Efpalda he o ef-
-paço , ou terreno fronteiro ao angulo da efpalda.
£Jpor4o he o mefmo que contraforte. EJquadroes
«âo muitos Cavalleiros poílos em forma de peleija
^m trez fileiras. Efquadra he a terça parte de hu-
jna Companhia. Eftar de dia he ter o mando do a-
4aque de hum fitio , ou de algumas Tropas por
4:empo de vinte e quatro horas. Eftrada encubertã
hc hum ramal de quatro até finco toezas á roda do
foflb de toda a praça , e guarnecido de íeu para*
{)eito. Eftrada de rondas he huma rua entre o terrai-
-pleno ^ e a muralha para a pafiagem das rondaSé
'EftrtíagemayíQ.z. ficção , que o ioimigo faz ^ ou fc
E ii * faz '
faz âo inimigo. EJirella he huma obra de fiiaitas
faces, cada huma das qiiaes flanquea a outra. Exa--
gono he o polygono , ou figura de féis lados. Ex^
planada hc o efpaço , que fica entre a Cidadela , e
huma praça: também he o efpaço defde o parapei*
to da eftrada encuberta até o terreno natural da
campanha. Evoluções são os movimentos , e figu-
ras , que fe mandão fazer aos batalhões , e efqua-
drôes.
F
FAce he a parte do baluarte mais avançada á
campanha , comprehendida entre o angulo da
clpalda 9 e o do baluarte. Fachada de huma fortifica^
fão he toda a fortificação de hum lado exterior^
a faber , duas faces de dous bahiartes vizinhos,
feus flancos , e a cortina y que os ata. Fachinas àão
molhos de miúdas vergas de arvores de hum pé e
meio de diâmetro , e quafi quatro pés de compri-
do atados pelos extremos , e pelo meio : fervem
para a fabrica dos candieiros , e efpaldas , para en-
cher, e cegar os foflbs: algumas vezes fealcatroáo
para queimar as galerias , e outras obras dos ini-
migos. Falfahraga he hum pequeno reparo da lar-
gura de quatro toezas guarnecido de parapeito , e
banqueta, o qual cerca toda a praça, em roda: fer-
ve ou para fazer mais regiamente fogo fobre o ini«
migo , quando fe acha já tão avançado , que os d^
feníores o não podem bem defcubrir de fima do
reparo do corpo da praça , ou para receber entr^
o feu parapeito , e a muralha as ruinas, que os ti-
ros do inimigo causao no reparo da praça. Fazer
\
(n)
fiigo 4ie atirar fem ceflan lavLer alto hc parar. Fa^
gier patrulha he andar de noite pelos quartéis de-
pois das horas de recolher para impedir algumas
deíordens. Fazer ronJa he andar de noite foore as
muralhas á i^pda da praça para elcutar fe fe perce*
be final de inimigo ^ que a queira aflaitar^ e junta-*'
mente ver ie as féntinelas tazem a fua >obrigaçâo«
Fasier alto he pôr os foldados fobre as armas em
prefença do Official j que tem o feu governo , ou
íeja para fazer guarda ^ ou para aíEm efperarem aU
guma peíToa principal j que vem chegando áquelle
utio, ou para lhes deter o furor ^ e evitar a defor-
dem. Figura ^ ou Polygono , he o defenho de huma
Praça y que fe quer fortificar. Fi/a he huma linha
direita , que os foldados fazem eftando formados
huns diante dos outros : na Infantaria o numero
dos homens de huma fila chega até íeis ; porém na
flavallaria cada fila tem fó trez. Flanco he a parte
do baluarte , que ata huma face , e huma cortina
^o8 feus dous extremos , huma a hum : ferve para
defender a face do baluarte oppofto. Flanco cuber^^
lOj ou retirado , he huma efpecie de cafamata, que
tem huma plataforma retirada para junto da linha
capital , e cuberta do orelhão. Flanco fix ante he a-
.<)uelle , cujos tiros fe ímpregão na face do baluar-
te oppofto. Flanco obliquo^ ou Flanco fecundar io ^ he
huma , parte da cortina , que lava obliquamente a
face do baluarte oppofto. Flanquear huma Praça he
«dificar huma Praça com tal forma , que não haja
nella parte alguma , que náo feja defendida , e da
3 uai fe não poíTa bater o inimigo de face , e de la-
o , e obrigallo a que fe retire. Fogão he o bura-
./Tom. VIL E iii co.
(5'4)
CO , por onde fe dá fogo a qualquer ârina 5 s tpiè.
vds coftumais chamar ouvido. Fornilho he huma
concavidade de oito até dez pés de largo j e do3BV
de fundo, a qual fe enche de barris, e íacos depot
vora , entre os quaes fe mette huma falchicha com*
prida, para que venha fahir a outro lugar, em que
fe lhe dá fogo , para que voando o terreno , que
fobre elies cSá , leve também comíigo os que alli
fe acharem. Forfúlbo , ou Comera da mina , he hum
buraco profundo fdco na groflura do reparo ^ or»
dinariamente em forma quadrada : a fua carga he
proporcionada ao terreno , que fe pertende fazer
voar : a pólvora , que fe lhe mette , ou he em bar«
ris de cem libras cada hum , ou em íacos de finco-
enta libras , o que explicaremos depois. Forriel hc
hum Oíficial , que tem o rol dos foldados de huma
Companhia paralhesíàzerorepartimento dos quar-
téis , e da pólvora. Forte de campanha he huma o-
bra feita toda de trincheiras , e deílinada para oc-
cupar qualquer pofto, fegurar apaflagem de algum
rio , cercar algum monte , que fe quer confervar ^
e para fortificar as linhas , e quartéis de algum fi-
tio. Fortim he huma pequena obra com forma de
eilrella para fegurar o circuito das linhas de cir-
cumvallaçâo. Foffo he huma profundidade larga em
fua proporção , que rodea toda huma Praça , e fer-
ve a fua pafiagem de grande impedimento ao ini-
migo. Frente de bum batalhão he a primeira fileira
de hum batalhão. Fuzileiros são os foldados infao^
tes com armas de fogo«
Ga^
G ■ ■ " ; ■ •■■•
G'^ Akria he ham corredor de madeira formado
ir no fundo do íbflb , e as pranchas^ que o fe*
chão pela parte de fiaia ^ carregadas de terra, para
Siae ds mineiros pofsáo paflar cubertory femjqne o
ogo , que o inimigo Jbes deitar, de fima y Jhes faça
damno. Gola he a entrada do terrapleno de qnal^
quer baluarte ^ ou de outra obra ae forrificaçâow
Gradet / ou Mantas y he bum paralielogramo pro-;
lòngado feito de vergoutas de arvoreiS; béoíL entre^
laçadas hnmas por outras , e carregadas de tetras
cobrem , e livrao dos fogos do inimigo 2ds que (e
acháo em algum lugar expofto : fervem também de
fazer firmes os lugares alagadiços , lançando-as fb»
bre elles. Granada he huma pequena bola de ferro ^
ou fòUia de Flandes , páo y ou papelão , ooncavfi^
e chea de pólvora fina , na qual fe dá fogo por
hum foguete , que em fi tem , a que chamao tem*
po : deita- fe com a.máo em os lugares , onde oa
toldados fe achão juntos, como nas trincheiras, a^
lojamentos , &c. Granadeiro he hum foldadp arnM4
do de catana , efpingarda , embandoleira , e bnmit
bolfa chea de granadas. Grande femidiametro he a
4inha tirada do centro de huma praça até o angulo
flanqueado do baluarte. Grandt guarda.hí^hxaà\i Q\jk
muitos efquadrôes avançados meia légua, ao campa
do inimigo ^ mandados por hum Officiaí , que dif-
tribue outras pequenas guardas a diverfos póftos
para obferrar mais exaâamente oa movimentos do
«nimigo. Grojfo he hum pequeno corpo de Tropaa^
Crojfo de htm exercito he o corpo, quCiaM entre 4i
'^ van-
ÍS6)
vanguarda y e retaguarda : alguofias vezes fc dá efle
nome a todo o exercito, que fegue os deftacameo-
tós, que fe tém fenhoreado das avenidas de biinni
Praça j que fe auer íiciar. Guarda , abtolutamente
fallando ^ he o íenMço , que fe faz em huma Praça
para a ícgurar daè entreprezas dp inimigo. Gnorv
da avançada he hõma guarda , que paíFa a noite no
campo fobre as armas para fegurar os quartéis do
exercito y oppor-fe aos ioccorros , e impedir as fob?
prezas. Guaríta. he huma eípecie de torre de pe^
quena redondeza. feita de pedra, ou de páo, poftá
no angulo dò' bakiarte , ou no meio da cortina pa-
ra allí fe alojar a feotinela , aue vigia o foflo. Guar^
nifãoh^ a gente de guerra deftinada para defender
huma Praça.
Ommeque he o mefmo que corna , obra , qae
os Engenheiros preferem a muitas , por fer
nocavel a fua deíèza : pela frente fe forma de doas
meios baluartes juntos por huma cortina : íerve dç
eccupar eminências , e defcubrir procli vidades : o
leu lugar he indifierente , porque humas vezes íe
Êizení defrontb dos baluartes , outras defronte das
cortinas ^ quando as defenías deftas sáo muito di<»
latadas: os feus ramaes ou sâo..parallelo$, ouflan*
qneados , bumas vezes fe eftreitSo pela parte da
campanha ,; ouths pela da Praça.
••» '^
INfantaria he o corpo de foldados j que peleja a
péi Ingenbeiro he hum foldado fciente , e perito
oa arte de deíephar todas as efpecies de obras , de
re-
i. ' \
reconhecer o forte , e o fraco de huma Praça , dev
fender , e atacar algum pofto , &c. Invalido hê o
foldado eftropeado na guerra , e incapaz de fervir,
Invejlir bima Praça he fenhorear-fe das avenidas ,
e efperar o groflTo do exercito para a atacar.
L
LAdo exterior do Polygono he huma linha tirada
do angulo do baluarte ao do baluarte proxi-
mo. Lado interior do Polygono he a diftancia de hum
angulo da gola ao angulo da gola próxima. Linha
de hum exercito he adifpoíição de hum exercito for-
mado em batalha, fazendo huma grande frente em
linha re£la para náo fer cortado , nem carregado
pelo inimigo. Linha he hum foíTo guarnecido de
parapeito: cambem fe dá eíle nome a huma enfiada
de ceílôes, ou facos de terra , que formão também
huma linha para os foldados fe cubrirem do fogo
do inimigo. Linha capital he a linha tirada do an-
gulo da gola ao angulo flanaueado. Linha cogrital
he a linha tirada do centro aa Praça á gola. Linha
da dafenfa he huma linha reprefentada pelo tiro de
ixiofquete para defender a face do baluarte oppof-
to. Linha da defenfa fixante he huma linha tirada
do angulo da cortina até o angulo do baluarte fém
tocar a face. Linha da defenfa razante j ou Linha da
Aefenfa flanqueante , he a linha tirada do ponto do
flanco 9 donde a defenfa começa a defcubrir a face
do baluarte oppofto até o angulo do mefmo balu-
arte. Quando ha flanco fecundario , efta linha co-
meça da parte da cortina , donde fe defcobre a fa-
ce do baluarte oppoâo. Linhas de communicação são
a3
as trincheiras ^ que vão de hiima obra a ontra. Zi-
nbas interiores sáo foíTos guarnecidos de parapeitos
da parte do lado da Praça para impedir os defer*
tores. Linhas exteriores são foflbs guarnecidos de
parapeitos contra a campanha para impedir as fob->
prezas. Lunetas sáo humas pequenas ooras de duas
faces poftas fobre o angulo , que o foíTo do corpo
da Praça faz com o do revelim diante da cortina :
também fe fazem no meio do foíTo em lugar de
falfabraga para lhe difputar a paflagem : a largura
do feu reparo não tem mais que finco toezas ^ e a
do parapeito trez,
M
Mandamentos são as palavras do Official y que
faz o exercicio aos foldados. Mantas são ta«
boas unidas , e cubercas de folha de Flandes poftas
fobre rodas , que os gaftadores trazem diante de ÍI
na occafião do trabaltio para fe cubrirem contra o
fogo do inimigo : a fua altura he de íinco até féis
pés j e a largura de trez taboas. Manga he hum
corpo pequeno de Infantaria de fincoenta , ou feí^
fenta homens. Merlão he a parte do parapeito,
que eftá entre duas canhoneiras : ordinariamente m^
feu comprimento interior he de nove pés , e o ex-
terior de féis. Meio baluarte he huma obra compot»
ta de huma face, e hum flanco. Meia lua he huma
pequena obra feita fobre a contra-efcarpa defronte
do angulo flanqueado com fuás faces , e flancos
guarnecidos de parapeito : também dâo efte nome
aos revelins , mas impropriamente , porque eftes
são as obras fronteiras ao meio da cortina. Mina
he
( S9 )
he hum caminho fubterraneo , que fe encaminha a
hum , ou dous fornilhos cheios de barris de pólvo-
ra , aos quaes íe dá fogo , quando fe quer fazer
voar o lugar debaixo , de que elles eftâo. Mineiros
sâo os foldados deftinados para o trabalho das mi«
nas. Molinete he huma Cruz de páo pofta horizon-
talmente fobre outro páo a plumo , em que anda á
roda 9 e fe pôe nas entradas das barreiras , ou ao
lado de cada entrada , e tem nos extremos (uas ar-
golas 9 com que íc prendem , e ainda quando fe
foltâo impedem o entrar de tropel. Montar a bre*
chã he fubir pela brecha com a efpada na mão , e
entrar a Praça por força. Morteiro he huma elpe-
cie de canháo curto femelhante a hum íino y pofto
fobre huma carreta de quatro rodas pequenas , o
qual íe carrega de bombas / carcazes , ou pedras.
Movimento he a mudança de pofto , que faz hum
exercito. Moftra he a rcvifta , que fe faz aos folda-
dos para lhes pagar , ou para faber quantos sâo ^ e
os que faltão , ou para feparar dos bons os incapa-
zes. Mofquete he huma arma de fogo ^ que trazem
os foldados chamados Mofqueteiros , á qual fem
differença de calibre , pezo , e comprimento cha-
mais efpingarda. Mudar as guardas he a renovação
das guardas ao romper da alva. Muralha he huma
parede feita para íofter melhor a terra do reparo,
para que fe não esboroe.
N
N
Ivel da campanha he a fuperficie horizontal
de hum terreno ^ que não defce y nem íòbe.
Obras
'( 6o )
o
O Brás iejlacadas são as obras , que cobrem o
corpo dâ Praça do lado da campanha. Obras
exteriores sáo todas as obras íitiiadas do foflb para
a parte da campanha , como revelins , meias luas ^
&c. Occupar buma altura he fenhorear-fe de algum
Ingar fuperíor a outro. Oãogono he huma figura de
oito lados. Orelhão he huma pequena redondeza
reveftida de muralha , e avançada fobre a efpalda
dos baluartes , onde fícâo as torres concavas para
cubrir o canhão j que fica no flanco retirado. Or^
gãos são huns páos groíTos , e compridos , defuni*
dos huns dos outros , armados de pontas de ferro
em huma fó parte , e íufpendidos por cordas no ai*
to das entradas das portas , as quaes cordas fe lhes
cortâo em cafo de neceílidade para impedir a en-
trada. Ouriço he huma trave guarnecida de grande
quantidade de pregos com as pontas para fora:
pôe-fe como em balança íobre hum páo a plumo ^
no qual anda como em couceira , e ferve para fo*
char as entradas y e abrilias , quando for neceíTario.
LISBOA , Na OfEcina de Miguel Manefcal da
Cofta, Impreflbr do S. Oíficio. Anno 1763.
Com todas as licenças necejf árias.
CONFERENCIA VI.
Alijfadas sâo eftacas altas de finco até fete
pés agufladas no alto , c groflas de oito até
nove poUegadas : põemle diante dos luga-
res, a que fe lhes pôde chegar com amSo^
como na explanada , e na gola das obras deftaca-
das : dev^m pôr-fe tão unidas , que não fique entre
ellas mais vão ^ que o que baftar para caber hum
pique , ou hum mofquete. Ponte de junco he huma
ponte , ou efteira quadrada feita de molhos muito
froflbs de junco , ligados htins com outros , e cu-
ertos de pranchas : pôem-fe nos lugares húmidos
para fer firme a paflagem. Fonte volante he huma união
de duas, ou mais pontes de quatro até finco toezas
de comprimento poftas humas fobre outras, de for-
te que a de fima fe eftenda por meio de cordas paf-
fadas por roldanas , que íe achão nos extremos da
ponte , que eftá deba/xo , e que a fazem correr até
que chegue ao lugar, onde fequer pôr: ferve prin-
cipalmente nas fobprezas dos foflbs eftreitos. rmte
àe barcas he feita efe bateis de cobre , ou folha de
Flandes, e em cafo deneceflídade, de madeira leve :
íbbre clles íe armão as pranchas , pelas quaes paf-
são os exércitos os rios. Porta he huma união de
pranchas para fechar a entrada de hum recinto. Por^
til f alfa he a que fe faz na parte mais baixa da cor-
tina, ou detrás do orelhão, para fazer asfortidas,
fem que o inimigo as perceba. Pofio he toda.a efpe*
Tom. VIL F
cie de terreno capaz de alojar foldados. Praça de
armas he todo o lugar capaz de fe formarem nelle
os efquâdrôes , du batalhões , que háode marchar
para alguma parte. Praças de armas da ejirada encu^
berta são os efpaços , que a eftrada encuberta tem
nos ângulos falientes , onde íe põem alguns falco»
netes para fazer retirar aquelles, que quizerem che-
gar á explanada. Praças fortificadas sâoaquellas, ekn
que as linhas são conforme a arte dirpoftas ^ e bem
flanqueadas. Praças irregulares sãoaquellas, cm que
as linhas , e ângulos do mefmo nome sáo deíiguaes«
Praças regulares sáo aquellas , cujas linhas , ^ ân-
gulos do mefmo nome são iguaes entre fi 9 não fen-
do huma face mftis comprida que outra > nem hum
flanco mais pequeno que outro, Prefil he a réprc*
fentação de huma obra com feus comprimentos, lar-
guras , e alturas. Prebofie he o Oficial , a cujo car^
go eftá o prender, e caftigar os defertores , e mais
foldados, e.q4e põe a taxa aos viveres do exercito:
a efte chamão em Portugal Capitão da Prepofla,
corrompendo o nome próprio.
o.
QUadrado hehuma obra:de quatro baluartes. Quar^^
íel da Corte he o alojamento do General da
• exercito. Quartel debumfitio he o acampamen»
to , que fe faz fobre huma das mais importantes paf».
íagens , que feiaçhãp á roda de huma praça íltiada.
p^ra impedir QS íbccorros , e qs combois. Quartel
Mejlre General, he o OiHcial , a cujo cargo eiy o a*^
lojamento do exercito. Quartéis sâo as cafas feital
para a guarnição de huima praça.
( ^3 )
R
RAçâo he huma certa porção de pão, ou de for-
ragem , que fe diftribue a cada foldado. Ra-
dio he a diftancia do centro até i circamfèrencia de
hum circulo. Ramaes são huns grandes lados , que
atão alguma parte da praça principal com as obras
exteriores , ou fejão tenalhas , cornas , &c. Ramai
da mina he o caminho íubterraneo , que guia aos for-
nilhos« Ramal he huma trincheira comprida em li-
nha refta para défehfa de alguma obra corna j ou
coroada. Raftilbo he huma porta degrades, ou bar-
ras de groffas vigas agudas nos extremos debaixo
pofta á entrada da porta daPraça, efurpendida por
huma corda atada a hum molinete , que fe corta em
cafo de neceifidade para impedir a entrada. Recinto
he a circumferencia de huma Praça ou eftcja guar-
necida de baluartes , cortinas , ou não. Reconhecer
huma Praça he advertir nas ventagens , e defeitos
dcUa antes de formar o Ç\úo. Redutos são ok^íbl^
dados novos ) com que fe enchem as praças vazias ,
que feachãd nas companhias. Redentes são as obras
feitas cm forma de ferra com ângulos reintrantes,
e falientes , que fe defendem reciprocamente : tem
o feu principal ufo nas entradas dos rios. Reduílo he
hum pequeno forte quadrado fem mais dcfenfa que
a da frente : fazem-fe ordinariamente nas trincheiras ,
nas circumvalaçôes , e contravalaç6es : algumas vq^
«es fcvfeveftem de muralha, quando fe fabricão em
tugarbanhado de mar, ou rio. Refocete he hum pe-
queno foflb de quatro toezas de largo , feito ordi-
nariamente 00 meio dofoflb feco , iité que fe tope
''■'■ Fii 5»wx
comsgua: coftuma fazer-fe para difputar melhor ao
inimigo a paíTagem do foíTo , e impedir-lhe as mi-
nas. Regimento (talvez que ifto , e outros nomes conoh
munsdaMilicia, que deixo dê explicar , ignoreis) be
hum corpo de muitas companhias governado por hora
Coronel. Retaguarda he a parte do exercito y que
marcha nas coftas da batalha para guardar , e itn^
pedir os que auizerem defertar do campo. Retirada
he huma trincheira formada de dous parapeitos com
hum angulo reintrante , algumas vezes com foíTo
guarnecido de parapeito , a qual fe faz nos lugares ^
em que íe dilputa o terreno , palmo a palmo. JRe-
velim he huma pequena obra triangular compofta
de duas faces : tabricâo*íe ordinariamente fobre o
angulo reintrante do foflTo: diante da cortina. ReviJ^^
ta he a moftra das companhias em forma para ver
fe eftáo completas ^ e em bom eftado ^ ou para lhes
pagar. Revejlir he cercar huma obra com bom inu«*
ro , ou com ceftões de terra. Rolar he mandar al-
ternativamente , o que fuccede ^ quando fe acbão
muitos Oíficiaes de igual Patente , e reputação , e
fe lhes ordena que governe hum dia hum , e outro
dia o outro , para que nâo haja em algum delles
defconfiança da eftimação do feu preftimo , e mere-*
cimento. Ronda he huma guarda de noite , que o
OíEcial faz á roda da Praça fobre o parapeito , otl
reparo delia , para obfervar a fidelidade, e vigilan-^
cia das fentineías. Reparo he a terra calcada , e bera
folida,^ fobre a qual roda a artilharia, e fe fórmaa
guarnição de huma Praça para a fua defeza, e m^iÉ
funções militares , a qual pela parte do campo he
guarneci4a á% mpr^lha. de cantaria. :. vós chamais
mu?
(6s)
muralhas a tudo o que hc muralha , e reparo fera
diftinção alguma j tendo muita , porque a muralha
he hum muro de cantaria efcarpado com boa capa-
ta , € lanços compridos para dentro y que o fuftentâo ,
e fe ligão com outros , e eftes vazios íe enchem de
terra bem calcada^ efolida, ecfte he o reparo, tão
largo ordinariamente , que fobre elle fe faz exercí-
cio a muitos Regimentos , e fe formão novas obras
deftruidas as primeiras.
SJca de terra he hum faço de panno groflb , que
leve pê e meio cubico de terra: ferve em varias
occaíiòes , principalmente para fe cubrirem á preíTa
contra o fogo dos inimigos. Salchicba he hum chou*
rico de panno muito comprido com a coftura alca-
troada , e cheio de pólvora : a fwa groíTura he de
pouco mais que huma bala de mofquete : hum dos
feus extremos fe mette na mina , fornilho , caixão
de bombas , &c. e outro extremo fe eftende até o
lugar j em que fe acha o Mineiro , que lhe ha de
dar fogo. SalcbicbÕes são molhos de toda a cafta de
madeira atados pelo meio , e pelos extremos , os
quaes fervem em lugar de fachinas. Salvaguarda he
huma guarda , que o General do exercito dá á al-
gumas terras, que reduzio á obediência doíeuPrin-
cipe , para os defender das tropas do mefmo , que
por ignorância os podem invadir: também as coftu-
mão dar osGeneraes a Conventos, e outras peífoas
por benevolência , ou empenhos^ Sangrar hum fojfo
he efgotallo da agua por caminhos fubterraneos ,
para que afllm lepofla piflar^ lattamdo primeiro fo«
Tom. VIL Fiii \^t^
( 66')
bre o lodo ramagens , vergonteas , ou ponte de jaa^
CO. Santo he o final de nome, que fe dá cada noite
no exercito , ou na Praça pelo Official de tnaior
graduação , o qual fe communlca em fegredo aos
Oíficiaes , e foldados das guardas para fe aflegura»
rcm contra as fobprezas , e communicaç6es do ini-
migo , ou efpias. Sapa he a abertura , que fe faz na
explanada, eeftrada encuberta: forma- fe de madei-
ros , taboas , ramos , e terra para defender dos fo-
gos artificiaes do inimigo: abre-fe deitando a terra
para huma, e outra parte, e comella mefma fevâo
cubrindo, e amparando. Segundo flanco hehumapaiw
te da cortina , que defende obliquamente a face do
baluarte oppoílo. Sentinelas perdidas são os folda-
dos de cavallo tirados das companhias , que fe adi-
antão ás tropas mandadas occupar algum poílo. Ser^
ra-fila he a ultima fileira de hum efquadráo. Sitio
he o acampamento de hum exercito á roda de hu-
ma Praça , que fe quer atacar. Soccorrer a Praça he
fazer levantar o fitio. Senha , e Contrafenha he hum
final, que dá o Official juntamente com o Santo pa-
ra fe conhecerem melhor os inimigos , quando íe
encontrão de noite. Sortida he a marcha das tropas
da Praça , que fahem a aíFaltar o trabalho dos fitia-
dores , póftos , alojamentos , aproches , quartéis ^
&c.
T
TAhoSes são groíTas pranchas, de que fe cobrem
as plataformas para fuftentarem o rodar das
carretas , impedindo que com o pezo dos canhões
& não encravem as rodas na terra. Talud , veja-fe
^fcarpa. Tempo he hum canado cqmo hum fogue«^^
te*'
te i que fe mette no ouvido dos petardos ] e das
bombas para por elle lhes dar fogo. Tenalha dobre j
ou flanqueada , he huma obra , que tem na frente
3uatro faces, que feflanqueão reciprocamente cada
uas , e formão dous ângulos reintrantes , e trez fa*
lientes. Tenalha Jlmples he huma obra , que tem na
frente dous ângulos falientes , e hum reintrante , e
fe compõe de duas faces. Terrapleno do reparo he a
fuperficie horizontal do reparo, por onde andão os
Toldados , e labora a artilharia. Tejlemunba he hu-
ma certa altura de terra , que íe deixa no foíTo , ou
em outra qualquer parte, donde fe tira terra, para
que pela tal altura fe poíTa ver a da terra , que fe
tirou. Tirar á barba he atirar por fima do parapei-
to. Torre concava^ ou Cafamata^ he huma redonde-
za formada pelo flanco retifado , e de dous fegmen«
tos da cortina , e orelhão : nella fe poe mofquete-
ria , e artilharia para defender a face do baluarte
oppofto , foíFo , e eftrada encuberta , e vem a fer o
xnefmo flanco retirado. Travejfa em fua fignificação
geral he hum prolongado de terra levantada ou den-
tro do baluarte, ou fobre a cortina, ou dentro da
eftrada encuberta , ou em outra qualquer parte en-
fiada do inimigo para fecubrir contra elle; mas or-
dinariamente fignifica caminho de communicação,
ifto he , hum pequeno foflb guarnecido de parapei-
to, algumas vezes de ambos os lados, o qual atra-
veflao foíTo do corpo da Praça , humas vezes cu-
berto de pranchas carregadas de terra , outras ve--
zes fem eífe reíguardo. Os fitiadores fe fervem def-
tes caminhos, ou traveífas para conduzirem os Mi-
neiros cubertos até á face do baluarte ^ e por efta
(6Z)
razão fe chama algumas vezes Galeria , ou Líntii
fortificada por fachinas , facos de terra y cefiôes , &c.
Treim^ a que erradamente chamais trem, na paz he
huma cafa , em que fe guardâo as armas todas ^ e
o neceflario para elias : na campanha he hum lugar
fora do tiro de canhão , em que eftão as munições
de boca , e guerra , fogos artificiaes , artilharia y e
tudo o que lhe pertence com guardas. Trem de cam^
fanha he tudo oneceflfario paraella, e em particular
dizemos trem de artilharia y trem de bagagem , Scc
e trem abfolutamente he tudo o neceíTario para o
exercito, e função, para que marcha. Trincheira hc
huma profundidade, ou foíTo, que os íitiadores fa-
zem para chegarem cubertos á Praça , que querem
atacar : algumas vezes fe fazem as trincheiras de ce£^
toes , facos de terra , ftcos de lã , falchichas , &a
Trincbeirauwíto y veja-íe Retirada.
VAnguarda he huma parte do exercito , que
marcha diante do corpo da batalha.
Para melhor vos explicar nas Conferencias fe-
guintes o muito , e goftofo., util , e neceíTario per-
tencente a todas as operações militares , e fortifi*
cação, neceflito explicar- vos as medidas, e os feas
nomes. Linha vale doze pontos. Pollegada he o com-
primento de doze grãos de cevada poftos em huma
linha, e juntos pelas fuás groíTuras. Palma são trez
poUegadas regias. Palmo são oito poUegadas regias»
Pé régio são doze pollegadas. Pé régio quadrado sâo
cento e quarenta e quatro pollegadas quadradas. Pé
cubico são 4I1Í1 íetecentas e vinte e oito pollegadas»
Paffo andante são dons pés régios e meio. Pajp) cem^
mum he o mefmo ^ fe bem algumas vezes fe enten-
de por elle trez pés geométricos. Pajfo geométrico
são finco pés geométricos , ou régios. Covado he o
comprimento de pé e meio. Covado geométrico são
féis pés régios 9 ou feiscovadoscommnns. O grande
covado são treze pés régios e meio, ou nove cova-
dos communs. Braça são íeis pés régios. Toeza he
o mefmo. Toeza quadrada são trinta e féis pés qua-
drados. Toeza cubica são duzentos e dezeíeis pés
cúbicos. Verga são dez pés geométricos : em algu*
mas partes de Alemanha são doze, quinze, edeze-
féis pés. Pereba são trez toezas , e algumas vezes
vinte até vinte e dous pés régios. EJladio em Gré-
cia era a diitancia de cento e vinte finco pés geomé-
tricos. Parafanga medida da Perfia confta de trinta
eftadios. Jugada são novecentas toezas quadradas.
Légua he differente no numero dos paflbs em quafi
todas as nações ^ e já diflb tiveftes noticia em outra
Conferencia , agora bafta repetir que a das Hefpa-
nhas confta de trez mil quatrocentos e vinte e oito
paíFos, e na verdade confia dos paflbs que querem,
porque em toda a Hefpanha não ha huma fó légua
regular, medida, c certa.
Todas as Praças de armas regulares , ou irre-
gulares , (nomes , que já vos expliquei) tem fuás
yentagens, e defeitos. O grande ThamazKoulikan,
infigne Engenheiro , defenhou hum novo methoda
4e fortificações , contra o que efcrevêrão hefta mi^
teria mil cento e dezenove Authores de todas as
nações da Europa ; e fe bem julgarão muitos Enge-
nheiros Hollaadezes.que ló aqaelle methodo nãa^
\2^
(70)
tinha defeito , e era incooqniftaTel • Praça edíSoi»
da com aquelle defenho y de que vos darei noticMi
e figurr, Jorge Lalmet , Alemão Engenheiro infi*
gn^ , prometteo ao Thamaz moftrar-Ihe coma lè
podia render , quando ella fe acabafle , maa amboi
acabárKo a vida primeiro. As Praças fitiiadaa em
montanhas não podem íer minadas facilmente , ot
íitiadores matâo«>fe na condacção da artilharia, qual*
quer pequena. guarnição as defende j defcobrem o
inimigo muito aoi longe , e podem impedir-'lhe à
chegar, gozáó bons ares, não podem fer aflaltadat
com efcadas , são bem fuccedidos fempre nas fortH*
das , e necei&tão poucas obras para ferem bem íbrl
tificadas ; mas ordinariamente não tem agua , he moi^
to difficultofa a conducçâb dos riveres , mutiiçòes^^
c introducçáo de íbccorro , os tiros para baixo fa^
zem pouco efieito, e os inimigos facilmente fe aUv
jâo debaixo da artilharia. As Praças fitnadas na eí^
carpa de alguma rçôntanha, contra a opinião de al^
guns teimofos, sáo as melhores, porque ordinária^
mente tem boa agua j facilmente fe lhe introduzem
viveres , munições , e foccorros , e tendo ( como de»
vem ter) no alto da montanha Forte comeftrada dç
communicaçâo , traveíTa , ou linha , fe o inimigo a
entrar , não pôde fubfiftir , porque do Forte o hão
de bater até defalojar: fó tem o defeito, que tom**
do o Forte , eftá tomada a Praça ; porém tomar o
Forte he a coufa mais difficultofa j como confidera*
nos na Praça fituada no alto de hum monte» Aí
Pjaça edificada em campo plano fem montes cavala
leirois:, arvores , nem impedimentos julgarão mat<
tos qne são cxccilepteS' } porém a experiência teni
mof-
(71)
tnoftrado que são as peiores , porque além de fe-
rem expoftas a baterias por todos os lados , por to-
dos elles podem fer minadas y e lhes podem impe-
dir os foccorros: acalma, efrio nellas he exccflivo,
e fó quem nunca vio defpedir huma bomba deixará
de lhe introduzir mil cada hora, tendo muitos* mor-
teiros. As Praças fituadas em fitios alagadiços tem
as me(hias y e mais ventagens que as fiindadas fobre
montes , porque abfolutamentc não podem íer mina^
das y nem batidas com aproches , mas neceílltão mafs
provimento de quinnaquinna , do que pólvora : he
quaíi impoíEvel (bccorrellas j cuftâo dobrado a fa-*
bricar, porque fe fundão em eftacas , em tempo de
ceadas contínuas tem grande perigo por aíTalto , e
boqueio. Ás Praças cercadas de mar são inexpug-
náveis de Inverno , tendo viveres , mas no Verão ,
ainda que os tenhao y são as mais fujeitas a doenças ,
corrupções de alimentos y e menos capazes de foc-'
corros. As Praças fituadas fobre margem de rio jul**
gão os modernos ferem as melhores, mas a experi-*
encia lhes moftrou emFlandes, e Alemanha que são
as peiores , e quando lhes pareceo era fácil o íoc-
cofro , excellentes para a defeza com pouca gente ^
e difficil ao inimigo opprimlllas por terra y, e agua,
acharão que dominado com duas baterias , e poucas
barcas o rio , era impoíllvel o íoccorro lem huma
batalha , e fem ella , nem trabalhos grandes do ini-
migo fc rendia a guarnição doente, e fatigada, de-
vendo fer muita. Antes da invenção da pólvora to-
das as Praças erão fortes, e muitas inexpugnáveis,
tendo bons, e muitos defenfores; hoje as verdadei-
ras Praças são os exércitos , as inexpugnáveis os comr
(70
poftos de Cabos 9 e Toldados fieis ao Rei, á pátria ^
e honra : cufta hiima Praça o que antigamente cq(^
tavão mil , já não tem numero a multiplicidade de
obras interiores , e exteriores j mas todas (como coih
fefsáo os mefmos , que as inventarão) de mais , oa
menos facíl mina, ataque, econquifta, de forte que
íe gaftão vinte, e mais annos em edificar com o ul-
timo primor moderno o que em vinte , ou menos
dias fe vê deftruido : aíEm o lamenta Alemanha ^
Flandes, Itália, e França, quando o irregulariffimo
Caftello de Villa-Viçofa, por fer obra antiga, nâo
obftante todos os defeitos , que lhe confiderão os
modernos, ecriticos, conferva o nobíliflimo padrão
(efcrito com balas cravadas no formigão dos fetis
chamados baluartes) de inexpugnável, e viéloriofo
de hum exercito Real dos maiores , que Hefpanha
mandou contra efte Reino , defde a lua fundação.
Ifto fuppofto, como o meu intento , e emprego não
he enfinar-vos a defenhar, e fazer Praças , mas íim
o de que ellas conftão , e como fe conquiftâo , ex-
plicar- vos hei primeiro o que &ão armas de fogo, e
o trabalho de as conduzir, e laborar, que tudo ig-
norais, e depois vos direi os incríveis trabalhos, e
modos , com que os fitiadores expugnão , e os iitia-
dos fe defendem.
LISBOA , Na Oflicina de Miguel Manefcal da
Cofta, Impreflbr do S. OíRcio. Anno 1763.
Com todas as licenças necejfarias.
( 73 )
CONFERENCIA VIL
Ebaixo do óome peça de artilharia fc en^
tendem as peças de quarenta e oito libras
de bala ^ de trinta e íeis , rinte e quatro,
dezoito y doze, íeis, quatro, e duas. He
coufa .geral que todas eftas peças alcanção trezen-
tas e fincoenta toezas de ponto em branco , e que
fendo atiradas de cem até cento e rinte toezas^
ptffsâo duas toezas de boa terra , duas e meia fe a
terra não he tão boa , e trez até quatro fe a terra
he muito folta. A carga da peça de quarenta e oi*
to são trinta e duas libras de pólvora , e a carga
para a provar sâo trinta e íeis libras : a peça de
trinta e íeis leva vinte e quatro libras de pólvora ,
e para as outras mais peças fe contâo fempre os
dous terços do pezo da bala , aíEm a de vinte e
<{mitro fe carrega com dezefeis libras de pólvora ^
&c. e no que toca á prova deftas peças , fe iguala
neífa função a pólvora ao pezo da bala. Huma pe-
ça de quarenta e oito péza fete mil libras , e para
marchar neceíEta vinte e quatro pares de cavallos ,
ou malas, e tem de comprimento doze pés régios :
á peça .de trinta e féis péza íii^ico miJ e duzentas
libras, he tirada por dezoito pares de cavallos, oa
mulas, e tem de comprido onze pés régios: a peça
de vinte e quatro péza quatro mil e quinhentas li-
bras, he tirada por doze tiros de cavallos, ou mu^^
las, e tem de comprimento dez pés^ régios ; de for-
te que para cada duas libras de bala he neceífario
Tom. VIL G hum
i»*
(76)
itizem faltar f<5ra com pancadas os íitiados ', que fa-
bem expor as vidas com honras : alguns carrcfgão os
petardos de outro modo, porém cfte he o melhor.
No que refpeita^ ás bocas dos petardos , hims a<^cttl
mais larga do que a culatra, eftes fazem grande bre^
cha , não coftumão arrebentar , mas não tem tanti
força como os fegundos , que tem a hbca igiral li
culatra na largura , e groíTura : os terceiros- teth t
culatra mais larga que a boca , arrebentâo facilinen^
te y pezão muito , e fazem menos eíFeito. O tnõdtf
de os pôr nas portas he hnma das acções mais vIk
leroías , e honradas da guerra , porque ha de ficar
feguro com verrumas de ferro pelas argolas, oa a*
zas de forte que oimpulfo o hâo fepare da porta, e
jfto ordinariamente não (e obra em pouco tempo,
nem os defenfores das Praças sSò como os Ciehtios
de Alorna , que então fouberão que havia petardos
no mundo , quando virão de repente as portas áe€-
pedaçadas. No que refpeíta ás armas de atirar á es-
ra , os arcabuzes de murrão , os mofquetôês , e mo(-
quetes são bons para os íitiados , porque os defcan-
ção nos parapeitos , por ferem muito pczados , e
atirarem com bala de maior lote; mas para osfitia*
dores as melhores armas são as efpingai-das deDie-*
pe , que não fazem repucho algum , lánção a bala
ao menos na mefma diftancia, em que o mofquetfe^
que são cento e vinte até cento e íincoenta toezas.
Jáfabeis o que s^ morteiros, huns tem a boca igual
ao íiindo ,' e em tudo são hum canhão curto , ou-
tros tem a boca mais larga , como os finos , e am*
bos tem Authores infignes feus apaixonados: todos
tem braços encaixados em fêmeas, ou groífos at^
gOr.
i77)
g<»fóeí filcos Buíarfeta^ pu íftrída dp^qaffQ red^ç^
^fift fc Jh«s kv^nt^r mai§ , qm moços abpc* p#fa je>
Ce», ç^fípedjr € bpmtea c:.Wi .i?$is, PH menos p^pr
y#gãp par:a ç»hir na P/aça:, *t^tie^ a^jamçorp ^ PH
jcpíalquf r Qtttea psrtç , §«# feiwtend* deftfWíir , quafH
49 *rr«jbpitaf : kvatH^-ÍP mais, eu JWPOQ^ fiom pAr
mft9§ ^ qoe síQ bsfaaç.mbpw^r^ffaj^íJfiMída*^
-(flfiiaií elftrp) ag»ç»$las , * adfilgagarfa^ çw ,^wn fé
pá do lioho ftm ;gUftr4**. O»0r$eirQ fe.çaírcga hflè-
l^e 0we!lhor qiie puoca fio*?) a§ lifera? ,4e pólvora , que
p fr^mheifTQ ordena , €QQÍi^«ra(^ a íÍQ4 fortaleza ^
o p^iO 4a bomba , a (4H^IWÍ9 .,, e idki.r^çiío .do teor
^o, ou fogtitfie deíla , d« forte q<he d^r negra ceitt
Aefta matéria ^e^aftai" t^niipo de balfe, õtigar hof
jactens y perder .polroca , e d^f^credkar Éogenheiroa»
Para atacar o-mort^eirp ít lhe levanta a boca para o
XZfio , e depois ( alguns tEc^ohetros ) em lugar ds
J>UKa lhe intrpduziem jiutna roda .dee Ráo^ cortiça^
xprdas > Í!Pc. bemjufta , otttfos.{eonfoímando-fe<:oai
ã isxp.erieocia v^ue tçm já ^a polirpra.^ comprimeor
4» dotíro', .elevação , ijempo ^ i&c. ) fem iíTo usSo
Jogo dej^ca peneirai , i; iia índia i^e; toda a Ma
húmida., neíla pôe atrAsada £§km ia mefma terra n
(bomba «iciaís^ oumeno^taipertada jcom^oscalcaxlore^,
« t^ca , rçomo tal^ux), fis^rma-^ife o ouvido deitado o
jmo«t«kp para oahir nelle:toda ;a pólvora neceíTaria.,
pertence iao Engenheiro dar fogo ao tempo , ou ío-
:guete da bomba, e ao Artilheiro á eícorva, quaa-
Jjo elleordieoa, porque como a fabrica do tempo hp
«brado* Engenheira , affimcomo -ê do petardo , coo-
iíMrme • comfto^^ da matevria .deUe ^ £ íaa ducaF-
Tom. VII. G iii ^âo
( 78 )
Í;áo dá elle , c manda dar fogo. Leroferd dava dons
egundos fogo ao tempo antes do ouvido j e nun-
ca errou bandeirola , mas preparava a matéria fó,c
nunca diíTe as quantidades, fendo asufuaes, outros
dáo a ponto , mas todos errão fe a Praça , ataque^
alojamento , &c. nâo he muito grande. Efta hortH
vel maquina, que tanto horrorizou os militares em
outro tempo , hoje nada vale , como direi logo. Na;»
da valem as bombas fe a guarnição, e moradores da
Praça são muito déftros: cem mil (numero incrível,
mas noticia conftante na Perfia , e Turquia ) lançoa
Thamaz Koulikan em huma Praça fortiffima doa
Othomanos em 1732 , ecahindo todas dentro, não
rebentou huma fó, porque tinha dentro féis Eogo-
nheiros tão a^ivos , que inftruírão até os meninos
fia arte de as íuíFocar , e eftes fuffbcárão muitas mil
Para melhor perceberes ifto heneceflario advertires
x\ne as bombas tem dous effeitos, o primeiro arrui-
nar telhados, cahindo fobre elles com o feu grande
pezo , e ofegundo he arruinar paredes , e matar gen-
te comos feus eftilhaços rebentando : o primeiro
eflFeito fe evita tirando as pedras das ruas , ou lai^
çando arêa, ou terra fina fobre ellas, ecubrindo oa
telhados com colchões , facos pouco cheios de là,
terra , farelios , &c. de (orte que, quando cahira
bomba , feja fácil a qualquer peflba o fuíFocalla. Nt»
telhados da Ada, onde eftava a Praça de Turquia,
e em todas as defta Fronteira he faciliíCma couík
ÍuíFocar bombas nos telhados, porque todos são de
pedras íbbre abobadas , ou muito groífas vigas , e
alguns de tijolos fobreasmefmas, de (orte que aicK
da pezando ^ bomba vinte arrobas^ os não arruina::,
ca--
:( 79 )
cahlndo fobre lã j facos de terra , ou de ferradura ,
&c. -mas como a Praça das carnes , e mais viveres he
o melhor naqueilas povoações, e todas as fuás mui-
tas ruas y e clauftros de caiarias ( tendo aliás terra-
dos de tijolos todas) não tem paredes , nem traves
para fuftentarem a queda de bombas de quinze y e
maia arrobas , de que ufou o Thamaz j fundidas el-
las , e os feus monftruofos morteiros nos meímos
«alojamentos y e ataques do íitio , ondç ficárSo huns
arrebentados , e encravados outros , apenas cahírão
as primeiras bombas , e f e conheceo o perigo , cn^
cbêrão as ruas demaftros aplumo, e de huns a ou-
tros paífárâo cordas com tal deftreza , que forma-
(Tâo huma rede efpeífa , que cubrírão com colchões ,
• cfacos Jemelhantes a colchões da matéria ji dita,
.tudo molhado em vinagre até onde chegou o que
havia na Praça , e na falta delle com agua quente,
em que fervião o efterco doscavallos, que naquelte
Paiz fe alimentão com oriza , trigo, e legumes agref-
tes, de que reíulta oíeu efterco feder a azedo mais
que o vinagre. Omefmo fefez nas muralhas; e por-
que os roídos deftas fica vão mais altos , e podião pe*
netrallos pelos lados os eítilhaços , cubrírão eftes com
jceftões de terra não como os communs na campa-
nha, que depois vos explicarei , mas fim como os cu-
bos , em que vem a Lisboa a fruta : fobre eftes tol-
dos de cordas , e colchões fobreditos fazião fubir
cada hora cem peflbas , em que entravão foldadós,
paifanos , e meninos , numero fufficiente para fuflFo-
car cento e feflenta bombas , qne era o menos , qu«
Thamaz fazia lançar fobre a Praça em huma hora:
tinhão vazilhas cheias da dita agua ^ e fempre quen-
(8o)
te, qoe miiiiílravJoasfníilhefcs poretttréoscêftiSãB^
iiella molharão cold^s , cuhercorei; doèrado^^ Ioê^
^oes ^ e toda a roupa , de imte qoe^ ;qnaiidio mhtt
•haraa isomba , immedíatametite cabião foinre eUii
apiinze.) rnue^^eoiais peflToas, cada hum eoaia fiúa
xolcha , LeoçoeB , &c. bem molbadoscom fumina g^
-caria , ifaror , e emolaçâo a fnâbcalla oiaís do Iqne
•o £iriao ie no iiseraio fitto icalhífle homa holià ^oa
mil dobrões , e a hoiireíe de ^ozar o qoe iprimeiíiD
dhe apertaíle m ixica. Thamax vendo 4iâo faziSb ie&
ieito , mandou teoiperar de^fgrte os tempos j oa f»-
«iie£es^ .qtue arrebentaiTem as bomlsas apenas cáhi^
•lem nos toldos j ou no ar antes de tocatlos. Suípei»
.tárâo na E^aça efte arbítrio os Engenheiros, vendo
ja tardança , eque depois delia fó vinha huma bcnn^
-ba j ordenarão que íe proftraílem todos nós toldos ,
e ninguém enTpreheQdeíTefuffòcalla., o que feito, vir
Tão arrebentara no ar quaíi duas varas aí&ma do
toldo : Teguio-íe logo hum chuveiro delias com o
iinefmo«effeito, ávifta do que defcerâo todos os que
cftavâo nos toldos -^ djâixando os colchões bem -ala-*
gados , e tendo cuidado de os alagar de trez em tree
^quartos. Temperiráo os fitiadores ainda melhor oo
tempos , de force que arrebentav:ão em meia vara , ^
-pouoo flKii^ «de altura ibbre os toldos y fem chegi^
rem a tocaltos , deque fe íeguio >impedir aos iki»*
dos o molhar bem os colchões , e padecerem o riÇ^
có de arderem eftes , e toda a rede., em que tinhão
difpendido todo o couro dasbuxas , e toda a roupa
cm tiras , porque até dos cortinados , e almofadas
de fedas preciofasfefízerâo cordas ; porém tudo re-
*mediou a^doftresa dos 'finados , findando de bruçoft
3pf- co-
(8i)
como cobras febre os colchões , molhando buns, vK
rando oiitros , e ncftc horrível trabalho piaíTárão trin»
ta efeis dias, até que cnvcÃida quatro Tezes peios
fitiadores a brccb* , mòrtos.t-rtntamil dejles no em^
penhó de montaHar, chegou -a noticia da pázentrc
o Gráo Turco , e o PeTÍa^ levantou Thamaz o fi-
tfo tSd^íaivofo , que irando» rebentar huns mortei-
ros y encravar outros , onrefmo fez aos canhões mon&
trtiofos , qtie fundio no campo , -c era impoíEvel con^
dtfzillos aHiffpahan, pára onde caminhou pela poíc-
ta , e fe acclamou Rei da Per/ra , como diremos t
fen tempo. Os carcazes bem feitos sâo peiores que
-as bombas , e fendo bem temperado o tempo com
ft díftancia, não bafta deitar-fe agente de bruços no
xhâo -para evitar o damno., coiro Idccede com ais
bombas, porque eftas fe nâo arrebentâo no ar, le^
vantâo-fe muito do chão antes de arrebentarem^ e
não oíFendem os que ei^âo deitados , porque fempre
arrebentâo para as ilhargas ; mas os carcâzes bem
temperadcs arrebentâo para todas as partes colla-
teraes , inferiores , e luperiores , e fó eícapa do feii
efl?eito quem íe deita cuberto com hum colchão, on
lhe lança emíima hum colchão molhado , porque são
mais fáceis defufPocar do que as bombas, oquepro'^
cede de ler o tempo dos carcazes mais comprido,
e profundado no faço, além de arrebentarem incom*-
paravelmente com menos força , do que as bombas,
porque a pólvora ^nelks eftá muito pouco opprimi-
da, e padece menos violência do que na panella de
ferro. As-granadas são bombas pequenas , as maio-
Tes delias fe lanção coni morteiros pequenos , cha*
mados morteiroa de bombas y e as ordinarias-com a.
mão :;
mão : fuffbcáo-fe como as bombas , e os mais dé&
tros j e intrépidos (como erâo os memoráveis de^
fenfores do CafteHo deVilla-Viçofa) apenas cahein
no dhâo, pegão nellas^ cantes que fe acabe o tem^
poy asiançâo fobre os inimigos, tíu nosfoíTos, oor
de arrebentáo femcaufaremdamno. Depois que co^
do o mundo ufou de pólvora , prefcreveojtfftameatc
á fortificação antiga j e a moderna em cada naçáo
teve^. tem j e teri tempre djfferente defenho , e figtir
ra y e tão difièrentes sâo ^ e ferâo as Praças , aindt
fios mefmos Reinos 9 como os Engenheiros , que at
deíenháráo, e os Authores, a quem feguírão , pro»
vando cada hum com arrazoes, e experiências deC*
tes que sáo melhores , e mais Qteis para a defèzc
as fuás obras : concordâo todos no eíFencial , dífit>
rem nos accidentes , que nefta matéria o sâo unicar
mente, para explicar-me , porque nefta (ciência tor
do he fubftancia , e até os modos o sâo para coiir
fervar.aCoroa, a honra, e a vida. A primeira cou-
fa eflenctal são as portas: nifto convém os Authòrea
todos, mas difcordão no íitio, em que devem fer,
e numero delias : as melhores são no meio das cor-
tinas com boas abobadas debaixo do reparo , e enoi
volta , para que o petardo , ou canhão não rompa de
huma vez duas portas , o que fuccederia fe eAivelFem
em linha re£la : no ineio fe fufpendem órgãos , que
fedeixãocahir, quando he neceflTario, para impedir
a entrada da (egunda porta , fc o inimigo rompe ft
prifneira : jnos lados deita abobada eftão duas, que
são os corpos de guarda, em que affiftem os folda-
dos, cujo valor sao as verdadeiras portas: eftas sâo
de carvaibo de trez ^oo quatro. pranchas bem jua-^
■ ij': tas*
(83)
tas, pregadas com grolTos pregos , ligadas comfon-
tes chapas de ferro : em hum dos lados tem o pof-
tigo de trez pés c meio de alto , c trcz de largo j
fcKire o qual fe deixfio dous, ou trez buracos, que
íefechãp por dentro, para verem as fentinelas quem
cftá de fora antes que ar porta íe abra. As melho-
res Praças são as quê tem menos portas , porque af«-
fim evitâo o terem> muitas corpos de guarda, emul*
^licar cuidados çmtaotas iuterprezas, quantas são
m portas. Fara^^evitar eftas (fendo a porta cubertt
com bum bom revelim) fe p6e ordinarÍ9 mente no meio
delia hum grande corpo de guarda : alguns deftes
corpos (e s^o os melhores) coftumâo ler guame-
ddos de muralha com feteiras , de que fe fervem
os foldados como de hum reduâo , retirando^íe a
dle , quando já nâo podem fuftehtar o fogo do ini^
migo , e efia muralha para fer boa tem feu foífo de
duas toezas de largo para. maior fegurança ; mas
quando as portas não são cubertas comrevelins*, fé
põe hum corpo de guarda no meio da ponte iobre
traves de carvalho , ieparado do reifto da pente por
outra levadjça : na entrada da primeira porta ha
outro corpo de guarda, outro debaixo da porta, por
opde fe fahe immediatamente .á Çraça , ç ejp. çafo. d^
aperto outro no íitio mais próximo, além do prin-
cipal , que aLcqde a tpdo : cada corpo da guarda tem
huma, ou duas chaminés, etarima alta para fe dei-
tarem , caía i parte para o Cabo da guarda , fenda
Alferes, Ajudante, edahi para fima*. A pólvora tem
feus armazéns i parte em differentes lugares apar-
tados do arfenal , em que fe guardâo os canhões , e
armas : cofiumâo fer debaixo dos reparos cubertos
coa
( 84 )
com fortifliinas abobadas provadas com toda a ca&
ta de bombas , e além diíTo íe cobrem de terra pa«
ra aniquilar a força das bombas : eftes armazéns sáo
forrados de groílas pranchas de carvalho para evi*
tar a humidade , e por fer a madeira^ em que mtis
devagar entra o fogo: sâocercados de fegundo òm^
ro, ctem íó humas freftas obliquas com fortes gra-
des de ferro ^ e tem fentinellas continuas , como tam-
bém os das munições , e viveres^ que fó sáo bóm^
fendo como os da pólvora ^ excepto o ferem cerc»^
dos de muro , porque nâo ha nelies o mefmo perÊ^
go. Os melhores quartéis são os de abobadas pro-
vadas , com repartimentos de groflas paredes para
evitar o fogo , que fe pôde atear em qualquer del^
les , e communicar-fe a todos fe nâo tiver eíle im-
pedimento: em cada hum fe alojâo feís foldados em
duas tarimas , que fendo mais ha defordens ,. e tci**
mas : nâo tem janellas , para que os nâo penetre o
Sol no Eftio j e o frio no Inverno : os melhores tem
chaminés ^ e sao fabricados junto aos reparos , pa*
ra que os foldados eííejio fempre mais promptos^
e vizinhos para defendellos.
LISBOA , Na Oficina de Miguel Manefcal dâ
Cofta, ImpreflTor do S. OiEcio. Anno 176^^.
Com todas as licenças necejf árias.
• \
i . ..j
(8f )
CONFERENCIA VIIL
NAs melhores Praças coftiimSo fazcr-fe as
contraminas juntamente com todas as mais
obras , porque entSo cuftão incomparavel-
mente menos a obrar do que no tempo do
fitio : as que nafcem com a Praça podem fer taes,
cantas , e tão bem deíenhadas , que o inimigo náo
forme aproche , bateria , ou alojamento , que lhe
nâo facão voar : as que fe ^zem com incrivel tra-
balho no tempo do íitio , fe profundâo até o olivel
da agua do «foíTo ; e fe he feco , até o feu fundo:
formâo-fe parallelas as faces aos flancos , e ás go*
las, de íbrte aue formão o defenho de hum fegun*
do baluarte ataftado do reveftimento do primeiro
em diftancia de nove até dez pés da parte da Pra-
fa : a fua altura he quatro pés , e trez de largura.
>eftes caminhos fubterraneos nafcem outros, a que
chamâo ramos , que chegâo a topar na camiza do
reparo, os quaes fe fazem para efcntar de que lado
vem minando o inimigo; e conhecendo aparte, por
onde vem, fe caminha em direitura a elle , fiirando
o corpo da muralha com hum petardo unido a hu-
ma boa trave , e aílim affidgentâo logo daquelle íi*
tio; e fe achâo fornilha já feito com barris, ou ia-
cos de pólvora , os tirão fe ha tempo para iíFo , aliás
fe corta com toda a preflTa a falchicha , e fe lança
muita agua fobre a pólvora , até que feita inútil , (e
defmancna o fornilho, e reftaura odamno, que fez
O inimigo no edificio. As pontes melhores são as
• Tora. VII. H mais
(U)
mais baixas , e de madeira fobre pilares de pedn ,
porque as altas sâo facilmente defcubertas pelos fi-
tiadores , e as de pedra difficultofamente fe cortSo
em cafo de neceílidade: as levadiças são indifpenfft-
Teis junto ás portas da Praça , e fe levantâo todu
as noites com groflfas cadeas de ferro. Áa portas f«L-
fas y que fe fazem no través do orelhão , ou junto
do angulo da cortina por baixo do reparo , são de
abobadas largas fete até nove pés , e igualmente at»
tas : fendo o foflb fecd , delias fe defce logo ao ícb
fundo ; mas fendo aquático y fe lhe faz huma pc*
quena ponte pouco mais alta que o olivel da agua
para ficar aíCm melhor cuberta. Na explanada fe fiiN
zem humas roturas largas dez pés , pelas quaesfahe^
e fe recolhe agente, que vai ásfortidas, para o que
íe fazem além do fbífo eftradas de groflas vigas pa*
ra a gente montar a contra-efcarpa , e fahir á caoiv
panha : aíEm as portas falfas y como as roturas são
fechadas com cancellas de carvalho. Os ceftóes são
de trez efpecies y dobres y fimplices , e meios ceftòes :
os dobres são os que tem íete , ou oito pés de dia^
metro, enove, ou dez pés de alto: os fimplices não
tem mais qtie finco y ou íeis pés de diâmetro y nem
mais de íete até oito de alto: os meios ceftôes, ten*»
do féis pés de alto, tem de diâmetro trez, quatrp^
e quando mais finco. O úiodo de os. fazer he faciU
bulcão- íe eílacas de trez até quatro poUegadas de
diâmetro proporcionadas á altura do ceftão , que fc
pertende n^er , agudas na parte debaixo quafi quar
iro poUegadas , e eítaddo promptas, crava-fe hana
pique na terra, defcreve-fe o circulo com hum cofr
iSel atado oelle> cravão-fe aseftacas no rifco do cíqi;
( 87 )
ciilo em toda a circumferencia-) entrelação-fe com
ramos de falgueiros verdes, começando pelo pé, e
acabando antes das extremidades féis pollegadas,
fica hum cubo fem fundo , e eftando acabado , fe le»
ya para o lugar , em que he neceíTario , e fe enche
de boa terra para ferm de parapeito contra as ba-
las. Os ceftos ordinários , que tem fó hum pé de
alto , mais largos no fundo que na boca , na qual
fem doze pollegadas , eoito no fundo de diâmetro^
ou pelo contrario mais largos na boca do que no
funao , sâo excellentes para cubrirem os Mofque-
teiros nas Praças , e nos aproches , e quando os não
ha, fe valem dos Tacos de terra. Os órgãos são me^
Ihores do que os raílilbos , já porque fe compõem de
vigas mais groíTas , já também porque cada huma delia
cahe por lua vez , e muito unida á outra , e o raí«
tilho cahe todo junto. Os mais inílrumentos de de*
feza , como barreiras , báculos , &c. aflfás vos expli**
cuei no Âbcedario. A primeira , e trabalhofa obra
C08 que eftâo (itiados em huma Praça depois dos
preparos, vigias, e cautelas dobradas , sãoas cor*
taduras, que entáo fe fazem, quando temem que o
inimigo os obrigue a perder algum pofto, e fe aloje
nelle : ha cortaduras geraes , particulares , regula-
tes , e irregulares : as primeiras , e regulares formão
huma figura femelhante á com que o inimigo ataca:
as particulares attendem ao pofto , que fe defende ,
(mais claro) demolido pelos inimigos hum baluarte,
fefórma outro dentro na fua ruina, dentro de huma
obra córnea outra da mefma efpecie , &c. de forte
que efta palavra foa huma couía , e he outra , íoa
folToy ou cava, ehe na realidade o contrario, por*
Hii c^jie
(88)
qne he Iiama reftauraçâo tranfitoria do perdido con
outro femelhante feito de ccfi6es , ceftos , íacos de
terra y arcas , e baús cheios da mefma ^ eíkacas^ f»
mos de anrores^ colchões 9 e tudo o que ininifti»à
oeceffidade para efie ultimo remédio dòs íitiadcv;
com a differença porém de que as cortaduras de quiU
quer qualidade que fejâo hão de fer abertas para è
parte da Praça para a ferventia y e mais baixas qim
a primeira obra' perdida para nãòferem expoíbiar«ft
inimigo. Â fegunda obra 9 a qne chamo fegunda ^ jMir
fer menos trabalhofa na opintáo de muitos j sto ok
contra- aproches , obra excellentiíCma , e que bafta
para fazer levantar o maior íkio , quando na Pnot
ha gente para tnda^ e para todo o trabalho. GrcSé
qiie fó os Julga por obra de menos trabalho quem
nunca os, fez 9 nem vio fazer , e para julgar o fea
trabalho , e utilidade j bafta íaber que o maior exci«*
citoficiador trabalha todo, e com fumma fadiga noi
aproches , e eftes sâo os que' o afHigem de dia , e
de noite, porquê nelles eftá pofta a fua total efpe**
rança de abrir brecha , ganhar a eftrada encuDef«>
ta , minar as obras , e muralha , e os fitiados y ane
fieceí&tâo mais gente y acodem á defeza de toaoa
os póftos y que todos y e qualquer delles podem íer
dê noite, e de dia fobprendidos , e atacados^ ea»
mefmo tempo fazem con tra- aproches , que sáo ou^
tros aproches no campo virados para o inimigo ^
e feus aproches paira lhe impedirem adiantallos ^ a»
diantando os feus , matando os gaftadores , deí^
ffiontando?*lhe.oscanh6es, e'pondo*os em huma to^
tal defefperaçSo de ou levantar o fitio , ou envefti^
cem Qs contra-aproches ^ em que por força hâa dé
per-
(89)
perder imiitos 9 e muitos mil homens ; e quando os
ganhem 9 íe náo podem utilizar delles contra a Praça
fem perderem outras tantas j ou mais vidas j porque
como são abertos , ou delcubertos para a parte da
Praça ^efta não perde bala nos que os entrarão , e
querem preparar de forte queoffendão. Melhor per-
cebereis ifto y quando logo tratarmos da fortificação
offenílva j aproches , &c: Ás contramínas he a obra
mais aftuciofa da guerra 9 e fortificação defenfiva y
e fõbre todas a mais laboriofa : já vos expliquei as
que fe fazem para aventar os fornilhos 9 e minas do
inimigo 9 e as que me reftâo para vos dizer sáo as
grandes 9 que em algumas Praças nafcêrâo com ellas :
nas outras íe fazem cavando 9 rompendo a terra com
incrível trabalho 9 fuftentando-a da parte de fima
(excepto quando fe cava em piífarra 9 ou barreira
íbliday que nâo tem perigo de cahir) com pranchas,
e eftas nos lados com vigas , e barrotes até chegar
debaixo de alguma bateria , ou alojamento do exer-
cito inimigo, onde fe p6e niuitos barris de polvo^
ra 9 ou facos delia , e pofta a ialchicha , íe ataca a
contramina com toda a cautela em grande diftan^
•cia 9 efe lhe dá fogo pela falchicha. A mais bem fuc«
cedida contramina do noflb tempo foi a que fizerão
DS Engenheiros deBergoopzoom noannode 1747 9
que fez voar a melhor 9 e maior parte dos fitiado-
res : eu fallei com hum foldado fidedigno j que fe
achou neíta Praça em todo o tempo do fitio , c pc«
dindo-lhe me explicaífe efla acção 9 que a Gazeta
Portugueza referia com brevidade 9 me difie 9 que
quando fe deo fogo a contramina 9 fazia muito ven^
to 9 tal 9 que levou immed ia ta mente o fumo da poi*
Tom. VII. H iii vo-
(90)
vora , e o pouco pó da terra , que , por fcr qnafi pif-
farra, o não produzio como qualquer outra, evirlo
todos os que eftavâo nos reparos o ar cheio de íbl-
dados cm pé tão direitos , e unidos , como cftavfio
para avançar a Praça, fendo os que faziâo mais vit
tofo o efpeftaculo os muitos Regimentos de Grans*
deiros , e logo os virão também virar as cabeças ps»
ra baixo todos , e fem união cahir difperfos , moiw
tos j e defpedaçados , de forte que (acabava elle)
já tinha vifto o medonho Cometa do tempo dos Ma^
chabeos compofto de verdadeiros homens armados;
Algumas vezes fiiccede encontrar- fe com a mina dos
fitiadores acontramina dosfitiados, e haver debaixo
da terra hum combate entre os Mineiros de hum , c
outro partido , matando*fe com as inchadas , e pi»
caretas : aífim aconteceo no memorável fitio de Ala* '
zagâo y de que faltaremos a feu tempo. Em outras
occafióes fuccede começar a contramina muito bai-
xa , e paíTar á dos fitiadores fem fe encontrarem , nem
os impedirem | c nefte cafo fempre o trabalho he bem
empregado , porque dando-lhe fogo , deítroem a
mina dos fitiadores totalmente : aflím o fizerão os
Catalães cercados por Filippe IV. As contra- bate^
rias são o fruto dos contra«^aproches , cujo trabalha
vos encareci , e melhor conhecereis na fortificação
ofienfiva ; agora bafta dizer-vos que a mina de hu*
ma Praça , pu campanha fe conhece pondo fobre o
fitio, que feiufpeita eftão minando, huma caixa de
guerra (a que vós chamais tambor, fendo efte o no-
me próprio do que toca, enão do inftru mento) com
huns dados «m uma , os quaey fe movem fubtiliflima-
mente ^ e fazem na caixa hum leve fom todas as ve»
zes>
(91)
2CS 9 qnc os Mineiros trabalhão. Também quando
fe entra huma Praça por aflalto , ou brecha , e fuf-
peicâo os vencedores que os vencidos deixarão as
ruas, e outros fitios minados com falchichas lentas
accezas, ou apagadas , ou (ó as minas feitas, o re*-
medio para conhecer , e evitar efte perigo he man^
dar tocar huma caixa no principio da rua, ou íitio,
3ue fe fuípeita eíbar minado , porque logo a grande
ifFerença .do fom da caixa moftra que alii eftá lugar
nenos cheio , ou totalmente vazio , e aílim fe vai.
tocando em diverfas partes , obíervando o fom os
Engenheiros , e fe defcobrem os hagares minados.
As brechas são effeito das minas , e das baterias,
cuja defeza he o nnico , <e mais laborioíb remédio
dos fítia^dos, os quaes primeiro com cortaduras, de^
pois com abrolhos , ceítôes , panellas de fogo , ca*
vallos de Friza , palliflTadas , ouriços , granadas , pe*
dreiros , canhões , mofquetes, lenha , e carvSo em
braza pela fubida da brecha , e tudo o mais , que
pôde matar , defende que os íitiadores a montem;
fe porém a multidão , e valor deftes , a pezar de mui-
tas mil vidas , a fobem , e fe alojão nella , os íitia-
dos fe retirSo para asr cortaduras , onde cuidão em
repetir os tiros « lançar granadas , panellas, oubom-'
bas, Scc para impedirem a fabrica do alojamento,
e fubíiftencia do inimigo nelie ; porém não tendo
effeito a defeza , c batendo já os íitiadores a corta-
dura com protefto de paflTarem a guarnição á efpa-
da y íe continuar na reíiftencia , faltando exercito ^
que íoccorra os íltiados , enveftindo as linhas , alo«
jamentos, e baterias dos íitiadores , fazem os íitia-
dos chamada ^ dão^-fe reféns mutuamente para a car
pi-
C 9* )
pitnlâçâo, e aíGnados os capitulos delia, fahetn os
Sitiados pela brecha com mais , ou menos honras ^
conforme ajuftárão , e a neceíÉdade os obrigou «
coníentirem. Adefeza da brecha, que íbí mais mo*
inoravel em toda a Europa neílie feculo , e o fera
^m todos os futuros , íem exemplo nas que contão
as hiftorias eftranhas , foi a de Campo*Maior nefte
Reino, de que cedo vos daremos indíTidual noticuu
A fortificação o£Feníiva coníifte 4io alojamento d<^
exercito íitiador , nas circurtiraiaçôes , bateria^^^ ••
proches, candíeiros^ mantas, pontes de junco , Ta-
pas , galerias, minas, aíTaltos , e efcalas. Para o a*
xrampamento , ou alojamento do exercito íitiador
«ão neceíTarías muitas couías , que raras vezes fe
achão juntas , e nem a maior parte delias , porque
^uem edifica as Praças cuida em que a campanha ví^
zinha não tenha para osíltiadores coufaboa: a pri-
meira he ^ que náo fique coufa aJguma do acamfMik
mento entre montanhas ^ porque os fitiados , on ò
feu exercito as pôde íenhorear; e fe nao pôde edi-
tar- fe efte damno , he precifo que os fitiadores em
cada monte formem huma bateria , coufa fum ma men-'
te diíficultofa , e que lhe diminue as forças , o nn^
mero das peças , Scz. ou p6e em cada monte hum
corpo de tropas alojadas , e fempre mal providas y
efpecialmente de agua: a fegunda he, que o acam-
pamento Ceja junto a algum rio , já pela commodi-
dade da agua , já para evitar os fedores das carni*
cerias, emaisimmundicias, quecorrompemosarea^
egerâo doenças contagiofas, mas ifto he o que ra^
ra vez feacha: a terceira he, que feja em lugar pla-
Do y donde íe defcubra bem a rraça , e fe poíTa for-
mar
( 93 )
mar o exercito em batalha fe o dos fitíados vier en-
veftillo : a qnarta , que feja em fitio abundante d€
lenha para cozinhar , eAacas para as baterias , e mais
^bras, e de forragens para a Cavallaria, tudo cou-
sas , que íó cm Alemanha , e Flandes fe achão jun*'
tás perto dos acampamentos ', e muitas : a quinta^
4]ue tenha o campo muitos , ou alguns desfiladeiros :
jdguns querem qué tenha hum fò para eftar mais fe^
^uroy como fe porefte fe pudeíTe conduzir tudo pa^-
n tantos mil homens y e animaes. A falta de agua
fe remedea laboriofamente com carros efcoltados de
Dragões , ou obrigando os Paizanos vizinhos a que
a conduzáo , tudo remédios failiveis : fe o campo
Jbe alagadiço ^ remedea-fe o defeito com diques,
refúgios j fangrias , aqueduâos , tudo obras tão
cuftofas, eperigofaS) que excedem as outras todas
na conquifta de muitas Praças : a falta de lenha , e
forragens fe diftribue pelos homens do trem ^ e Ca-
vallaria para a irem conduzir , efta as forragens nas
.garupas , e aquelles a lenha nas beftas da bagagem ,
e artilharia ; porém ifto são acções tão perigoías ,
que ordinariamente fe o exercito dos íitiados eftá
perto 9 (ainda que íeja pequeno) e as guardas dos
povos j e Praças vizinhas , não tornâo para o exer-
cito os que vão ã efte empenho y ou fe vol tão alguns j
he fem forragem , nem lenha para melhor falvarem
as vidas, e liberdade: as immundicias fe remedeâo
enterrando-as ; mas ifto heoutro, e infupportavel tra-
balho para quem de dra, c de noite tem muitos, e
padece neceflidades ^ que sâoinnumersaveis todas as
vezes , que o acampamento não tem rio próximo,
lldhha j e forragens £íjd. perigo. Ifto íuppofto, para
-;.. o 05-
r--
O acampamento de hama Companhia de cem horaent
he neceíTario hum terreno de trezentos pés régios
de comprido, eWnte e quatro de largo ^ que fe t^
partem aí&m : quarenta pés para o alojamento do Cik
pitáo\ vinte pés para a rua das bandeiras , e piques^,
duzentos pés para ofi foldados y o refto , que sfe
vinte pés 9 para cozinhas , e rÍTandeiros. Nadifpo*
fição das barracas partem*íe os duzentos pés , qac
|>ertencem aos foldados, em treZ' partes ignaes, de{^
tas a do 'meio he ma., e nas outras duas* dos Itfdot
íe armão as barracas , tomando cada huma oito pét
de comprido , finco até íeis de largo , ou menos de
finco , todas com as portas para a rua , excepto a
do Tenente, e Alferes, que atem para defronte do
Capitão : íftas duas são as primeiras em cada rua ,
e logo as dos Sargentos : entre cada barraca fe dei*
xa hum caminho , e fendo Inverno , as cercão com
pequenos fofletes para as aguas. Para hum Regi*
mento inteiro bem acampado fe pôe huma compa-
nhia afafibada da outra oito , ou dez pés , o Coro-
nel tem o feu alojamento nomeio dos Capitães, to*
mando humefpaço de feflenta eoito até fetentajpés
de largo, e quarenta de comprido, o Tenente Co«
ronel t^m o feu alojamento defronte do Coronel ^
« detrás do Tenente Coronel fe deixa huma rua de
dez pés' para oCapellão, e mais Oíficiaes da Fazen-
da , fe acompanhão o Regimento: diftante dez pés
defta fe deixa huma Praça de quarenta pés para co^
zinhas íeparadas da bagagem' do Coronel (que oc-
cupa. outro tanto efpaço) por huma rua de dez pés.
Defta íbrte fe aloja todo o exercito , deixando íincoAi
enta pés de efpaço entre cadailegimento. A Cavala
la-
( 9S )
laria differe alguma couía no alojamento , e aíEm
pára huma Companhia de oitenta Toldados decavallo
fe toma omefmo efpaço^ que para a de Infantaria,
que são trezentos pés de comprimento , roas a lar-
gura he maior, porque são fetenta pés, que fe re-
partem, dando quarenta para o Capitão, vinte pa-
ra a rua detrás do feu alojamento , e duzentos pa-
ra os foldados , íendo as primeiras barracas do Te-
nente , e Alferes viradas para a do Capitão , como
na Infantaria ,, e ãs mais para a rua: toda a Compa-
nhia fe reparte neftas duas ordens de coáunodos , ca-
da huma dasquaes confta de vinte barracas, porque
em cada huma fe alojão dous foldados , e o mefmo
he na Infantaria : nas coitas das barracas £cão as do$
cavalloa , nas quaes fe accommodão dous em cada
hunla, e no fim da rua das barracas, e cavalharices
fe deixa outra rua de vinte pés , e o refto para os
vivandeiros. O General do exercito occupa no meio
do acampamento huma Praça de trezentos pés de
comprimento, efeiscentos de largo, i roda dofea
alojamento fe deixa hum efpaço de duzentos e íin-
coenta pés para Praça de armas , onde os foldados
fejuntão em cafo deneceíEdade, etudo ifto fe cha-
ma o Quartel da Corte. O General da Artilharia
occupa outra Praça de trezentos pés de comprido,
e quatrocentos e oitenta de largo. Os Officiaes fub-
alternos , que não tem Regimentos , nem Compa-
nhias , occupão hum efpaço proporcionado ao feu
numero: a pólvora, e fogos artifíciaes são guarda-
dos em redu6los , e a bagagem tem íua Praça fepa-
râdá da maior grândezS pomvèl , déíprté que o gran-
de oqmçrQ di$l)<ig^geUos y cí beftas do uem da ba-
?.
gagem ,€ artilharia fiquem bem accommodados^ por«
ne fem elles j e cilas não fiibíifte o exercito , nem
e pôde retirar, fenâo perdendo muitos milhões do
Rei y e vaíTallos , que tanto importa o trem , e ba-
gagens de hum corpo capaz deexpugnar humaPrt*
ça. Eftemethodo de acampar he infallivel regra on»
de ha terreno tão grande, que admitte eftas dift«n»
cias, e medidas, que aliás náo o havendo, tado fe
accommoda i pequenhez delle^ e pertence aos C»-
oenheiros defenhar , como he poflivel , os comm»-
dos, variando talvez o methodo em tudo. Onde ha
Conventos , Palácios , quintas , ou Aldeãs proxi»
inas j os Generaes difpensão o terreno , que lhes
pertence j em beneficio dos Officiaes fubal ternos , Tol-
dados , bagageiros , e vivandeiros , trem de tudo,
e de todos , e fazem Qiiartel da Corte no melhor
Convento, quinta^ ou Aldeã, e os outros Generaes
na fua vizinhança. Acampado o exercito, íahem os
Generaes com os Engenheiros , e boa efcoltS a re-
conhecer a Praça , e determinar a parte mais pro-
porcionada para osaproches, e baterias , o que fei-
to , começão logo a fazer huma trincheira de efta-
cas fortes em duas ordens , e terra no meio calca-
da, a que chamáo circumvalaçâo , porque cerca to^
do o exercito , e o defende das fortidas dos.fitu-
dos , que de dia , e noite o devem enveftir , e pei^
turbar as fuás obras, e do exercito, que fcdeveftií-
peitar venha cada hora foccorrer os fitiados ^ e a^
fugentar os fitiadores.
LISBOA, Na OfBcína de Miguel Manefcal da Çofta , Impreffor da
Santo Officio. Anno 176}. C^m tóâas ãs iictÀgas mcejatias.
(97)
CONFERENCIA IX.
» ■ I
■ !
NO fnefino ternpo fe faz a contravalaçâo , que
he hum foíCo guarnecido de parapeito j que
corre por dentro da círcumvalaçâo : huma j
e outra obra são largas ^ e profundas ^ con*
forme as occafiôes o^permittem ^ mas ordinariamen-
te tem quatro toezas de largo, e nove até dez pés
die profundoT*. a altura , e largura do reparo, e do
parapeito são proporcionadas, ao foflb , aquelle cof-
tiima ter quatro toezas de largo 9 e dez pés de al-
to^ e o parapeito . o meíhto,, fe ha commodidade pa-r
rs :tan(K> , cjue tCQdo-^ ^ fSn&em: teinalhas ^ reduâos^
objrtsi ieftreila4âR f, j Q plataformas no foflb ^ em fim
trabalha-fe femcenar até fazer de madeiros , terra ,
•eftóes y &Civhama Praça defronte da fitiada cora
oiiafi tõdâs as obras , quetem a de pe4ra ,.e çal , mas
leiApre mais' baíxaa por 6ilta de materíaes , e tem«
po ineceflario para outras obras, que pedem igual ^
€iiiai>preíra;'A'roda da nova fortificação do acam-
pamearo:/edâixa huma rua de cem pés de largo pa-
ra fe formarem ailí as tropas , quando íntentâo fa-
^et.fortídafs ^ optros Engenheiros formão efta Pra-
f0'demai3«v ou. knenQs pés , e dentro no 0ani)po for-
tifiçadU.y.o^qdal .para fer^regular em tudo ha de fer
^traveíl^ido ide quatro grandes riias de fincoenta pés
de' largo' -, : que vão dar á grande Praça de armas ,
g«»& tçm fekicentos.pés de^coft)prido,, e quatrocen-
tos . e iifficcientai de largo 3^- e;^s. Qutrasf ri^s^ trinta«
FoffCifiCad^kçoíOPbrasjnifcas Qe^cercico^ poâas cao-
. Tom. VIL I cel-
(98)
cellas nas entradas , e artilharia nos póftos da defe«
za, Te há muita, erteaiem a^mimi tilâiaf fcftídi da
parte de algum borqué ^"^eftrada ^ des^adéiro , &c. (e
começão os aproches , è baterias para defmontar a
artilharia da rraça^ e abrir-Ibe' brecha; X^âíklyjM^
ria he huma Praça pequena com ibflb •,' potin! y r^
paro ) parapeito , íubida para elle ^ e cafa 6^ pól-
vora com as medidas I que permitte o terreno; mas
para ferem bdas hSo de ter dei^nove toezaa deroi»*.
primento cadabuma^ que sfío quinze paradas peças:^
• duas para o parapeito de cada lado; mas como as
peças são difierentes , também modão as medidas r
a krgnra do parapeito sâò trez toezas da dianten
rá I doze pés nos- lados ^«e íieis péa'de ahro : as çê^
flhoníeiras tem de ifondo tréz pés' jV ff^So oixú%t6
âtí, de largo > e féis até fete de prõíímdo : entre*^
foflb, e bateria fedeixâo trez, oiv quatro pés jpara
a berma, tifubida para a bateria* tem quinze pesr^^
efcarpa finco y a interior o meímo',' a do lado qiiaK
tf o, a ponte xiez , ou doze de largo : detrás dsba^
teria íe deixa hum campo de trinta «féis pés dtlaiM
go y que he o corpo defta pequena Praça > e onde
defcançâo os qiie eftao de guarda nella f e fe veve-
%Ío no trabalho : no lado da fubidá defte campo pa«
ra a bateria fefaz hum foflb da lare;ura dedez pes^
e quatro de fímdo , em que fe guarda a pólvora cu^
bertacompraAchas, eíacos de fedas decavatlo, oa
couros de bois molhados. Para fe fazer eftá obra ^
começão de noite os aproches diftantes da Praça diH
zéUtSfs toezas y t ordinariamente em trez lugares ^
governados por trez Engenheiros, fàzem-íe cavan*
âo ú teirra ^ e laiiçando-a para diante de fi ^ diftanda
(99)
09 cavadores hãitr do outro finco pés; os primei roá
fó cavilo trez pés de terra de altura j de íorte que
ficâo cubertos com féis y porque trez lhes dá a co-
va 9 que fizerâo , e trez a terra ^ que delia tirarão :
ièguem-fe outros y que continuâo a obra até ficar
com quatorze , ou quinze pés de largura , augmen^
tando a profundidade quanto mais íe vâo chegan*
do á Praça. Adiantados os aproches até onde jul*»
gSo 08 Engenheiros y formão todos trez huma linha
parallela y auenâo he outra coufa mais que hum foflo
da mefma largura de cada aproche y que naquella
diftancia fira menção de cercar a Praça : nos lados
defta primeira linha fe levantâo duas baterias feitas
como TOS emliquei agora y para defmontar as da
Praça , e defender os trabalhadores y que logo vão
continuando os aproches , ou eftradas profundas y em
<|iie formão reduéèos para fecubrirem, alojamentos
pju*a tjefcançarem y caminhatido em través para nâo
íercm enfiados pela artilharia da Praça , até que fa»
um fcgnnda linha parallela, enefta outras baterias.
He brk> efpeòtai dos Cabos, que entrâo de guarda
9C&as obtas y o adiancallas ; e como as baterias da
^^undar, e terceira linha são mais altas , cobrem me^
Uiòr os trabalhadores y deímontão , ou diminue mais
o furor dos.fitiados y e de prefla ganhão a contra-^
eícarpa^ ,. antes: da qual^cpnièça a lapa nefta fiSrnuu
Tenao adiantado o ^aproche até finca ^ ou féis pé$
do angulo faliente da^ expJariada bara chegar cubei-^
to á contra^efearpa , fe começa aiazer aíapa, faíbin-^
dú úc noitCL dos aproches hom trabalhador, o qual
pbfto. de^oelhets. ca^a d terra ^a esplanada tre% pés
dc!altiuray^a4ue dèkamkka diatiíc defi fiqrfe ca-»
I ii ber-
( ICO )
berto com féis pés de altura de terra. IlEo feito ^ con^
tinúa a fua linha até o comprimento de huma toe-
za. Em quanto alarga mais o primeiro trabalho j fèh-
zendo-o de féis pés de largo , e féis de fundo , ou-
tro gaftador vem fubftituir efte , e aperfeiçoa a obra ,
accrefcentando-lhe trez pés á largura , e trez á pro-
fundidade y de forte que a fapa fique com no?e pés
de largo , e os mefmos de fundo. Néfta proporção
fe continua até á eftrada encuberta còm a fapa j on-
de le fazem coro toda a preflfa muitos alojamentos
;randes j e bem cubertos para lançar fóra dalii ot»
itiados: osceftôes de terra poftos em trez , ou qua-
tro ordens huns detrás dos outros sâo nefta obra
utiliífimos. Em quanto fe fazem os alojamentos , ati-
râo as baterias inceíFantemente contra a Praça . pa-
ra que a mofquetaria delia não mate , ou retarae os
gaftadores ; mas o que os defende melhor aíEm tift
fabrica dos aproches , como da fapa são os candiei-'
ros j ou mantas , que fe fazem defte modo. Efcolhcm-
fe boas taboas dobradas de finco até féis pés de com-
primento, e de duas até trez poUegadas de grofla-à
ra, pregão-fe humas junto das otitras em duas vigas
a plumo cravadas fobre outras ao òlivel, emqaeás
vezes fe p6em pequenas rodas para as ftzer andar
mais facilmente , provão*íe com tiros de mofquete
em competente diftancia , e vendo que as balas as
não pafsão , 9S vão conduzindo até ò lugar , em cpié
os aproches , ou fapa fe continuão j e fe fazem as
obras. Eftas maquinas y que tem féis pés de ako y não
fó cobrem os trabalhadores ^ mas impedem aosfitia^
dos o verem tudo o que fe faz detris : em cafo dç
neceífidade > e falta de boas .taboas fe fázen os caQn»
í di.
( lot )
díeiròs ^ ou mantas de facos de lã , e ordinaríamen*
te de fachinas groflas. Reduzida a Praça a efte aper-
to , defamparada a eftrada encuberta , e alojados nella
os fitiadores \^ fe intenta a mina ou com artilharia ,
fazeodo-ra jogar iirceiTantemente das baterias já pro*
zimas 9^011 com minas, e nefte fegundo cafo he ne-
eeflario fabricar galerias y e outras obras para atra-*
veflar o-foflfo: para ifto ie faz huma defcida cuber-
tã por baixo da contra*efcarpa , ínrando defronte da
firce do baluarte , e em chegando ao fofib , fe levat>>
tio as duas primeiras eftacas da. galeria de oito até
noYe pés de alto , féis ou fere pollegadas de grol-
íb, afaftadas homa da outra fetepés, prezas em fi-
na, e em baixo como caixilho com duas vigas iguaes
Qa groífúra, etraveflas nos cantos: em diftancia de
finco ^ òu féis pés te arma outra grade , e fe conti^
nua com outras até á efcarpa da face do baluarte :
dehama grade até á outra fepóem taboas, e pran-
chas das mais groflas cubertas de terra altura de
dous pés , e ordinariamente fe forma o te6lo de dons
ângulos , que terminSo em agudo , cubrindo tudo de
folha de FJandes, e depois com terra : tapão-íe os
lados com iguaes pranchas , deixando-Ihe freftas pa-
ra yerem os Mineiros o que fazem , e acabada a
galeria, fe começa a mina, picando o baluarte, fa-
xendo os fornilhos , atacando-os , e dando-lhes fo-
go, que fe faz bom effeito , íepulta a galeria nas fuás
ruínas. Efta maquina fe ufa raras vezes , porque a
experiência tem moftrado que por mais adlivo , e
contínuo que feja o fogo das baterias , fempre os íi-
tiados. tem meios para impedir a fabrica da galeria
muitas vezes , ou fempre , matando os que traba«
Tom. VII. liii Ihâo
( 102 )
Ihâo nella , porque em fim efta acção , e a de fegp^
rar hum petardo são as mais perigofas 9 eefta mais,
porque he fazer huma cafa forte de madeira bem co-
berta junto a huma muralha , e no través de ha»
foflb, para o qual ha portas falias , e roturas, ceai
iima muitos mil homens , que percebem a obra j e
tem mãos para lançar bombas , granadas j cal vic-í
gem , azeite fervendo , barris de polrora deftapado»y
e logo tições ardendo , &c. o que tudo podem £•-«
zer amparados dos parapeitos , e Ce já eftâo demcvi
lidos 9 de ceftôes , facos de terra jíij &c. Nunca fe
ufou efta maquina em Hefpanha , e Portugal , e em
lugar delia fe cobrem os Mineiros com os candiei-^
ros encoftados á efcarpa , e bem forrados de tudo
o que reíifte ao fogo. He certo (difle o ErmLtíío)^
que todos os Ânthores: modernos mandão fabricar
a galeria deflfa forte; mas viajando eu quaíi todo o
mundo, e tendo lido muito, nSo me lembro deqne
íe ufaflTe , ou confeguilTe fazer com bom fucceffb :
vi fim entre os deipojos militares dos Turcos no
cerco de Belgrado , a que AÍfifti vindo da Paleftk
na , muitas galerias preparadas para minar a Praça
feitas nos aproches com toda a fortaleza neceflaria
para refiftirem a todos os fogos artificiaes , mas erão
formadas íobre rodas , e com outra obra da partq
da entrada com íeu telhado efconco , e lados , onr
de íe haviâo de metter os que as haviâo emípurrar :
depois me díflerão em Alemanha , que quando os
fouos erão aquáticos , as fazião febre barcas de cch
bre , e (e erão de lama , as rodavâo fobre a fachítui
delgada , e muito bem direita , fazendo fempre da
fapa até o folTo boa delcida ^ e bem eftirada. TudQ
iro
( 103 )
iiflb fei 9 (diíTe o foldado) e também fei que nem deflas
galerias , nem de outras algumas usâo já os Enge-
nheiros , porque os defenfores das Praças a todo o
rifco lhes lançâo pedras de moinhos em íima , e na
falta delias chegáráo já a lançar canhões , de forte
que hoje a expugnaçSo confífte em bater inceflante-
mente as muralhas, reparos, e parapeitos, lançan-
do ao mefmo tempo milhões de balas ardentes nas
Praças , de que fe fegue atear*re fogo em todos os
edificios , arrebentarem abobadas , diminuirem*fe,
ou ceflarem as baterias da Praça , abrirem-fe cedo
brechas , e capitular a guarnição , ou fugir , como
ha pouco tempo fuccedeo em Hanover. Aberta de
qualquer modo a brecha , ou feja com artilharia , ou
com mina, logo, logo a enveftem, e aífaltâo os íi-^
tiadores , porque ha^i^ndo dilação no aflalto , tem
os íitiados tempo para fazerem muitas , e boas obras
para a fua defeza , como já vos difle ; e fe o aíFal-
to da brecha he immediato áfua abertura^ he tal o
horror, e confusão na Praça, que mil Engenheiros,
e Generaes não baftâo para a evitar , e fazer o que
permitte a neceíEdade , e aperto , antes o certo he
fazerem todos o contrario do que fe lhes manda , e
he mais preciío. Marcha o exercito a inveftír a bre-
cha , levando diante de fi algumas vezes gaftadores
com fachinas , fe he neceífario entulhar alguma par-
te do foíTo , quando he muito largo : na vanguarda
vão os Regimentos mais antigos , e de foldados
mais valerofos com as armas ordinárias, e fogos ar«
tificiaes , e aíEm cahindo huns , e fubindo outros,
montão a brecha , e ou fe alojão nella , havendo
çortaduras, ou profeguem a vitoria > fenhoreando,
c f a-
( 104 )
e (aqueatido toda a Praça ; porém íe eftã tem Gâft
tello , Torre force ^ Cidadela bem defendida y opi
boas cortadoras, expugnão osiitiadores eftas oln^
çonmovos ataques 9 baterias, eartificios, domimin
do íó o que nSo tem defeza , até que os í!tiadii|
capitulâo , e íe rendem. Se a brecha he defendida ooifi
valor, e fortuna, e o General dos íitiadores rê^qiM
lhe morre no aflalto muita , e^ boa gente , maach
tocar as caixas a recolher , eparã efta acção be pon^
ca «toda a prudência dos Cabos , porque a defordca
he quafi infallivel na retirada 9 e os lltiados conh»
cendo no toque a vidloria certa , e fortuna prorpâ^
cia , concebem tal brio , e intrepidez , que fegoeoi
o& dtiadores y matando nelles até dentro dos apio»
ches, fapias , alojamentos , e baterias, nas quaes .irai»
lendo-fe da confusSo 9 encravâo peças , lançfio íbgo
aos foflbs da pólvora , e fazem todos os damiíos^
que infpifa a cólera a hum vencedor. OaíTalto (
efcadas he ornais antigo methodo de expugnar
pois qú^ (e inventarão no mundo as fortificações dá
pedra, cal, e terra : hoje he pouco u fado, porqflia
òs canhões poupão eflas vidas, e commummente fii
usão as efcadas fó nas entreprezas das Praças , ca^
minhando o&expugnadores de noite, e arrimandío--aé
ãs muralhas fèm íerem fentidos das fentinelas , íe»
não quando eftas experímentão o furor dos iními^
SOS, e o fruto dos (eus defcuidos. Para evitar êftet
amnos ha muitos remédios , e o melhor que vi j;
são as fentinelas dobradas , rondas , e patrulhas noc
foíTos vigilantes , eftacadas na eftrada encuberta , •
tódosf os que vigião , e rondâo tocando muitas ve«
zes caApainhas , a que refpoudem todas as fentínc»
- ^ laa
( io5r )
Ias com outras, o mie bafta para infundir terror no9
inimigos , e evitar lobprezas. As efcadas melhores de
efcalar sâo as mais largas de trez y e quatro vigas ,
mas são tão pezadas , que fó as usão os fítiadores
acampados , conduzkido-as doze, e mais homens com
grande trabalho de noite cnbertos com o fogo da
artilharia , e depois que huns cegâo o foíTo com fa-
xinas , as alvorão , e fobem féis j ou oito homens
emparelhados por cada huma , e para ferem mais bem
fuccedidos , e dividirem as forças dos defenfores y
fobem verdadeiramente fó por huma parte , e Rn^
gem que fobem por muitas. Aexperiencia tem mof-
trado que eftas acções raras vezes são bem fuccedi-
das^ , ( fendo-o qnaii fempre as bem ordenadas fob-^
prezas) porque advertidos os fitiados , enchem as mu«
talhas de luzes, lanção fobre os que fobem tudo o
que já vos difle coftumavão lançar (obre as galerias y
e Mineiros, entre os expugnadores tudo he confii-
são, e como a noite não deixa ver o merecimento ^
e valor de cada hum, todos poupão à vida para ou-
tra occafiao melhor^ As eícadasdas fobprezas são
mms íái^às que as commuas , e admittem fó-dous
homens quando muito: na Afia íbbem pelas efcadas
de efcalar doze até vinte homens , porque sâo fei*
tais de canas groflilfimas chamadas bambus, ocas^
fummamente leves '^ e igualmente fortes , de forte
que dous homens conduzem , e alvorão^ efcada mais
alta', e larga defta matéria , que fe pôde conduzir
facilmente para a Europa, como também astabocaa
do Brazil , que he^^ mefmo. Para fe fiindar huma
Praça ordinariamente fe acha bom fitio , mas não
boa cerva n^ue^hc 4) mais^Ncefiario : a das »oma^
\^í^ nbaa
nhãs tem muito pedregulho , que he o peior terre^
no 9 porque nSo faz liga ^ nem ferve para os para-
peitos abfolutamente : a arêa he o mefmo , ou pe^
lor: o alagadiço além das eftacadas, em que íe aif»
pendem muitos mil cruzados , requerç muita cal
branda , e nao obftante iíTo , abre enormes fendas j e
fó podem edificar*fe no Eftio : o melhor terreno he
o pingue 9 untuoío, forte na ligadura , e brando no
taâo , de forte que na Aíia , para evitarem o traba-
lho de efcolher terreno , fundão onde querem , e
neceí&tao , e á força de cal (que he de caícas de oC»
trás j e amêijoas , mas excellente) com azeite ^ agoa |
aflucar de paloieiray e catú edificâo hum formigão |
ou taipa tao forte (em muralha, que lhe não çntrm
bala ordinariamente , e fe entra j fica fervindo de
muralha com meio corpo de fora , de que Je Cegai
fer impQÍ&vel á. brecha , e muito mais a mina.! nao?
tivoy porque todas fe cooquiítâo áeicala. IftoTop»
pofto 9 já fabeis 4is inoumeraveis obras y de que coch
fta huma fortificação , e inftrumentos para.afua cU^
feza , como tambem^ 03 trabalhos , com. que a C3[«
pugnão y e.defefadem^ e antes quç vos expliqtfe.o
ultimo moderno deferiho de Thamaz KoulikAn' q€4
ceflicoL. lembrar- vps o -que ji vos diflc y e vem a fâ
com mais clareza que hum exercito acampado h9
btimb Cidade feita; x:om excellepte.rifco , defenho^
eproporçâOi^cíe oa aproches, baterias > e alojanmH
tos contra hun^Pf aça íitiacU hehtt<p l^by^intbor.dè
grandes 9 4)equeoos , direitos, eatriavelTàdos foflba^
ottirnaa fubterraneaá muito alças "Com fuaí p^ue»
oaaPraigasdtf armas y Qqsuarteistde/otldadojem d^rj*
ios;íitíos:, tudp CQnttuflácavel, js$k(^i^gçuÍQ[PiiM^
dig-
( Í07 )
digno de fe ver y e admirar depois qne fe imíentâo
os ficiadores. Tudo ifto vio Thamaz Koulikan mui-
tas vezes na Europa , e Afia, teve nefia matéria os
maiores eftudos, e o maior engenho para lhe apro*
veí tarem, communícou a idéa de huma Praça ínex-?
pugnavel aos melhores Engenheiros do feu tempo,
dizendo-lhes os materiaes , que a Aíia tinha para iflTo ,
e em fim defengatfado oom os feus votos* fez o de»
lenho , e perfil, que já vos difle julgarão inconquif-
tffvel muitoá ; e fogundo mo oommunicou o Padre
Fr. Plácido 'Carmelita Defcalço (que muitos.aiTeiH
tárâo fora Gon^flbr de Thamaz Koulikan , e que
efte era Catholico com mais obngaçóe^ que os do
Decálogo^ e Italiano , como o Padre Er. Plácido)
he o feguinte : Hiiom Praça rotunda femmuralha^ pa^
ripekos , liem ^bms algumas antigas, nem moder*
nas ^ os reparos de Formigão -decai , terra fina , azei«^
te com bítume da Arménia , e para fecapte humas
folhas de arvores 4o mato reduzidas a pó fem fo-^
0> ,qtte julgarão exêediâô o catú , e fumagre ^ de
forte qae provaódò-^fe huma parede defta, maf eria
comtíros de toda a^afta ite canhòcs , nenhuma ba*
)a lhe entrou , e fó lhe deizavâo hum final como quan-
do febate huma grofifa prancha de chumbo com hum
martelo :: toda a Praça cuberta de abobadas ,aífim
caías, como ruas m altura^ dos reparos., e para luas
claras bóias ^ (ooftome da Perfia nas .ruas , em que
ie vende) asquaes fe havião de tirarem tempo de
fitio, pondo em feu lugar pranthas.de bronze oofo
buracos « e provadas as abobadas com toda a eípe-
çie de bombas : duas ordens .pe canooneiras po re-
paro > to^ £9X00 ocuIm .niutfQ hf^í^ÍMpAít^ ex^
te*
( io8 )
terior, e ha interior da grandeza de hum canhão de
lincoenta y cada huma com íua portinhola cubcrta de
ferro, que abríflTe por dentro com corrediça, etrcs
buracos pequenos em cada huma : a primeira ordem
em quaíi meio reparo, que havia de fer muito alto ,
e a fegunda meio covado dos noflbft communs affi-
ma dooHvel dofoITo: as chaminés de altura dehuaí
palmo fora das abobadas com carapuças de ferro
coado j huma ió porta , quatro falias , foflb muito
targo com finco varas de alto , e trez í^hidas ptra
fora. Efta a Praça , em que fó havia de habitar agiifuw
nição neceflaria , e para fer de tudo bem pipyjdai
lhe concedU cm todas as Luas huma feira frane««. Até
aqut jnigário todos efta obra huma quimera , Qliiiirtl
invcnçío '^ parto (ó digno de quem nunca vio gaei!»
raV nem fotihou íér Engenheiro ; pdréioas (>Wii&«i«
teriores he^que fizeráo mudar de conqeit^' os prnt
dentes , quando as vírâo acabadas ejn nove.mezeft
Derenhou*;íe a Praça em huma planície i que picA
toda aparte nÍQ tinha cávalleiro od:diftanckr dç \e^
gua^e feiní^o:^Foflb9 dcfenhol^rThamai&, piv# Codtt
es^lqttatrò partes Oriente , NafccntevNdrte^iMcíc»
dia quatro fáhidas, oii ruas largas!, comçi«nif;AdM'pQt
trflPveíTas humas a oti trás com alojamentos,, ..e bate*
?ids' até quafi meia légua , tudo com minas profundes
MS paflâgen8< reaes , e nas baterias grandes.,- ^m Bm
4ium^priinOTOÍiffimo kbyrintho deaprophes pbrt)uii»
tro' partes i^^canw' fé da Praça fahifle a guarnição' A
coííqttiftar Quatro Praças fronteiras. : > - . ; i
LISjBÍpAi NÍ bíikiaa; de [Miguel Manefcal cUCofta , ímpr^flbr fi
* ' ' Ssiito í3má6.'AM6 I^'i5|« (km fiai às thé^iH oUtifMi^A 1£*^i
( Í09 )
CONFERENCIA X.
NEftas obras (dizia elle) havia deaífiftir ame-
tade da guarnição todo oanno de dia , e de
noite, mudancfo-fe ás vinte c quatro horas,
e por todo o labyrintho rondar Cavallaria
com huma companhia dé Infantes , e outra de Ar-
tilheiros com trez peças da fua invenção , que não
fahio á hiz , porque a fua morte fepuitou com elle
as maiores idéas. Da Praça ficou fó efta noticia , e
a terra para o labyrintho de contra-aproches cava-»
da. O Padre Fr. Jorge da Prefentaçâo, quando in--
tentava dar á luz a vida de Thamaz , compofta do
-oue vira, e ouvira delle, vio imprefla outra muito
aiminuta , e desfigurada , motivo , por que diíTe a
feu irmão o M. R. P. Jofé Pinto da Congregação
do Oratório , que a laceraíTe , ou imprimiíTe em ou-
tro nome , e ignoro que fim teve com o terremoto ,
e por íua morte , aífim como também fe imprimio
na Itália do Padre Fr. Plácido o feu excellente livro
Jijia apenas c$nhecida tantos feculos depois de commU'
meada. Para quem não profeíTa Milicia o que eftá
dirá nefta matéria bafta.
Não convém ( difle o Letrado ) gaftar o tem-
po com pouco fruto , qual he o que fe fegue de
tratar com fumma brevidade o melhor da hiftoria ,
íem dar primeiro grande noticia delia , porque as
fommas, e epithomes fe inventarão para facilmente
cada hum renovar a lembrança do que lera , e ouvi-
ra em mais dilatada biftoJria, como são as deMoreri
Tom. VIL K a rcf-
a refpeito do breviffimo epithome de João de BaP-
fiers: eu me obrigo a referir» vos tudo o que fe con-
tém naquella grande Obra, menos algumas coufaS|
que lhe accrefêentárâo os tradu6lores fó para faze-
rem a obra agigantada', emendando as ihnmr ará-
veis equivocaçôes , e erros , de que por culpa dos
amanuenfes (como delia confta) eftá inficionada , ac-
crefcentando-Ihe o muito, e muito curiofo , que lhe
falta, efpecialmente do noflfo Reino, fem repetir o
que aqui fe tem <lito , nem dizer o que cada hnm
com mais extensão deve contar , e em fim redazin-
do a hum tomo o que hoje fe acha em tantos , e tSo
grandes , porque nelles fe repetem muitas , e mui-
tas vezes as mefmas hiftorias nas vidas de todos os
fogeitos , de que tratâo ellas , além das impertinen^
tes , infrutíferas , e fuperfluas. Grande beneficio (dífler
o Eftudante) étperamos receber de vós no que pro^
metteis ; mas no que refpeita aos accrefcentamen-
tos , adverti que nos criticão muitos de menos ver-
dadeiros , e juigâo fabulofas , c impoífiveis muitas
das hiftorias , que eftão lendo em varias Conferen-
cias. Socegai , ( difle o Theologo ) não vos dê cui-
dado , nem vos firva aquella noticia de impedimen-
to: a todos eíFes prefentes, e futuros refpondo coin
oApoftolo S. João no cap. i. da íua primeira Car^
ta num. 3. O que vimos j e ouvimos be o que vos coh^
tamos. O que vi com os olhos , o que li em quaff
innumeraveis livros em quarenta annos de eftudos
contínuos , e goftofos , o que ouvi a mais de qui-
nhentos Miflionafios doutos^ epios, eOfficiaes mi«
íitares reputados pelos mais verdadeiros , a Monges.
Sciíma ticos deigraçados penitentes auftéros , a pere-^
(III)
grinos, eviageiros bemmorigerados, aosqiiaes ad-
miaiftrei Sacramentos , e hofpedei por ojfficio , e em
fim o qae me contarão outros muitos em todas as
quatro partes do mundo , dizendo-me huns que vi-
rão, outros que peíToas fidedignas lho contarão , he
o que eu digo que ri, eouvi em nome de cada In*
terlocutor defte humilde Dialogo. Se os Authores ,
que li , e leio , fe enganarão , ou forão enganados ^
como fuccedt a todos> e fe todos os que me difle^
rão^qtie lerão , yírão , e ouvirão me enganarão a mim ,
cu certamente não menti , nem vos enganei , refe-
rindo (como finceramente faço) o que dles me aí--
feverárâo que tinhão vifto , oavido , e lido : de for-
te, quef qaaodo em nome de;qnalquer deftes féis In-
terlocntores digo vi , li, ouvi , humas vezes conto
o que affim me fuccedeo , e outras fallo em nome
de quem mo contou , ou de quem o difle a quem
mo refisrío , e á vifta da verdade fincera , com que
fallo., fó fará cryfes quem de cafo penfado quizér
empregar mal o tempo. Já hum efcrupnlofo , mas
amigo, medifle omefmo, pedindo-me lhe mofkraíTe
os fragmentos de noticias, que meu pai adquirio na
communicação com o grande Luiz de Couto Felisy
quando efcreveo os índices da Torre do Tombo ^ que
eziftem, e depois até áfua morte, e o que fefeguíò
de os ver, e fe defenganar foi o appetite de os ler
para fe inftruir, com tão bom fuccelTo, que os não
vi mais , e já agora fó efpero vellos impreflbs em*
nome de outrem , que efte diz lhos furtou, ajSim co-^
IDO me furtarão vinte e duas Conferencias , e me
trasladarão os índices , de que não faço cafo , por-
que os fragmentos poflb recuperallos com o que me
K ií lem-
•« • -'
("4)
de hum pequeno rio de Brabante. A(ã)us he huina
Cidade cfoBifpado deMunfter íobre o. pequeno rio
Aa , que entra no Regge : tem hum bom Caftello ,
difta trezle^a$ deCoesfèld, íinco do Oldeofeel (^
ra o Norte , celebre , porque nella morrea Chrífi-
tovlo Bernardo Van-Galen, Bifpo de Munfter, tf^
fás memorável na guerra de Hol landa. JtthhCbarim
he huma aldeã famofa nas montanhas de Judéa^*
diftante duas léguas de Jerufalem^jonde dizem :mM
ravâo S. Zacarias y e Santa Ifabd , pais do Bapttflu
Aain^el^ginum foi huma antiga Cidade de Africa aá
Provincia de Chaus , e Reino de Fés , fundada «n
huma planicie cercada de grandes montanhas no cai*
minhç ddfoffroi para Numidia: £gnifica eíbe nomíB
fonte dos' idolos ^ porque fendo idolatras os Afrív
canos 9 tinhão entre ella , e huma lagoa minha
bum abominável templo , em que facrificavão hó»
mensi e mulheres iguaes em o*numerò, e acabadoa
os facrificios y exrinâas as luzes , cada hum ufava da
mulher y que apprehendià : eftas em todo aquclle
anno regeitavao os maridos , e os filhos , que pa^
f ião y (e criavão no templo , que deflruírão os Ma^
bometanos: chamoa-fe tambem.Hamliíman^ e Mam
lifnanáb Aaiu-Mariam he huma fonte.cuberta de a«
bobada nt raii* do monte Moría en^ Jentfalem ^ di£»
taate duzentos palTos do chafariz, e tanque de Si»
loe, para onde correm as &as aguas, por canos pnri
fbpd«^ : defta agua dizem EÍava . a Virgem SantiA
iim4 > emauantò aíEftiaién^j^cuíalpmi^.b.JidíIarià
Uvâo os Mouros pitra' evitárrénv.a-jhaítttral fedor^j
que fempre exhalâo osíeu8Gorposi':^j/^fir^9 veja!*
K Alborg^ Jalen yyejZríc Aiakn ^ Ciái^^ deiDipM
( "5)
màtcz. Jai Cidade pequena da Noruega na Pro-
víncia de Aggethus perto do monte Sula no paiz
detíaltingdaT. Aama^CuHandin foi hum Rei de Ethyo-
fÂino oitavo feci^la :fiiMa he Provincia de África ,
diftante xlé* Tunes :i^mi:e jornadas : tem perigofa
entrada ^equafi.ihacoeffiTel fubida por hum fó pre*
cipicio:ide rinté paSbs de largo , e finco léguas de
comprido : heceroaida de xiWj que fe nâo podem
▼adbar. íemi^graiide perigo por canfa xlás arêasí , a
que emPpmigal chamao buns fardas , outros to^
3osyT>àtroá panelas, que abforbem tudo o que lhe
*ià% pezp, de qne relultárão muitas fabulas: alguns
antigamente ( hoje nâo ) chamar ja a eftes rios ma*
rês :do Faraó 9 alJudíodo £ fubrièrsâo do fen exerci^
to no mani^oxo. ^ÀtfÂf',' Província 'de Eícocia , ve^
ja^fe Angus; Aar y rio o mais caudalofo de Suifla ,
a que os antigos chamarão Arula^nafce no' monte
deS. Gothar ,. pouco diftante do nafcimento do Ro«^
dano ^ .c Tefin* j e te navegável d efde os lagos de
Brient& , :e Tbum até^hafeufa , e Bafiiéà. Aar cha-^
mão tambéfti ao celebre rio de Alemanha y que tem
qttatro nafcimentos, no Condada^de.Blankeaheim^
(?otrc;òs Oiicadbs de Treyerís/.Cdonia, ejuliersr
entra nò Hhirn pobcoiaffima dè Lintz^^.fbi habi^
tádo daS'*Ripuaria5iy e ha.ò qite ainda ..hojr divide
Alemanha fu per ior da. inferior. Aar chanião também
â hnm pequeno rio de Heife em Alemanha, qi7e pafla
por Dudinckaufen ^ e acaba no Oder^ \ií^ chamâo
os Dioamarquezes a' Inima daa waís\ <»>nfideraveii
Ilhas ) que dependem da principal daquella Coroa
chamada Fujmen. Aarak he fanroa dás principaes Ci-
dades da Província de Hircania no Reino da Per*
íia.
íxz.JânqffiiS V CiSd^e de Pfidia > a qác ufga
máraoAfiaffis por equivoctçâo cdm optra áo mé^
mo noiney dècujOíBifpa Ka* nottctt eaiilgtiii&
cíHqs .y e.erâ fimatià «mv Pirjrgui ^ oil Pamtia«
hrg^y Cidade de SuiATa ao. Ganeao* de Bèrt» ^
hoje bum ÇaftçUo morálmeoce mcónquift^rèl
cado do ria Aar :, duas vjezes a rediizio alciozrót)
fegOy aprímeica oaaano de x^i^^e a fegunáft no
d^ 1477.9 fibdttdo fcaqH'â;tlIexa alígreja : bsifittMt
feguiidm da grande Gtâ deNeocáftel agovernértio
como Soberanos y até que Pedro de Aaraberba^e
veodeo' aos Cantões de Berna no anoo de ijf >^9 t»
ttrando^fe elLes ^ eíen^idefcendences para Aoftria^
onde todos edificarão o CaAella de Aarabetga : cr*
verlo logo governo de Republica ^ mas coroo oa
naturaes são os menos femdhaates aos homens j fo»
ffão taritas j e tâo ridículas as diíEensÔes j que exriím
tos os Senadores > lhe puzerâo os de^Bema hiini
Coníul com guami^a competente , que ji não rem ^
porque fedoóie&ioárão mmto :aJém:doí qne.fe efpè»
rara da (eur bcntaL genic»^ Agrinargo he Cidade com
adminatel Oaiftella hoi mefmo Cantão de Berna z tq«
ma o nomcdoikia^Aar , que a banha , e defende^
he poctd , .c froQtdca jpara os. Cantões dè Soleora^
ei^Iiâoeana!) Bmporio do. comercio das crez ^ eide
outras tnaisi^ pequena , rica , e fegura nos penhaf^
cos, emjqoèhoje tem a s- firas fortificações, qne fá
ptacadas^admiriío^ a todos. Jardalffioerâ^ na língoa
IjZtto» AaràaliutSifmt 4^ eTulgarmeote chamado ^Ai^
teu^fidèrd , he hum golfo do Oceano Septentríonal
aas coftás de Bergen oa Noruega junto á Cidads
de StavaogerJ Aara , a que os Latinos chamâo A^
«
(117)
brinca y he hum rio na cofta de Eiffel nos confins de
Alemanha , entra nos Ducados de Trcviris , e Ju-
liers ^ e no Rheno janto a Bona no Eleitorado de
Colónia. * Aoámnum. Defte nome , e da fua fignifi-
cação não teve noticia Moreri , e os fcns traduâo-
res : era hnm lago navegarei debaixo da terra na
antiga Provincia de Jnnnam co Império da Chioa
com huma pequena ^ e dtfficaltoía entrada natnral y
e muitas artificiaes ^ que ttie fizerlw os Chinas para
tranfportarem em barcos os viveres de homas Al-
deãs para outras , querendo antes navegar qnafi is
efcuras por baixo da terra , do que caminhar as fer-
ras afperas ^ que dividião as Cidades , Villas , e Al*
deas defta grande Provincia , a qual toda fe fobver-
teo nefte lago com o celebre terremoto de iss^y
ou de i3f i , como dizem outros. Efte fez feparar
os grandes penhafcos , que fbrmirão tantos fecu-
los a admirável abobeda , que foftentava a Provín*
cia , e cubria o lago , no qual era tão frequente a
navegação , qne fe duvida onde n^orreo oiais gen-
te , k nelle embarcada, ou nas caías da Provincia ,
de que fò ficou iliezo hum menino de peito , ícr^
Tindo-Jhe o berço de hãtco. Defcubrírão-íe nelle
minas de hnm betume louro ^ e aromático, que deo
efte nome ao lago , e concorrendo de todo o Impe*
rio innumeravel gente a tirallo , abrirão tantas , e
taes cavernas , humas para entrar a luz , e outras
para defcubrir o betume nas margens áo lago, que
quando tremeo a terra , cahio tudo , e ficou com
menos agua , e circuito do que tinha , que hoje são
oito léguas Portuguezas. ( Gabriel Timctheo , Anti^
gmdades &mcas ) O meíino nome derão os Chinas
a cír
(ii8)
a eíiie menino y e individuo único y que fe falvou no
berço fobre o lago , o qual educarão com fummo
cuidado y prefumindo que os deofes o guardárSo
para alguma efpecial fortuna da Republica. Elle
Ibube aproveitar-fe defte agouro , e fendo dotado
de tanta preguiça , como aftucia , apenas eftodou o
que baftava para fer embufteiro y fíngio que lhe fat
lavâo os Ídolos , e revelavâo futuros j que elle ca
communicava com palavras equivocas ^ e myfterio^
fas, ou efcrevia com caraâeres novos , que fó elle
depois lia, e interpretava de forte , que (empre a«
divinhava o que via. Ifto lhe adquirio tal honra |
e veneração y que o Emperador eitimou fe conten**
taíFe em fer venerado por deos y e não afpiráfle ao
íceptro y para que o convidava a maior parte <]o
Império: edificárâo-lhe vários templos , em que foi
fervido , e adorado por mulheres , as quaes dizem
o matarão com veneno por induftria do Empera-
dor, que nunca fe julgava feguro com tal deos ri«
vo no Império. Innumeraveis feguírâo o feu inftí-
tuto , mas com pouca fortuna , como fe dirá em
feu lugar. * (O me/mo Author.) Aaron , nome He-
braico, e emPortuguez Aarão, interpreta-fe mon-
tanha. O mais famigerado , que teve elle nome,
foi o primeiro Summo Sacerdote , ou Pontifico, que
he o mefmo, dos Hebreos , da Tribu de Levi , £•
lho de Amram , e Jocabed , irmão de Moyfés , a
quem ícrvio de interprete perante Faraó , por ícr
eloquente , e Moyfés tartamudo. Deos o nomeop
primeiro Pontifice no deferto, e para confiar iíTo a
todo o povo , confumio fogo do Ceo o primeiro
facrificio , que offereceo. Ifto excitou a inveja dos
mais
( 119)
mais ricos , e poderofos , dos quaes forão Coré^
Dathan^ eAbiron os primeiros , e em caftigo de fe
opporem ao Aimmo Pontificado , os tragou a terra,
e o Inferno vivos: depois duzentos e uncoenta op-
poíitores morrerão queimados com fogo; cnãobaf-
tando tantos prodígios para focegar os ânimos , por
ordem de Deos poz Moyfés no Tabernáculo tantas
varas, quantos lerâo os Cabeças dasTribus, e nel-
las os feus nomes, e no dia feguinte acharão que a
vara dei Âarâo tinha lançado flores , e produzida
amêndoas. Antes de ler Pontífice fez o bezerro de
ouro, que adorarão osHebreos nas faldas do monte
Sinai , e depois de confagrado duvidou com Moyfés
do poder de Deos , quanoo obrarão o milagre de fa*
zer fahir agua de huma pedra , pelo que não entrou
na terra de promifsão , mas fim foi defpojado das veí-
tiduras Pontificaes no monte Hor, onde morreo no
mez Sabba , que he Julho , e anno quarto depois da
£ahida do Egypto. * Na palavra Ifraelita íe achará
a melhor fumma da Hiftoria Sagrada. ^ Jaron , fi-
lho de Miadi , a quem os Arábios chamão Harotm
Al'Rafchidj foi Rei daPerfia, e o quinto Calife da
familia dosAbbaflidas no fim do oitavo feculo : con-
quiftou a Afia menor com hum exercito de trezen-
tos mil homens ; venceo , e fez tributário o Empe-
rador Niceforo ; foi o mais feliz Monarca daquelle
Império ; não teve a correfpondencia com Carlos
Magno , que dizem alguns Authores allegados por
Moreri ; amoa os ioldados com tal extremo y que
nunca na campanha comeo fenão depois de vifitar a
cavallo todas as mezas , e lhe dizerem todos que
eílâvãp fatisfeitos , e então a cavallo comia menos y
e com^
( "O )
c com. menos regalo do que elles tinháo comido;
repartia com elles igualmente todos os deípojos,
íem refer^ar para íi mais que algumas armas ; mor-
reo de quarenta etrez annos, e vinte e trez de go-
verno y quando intentava conquiftar todo o mundo,
(Timoth. Hijlor. Perf. ) Jaron Ben-afer foi hum Ra-
bino celebre , que dizem inventara os pontos , c
virgulas , que entre os Hebreos fubítituem as vo-
gaes. Jacob Ben-Nephtali querem muitos tiveíTe par*
te nefta invenção , de que damos em tratado típc^
ciai toda a noticia. Anrâo^ ou 4hram de Alexandria j
foi Sacerdote 9 e Medico no fetimo feculo, efcreveo
na lingua Syriaca trinta differentes tratados y aos
quaes Sérgio accrefcentou dons , que depois fe tra-
duzirão em Árabio : querem fejaefle o primeiro Âtt-
thor y que tratou de bexigas , de que inferem come-
çara eíte contagio no Egypto , e que os Arábios o
adquirirão na (uaconquilía: he muito provável, qne
naquelle feculo apenas era conhecido j porque EIío
de Ámyda , que eícreveo no antecedente , o igno*
rou, como também entre os Gregos nomefmo tem-
po Paulo Egyneta , que na fua admirável obra pro-
mctte tratar de todas as enfermidades. No anno de
683 Maferjavvaih Judeo por ordem do Calife Mer-
vvão traduzio na lingua Arábica todas as obras do
infigne iMedico Aarão , que hoje tem as primeiras
eftimaçôes bem merecidas entre os Gregos , Ará-
bios y e outras nações do Oriente.
LISBOA , Na Officina de Miguel Manefcal da
Cofta, Impreflbr do Santo Officio. Anno 1763.
Com todas as licenças necejfarias.
(Ill )
CONFERENCIA XI.
m p«...««- t
i I
jírâo Iféutc jfarão Greg/^ foi prizioneiro em
Coríntho , (guando conquiftou eíVa Cidade
Rogério Rei de Sicilia no anno de 1 148 ,
aprendeo em Itália com perfeição a^lingua
do paiz j de forte que veio a fçr interprete do Em-
perador Manoel Comneno , de cujo valimento aba-
fou para arruinar Aleixo , hum dos principaes Fi-
dalgos do Império , è caiado < com huma íbbrinha
doEmperador: efte o amava com extremo, porque
lhe adivinhava tudo o que pertendia faber , e para
ter efla prenda , fe applicou ao eftudo da Magica j
e de hum livro falfamente attribuido aSalamâo , em
que fe achavâo conjuros , com que chamava demó-
nios familiares , além do que por motivo ignorado
confervava em ca fa huma tartanrga com hum vivo
retrato de homem no cafco fuperior prezo.com gri-
lhões y e fegnro com hum ppego pelo eftomago : de
tildo iíèo foi acaifado , como fe o náo foíTe ; mas
defcubrindo a Emperatriz que elle vendia os inte-
refles do marido aos Embaixadores do Occidente,
quando > na fua prefença explicava ambas as linguas,
lhe cirár2o os. olhos , e confífcárâo os bens. Mof-
trou o tempo que nenhuma deigraça emendava o
feu coração , e perverfo génio , porque affim pobre ,
e cego perfuadio a Andronico Comneno , ufurpa-
dor do Império , que não fó tirafle os olhos aosfeus
inimigos^ mas lhes cortaífe as linguas , eDeos per-
miftio que Ifaac fegundo ^ fucceíTociniquo de An*
-Tom. VIÍ. L dro-.
( 122 )
dronico primeiro, lhe cortafle a lingua em remune»
ração dp* confeiho j que dera a feii anteceflor/c at
fim veio a morrer cie paixão enorme ,' fe miferaveL
Jarão Caraita foi hum Rabino celebre no anno de
1300 , efcreveo hum Gomm^ntariò febre o Pftita-
teuco , cujo original fe confery»^ na* Livraria dos Reis
de França , e outro também manufcripto na d^ ^on«
f regados de Pariz. Os Caraitas he huma íeita dos
udeos , que feguem unicamente a Efcritura Sagra-
da fem darem credito algum ás tradições. Aafchaour
he huma das maiores feftaa^.que celebrão os Períaé
em memoria dos £lhos de AU Hoflem , e HuíTeim
com as ridiculas ceremonias , que Tavernier diz a
vira celebrar emHifpaban no anno de 1667* Armão
na Praça maior hum throno para o Rei ver eftas
barbaras exéquias 9 entrãondla do2e Companhias de
Infantes com os feus OíEci>aes competentes precedi-*
das cada huma de trez cavallos á mão ricamente
ajaezados ^ levando cada hum no arção da feia ar*
CO , flechas , rodela , e ^alfange : na retaguarda de
cada Companhia vem oito ^ ou dez homens conl
humas andas ^ em que coftumão acarretar os enfer-
mos y ornadas de folhagens preciofas de ouro ^ e pra-*
ta ) e em cada huma hum caixão cuberto de broca*
da Tanto que chega cada Companhia áprefença do
Rei 9 os que levão os cavallos os obrigão a galo*
pear, e dar faltos por fima do caixão , e ao mefmo
tempo lanção para o ar os veftidos , toucas, e cin*
tos , gritão efcumando como defefperados , dizen-
do : Hujfeim Hocem , Hocem Hujfeim : efgrimem com
ascatanas, ferem mutuamente com as mãos efquect
das humas pedras y revolvem«£e no. pó tia Prafa ^
e a(»-
( m)
e acabada efta loucura , fe recolhem para os cantos
delia : então vem duas Companhias da melhor Ca-
vallaria acompanhando , como as outras doze, cada
huma as fuás andas y e em cada huma delias hum
caixão com huma figura dos defuntos, chorando to-
dos o aíTaffino dos filhos de Ali. Acabadas eftas ce-
remonias , hum Moula prega as exéquias por tem-
po de meia hora , e dura efte defvario defde as fe^-
te horas da manhã até o meio dia. AíTeverão os Per*
fas, que nos dez dias, e noites feguintes eftão aber-
tas as portas do Paraifo para entrarem nelle todos
os Mahometanos , que morrerem neíTe tempo , no
2nal dão grandes efmolas , e fazem taes extremos
e fentimentoyquè muitos fe enterrão dias, e noi-
tes até o pefcoço , e cobrem a cabeça com huma
panela cheia de terra. Jb he nome do quinto mez
dosHebreos, que conftava de trinta dias, e corref-
pendia a Julho , memorável pelo jejum, de que falia
o Profeta Zacharias em memoria das antigas mur-
imiraçôes , que impedirão a feus pais o ingreíTo na
terra de promifsão : nefte mez mandou Moyfés os
eípias de Cades Barne a Canaan. Na língua Syria-
CÊ^M he nome do ultimo mez do Eftio : entre os
Hebreos também figoifica pai , de que refultou for-
marem os Caldeos , e Syros a palavra Abba , e os
Gregos Abbas , que fignificão o.meímo. Aba , ou
Mba nas linguas Syriaca , e Ethyope quer dizer pai ,
eeftebe o titulo, que as Igrejas Syriacas, Cophtas ,
e Ethyopès dão aos feus Bifpos , e eftes ao feu Pa-
triarca : os Catholicos primitivos derão o titulo de
Jibba , ou Papa com o fignjficado de Grande Pai ao
Patriarca de Alexandria ^ e foi o primeiro y que o
fi L ii gp-
\
\
( f»4 )
go^on na Igreja deDeos.Víi^, on Ahm^ aqric oihí
tros chamão Alboinus y owAlboino^ Ubmus^ ÓvMj c
Onon 9 foi o terceiro Rei Cathblico de Hnngria,
cafado com humairmâ de Eftevâo /primeiro Senhor
defta Coroa, queelle Iheufurpou noanno de 1041 ,
vencendo a Pedro Alemão fucceíTor deEftevâo, que
fe retirou para Baviera j onde o favoreceo com geii»
te , e dinheiros o Emperador Henrique IIL A efte
quiz Aba aplacar, e nSo o podendo confegutr, le*
vantou exercito , faqueoa Aiiftria , e Baviera , mcn*
dou numerofas tropas contra os deCarinthia^ der-
rotou os Húngaros governados por Alberta Mar-
quez de Auftria , e preparava fe para a 4mais far^i^
nolenta^guerra , fem perder ioftante oa diHgencw dia
paz , quando o Emperador^perfuadido pelo'Marqim
de Auftria o cercou na Cidade dejRaab'Xom-:.ta)
aperto , que elle pedio paz , e a^coDfeguio cbni d]&
pendío de quaii todo o fèo^gratide theíouro. 0|ppdrí*
mio depois os fenhores principaes de Hungria V- os
quacs fc valérSo do Bmperador j que venceo Aba
na primeira batalha: elle paífou o Danúbio affliâo^
e acompanhado de poucos vaflallos, que omatárflo
00 lugar de Scòpa na anno dè 1044; foi fepultado
BO de Stebe, Sebe^ ou Slebefpnde paflados annba .
o acharão fncorniptO'^ e fem > menor cicfftríz^.dn *
muitas feridas, que recebeo antes de nio/rery^pclè
que o trasladarão para a Igreja do Mofteiro de Slhp
ran , fundação fua ^ e Pedro Alemão for reftitaidtra*
throno de Hungria , e jurado em Ratisbona.:.2Íiv
he huma eelebré montanha da. Acmenlav da:.(pial'
oafcemós rios fiufratesi^if Araxo',:'ev.qs<jeorgtiMhil
lhe chamão Gaiopl^. AHãCúrgsy são • baiá^ pdvoa DidM-
.( ^^s )
TOS da America meridional junto ao rio Madeira*
Abacoa he huma Ilha dos Ingiezes na America fep-
tentrional j tem doze léguas de comprimento j dif-
ta deLucaioneta dezoito entre Jabaquem , e os bai-
xos deBimini. Abacuc^ owHabacuc^ nome, que fig^
nifica lutador, he hum dos oito Profetas menores^,
que muitos julgarão fer do Tribu de Simeâo , mas
na verdade fe ignora de que Tribu foflfe , e em que
tempo profetizaiTe. Os Judeos dizem que vaticinou
no reinado de Manafles , ou Joaquim , pouco antes
do primeiro cativeiro; Santo Epifânio qUe florecêra
no reinado de Sedecias , e fora contemporâneo do
Profeta Jeremias ; S. Jeronymo o faz Coliega de
Daniel; a opinião mais provável , e fundada na fua
Profecia he que floreceo no tempo de ManaíTes ; So^
comeno diz queZebeno Bifpo de Buteropolis naPa*
leftina achara os corpos defte Santo Profeta , e o de
iVf íqueas no quarto feculo. Houve outro Abacuc , a
quem arrebatou pelos cabellos o Anjo para levar a
Babylonia o comer a Daniel ; S. Jeronymo lhe at*
tribiie a hiftoria de Suíanna , que anda no fim da
Frokcíã de Daniel , fundado no titulo Grego do
principio da hiftoria de Bel , que diz : Profecia de
Abacuc afilho de Juda do Tribu de Levi. Abada ^ ani-
mai bem conhecido em toda a contra-cofta de Afri-
ca 9 efpecíalmente no Império do Mônomotapa , he
hum cavallo fem mais difièrença dos outros do que
ter natefta hum nervo groíTo, grande, ponteagudo^
fempre frouxo , e mole , como oa peruns , excepto
quando quer defender «fe y oa oflFenaer , porque en-
tí^ ò anima de forte, que com elle tudo rompe, e
defpedaça líto matâoty fe eudurece efte nervo de
Tom. Vn, L iii for-
(ii6 )
forte y que da fua matéria fe fazem bengalas inteí-*
ras y caixas de tabaco ^ e copos de todas as medi-
das , que em Goa fe vendem para a Europa com o
nome de copos y e caixas de unicórnio j fendo certo
que nâo sáo de unicórnio , mas ílm de Abada, efem
mais virtude , ou preftimo do que outra madeín.
Abbade , derivado do Grego Abbas y e de Syriaoo
Abba y íignifica pai : foi o primeiro titulo dos Prela*
dos dos Monges , a que também chamarão Archi^
mandritas os Gregos. Os primeiros Abbades , e
Abbadias forâo íujeitos aos Bifpos , como conftt
dos Sagrados Concilios : depois nelles ti verão os
primeiros aíTentos abaixo dos Bifpos com fingulares
izençôes , e privilégios j que confervâo de ceJebnr
Pontificaes com mitra j e bago , fagrar Altares , ca^*
lices ^ &c. Innocencio VIIL concedeo aos de Cifier
dar todas as Ordens y excepto a de Presbytero , e
todos os Summos Pootifices , Emperadores ^ e Reis
os dotarão com mão larga , de (orte que os Príncí*
pes feculares , vendo- fe mais pobres , ufurpárâo aa
rendas das Abbadias , e fe chamarão Abbades , íem
bailarem para reprimir eAe abfurdo as cenfuras , e
diligencias dos Papas, e Leis feculares , porque Fi-
lippe L e Luiz VI. de França , e depois feus fuo-
ceíibres os Duques de Orleans forão Abbades do
Mofteiro de Santanhan de Orleans , os Duques de
Aquicania Abbades de Santo Hilário dePotiers^ os
Condes deAnju Abbades de Santaubin, os Condes
de Vermandois Abbades de S. Quintino , &c. d«
forte que comião todas as rendas da meza Abba^
ciai 9 e Communidade 9 nomea vão alguns hum Moo?
ge para o governo da Gafa , a que chamarão Deâo^
GQOh
( 1^7 )
confervavão quatro, ou finco Monges emcadaMoí-
teiro para o culto Divino , e davâo-lhe o oue lhes
parecia para o foftento. Durou efta deforaem em
França, e Itália quinhentos annos , no decurfo dos
quaes Pepino , Carlos Magno , e outros Príncipes
a moderarão o que pudérão , até que vendo-fe os
taes chamados Âbbades perfeguidos de cenfuras,
pedirão que lhes deflem as ditas rendas das Abba-
dias em Commendas, ficando em hnmas a renda da
meza Abbacial para>os Monges , e em outras fò a
do Mofteiro para elles , e os Commendadores fem
jurifdicção alguma no Mofteiro , e Monges , como
antes rinhão. Ultimamente Francifco L ajuftou
com o Papa Leão X. nomear os Abbades Commen-
datarios, eeftes impetrarem Bulias para gozarem as
Commendas: em Portugal fez Commenda das ren*
das de Alcobaça o Rei D. Sebaftião (como já fa-
beis) para feu tio , a quem fuccedeo o Infante de
Hefpanha D.Fernando. Houve alguns Âbbades Mon*
ges, que fe^intitulavão Abbades Cardeaes, porque
a fua Abbadia fe tinha dividido em muitas , ou por-
que Jhe concederão efle titulo os Summos Pontifices ,
como o fez Califto ao Abbadc deCluni , que fe in-
titulou por iflb Abbade dos Abbades em iiió^no
Concilio Romano , onde lho impugnou João Caeta*
BO y Chanceller do Papa ^ moftrando que eíFe titulo
fó pertencia ao Abbade de Monte Caffino , a quem ,
por fer o primeiro da Ordem , chamavão os Sum^
mos Pontifices , e Emperadores Vigário de S« Ben-
tQ.: Entre os Cregos os Abbades imitarão os Patri-
arcas 9 chamando-fe alguns Abbades unirerfaes. Os
Cónegos Regrantes de algumas Congregações cha?
-íi ma-
nitvão ÂblMdes aos feus Geraes> e Priom , ^e ca
£m efte nome em alguns feculos £31 conamum aoa Pi»
lidos Profinciaes y e locaes de todas as Ikéúglúei^
€ a tòdòs os Sacerdotes , qae;tínhâo joritdic^Sooi^
dinaria, como ainda hoje fe obferva nas Prciv^incitt
do Minho i e Trás os Montes , e refere Da^Ganga
de todos os Párocos , e Freguezias j nas quaea cria
iofidliveis Abbade, Guardiáo^ que hoje chamSío Gn»
fa, Sacriftâoy e Capeliâes. Também houv^ Biípos
chamados ; Abbades ^ porque os feus Bifpado»'cai
outro tempo forao Abbadias , e ainda hoje ói qéc
tem Âbbadia anneza á Mitra j como os Ârcebifpos
de Braga 9 (eintittilSo depois de Primazes, &c» Ab-
bades de S.yiâor. OsGenoirezes chamaváo Abb«*
de ao feu Doge , de forte aue de Pai do poro md-
doa para Capitão delle, que tie o (ignificado de Dojçoi
DnXy e Duque, depois do anno de 1307, em que
00 tratado daquella Republica com Carlos Rei dé
Sicília chamSo repetidas vezes Jbtaspojmli aoQbgc
Nicoláo Ftêwbeíale^ Jbiaáejfake título idas Prela^
das 'de todas as Religiofas das Ordens Monacaes^
Ciericaes , Francifcanas , e omras muitas : teve ú
feu principio muito depois dos Abbades y não ob^
ftante ferem mais antigas do que elles na Igfeja dé
Deos /aa.Communidaoes de Virgens , mas porqoé
ttéro quartaiecttlo TmSoem caías próprias^- oil
dos parentes ^ é ainda depois de terem Mofteiroé
muitos y e muitos hnnos não ti irerão Igrejas próprias ^
nas íim acompanhadas das Superioras aififtiao aM
Officiòs DiTRios nas Freguezias : fó cóiiíeçárão a^bma
fliafr-ie Abbadsflas , quando, os Btfpos as claufará^
rão do modo poflifel , permittirão Igrejas y e liiá^
meáp
( "9 )
mearão , ou approvárão as Preladas , de qne fe fegiiío
tal vaidade em alguiras , que intenrárao praticar
aflos de jurifdicção no Clero , e authoridade para
confeflfar as fuás Religiolas. * Abbadia mixta he a-
quella ^ em que o Ábbade Regular depois da elei-
ção , ou íem ella , depende totalmente da approva-
ção y eleição , ou confirmação de Príncipe íecular
por authoridade Apofiolica mediata , ou immedia-
ta. Em França defde oanno de 1012 goza efte pri-
vilegio a Cafa Real nas Abbadias do feu Padroa-
do, o Rei entrega ao Abbade o Bago, e efte diz:
Senhor , chego a fer vojfo vajfallo , e vos prometto Z^-
aldade até árvorte. A mcfma regalia tiverão em Fran-
ça , e Alemanha Princezas caiadas com o titulo de
AhbsiácfCzs. ulbbadia branca foi titulo de hum Coiif*
vento da Sagcada Ordem dos Pregadores na Ilha
de 'Maumortier , ou Marmoutier em contrapoíição
a hum Mofteiro de Benediélinos , que refpeitando
a cor dos hábitos fe chamava Jbbadia negra. * De-*
lois da fundação <le Cifter todos os Mofteiros de
ao Bernardo fe chamarão Abbadias brancas, e os
de S. Bento AbbaíJias negras. Âhadan he huma an-
tiga Cidade , hoje pequena Aldeã , pertencente a
Babylonia , iituada junto ao Golf© Perfico , vizinha
de BaíTorá , porqne eftá em vinte e nove,, e aquçlía
em trinta gráos de latitude. Âb-addur \\t termo. da
infame my thologia da gentilidade , quer dizer DeoSj
ou pai magnifico , edelle ufárão os Poetas parafig-
Uificarem os pannos , em que fingirão envolvia o
fcu Deo5 Saturno os filhos para 05. cçriier , e evitar
que algum lhe tirafle o governo ^como lhe. tinhão
proguQAicado^ Maddw qq Apoci^lypfe quer disec
Rei
( '30 )
Rei dos gafanhotos , e fignifica o demónio. Ahae*
lar do vide Abaiiardo. Abaffi^ ou Apaffi ^ Miguel A*
paíE , homem iUuilre, e valerofo de Tranfiivania,
foi prizioneiro muitos annos dos Tártaros de Kri^
mea, e quando tinha a liberdade peia maior fortu-
na , os íeus naturaes o elegêráo Príncipe, eÁHBa*
icá. General dos exércitos do Sultão Mahomed IV
em Hungria , approvou a eleição , e o protegeo ,
para que fcoppuzeflfe aos iCirninjanoSi que osTur«>
cos haviáo expellido da Traníilvania , e o Empera-
dor Leopoldo I intentava reftituir ás fuás terras ,
o que não pode confeguir o memorável General
Montecucuh*. Reinou Z^iguel Âpaffi pacificamente
protegido dos Turcos , e adquírio as Cidades de
Giauiêmburgo ) e Zathmar : no anno de 1681 foc«
correo os reoeldes de Hungria fiel ao Turco , até
que a fortuna defte fe diminuio no cerco de Vien*
na , então fe unio com o Empcrador , que lhe con-
fervou a enveftidura, protecção, e aliança, quego-
5sára com o Sultão : morreo enr Vveiffemburgo no
anno de 1690, (uccedeo-Ihe em tudo feu filho Mi«>
guel , a quem fe oppoz o Conde de Tekeli , e lhe
ufurpóu muitas Praças com auxilio dos Turcos,
que lhe derão a enveftidura deTranfilvania para fe
vingarem da ingratidão do defunto Miguel Apafli.
Na campanha de 1690 vencerão os Turcos o exer*
cito Imperial , e conquiftirão muitas Praças , que
o Emperador lhes havia tirado , mas defunidos os
Turcos, não pode o Conde de Tekeli coníervar o
domínio deTranfilvania, e oslmperiaes recobrarão
tudo o que naquelle Principado havião perdido ,
que fe lhes cedeo na paz de 1698 , e para maior
fe-
(131)
fegnrança chamou o Emperador á Corte o novo
Príncipe Apaffi , e o obrigou a que renunciafle a
eleição ) e direito ao Principado de Traníilvania , o
que elle fez^ e £cou na Corte como particular, vi-
vendo de huma pequena côngrua tão mal paga y
que defgoftos lhe acabarão a vida na idade de trin-
ta e íeis annos no de 171 3. Os Eftados de Tran^
£lvania reclamarão a renuncia y e elegerão por So-
berano o Principe de Ragotski. jíbaga foi Rei dos
Tártaros no fim do decimo terceiro feculo , ven-
ceo , e fàbjugou os Perías y e perfeguio os Catho-r
licos da Paleftina : dizem mandara huma embatia-^
da ao fegundo Concilio Geral em Leão de França.
* O conrrario alfirmão os Monges de Santo Antão ,
e que o matara com veneqo hum efcravo j a quem
amava mais do que íe foÍTe íeu filho^ Jbagawedri
he huma excellente Provincia da Ethyopia entre os
rios Nilo y Abanhi , e a deliciofa coíba de Camzi«
bar. Ahagafcam , ou Kam , Rei dos Tártaros con-?
quiftou o Império dos Turcos , onde deixou por
íeu Lugartenente a Parvana , que o deixou culpa-^
▼elmente perder, Kam o reftaurou, e para caftigar
Parvana , o mandou cortar em pedaços , e cozida a
carne , a comeo com todos os Grandes , e Cabos
do exercito. Ahagos ^ ou Ahafgimos são huns povos
de Scythia vizinhos dos Sacas da parte , de cá do
monte Imeo : receberão a Fé Catholica no fexto
feailo por diligencias do Emperador Juftiniano ,
que lhes mandou edificar Igrejas , e períuadio não
caftraíTem os filhos. ^ Hoje vivem como brutos^
f6m Lei y nem Soberano. Ahmlardo , ou Ahaelarda
fin bum^ dos mats celebres Dentares no dtiodeckn»
fc-
fecalo, contemporâneo de S. Bccnardoí: ezcedeo i
feus Meftres apenas recebeo delles a$ .primeiras lU
çôcs ; porém a paixão de amor o fezdjfer infiel ao
ièu maior amigo Fulberto Cónego de^ Pariz , que
o tinha em cafa para Itieenfioar huma íbbrinha Hi>
loifa, de quem teve hum filho ^ e á quefm j reptig«
nandò élla , recebeo dandeíbinamente. Foi ponoo
depois condemnado, por herege em dous Concilios
de França , e ifto o obrigou a tomar o eftado de
Ermitão, e depois de Monge a tempo ^ que HeJoi-
fa já eftava Relígtofa j e elle lhe fervia déDiredlon
Em fim depois de muitas perfeguiçôes ,. e trabalhos ^
que elle efcreveo como qi^z j veio a morrer na Ab-
badia de Gluni. * Foi porém tâo douto , univer-
fal, fubtil, e elegante, que emBertanha queftionáo
o lugar , em que nafceo , que Moreri diz fer Pa*
lais, ou Palets. ^ Abakakban foi o oitavo Empera*^
dor dos Mogores , * cuja memoria he aborrecida
hoje de todos , porque extinguio as famílias mais
antigas do Império , e todas as que por nobreza,
riqueza , ou prendas erâo capazes ae afpirar ao
throno. Nunca fe foube que Lei tinha , porque fa-
vorecendo aos profeíTores de todas , e obfervando
algumas ceremonias delias para os attrahir ao feu
ferviço, nenhuma profeíTava. Foi o mais feliz Mo-
narca daquelle vaftiíSmo Império, porque dominou
quafi toda a Perfia , Bab]rlonia , e Mefopotamia , i^
bem dizem os Mogores nunca pode domar os Arra-s
coes feus vizinhos , e confinantes bárbaros, nem ou-
tros muitos. Reinou 17 annos , morreo no de 1281
de veneno , que lhe miniftráfáo em hum vcftido novo*
LISBOA, Na Officina de Miguel Manefcal da Cofta , Impreflbr do
Saato Offiâo« Anno 1765. C^m toioi as Ihcngas ncccjltrias.
CONFERENCIA XII.
I ..
Bala he hum porto de Sicília , onde fc re-
colheoJiilioC>far com hum fó companhei-
ro depois de o- vencer Pompeio. Âbaldar
he palavra Indiana , que fignifica Governa-
dor de huma Cidade : no anno de 1612 íugío hum
de Juvoni com dez milhões em Ídolos de ouro , que
roubou em diverfas romarias no tempo do feu go-
verno /e os filhos o aflfogárão na paflfagem do rio
Range, e dividido o thefouro, forão pedirem diver-
fas partes o Baptifmo para fe livrarem da juftiça^
que os feguio debalde. Aballon^ onAbalão^ hé hu-
ma Comarca na Ilha da Terra nova da America
Sepcentrional , onde os Inglezes tem a Colónia cha-
mada Ferreyland. Aboliu^ he huma Ilha no mar de
Alemanha, cujas arvores diftilâohumarezina, a que
muitos chamarão âmbar liquido: chamou- fe Baltíai
c os Gentios^ que antigamente a povoarão, fazião
cem ãntíos í^cn&cios is aJmas dos que fe aíFcigavão
Hd mar vizinho , fe náo vinhão os feus corpos á praia.
Abana he hum pequeno rio da Syria , que naíce no
n^onte Líbano , e pafla por Damaíco , cujas aguas
Julgava Naamâo ferem melhores que todas as da
Paleftina Ifraelitica : os Hebreos lhe chamão Amanah.
* Gabriel Timotheo , que o vio , aflfevera que as
íiias aguas curão a melancolia prodigiofamente. Aban^
Ir^., ou Abanbusj ou Abantia^ he hum rio daEthyo*
pia íuperion Abancai hebum rio do Perii na Ame-
rica Meridional ^ naíce da ferra nevada • e acaba no
^ 1. VIL M Xau-
Xaiiza j ou rio Maranhão na Província de Lima. Ma*
nico th^nomt Portusuez é e alÃÍ4.i>e(n iif«dá:ida9
mulheres; mas he ceiebre num, que fe confcnrá no
Convento deS. Filibcrto deToumus, e muito mais
iingular o de Províld d^ Ordem dos Prégadjves ,
que ferviâo antigamente de cobrir o Sacerdote í*-nof-
tia , e cali$ y fuftentadoa por Diáconos para^evi^r
cahiíTem animaes , ou, iniroundicias fobre effas cou^
fas. Hoje fó o Papa 9 le.Q.ÈRiinenuflimo Senhor Caih
deal Patriarca ufa eé#^ Mímicos com o nomeLati^
no i?//?^^/«/»^ ^; -Rits^ nuQCa no tempo do {acrificio^
JbanriQs são hnos póvoa de Mauritânia vizinhos dos
Caprarienfes > huns y e outros conquiftados pelo
Conde Theodoíio , pai do Emperador do mefmo
nome. : Abano em Lstim Aponus he huma Freguezia
do território de Pádua y pátria do grande Medico
Pedro de Abano : terQ admiráveis fontes y e banhos ^
que Tbeodorico Rei dos Oftrogados fez cercar com
admiráveis edificios y quando teve a Corte em Ra-
Tenna. Abantes sáo hun$ povos de Trácia, que po-;
Yoárâo em Grécia a Cíaade de Focia , edificarão
outra chamada Abea y donde paflfárâo para a Ilha
Negroponto, chamada Eubea nefle tempo y que quer
dizer gordura na lingua .Grega pela muita y que ti*
nhâo os gados adquirida nos feus admiráveis paf*
tos : eftes povos bellicofos y e coftumados a vences
lutando, imitirão os Curetes no coftume de terem
cabello crefcído fó no toutiço. Abantidas filho de Pa*
feas matou a Clinas , pai do celebre Aratus y primei*
ro Magiftradp de Sycionia y tyrannizou o gover-^
no , e foi morto por Dinias y e Ariftoteles na pra*
ça pública y em que oscoftarnsva ouvir dífputar eoi
Bi-
I ■ <
( H9 )
F^lofofía. Jhantis j on Abmtidã , Comarca antiga
de Bpiro, fundação dos Âbantes, e Lx)cnenres de-
pois da deftruiçâo de Tróia; Abanzvivar Cawàeíáo y
e Província principal de Hungria alta nas Frontei*
ras de Polónia , cuja cabeça he CaíTovia , ou Cait
chavv. Abaraner he Cidade da Arménia maior ío^
hxfi o rio Alingeac Cathedral. * Em outro tempo
do Arcebifpo de Naxivan , e muito povoada de Ca-
tholicos , hoje hiun monte de pedras com poucos
Mouros pobreá , e alguns fcifmaticos. Aharbarea
fiome de huma Naida^ na quai Bucaliao, filho ma-
ior de Laomedonte , (fingíráo os Poetas) gerara
Efepo , e Pedafo. Abarca foi appellido de D. San-
cho , fegundo Rei de Navarra. Abarca , Jeronymo
Abarca de Bolea e Portugal ^ íbi homem celebre
no decimo fexto feculo, compoz a melhor Hiftoria
dbs Reis de Aragão , donde era natural. Abarca ^
Martinho Abarca de Bolea eCaftro, Barão Arago-
ncz , Senhor de Clâmofá , Sietaní , e outros Luga*»
rfes , filho de Bernardo de Abarca ^ Vice Chanceller
de Carlos V , e Fiiippe II , compoz obras excei-
lentes , e não fe derão ao' prelo as melhores. Aba^
rim he a montanha da Arábia Pétrea , que fepara
as Monarquias de Amonitas ^ e Moabitas na terra
de Chanaan : Nebo , e Fafga , montes celebres na Ef-
Critura Sagrada , (porque no primeiro morreo Moy-
lés) erâo dous raifios defta montanha , que foi huitia
das eftaçôes dos Ifraelitas , donde défcêrâo para as
campinais de Moab nas margens do Jordão. * Defron-
te defta montanha ehtre ójord^, e Jericó fingirão
produzia a terra a herva Baaras , que de noite pare»
tía chammá ^ matava quem- lhe feirava- a raiz da ter-
M ii t^>
( Il< )
n 9 e aflFugentava os demónios « i&biila , e aíTumpto
de rifo para os moradores , e viageiros da Palefti-
na. Jbarimom j p9l\z deScythia habitado de homens
ialvagens , que por terem os calcanhares disformes
no comprimento , fingirão que tinhâo os pés vira-
dos para trás. * He certo que morrem tirados das
brenhas, em que vivem, mas he porque de paixão
não comem , nem bebem mais. Abarindo he hum
promontório na Afia menor , para onde fugio Co-
non com a íua armada vencido por Liíandro. Aba^
ris j filho de Scuthus , de nação Hyperboreo , ou
Scytha , ignora- fe o tempo da fua exiftencia , foi
Poeta infigne , e tão douto , que admirou Grécia ^
mas deixou na memoria das fuás acções hum grave
fundamento para dizerem os Gregos fora o mais in-
figne feiticeiro , e por iflb adivinhava terremotos ,
tempeftades , guerras , &c. como também deíappa-
recia, quando lhe era neceflario. Abaritb he hum lu^
gar de Gallilea , cujos moradores obrarão admirá-
veis façanhas na guerra dos Judeos contra os Ro-
manos , vencerão , e defpojárão o Rei Agrippa , e
fua irmã a Rainha Berice. Abarus he nome de hum
Principe Arábio , que para deftruir aCrafib, o per-
fuadio a que entrafle no Reino dos Parthos , onde
morreo com todo o exercito. Abas \, Rei daPerfia,
veja-fe ScbàlhAbas. AbaSj Rçi de Tofcana, reinou
quinze annos,^e edificou a Cidade dos Abienfes no
mefmo paiz. Aias , dnodecimo Rei de Argos , fi-
lho de Lynceo , e de Hypermneftra , pai de Acri-
fio, e Preto, mil trezentos e oitenta, e finco annos
antes de Chrifio. ^6^« filho deHypothour, e.de
Melanira , £ngírão os roeta^ quç .§,.d^ofa.Cere$, o
■ .' con-
( t37 )
convertera em lagarto ^ lançando fobre elle varias
tintas mifturadas , com que lhe fez na pelle tantas
cores em caftigo de efcarnecer dos feus facrificios,
ou da demazíada prefla j com que bebia. Abas foi
hum Centauro y filho de Ixion , e de huma nuvem ,
ficçáo Poética , e Gentilica , por fer grande , e li-
Í»eiro caçador. Jbas , Capitão dos Latinos em Ita-
ia, fez aliança com Eneas, a quem foccorreo com
tropas de Populonia y Cidade maritima da antiga
£truria , a que hoje chamamos Tofcana , defronte
da Ilha de Élva» Abas agoureiro, ou Profeta Gen*
tilico , e feiticeiro , filho de Linceo , e de Hyper«
inneftra filha de Danais, foi Capitão do exercito de
Jufandro , General dos Lacedemonios , o qual em
temuneração dos ferviços lhe erigio no templo de
Apolo huma eftatua feita por Paisão na Ilha Calau-
*rea , hoje chamada Sidra na cofta de Peleponefo ,
ou Morea. Abas Efcritor antigo compoz huma hif-
toria deTroia. Jbas o grande foi Rei da Perfia em
>X5é4, filho terceiro deMahometoCodobende: go-
vernava a Provincia de Arat , quando matarão a-
leivofamente feu irmão fegundoEmirenfe; e temen-
do que o mais velho, eRci Schãch Ifmael terceiro
o matafle , confeguio que hum Barbeiro lhe tiraíTe
«vida. Subio ao throno em x^2ç comuniverfal ap-
plaufo , achou o Reino dividido em mais de vinte
cabeças , de forte que lhe foi neceflfario conquifiar
o que era feu , e para evitar outra divisão , extin*
guio todas as familias dos Turcomanos , ou Cour-
tches , que dominavão todo o Império : para iíTo
extinguio o exercito Veterano , introduzio no Rei-
no muitos milhares de Catholicos Georgianos , e
Tom. Vn. M iii Ibc-
( IJ8 )
rios j a maior parte feus efcravos , e vaíTalIos to-
dos y aos quaes y como inimigos dos Courtches , deo
as armas , e empregos civis y degollou então fem
crimes , nem proceflb as famílias nobres , os feus Ec-
çleíiafticos ^ e Juriftas , que he o mefmo entre os
Mouros I muitos mil plebeos , e intentava fazer o
mefmo aos Grandes, quando a guerra comosGeor»
Sianos j Tártaros , e Turcos o obrigou a depender
elles : conquiftou « Geórgia toda , matou o B ei
delia j derrotou os Tártaros Usbecos , fez prizio-
neiro o feu Príncipe , hum irmão , e trez filhos , que
degollqu : venceo os Turcos , e vendo* fe em paz ,
efcolheo para Corte a Cidade delfpanhan, que fez
admirável com ruas , Praças , e mefquitas y efpecial-
mente a maior cliamada Mehedi. Inquietárao-<no os
Turcos com hum exerciíto de quinhentos mil ho-
mens y e para lhe. reíiftir foi morar em Tauris y on«
de promettendo grandes foldos, e prémios por ca-
da cabeça de Turco ^ fezCham ahumfoldado, que
lhe prefentou em fatim dia finco,! Venceo em fim os
Turcos em batalha campal decifiva , conquiftou a
Cidade de Bagad , ou Bagdat y mandou cozer em
hum couro frefco de boi o Governador nú y porque
o efcarnecêra j e pofto^ao Sol, o fez morrer cruel-
mente, quando o couro £ecando-íe o fufibcou. Me-^
ditava conquiftar^nos Ormus em 1622 unido com
oslnglezes, então inimigos deCafteila, a quem ci-
távamos fujeítos , quando morreo em Ferabat em
1629 de enfermidade aos feíTenta e trez annos de
idade , e quarenta e finco de reinado felicifiimo.
Abas Mirize , filho de Mehemct Hodabendes Rei
da Perfia^ foi Vice-&ei de Heri, Província grande
per*
( Í39 )
perto de Cabrel j que he a antiga Âracofia. Mlrize
oalmas-Kan , primeiro Miniftro , o accufou de re-
belde a feu pai falfamente^ dizendo-lhe não quize-
ra mandar foccorro para a guerra ; mas conhecida
a verdade , foi Mirize morto. Pouco depois foi af-
faffinado Emir , Principe herdeiro , roorreo Mehe-
met Hodabendes de pena junto ao fepulchro do fi-
lho , fubio Abas ao throno j cafou com huma filha
do Grão Kam da Tartaria , e eftabelcceo paz com
aquella Monarquia. Jlbas he nome de hum rio da
Arménia maior j junto ao qual Pompeio derrotou
os Albanos : nafce das montanhas de Albânia , e
acaba no mar Cafpio : o mefmo nome tem huma
montanha defte paiz. Abafcosy ou Ahajfas ^ em La-
tim Ahajji^ sâo huns povos bárbaros da Geórgia , a
que os Perfas chamão commummente Abgones ^
yivem de rapinas , fem lei ^ nem Rei , em covas nos
matos , como brutos , tem deftruido mil vezes as
povoações mais notáveis dos Perfas 9 e a Corte no
anno de 1733 , fendo nella Embaixador donoíToFi-
deliflimo Soberano o M. R. P. Fr. Jorge da Pre-
fen tacão , Eremita de Santo Agoftinho. Ahafcio he
hum rio deMíngrelia em Afia , que entra noFaflb,
e antigamente lhe chamavâo Glaucus. Abafenos são
povos da Arábia vizinhos dos Adramitas, de quem
foi General o celebre Arábio Abrahet , * nome ho-
je o mais infame para os Mouros doutos , porque
no mefmo anno , ou dia , em que nafceo Mafoma ^
oneimou a Cidade de Meca montado em hum ele-*
lantc, e com grande exercito» O Alcorão no Capi-
tulo do Elefante diz^ que indo Abrahet commetter
e^e deliâo^ arrojara oloferno huma nuvem de pe-
dras j
( 140 )
dras, ecahlndo huma fobre cada Toldado, perecera
o exercito. Ahajfaro foi Capitão do Rei Cyro , e
hum dos que elle mandou a Jerufalem para reítau-
rar o Templo deSalamão. Ahajfeniay Ahajjia^ Abaf*
finta y Ahajjinos , veja-fe Abiffinia. Abajler ^ nome de
hum dos cavallos de Plutão. Abatom , ou Abaton^
foi o celebre edifício de Rodes , onde íe não podia
entrar, Morreo Maufolo Rei de Caria na Afia me-
nor , que ficou governando fua mulher ArtemiíTa :
os Rodios julgando-a incapaz do governo , entra-
rão com huma grande armada no porto grande de
Caria. ArtemiíTa tinha outra efcondida em hum pe-
queno porto de Halicarnaío , e tanto que entrarão
os Rodios , fez final nas muralhas para entregar a
Cidade. Sahírão os inimigos em terra alegres , mas
acudindo logo a armada de Caria , lhes tomou os
navios , c na terra forão todos mortos. Mandou
ArtemiíTa guarnecer os navios tomados , e com to-
dos os finaes de vifloria entrarão em Rodes , on*^
de os receberão com feftas , ignorando ferem inimi-*
gos. Sahírão livremente os Carios em terra , e con-
quiílárão Rodes , onde ArtemiíTa mandou erigir
para memoria duas eílatuas , huma fua , e outra a
feus pés de Rodes cativa. Muitos annos depois de
recuperarem os Rodios a liberdade , quizerão oc-
cultar efte padrão da fua infâmia , e como os tro-
feos erão coufa fagrada, claufurárão as eítatuas em
huma como fortaleza , a que chamarão Abaton , pa-
lavra Grega , que auer dizer : Onde níofe pode ir.
Abalos fignifíca couía inacceffivel , he huma Ilha de
Egypto na Lagoa de Mênfis , ou Lago de JVIeris ,
foi celebre ) porque nella efteve o fepulchâ do Rei
Ofi^
híBmImíBm
( 141 )
Ofiris i pròdnzia o linbo mais fino j e os arbnftos
chamados Papirus , em cujas cortiças efcrevêrâo os
antigos muitos íeculos , e donde veio o nome ao
papel. Abancas foi hum Filofofo exemplar de ami-
gos, porque fendo-lhe neceflario falvar de hum in*
cendio fua mulher^ hum filho de fete annos, outro
de peito , e hum amigo ferido pelos ladrões em hum
mufculo na noite antecedente, falvou unicamente o
amigo ás cofias , morreo o fiJho pequeno , eícapoa
o maior com a mãi por acafo , e arguido por ifto
Abaucas , rcfpondeo : Outra mulber , e outros filhos
podia eu ter , mas outro amigo como efte não o havia
de achar. Ahari y Abanbi y veja^^k Abanbo. Abaunos y
ou Abaunusy he hum Jago deTurcomania. Abauzay
Pedro de Âbaunza y natural de Sevilha , grande Le-
trado , e Author do livro PraleUiones aà titul. Xy.
lib. V. Decretai. Abazea , ou Abazeia , ceremonias
gentílicas antigas inftituidas por Dionyfio filho de
Capreo Rei de Afia , que fe ufa vão nos facrificios,
em que fe guardava filencio* Abbas y filho deAbdal-
mothleb y tio de Mafoma , fez guerra a feu fobri-
nho y a quem julgava embifteiro , e tyranno , como
na verdade era ; mas fendo vencido na batalha de
Bedir y fe refgatou , e reconciliou com elle por ne-
ceffidade, e foi feu General tão fiel, que fe lhe nâo
valeife na batalha de Honain contra os Takethitas
depois da conquifta de Meca, certamente nella aca-
baria Mafoma com todo o feu exercito ; porém Ab-
bas com voz forte, e animo intrépido fez voltar as
caras aos fiiigitivos , formou os efquadrões , arte,
em que foi defiro , e venceo a batalha : cfiudou o
Alcocáo y vendo que fó aí&m podia fer feliz, e foi
Dou-
( ^4^ )
Dontof nelle tão vtnendoy queos Mufuhnanes, cí
os Califes Ornar, eOtbman fc apeavâo para o fan-
darem. Âbulabbas , ou Saffah feu neco foi Calife,
e deo principio á Dinaítia do9 Abaíirdas , que poC-
fnírão oCaliâdo quinhentos e vinte qitatro annos,
em que bòiive trinta e fete Califes^ fucceífivos. M»
bas^Ahdaltab Ebn^AbasAbdãllah , prhno com irmáo
âe Mafoma, neto Abdalmotbleb, avô do mefmo j
chamado volgármenteSahabah, que quer dizer com-
panheiros do Profeta. * ^endo nome phirar , hoje
dão fó a efte^ maior dos feifs Doutores , e the*
feuro das tradições ^ que dizem lhe eníinára o Ar«
chanjo S. Gabriel ^ quando do Ceo lhe trouxe o
Alcorão , e lhe deo a perfeita inteliigencia delle ,
pelo que foi intitulado Interprete do Alcorão. Ab^
%ãfchoí ^ owAbbqffoSy veja^fe Abcaffos. Abbaffãy irmã
de Aroan Rafchid ^ quinto Calife da cafta dos Ab-
baíltdas , cafou com hum valido de íeu irmão cha-
mado Giafar com a condição (fingem os Mouros)
de dormirem feparados, cobrando o contrario y ti-*
verão hu^ filho, que mandarão criar em Meca,
Giafar perdeo a vida , Abbafla a íbrtnna , porqud
Morreo defterrdda, epobriffima. Abbajftdasy ou deí^
tendentes dos Abbas , tio , e primo irmão de Ma*
foma , de que agofa falíamos: veja-fe Calife ^ e C^-
Hfado. Abbeforty oví Abbefoart ^ Cidade de Noruega
com leguro porto lio governo de Aggerhus , vinte
if)ilhas de Anfoya , vinte e finco , ou trinta de Sta-^
fanger. Abrvilla , ou Abbavilla , ou AbbaUs , Villa
cabeça do Condado de Ponthieu em Picardia^ fobre
ô rio Somma na Diécefe d^ Ami^A» y íinco^leguad
diftance do HMrr , foi qwkíca de^^McrcMr^do» A&ibadc»
de
'( «43 )
de S. Riquier /depois Caftdlo com Priorado de-
pendente da Âbbadia. Hugo Capeto j que foi Ab*
bade íecular deftes Monges , lha tirou , e fez Praça
forte contra os infultos dos bárbaros , que poíFuia
feti; genro Hugo com o titulo de defenfor. Ángel^
2amo fea filho, efucceflbr, depois de matar o Con*
de de Bolonha em huma batalha, e ç^&r^com avíu-
ra delle , fez nefte lítio huma grande Ciààde , que
pofluio com o titulo de Conde de Ponthieii y e AU
caidc Mór defta feltz povoação , que nunca foi topf
mada , e iempre fiel , pelo que lhe chamâo a Vir-<
gem do Paiz: goza asReliquias de S. Vulfrano Bif»
TO de Sens em huma Igreja Capitular, tem muitas
Freguezias , Conventos i e privilégios antigos. Ji^
hony Normando , e Monge de S^ Germão dos Pra-«
dos em Pariz , viveo no feculo nono , aíEftio no cer-
co* de Pariz pelos Normandos, e obfcreveo elegan^
temente. Jbbon , Bifpo de SoiíTons , fucceíTor de
Rodoino , fobfcreveo o Concilio de l?roffi , e o ds
Reheims , confagrou em S. Medardo â Raolo , que
fuccedeo a Carlos o Simples, e foi feu Chanceller,
morreo no anno de 9^7. Mbmy ou Albão^ Abbadé
de Fieuri , de cuja fefta tratâo os Martyrologios
Beneditinos, e o de Pariz a 13 de Novembro, foi
Santo, e doutiflimo, thamado vulgarmente o FíI(m
fofo mais douto , e Mefire de toda a França. Pacificou
as guerras civis de Inglaterra , e as differenças en*
tre Arnoldo ArcebifpodeRebeims^ e o PapaGre-
orio V , que intentava pôr Interdifto em toda a
Vanca: foi morto violentamente emGaícunha por
hum^ levantamento do povo, a quem intentoiv foce-
garno anno de 1004. JÍbbot , Jorge Abbot Arcc-
bif.
F
( 144)
bifpo de Cântorberi era filho de hum Apizuador
de pannos , oafceo em Guildfort Condado de Suiv
rey era 1562 , foi Deão de Vvinchefter , Bifpo de
Lmchcfield^ e ultimamente Arcebifpo Primaz. Foi
aborrecido de muitos , e grandes Eccleíiafticos por
delicado na meza , defprezador dos Sacerdotes , e
amante dos feculares: julgárão-no privado da dig-.
oida^e por hum homicidio involuntário > mas deter-
minando o contrario muitos Biípos , gozou a digr
nidade alguns annos , até que os febs inimigos o
accuíárão de não approvar hum Sermão do Doutor
Sibtorp da obediência á Sé Âpoftolica contra o que
o Rei determinava , pelo que foi depofto de todas
as funções Primaciaes , retirou^ fe para a fua pátria,
e depois para o Cafteílo de Croyden y onde. tale-
ceo, e jaz na Igreja de Guildfort. Foi hum dos ho-
mens mais doutos de Inglaterra , como teftemunhão
as fuás obras , e toda a fua defgraça nafceo de íe
iiltroduzir em negócios politicos, impedindo oca-
iamentò dó Principe de Gales com a Infanta de
Hefpanha , acção , que Ihegrangeou o odio do Rei
D. Jaime L Dizem fora a ma tolerância , e defcui-
do caufa de fe propagarem naquelle Reino os No-
conformiftas , e que podendo extinguir facilmente
o fcifma, concorrera para a fua duração. Viveofeí^
fenta e hum annos occupado fempre em grandes
eftudos.
LISBOA , Na OfEcina de Miguel Manefcal da
Cofta, ImpreíTor do Santo Officip. Ânno 1763,
Com todas as licenças necejfarias.
SSm
('40
J
CONFERENCIA XIII.
Bbot y RobertQ Abbot , irmão mais velho
^^ Jorge Abbot , Doutor Theologo era
Oxfort , Capellâo do Rei D.Jaime I , Len-
te da mefma Univerfidade , e dous annos
Bifpo deSalisburi, compoz o Kvro De Suprema Po»
tejiate Regia. Abbot off Battle , o Abbade da Bata*
lha y memorável em Inglaterra , porque entrando os
Francezes no Condaoo de SuíTex , Abbot juntou
milicías y fortificou Vvinchelfei , reíiftio ao cerco , e
fez retirar os Francezes. Jbcaffosy on Abafchos são
huns pòvps do monte Caucafo vizinhos de Mingre*
lia y gentis , déftros , e valentes , habitâo em caba-
nas nQS montes cercadas de foflbs para fe defende-
rem huns dos outros y porque mutuamente fe íur-
tão para íe venderem porefcravos aos Turcos , que
os eftimão mais que todos y vivem dos fcus reba-
nhos , e leite ^ abominâo o peixe y efpecialmente os
caranguejos y de que os Mingrelios fazem os me-
Ijioresguizados. Os feus enterros coníiftem em pen-
durar o cadáver no mais alto de huma arvore com
às fuás armas y logo fazem correr b. íeu cavallo á
foda da arvore ate morrer, para que o vá fervir no
outro mundo , e acabado o banquete , mettem o ca-
dáver em hum nicho feito no grbíTo do tronco da
oiefm^ arvore I cuberto com terra molhada para ta-
par a ef)tra4a. ;^^^^ y pai de Adoniráo y cobrador
dos tributos de Salamão. Âbdala , pai de Mafoma>
ío'\ efcrávo ^ que ganhava para íeu fenhor no em-
Tom. VII. N prer
( 140
prego de arrieiro dos mercadores Arábios no fim
do fettô''J(bciilo. :Ab4aHa 'alho dç^M<fa\^, íi^tS^^de
larer, irmao.de Ali, pertendeo o Califado, quan-
do os Mouros dcfgoftofos dos Ommiadas intenta-
rão dar aquetla fuprema dignidade ÍiQs'A6kíIidj
cam« effièito na Gidade >de:Goufa^y>Qrtde
íumm^meote venera<io^) fe fez* acdatmt
mas durou^lhe pouco tempo aqncHa fnprema dig-
nidade , porque os parcíaes de Merv^o U o lân^a^
râo fora ,:e Ahoumpdèm ,' patrono do^ Abaíldas.
omándonr aflfaíBnar. Abdalla y filho de Zobair j íbi
acclamado Galife dos Moía knane^ pèlM moradores
de Meca , e Medina em otlro de Jefid II ^ que in-
tentava extingoir a)^mHia de Ali : eítc Ihepromet-
teo", o deixaria mer pacifico' em Meca fedepuzeflTe
o Galifada.<|.ji)as como. áao aceitou ô partido y o
eercocr én»Mieca^ depois de iàquear Medina, defen*
deo-fe Abdaila valerofamente y morreo na empreza
Jefid , rediòu^íe: o- exercita y e? foi"#ecotihècfdW por
todas as^ProTíncK» da hniperio ^exceptcySyrfa-, e"
Paleftiota V qQ^ aç^tsmáráo Moania^fitbcPileJeíid^
e qiial cercoii Abdalia eiia Meca^ onde morreo vàr^^
krotíaroeate peleijando^ depoib de iete m^es de
tr^ãlkoioc&ooi. AèdaJia. Tly chOfiiAid AMVkiKbry'
da' geração. deAlcy foi o fegnn^oCal^ déte AbaP
fidáK. TanM>; qiie ioBbe» qcie feiP ti(^ Âbd^Hà' ftftft
acciamada Caltfe; na^ S^ria ^ o convidoa afèivoTa-^
inente , e fóxeodb çai%ir fobre elliei acamerA y em
^e o: ho4]>edii!a ,e dormia ^ lhe tírooa^tid^v Fi-^^
to4ii»lhc> outro oppofitor chamado' Aaiiír^c^fíédo-f
imnava toda a Pe^fíaye vendA^ ^^anS(> podia'
«coccii:,^Uw^maadott'« cífttds»;^ ^^^OiZt^jfius de
■(147 0^
Mifòrtia ', tafigniad do Califado ^ r thè: deo obcdi^
eociâ , j>iedindo-lhe qtiizeffe fer feu bofpede. .Veio
elle com finco mil cavallos 9 1 Ábdalla o matou a-
leifOÍMíRente a punhaladas.^, cpnquiftou a Arménia ^
Gèliciu 4. c. Capadócia ypcrítgnio inhnnianamenre
•s.Catholicos^ vendeo os bens Ecciefiafticos, rou-
bou dSTafos^e alfaias. fagradai, prohibio o facrín
jícÍQ dd Mifla ^ € enfinar.a.Fé Gathohca ^niandou
matcar.oaa mSos ò^Ctehblicos para Terem coniie-»
cid<>(Sà€:.ençaFcerÉr'X>8 qtte.fenâo ãchaíTen) marca*
do9«'lnteQtoa cohibir éftes iníuLtos a Emperadoir
Leáa IV ^ ííicceflbr de Conftaottno Coproni mo ,
3ue fò ftt alguns damoos em Romania, ^ e Capa-^
ock ^^ oemou vinte e dous:annos y e morreo no
ét.77^i'AbdaUa^A^úmo Gaiife da lainilia dos. A^
baffidés j cliamado AUMom , trmãò ^o Calife Aa-
rim,., iroiãõ do Calife Amim , a quem fuccedeo^
▼eticeo os Gregos muitas rezes j e chegarão as fuaa
▼jôonaty e terror àté Nápoles, c Calábria depois
de^eonauiíbàr o nielfapr de Candtá^ Jbdalld , filho
de Ibratiim ^«e neto de Tamerlão , foi fcnhor dá
Perfia' ^ de que o privou Mahomed Mirza feu pri«
moy rateorJhéVItig-Beíg íeu rio, que ocafou com
lÍMna fiHnaiy .e dle o ajudoa na j^uerra contra AbaL»
ltfhif^;filbo de Vlug^Beig, que nella morneo com
obtra filho 9 e Abdaiia tomou pofle de Trafoxania y
FiKwincí» dofogro , da qual o privoa íèu primo
Ahuíaid^ que ràoava em Korafan, que o venceo,
rti^toii èo aono dc'145'K Âhdnlla ^ íàhviÀtOmzty
Doutor Araèio. y coatemporaneo de Maíoma ^ e
ifUí. companheiro y foi eftimado por liberaliíEmo ^
dMrareíípoias de tríata mil drachinas^ e deo libera
-iii N ii da-
( 148 )
dade a mil efcfaros feus. Ahãalla , filho de Mora^
kech j ou Mobareck , fanto efpecial dos Mufulma*
nes , tem hum notável íepulchro na Cidade de Hic
na íraca Babylonica ^ onde he viíitado continua-
mente de Romeiros. * Hum Catholico Âlentâo no
anno de 173^0 offereceo (fingindo^fe Mouro) huma
caçoila de prata fumegando junto a efte maldito
fepulchro , e ftigio á desfilada : era ella fabrioada
com tal\artifícío , que rebentando dahi a diras ho*^'
ras ^ matou mats de duzentas peflbas ^ que tinhâa
concorrida a veUa , além dos Romeiros , defpeda-
çou grande parte do íepulchro 9 e queimou o me-i
Ihor do alpendre. Abdalla , filho de Saba , foi o
primeiro 9 que adorou Áli , o que nâo obílante^
julgâa fora J udeò , • é todas as feitas ò aborrecem
tanto como ós CathoJicos; Abdalla , filho de Sa-
lão j Âutfaor das queftóes , e quefitos feitos a Ma-
fbma a refpeito da fua profecia , he também Au*
thor de huma obra extrahida de hum livro apocri*
íb do, Profeta DanieF, em qilé ie citâo os iivros
de Adão fobre a hiftoría dá creaçâo do mundo,
obra ^ que fe acha fia Livraria 'do Rei de França*
Abdalla ^ chamada Albafedb , ki Mouro celebre
em applicar. as tradições de MafiE>ma , *e de excelr
lente memoria , prenda j que ellè attribuia a itet
bebido com grande devoro a agua do f>òça de
Meca. Abdalla j £lho de Ravend , foi Authòr de
huma feita de ímpios chamados Ra vendi tas. \/í^
dalla j filho de. Lopo Rei Mouro de Tc^kdo , fe^
guio feu pai , a quem privarão do Reino \ conqufí^
tou Çaragoça , e nella reinou a pezar de feus emu^
los^ e de AiSonfo JULI» Rei de Oviedo, a quem fts
ai.
f •■*
( Í49 )
alguns datnnos. Abdàlla^ filho de Mafoma ^ irmão
òfi Mondir, ou Âlmondir, foro fetimo Calife da
geração dos Ommidas em Hefpanha , acclamado
em Córdova j onde reinou vinte e finco annos até
os fetenta e trez de fua idade ^conquiftou Sevilha^
Íiue fe tinha rebelado na guerra civil com Ornar,
aqueou Cafi:elU y tomou Salamanca , fenhoreoa
Pamplona , onde alcançou huma viâoria , em que
foi morto D.Sancho Rei de Navarra, foi vencido
duas vezes por D. Ordonho , filho do Rei D. Âf-
fonfo , e morreo no anno de 905^. Âbdalla , Gene-
ral dos Mouros em Hefpanha , fe acclamou Rei de
Toledo, caiou com DonaTereía, Infanta Catho-
liça , irmã de Áfibnío V Rei de Leão; * Na noi-
te das bodas não confentío ella que a tocaífe fem
fe baptizar; e inftando elle, foicafiigado porDeos
com dores, e aíHicçóes. horríveis, de que fe feguio
pedir cooi gritos veftiflfem a Infanta , e a levaÓem
• feu irmáo.com o mais preciofo , que teve para
lhe dar. Em Le^ viv.eo ella., e morreo claufurada
em hum Aloftetro çom opinião de fanta, e Ábdal-^
Ia:foi cativo na guçrra comHifiem^ ;.e<perdeo a vi-
da pouco depois*: Jíbdalla Jbcn^b^ dfiJMedina foi
Rei deGranada no anno de 15*70, quando os Mou-
ros daquella Cidade fe rebelarão, contra Filippe II
Rei de Hefpanha y e elegerão primeiro a Aben-
Humeya Rei de Granada , e Andaluzia , a quem
fuccedeo 'Abdalla v^lerofo , e prudente , expugnoa
Orgiva , fez retirar as tropas Hefpanholas , que
forão foccorrelia , com grande perda , conquiftou
Almanzora Filabra , e o território de Baça , Serós
com fincoântaoeças de artilharia , e Tijola ,.mas
.XQm.ViI. Niii can-
C líQ )
eanfadia fortuna j perdeo Gtiejar , qne era a fiia
Praça 4è armas y ei>acabou a fua imaginada regalia
em íiimma miferia. Abdalla Rei de Tremecem no
anno de 15*29 por confelho de Barbarroxa foi in-
grato aos Hefpanhoes , de quem era feudatario^
e que lhe derâo o throno. jibdalla ^ filho defte,
perdeo o Reino de Tremecem , valeo-fe do Em*
perador Carlos V, a quem íe offereceo por valTal*
lo com as condições , com mie o fora feu avô:
mandou Carlos foccorrelio pelo Conde de Alçou-
dete, Governador deOrSoycom feiscentos folda-
dos, que forâo mortos -no caminho de Tremecem
peio tyranno Hamet: , irmão de Âbdalla y a quem
e Emperador mandou novamente reftabelecer no
throno, oquefezoConde com nove mil homens^
que vencerão Hamer^ e faiqueiírâo Tremecem, lito
irritou de^íbrte os iaflimos do» Mouros , què reti-
rado o Conde y e ikliíndo JtbdaHa da Cidade a fa-
zer guerra aos ladrões , Ihe^^fechátío as portas , e
elie vendo que os nao applacava j eodéfampara-
yão os f eus y fau£coQ'08 deívrtos' com feíTenea ca-*
Ta lios para {iaquôrtar àrAtahfi09^Mra os^feusvaf^
iallos tebéldds ^^^rém^ efteà^^ ntatárSo aleivof»-
mente no imM[úçor^4&, Âbáédtã , 0or fobfenome
Muley y Rei de Eési,' e de Marrocos no decirtfti
fexto fécula y íiKTcedeo.a feu pai>MafpmaLGI)ertf)
aqu^sníi osrTorcos^tt^râó «leívoíàímènte mtf anno
de i;r5r7. NSo iáikoir^evákir^v prudência do pai ^
deo-fe a vicias , é ócio y deo Teiieno a todos os
que o podiáo inquietar^ reinon com focego, e fò
tio fim da vida^ para deixar fama ^^ekijou^ com o
ixercít^^ de Heípaabal^ '^aàdo» (è:y«colbia^>de
nhâo de Velez. Por leve confclho de hum renega-
do Corfo intentou conquiftar Mazagáo , e defen-
ganado muito áfuacufta^ íerecolheo a Marrocos,
onde morreo em 15:74- Abdalla^ Principe Mouro ,
valerofo , celebre na guerra dos Cherifes em Áfri-
ca j fez aliança com Filippe III Rei de Hefpanha
por intervenção do Genovez Janeti Mortara no
anno de 1607 , e foi aíTaíEnado dous annos depois
por induftria de hum feiticeiro Santão , ifto he,
Religiofo Mouro , a quem Mulcy Zidan , tio de
Abdalla ^ peitou para iflb. Abdalla Berbere , por fo-
brenome Mohavedim , natural de Temnellet em
Barberia, do tribu de Muçada ^.foi Meftre j Pre-
gador , e Áuthor da feita dos Mohavedinos , ou
Almoades 9 que no duodécimo feculo feguíâo par-
te da doutrina de Ali j genro de Mafoma. Favore-
cido do feu tribu fez guerra a Abrahâo Rei de
Marrocos j aquém venceo, e degollou Abdulmu-
mem feu General , porém morreo pouco depois
que recebeo a cabeça do infeliz Abrahâo. Abdalla
Alfaqui j ifto he y Pregador Mouro da feita dos A}*
moades y Ievailtou*fe contra Cherife Mahamet Rei
de- Marrocos no anno de i5r43S iortificou-fe com
o exercito na montanha deNeíiiza, ramo dpgran*
de Atlas 9 e para defender a fnbida fevaleo da ar-
te magica j em ^ue fó os Mouros o julgarão iníig-
lie. Lançou no caminho carneiros degollados com
a lá toftada , e os pés cortados , e mettidos nos
olhos y embuftes , que atemorizarão os foldados
Mouros de Cherife ; porém os efcravos Catholi-
C0S9 que hfão ro exercito, zombirãq dos feitiços,
íubítão â-arentaHha^iV^cêrâie^ e priziontfrão Ab«-
... ; • daU
dalla j o qual depois dizia o tinhâo vencido fó 6$
Catholicos , porque lhe efquecêra preparar contra
elles feitiços. Deo-fe^^lhe palavra de o mandarem
conduzir vivo a Argel j mas Gherifc o mandou de-
gollar. Abdalla^ chamado MohtaíebBillah, lançou
de Africa os Aglabitas , poz no throno a familía
de Ali , e efta em agradecimento lhe tirou a vida.
Ahdalla^ filho de Jaffim, primeiro Doutor dos Al<-
moravides , condemnou a morte Giauhar Gedali^
primeiro-Chefe, ou Príncipe da mefma feita , por
quebrantar as mefmas Leis ^ que eftabelecêra. Ab^
dallathif^ filho de Vlug-Bega , da cafta de Tamor-
láo 9 matou em campanha a feu pai ^ e poíFuio os
Eftados de Tranfoxania féis mezes , no fim dos quaes
fublevado o exercito , o matarão com flechas os
foldados. Abdalmalek^ o\i Adelmelikj filho de Mar*
vão y quinto Calife dos Ommiadas ^ inimigo capi*
tal de Ali , fujeitou a índia y chegou o íeu domínio
até a Hefpanha , foi fenhor de Meca 9 prudente ^
feliz y e táo moderado , que negando*lhe os Ca*
tholicos buma Igreja para mefqui^a ^ os náo per-
feguio , antes iouvttíu. Dava credito a fonhos.^ e
agouros j de quie refultárão hiftorias fabulofas , e
deíatinos: reinou vinte e hum annos, fuccedeo-lhe
Valid , o mais velho de dezefeís filhos. * Ainda
hoje os Mouros doOrietite mandão ofifertas ao feu
áepulchro , que já fe ignora onde foflfe na pprta de
Damafco, onde as pendurâo. Abdalmfileky filho de
Nouh y ou Noe , quinto Rei dos Samanidaç ^ teve
guerras com Rocneddoulas , Príncipe da Gafa dos
Bovídas y a quem ficou tributário y perdeo a Pror
«iacia de Korafaa y que conquiftQtt. Alptegbin; ,..ç
• mor-
( 153 )
iflorreo cdliindo de hnm cavallo, a quem èníinava*
Abdalmalekj filho de Nouh fegundo do nome, no-
no , e ultimo Príncipe dos Samanidas , fuccedeo a
feu irmão Manfor fegundo , a quem tirou os olhos
para reinar , tyrannia , que Deos caftigou breve-
mente , porque Ilkão Rei de Turqueftâo aleivofa-
mente lhe tomou o Reino , e fez acabar a vida pre-
zo j e Mahmoud Sultão dos Gafnevidas matou em
huYna^^arathft Ibrahim ,' ultimo herdeiro daauella
família.' Abdalmakk' y ^úmo íègundo de Mafoma,
foi Governador do Egypto, mas o Galífe Harão ,
que lhe dea efie emprego ^ fufpeitou que afpirava
ao Império favorecido pelos Barmecidas, eopren-
deo. -Amim feu filho Ihedeo liberdade, ê o gover-
no de Syrta^ onde acabou a vida. 'Mdalmutalíb ^ ou
Jbdakmthleb , filho de Hafchem , foi o ávô de Ma-
foma^, deixou dez filhos , dos quaes o menor Ab-
datla foi pai. de l&ziomz. ^Abdalzafcbid y filho do
Sultão Mahmoud^ efteve prezo a melhor parte da
iba vida', até qlie fugio , e foi acciamado Sultão
do6 Gafnevidas depois de Ali íeu fobrinho. Favo-
receo com exceíTo aTogrul, que lhe tirou a vida,
e Reino, peio que Ihe^amárâo, e chamão Kafer-
namet , que quer dizer ingrato; Efte cafou com An-
ca irmã do defunto , porém foi tal o ódio dos vaf^
íâllos , que • matarão , e foi acciamado Sultão da*
quelle vafto Império Ferokhzad irmão de Anca.
Ahdalfatnady tio dos primeiros Califes da Caía dos
Abbafildasii, viveo cento e fincoentar'annos , e foi
o único, de quem conAa não ter dentes feparados^
nem diftintos. Âbdar he o nome do Copeiro Mór
do Rei da Perfia , cujo officio he guardar a agua.^
que
( ^u)
qne ha de beber aquelle Monarca y èm himi cantar
ro feilado j para que lhe nâo Jartccm Teneno. jlda^
não foi Rei dos Motiros em He^fpanhfi ^ vei^ido r^
petidas vezes pelo Rei.de Galiza y cAfturias Porn
Ramiroi LÂbdas foi Bifpo.da.Perfia no. tempo do
Emperador Theodoíio b M090 y e de IPdagerdes
Rei daqaelle Império y .em cuja reinado: gozáráa
os Cathoiicoà paz.y e livre. ex4rcicio:de{£le|igiao^
Eoréqi o Biípô talais zelòfa <;)iijei;pruderitej.<iéftrui€r
uin^tèmploíidedircado ao fogo.,:, de qtfe ie qiieixá-»
]âo*<>s feiticeiros, e o Rei com bcand4ra )he orde^
nou que o reftaiiraíre íqbpcna de arrazar^ todas as
Igrejas do^^athoiiccis.' Naa foibedeceo^nqm. devia
obedecer Âbcks y^pefiooqèe. ti entregou o Rí^i ao^
feiticèind5y'queo.i]iâirtyrÍBé0Ío^.e a todoaoa Ca-:
thófic^s, deftrQkâptiosiTehiploa^'e*durO(i a perle-
f lição trinta annos.- ^j As Híéliqiiiaa deíbe Santo
ifpi» e(lãa ria Capi talo. doa cG remi tas de> Sadto
A^árftíiriía eMi;Goa com^aa^^òs i^antoardie Arnteniaw
if&/j^r^//jkr£biiniartyrizado tçoint Simâp .Bifpo d^
Sclenèia>'e de Cr)djO{icfcitá), 'fendo Rei daPeriía' o
typatmo Siapor. AhàBcl , par de Selemias , foi quem
ajudou aencalrcer^nâsfrofirtaaJecccDtaÂy ç Baníeis
Aiàieimeffias\y?Bix\9iXct,.òm^ publicou bum«
profífsáo<dá Fé^ que^ha^éiKjfuaimàiiientc lenera-^
da' pelos. Gregos 'Ga tholisoa Romanos. AbdelqUi^
virj filho máisiveltiode-Haícem, Cberife daPr<>«
?mcía de Darai em Africa^; grande Fiiofofo , eMar
gicOL' , • foi Oí {meliior difcipaio do&einhuftcs>.de!&i
pai« Veip de Meca comootrórf.doctsjiraiao&ye com
públicas hypòctilias grangeárão a maior efLimaçâo
de todos* fkir ççofeib^io pai te iatroduzíria com
ò Rcí de'Fé!?í qtie facilwrentè déo a hnni ó gover-
no de feiíâ filhos; e a outro hiima Cadeira nóCol--
legiò do Modarafa. Pediria aô Rei Ihe^ pèrmittif^
fe htHna gnania com tamiso r^ e batfdéirá, pdra le^
Vtfntui' gente contra &&ÍCafholic0S') ocjõe tafr>beit^
èònfcgníraò «em pòucOsdiaâ ; pòr<í'!ti Yô^hâi-Bcn Ta-
fof , Mcmro tributário de Portugal ^ e inimigo dos
Cherífes j ajudado pelos noíTos ós Vericeo y e ma-'
tpn jtíhto i Cidade de Anega. JbdmieJêCh^ Eunu-
co do Rei SedeciaS) alcançou a Uberdade do Pro-^
feta Jeremias*) a quem efte Rei trntia prezo cm hum
terrive! cárcere para fatisfazer os íeus inimfigos, e
efta caridade lhe pagou Deos , Kvrlàndo-o das ar-
ma» dos Caldeos j coj^ vinda ^ e conquifta tinha
prognoftfCãdo Jeremias, Abdemêlech Muleimolue def-
pojado' dos Reinos de Pés, eMarroCos'pedio foc-
Ctorrofao GiKo Turco contra feu fobrinho Mafo-
xia , òq Mahôtná , que fe valeo do noflb Rei D. Sev
baftiâd , o* qual paíTod a^ Africa para o foccorrer,
é morrêfSo todos tre^porefta caufa, D.Sebaftíâa
iM bata^lha y Mafonia afobado em hum laft)eiró|
Muleimolue na lirerra de campanha. Abdenago , no-
me , que os Babylonio9 pnzerâo a Azarias , hum
4e^ companheiros do Profeta Daniel, aquém Na-
èuco maindoí» lançar no fogo ardentej, porque nâo
^fzerâo adorar a Aia eftatua de ouro s ^ Deos os
pfefervmv entre as chammas. Abdera foi huma Ci-
dade maritima de Trácia , íituadana fo8 db rio
N^s ,'- fimdááa^ por Abdera irmão de Diomedes'^
cujas aguas caufavão ítxxsi^^< Abdkr amé- ^ primeiro
Ifca» dc^ Mouroo #!»■■ ÍFfafj»aiiha » ch amad s fegund^
deâraidor delia,. neto doCaiiíe Heídiam da facni^
^ lia
lia dos Ommiad^s |, foi convidado pelois rebeldes
doReiJofeph, aquém ellevenceo,e tirou o Rei-
no de Córdova em 7^6. Daqui fahio adeftruir to-
da Caftella com trinca mil cavallos , e duzentos
oiil Infantes ^ cpnquiftdu além defte os Reinos de
Aragão 'y Navarra , e Portiigal ^ deo Toledo a fea
filho y e para comprarem as vidas ^ e fazendas os
dous Reis Cathoíicos Aurélio , e Mauregato no
pequeno recinto das Afturias, promettêráo pagar-
lhe o infame tributo annual de cem donzellas. Edi-
ficou a notável mefquita de Córdova' y e morreo
antes de a ver acabada noanno de 172. AbderamOy
fegundo Rei de Córdova , filho de Aliatâo y co-
meçou a reinar em 821. Excitado pelos Mouros
de Africa | donde lhe vierâo innumeraveis tropas ,
quebrou a paz com os .Cathoíicos , a quem nova-
mente pedio b tributo das cem donzellas , que fe
pagara aos feus antepaíTados ; porém D. Ramiro L
confiado em Deos fahio. ádrfeza com hum peque*
00 exercito ) appareceo, cpel^Uou-viíiyelinente pa
batalha S^nt-Iago , e fugio para Córdova Abde-
ramo depois de ver mortos no campo fetenta mil
Mouros* Depois cuidou fó em edificar melquitas^
e eftabelecer fabricas de feda y para o quei mandoa
vir officiaes peritos de Damafco* Foi o primeira
Rei Mouro I que gravou afua effigie na moeda em
Hefpanha : no feu tempo os Inglezes foccorrêrão
çs Cathoíicos , e cercarão Lisboa. 9 que não ren*
dêráO| conquiiÚrâo Cadiz^. e Sevilha y que Abde-
ramo reftaurou facilmente.
LI S B O à , Na Offidni de Miguel Maaefcal d« Co8a , Inpreflor àm
^ , Imanto Officto. Ànno 1753. Gom tpdés as iícjjtfat ncccjarda^
< '5*7 )
CONFERENCIA XIV.
A Bderamo , chamado o Exaltador da Lei^
tjL foi pofto em o throno de Córdova pelos
{ % Mouros de Africa , que privarão delle a
feu irmão mais velho. Foi infeliz , e at*
tfibuindo iflb aos cafamentos dos Catholicos com
as Mouras , ordenou que todos os que fe achaíTem
emparentados profeíTaíTem a lei de Mafoma com
feus filhos* Durou efta períeguiçâo fere annos , em
que morrerão martyres muitos. Oous annos depois
D. Ordonho ^ íegundo Rei de Leão y o venceo
completamente em Talaveira , e nunca mais em
muitos annos de guerra teve Âbderamo fortuna y
e morreo em 961. Ahderamo , quarto filho de AU
manzor, fuccedeo no throno de Córdova por mor-
te de feu irmão Abdulmalic j foi o ultimo da cafta
dos Abderamos , que reinou em Córdova , e toda
a Hefpanha. Os feus vícios , e affeminaçòes def-
gofiárão de forte os Mouros , que fe dividirão em
dous' partidos : huns com menos fortuna feguírão
a^ Solimão, outros a Mafoma , ou Mahomed , que
prendeo Âbderamo 9 publicou eftava morto , e pa-
ra experimentar os ânimos dos bárbaros com efta
noticia I dcgollou hum Catholico bem femelhante
a Âbderamo 9 diíTe que era defte o cadáver , que
moftrou ao povo y o, qual nenhum cafo fez dííTo^
e então conheceo eftava feguro, ufurpou a Coroa ^
e tirou a Âbderamo a vida. Ahderamo em Africa
ÍD\ hum tyrannoi que mandou aflaífioar feu fobri-
Tom. VIL O nha
nho Amedux, fenhor de Zafi no Reino de Marro-
cos 9 e lhe tomou os Eftadós. Reinou em paz mui-
tos annos, porém AIi*Ben-Giiedimim lhe namorou
huma filha, e confentindo a mãi, ufou delia: quiz
Ábderamo matallo aleívoíamente , e para o confe*
guir o convidou para huma feita na mefquita y e
depois para hum paíTeio. Âli , e as cúmplices pre-
fumírâo o engano j e quando elle orava na mefqui-
ta junto ao Alfaqui , o matou Ali , e Yahaia feu
amigo , e companheiro no aíTaífino em- if05r. Jb^
der amo y chamado pelos Mouros Abdalrahman, foi
Capitão, e Governador deHefpanha, Lugar-Te-
nente do Calife Hefcham , celebre pelos damnos ,
e conquiíias , que fez em França , que todos jul-
garão conquiftaria , e também Itália. Eudo Duqne
de Aquitania lhe impedio a conquifta deTolofa , e
Ufes , mas faltando4he as tropas pela divisão ini-
qua dos Francezes , que feguiâo a Carlos Martel
com efpirito de parcialidade , fem refpeito a caufa
commua, Eudo cahionoabfurdo de fazer liga com
Munufa , Governador dos Mouros em Sardenha ^
a quem deo para mulher íua filha , Julgando que
aflim podia fem perigo invadir Néuftria , porém
Ábderamo paíTou os montes , perfeguio Munufa
até Picardia , e o obrigou a refugiar*fe nas terras
de feu fogro igualmente defgraçado , e vencido por
Carlos MarteL Os Mouros perfeguírão de forte
Munufa , que fe precipitou em hum desfiladeiro
ajtiflimo para não fer prezo / e efcarnecido , fua
mulher filha de Eudo formofiflima foi preíentada
por mimo a Ábderamo, o qual penetrou Galcunha^
tomou Bordeos ^ paíFou o rio Dordana y e venceo
Elido y que fò entKo bem .cohfidéràdò Te unio còm
Carlos Marrei. Abderamo faqueou as Cidades^quei*
tnou as Igrejas, excepto a de S. Martinho , porque
cbegou o exercito aliado , e paíTados féis dias em
cfcaramunças , foi Abderamo vencido j e morto com
trezentos mil Mouros na opinião dos menos enca>«
recidos no anno de 732. Abderamen , ou Jbderra*
meftj Rei deCordora, grande inimigo dosCatho-
licos j vendo hum dia pendurados nas arvores os
corpos dos Catholicos , que mandara pouco antes
martyrizar , os mandou reduzir a cinzas , mas Io*
go emudeceo , e acabou aíEm a vida na noite fe*
guinte« Àbdia , montanha no Tribu de ManaíTes,
onde o Mordomo do peíSmo Rei Acab chamado
Abdias eícondeo cem Profetas para os livrar da
períeguição da Rainha Jezabel , e os fuftentou até
ella morrer. Herodes o Grande mandou entulhar
as covas , onde efti verão efcondidos nefta monta-
nha os Profetas , porque nellas habitavão ladroes.
*.Os Alarves tirarão o entulho j e delias fahem a
roubar os Mouros , e peregrinos , fem qne os poí-
fião extinguir os Turcos. Jbdiario he Reino da ín-
dia fujeito ao do Pegn, e diftante vime léguas da
Cidade capital delle. Abdias he nome Hebraico ,
que íignifica fervo do Senhor : foi o quarto dos
jrrofetas menores : ignora*fe de que Tribu foi|
quando floreceo ^ e acabou a vida : prognofticou s
ocftruição dos Idumeos. Abdias de Babylonia htí
hum Author fâbulofo , a quem fe attribue a obra
apocryfa , e condemnada do Combate dos Apofto**
los. Abdilcair. foi Capitão dos Tártaros , quando
«fies foccorrêrão os Turcos contiS os Perías no
O ii rei-
(i6o)
reinado de Hadabenda , cujo filho HameNHamet
o venceo , e mandou prizioneiro ao pai j que o tra«^
tou com demafiado mimo y a que fe íeguio namo-
rar-fe delle a Rainha com efcandalo y e Hadaben^
da para o evitar intentou cafallo com huma filha ^
e defpedillo., para que o reconcihaíTe com os Tar**-
taros de Precop y mas os grandes Perfianos impe-^
dirão o cafamento y prenderão Âbdtlcair , que fu*
gio paraTauris, onde foi alei vofamcnte morto, -^é-
dirão y Rei dos Sarracenos , teve guerra com oEnv
perador Carlos. Magno y a quem tomou a Cidade
deBur.deos, em que obrou as maiores infolencias,
e tyrannias. Jbdiffi , ou Abdifu y ou Abdieufu , foi
Patriarca da AíTyria Oriental com a Cadeira em
Muzal , deo obediência ao Papa Pio IV em Ro-
ma y e delle recebeo o Pallio a 7 de Março de 15:62 ^
efcrcvco ao Concilio Tridentino , e a fua profifeão
da Fé foi approvada na Sefsáo 21. Foi o maior
Principe Ecclefiaftico além do Eufrates y dou to, e
déftro nas línguas Syriaca y Arábica y e Caldaida:
dizia que a fé do fen Patriarcado fora plantada por
S. Thomé , e Sé Thadeo y 0% feus Sacramentos os
mefmos, a fua doutrina conforme os Concílios Ro«
manos y e os feus ritos enfínados pelos Apoftolos^
de cujo tempo conÉervavão os livros. Abditã Mou«
ro foi General no cerco y que eftes puzerão á Ci«
dade deSalerno em Itália, efcolheo para feu quar^
tel huma Igreja, e querendo ndle violar huma don-
zelIa, cahio fobre elle huma viga, que omatoulem
moleftar a mulher. Abdiíània (oi huma Cidade de
Africa Epifcopal, fufiraganea de Carthago, pouca
âiftance .ate Hypponia^ hoje chamadaiArriaoa^ e £6
pe*
pequena Aldea junto a Tunes. Abiâ^Ahãus foi hum
Eunuco Partho cúmplice na confpiração de Sinna-
ces contra Artabano, que o matou com veneno em
hum convite. Abdolonymo , ou Abdaltmimo ^ Prínci-
pe Sidónio , chegou a tal pobreza , que vivia do
trabalho de Jardineiro : Alexandre Magno o fez
Rei de Sidon em lugar de Scratáo , a quem pri^
vou j por fer parcial de Dário Rei dos Perfas ; e
para callar os murmuradores defta eleição , pergun-
tou a Abdolonymo , como havia tolerado tanta
miferia ; a que elle refpondeo : Permina o Ceo que
eu tolere da mefmaforte a grandeza : meus braços me
adquirirão tudo ^ e nunca tive neceffidade de coufa aU
guma^ em quanto nada pojfui. Por efta virtuofa ret
pofta lhe mandou Alexi^ndre dar todas as alfaias
preciofas de Stratâo , parte dos defpojos de Dá-
rio 9 e huma Provincia con^nante com Sidon. Jb^
dofiy AddoHj ou Jadonj he nome daquelle Profeta,
que vaticinou a Jeroboâo a morte , porque facrifi-
cava aos idolos em Bethel , e que o Rei Joíias ha*
via de defiruir o altar , e facrifícar fobre eile os
Sacerdotes idolatras. Jeroboâo o mandou prender ;
Bias vendo lhe ficara logo paralytica a mão direi-
ta y pedio que lha reftituiíTe com a fua oração y o
que o Profeta logo fez: convidou- o o Rei para co-
eoer, enáoquiz, porque Deos lhe ordenara o con-
trario y mas no caminho hum falfo Profeta o obri-
;ou a comer I pelo que Deos o mandou matar por
lúm Leáo y que guardou o cadáver ^ e o jumento
até que o falfo Profeta veio dar-lhe íepultura em
Bethel: Abdony cSennen Príncipes Perfas forão pre-
zos tm Roma por ferem Catholicos y e mortos a
Tom. VIL O iii cu-
( '<í» )
aitiladas depois de outros tormentos na prefencs
do Emperador Decio : forâo enterrados em cafa do
Subdiacóno Quirino , e as fuás Relíquias, achadas
no tempo de Conftantino Magno. AbÂula foi Ca*
life dos Sarracenos na Períia quinze annos e meio :
os Tártaros o vencerão , e matarão no anno àet
125*8, fenhoreárâo Babylonia , e depois toda aPer-
iia , em que puzeráo novos Reis , dos quaes foi
Ching o primeiro. Abdula^ Kam dos Tártaros, fa*
queou toda a Perda no anno de 1 600 , mas não
quiz aceitar a batalha, que lhe offereceo muitas ve-
zes Scha-Abas , Sofi daquelie Império , por não
violar o coftiime dos fens avós , que foi fempre
roubar, e fugir. Abbdulach era Governador de Fés
pelos Âlmohades no anno de 1210, evendo-os def-r
cuidados , conquiftou Cidades , e acclamou-fe Rei«
Abdulacb Rei de Fés no anno de 1430 foi aíTaíIina-
do por fer tyranno, e cobarde como feu pai Abu-
iaide , a quem por iíTo tomámos a notável Praça
de Ceuta, AbàulaJJis foi Governador fupremo de
Heípanha pelos Mouros tle Africa no principio da
fua conquifta , e nofla maior defgraça. Dizem ca-
iara com a viuva do Rei D. Rodrigo , e que por
feu confelho fe coroara com coroa de ouro, acção
prohibida por Mafbma , pelo qup o matarão com
a mulher em huma mefquita. Abàulmalic Principe
Mouro no anno de 1341 fenhoreou tudo o que 09
feus naturaes poíTuião na Heípanha , foi fenhor de
Tangere, e de outras muitas Cidades , matou Abeci y
porque fe acciamou Rei de Córdova , onde elle
faieceo com o nome devalerofo heroe. Abàulmalic j
filho do Rei de Fés « veio a Hefpaoha foccorrer a
Rd
( 1^3 )
Rei de Granada contra os Reis CatHoficos de Caf^
tella 9 e Leão , de que fe intitulou Rei. Com as
conquiftas de feu pai foi depois o Principe mais
rico, e poderofo de Africa; mas vindo com formi»
davel exercito fegunda vez a Hefpanha , os Ga-
tholicos oenveftírSo, quando osnáo efperava, fn-
gio a pé j efcondeo-íe em hum mato , fingindo-fe
morto 9 quando íói achado ; mas hum Cathollco
mais aftuto conheceo o engano , e com a lança o
fez morto verdadeiro. AbdulmaliCj fetimo Calife,
ou fucceiTor de Mafoma , matou o feu anteceíTor,
queimou os oíTos dos outros mais antigos, intitu*
lou-íe Cmperador dos filhos da falvaçâo, dominou
a melhor parte da Aíia , e Africa , c a, morte lhe
impedio ofenhoreartoJo o mundo. Âbdurrahamen ^
filho deÀthaca Rei de Córdova , inimigo capital
dosCatholicos, paíTou o rio Douro com hum exer-
cito governado pelo General. Zafa, que entrou em
Caftelia , onde o primeiro objeflo da fua ira foráo
duzentos Retígiofos do Mofieiro de S. Pedro de
Cardenha , que derâo por Chrifto as vidas : arra*
zou o edificio, queimou as alfaias fagradas, e nâo
houve infolencia ^ e tyrannia , que não executalTe
naquelles moradores. Abea^ cujos habitadores fe cha-
tnáráo Abantes , foi Cidade celebre em Grécia , por*
que nella fe venera hum dos melhores templos , e
oráculos deApollo: Xerxes Rei daPerfia queimou
huma coufa , e outra. Abeci Mouro de Hefpanha
tirou a Abdulmelic o Reino de Córdova , e efte
vindo de Africa lhe tirou a vida. Abecour he huma-
Abbadia dos Premonftratenfes na Dieeefc de* Char-
tres em FrançUé Abeà^ ou Hebed^ foi hum dos Can
•
pi-
pitíes dos Judéos , que veio no tempo de Efdras
de Babylonia com fincoenta homens. Jíbely Rei de
Dinamarca , filho de Yvaldemaro fegundo , foi
Duque de Sleefvvk j matou íeu irmão Érico para
gozar o throno , e morreo na guerra de Friza.
Mel y nome Hebraico j que fignifica afflicçao ^ e an*
'uftia , foi o fegundo filho de Adão , paftor de ga-
lo : feu irmão Caim agricultor ofierecia a Deos fa-
crificios dos frutos , e Abel as melhores rezes dos
{eus rebanhos : recebeo Deos o facrificio de Abel y
e deíprezou os de Caim , o qual invejofo ^ o con-
vidou para o campo , e lhe tirou a vida. Abel , ou
Able , foi Thomaz Abel , Doutor Inglez , e Mar-
tyr , fervio de Capellâo á Rainha Dona Cathari-
oa , mulher de Henrique *VIII y eícreveo contra a
diíToliiçáo do feu matrimonio , não quiz reconhe-
cer o Rei por íuprema cabeça da Igreja Anglica-
na, e por tudo foi degoUado, e feito em quartos.
Abela ) Cidade da Paleftina no Tribu de Neptali ,
celebre pela fituação ^ e porque acabada a guerra
de David com Abfaião ^ fe levantou contra elle
Seba y homem facinorofo do Tribu de Benjamin ,
«motinou os Tribus, excepto o de Juda, e faben-
do que David mandava contra elle o exercito §o-
y^rnado por Joab , fe recolheo em Abela > cujos
moradores fecharão as portas , e o não quizerão
çnjtregar a Joab , o qual deftruio os campos, epro-
teftou continuar o cerco , e não perdoar as vidas.
Então huma mulher de grande Juizo pedio defde
as muralhas a Joab tregoas, em quanto lhe entre*
gava Seba , perfuadio elegantemente os morado-,
ifs a que o mataíFem, e lançou dos-qiuros a cabe-
( I^y )
Í;a,.á vifta do que fe retirou Joab fatisfeito, e ceíl
ou o levantamento. Ahela^ Chriftovão Abela, fe«
nhor de Hakking , Barão , e Conde do mefmo ti-
tulo , c de Schillerau Vvinterbach , e Engeiftig,
Prefideote do fupremo Confelho Aulico no Jm*
perio 9 foi o mais celebre Miniftro de Eftado no
tempo de Fernando III y e Leopoldo % aos quaes
fervio dentro , e fora da Monarquia com fumma
utilidade delles, e de toda a Alemanha. Abelienfes^
feita <le hereges Africanos , que dizião coníiftia o
matrimonio- ló no amor cafto dos dous confortes
íem coramunicação dos corpos , de forte que to*
dos os homens oeviSo ter mulher, na qual não ha«
viâo de tocari mas íim para continuação das fami-
V\?íS haviáo adoptar logo hum menino, ehumamer
nina por.filhos com o pa£lo de cafarem , e não te*
jem ajuntamento carnal , e efie^ em idade compe«>
tente havião de adoptar outros. Foi eíla herefia
remédio, de muitos pobres , aquém os fcflarios pe-
dião os filhos I mas foi pouco conhecida , e durou
pouco tempo I de forte que começando no do Em»
perador Arcádio , acabou no de Theodofio ; e no
tempo de Santo Agoílinho , que he hum dos pou-
cos , que fallão nefta herefia , já não oçcupavão em
Africa mais que:huma Áldea. Jbella y ou Jvella^
Cidade de Campanha ^ tomou o nome das excel-
kntes avelans, que nella havia. Ahellera^ N. Senhor
ra de Abellera , Santuário celebre em Hefpanha,
tomou o nome dos enxames de abelhas , entre í^
quaes foi achada efta Imagem y que elcondêrao os
CathoHcos Godos, quando entriárão os Sarracenos*
Os moradotes daVill^ de Paredes: ll^e isdifiaír^o
htt* ^
i *7^ )
fados j conheceó quie o erao , e f eprehendeo Tfaac
por fe fingir irmão y expondo- fe ao riíco de lhe
roubarem a mulher, pelo que prohibio a todos os
vaíTallos o tocalla , e Ifaac nefte paiz colheo abuii«
«dantes frutos das fuás íttaras , teve muitos gados,
abrio muitos poços, de que fefeguírâo invejas dos
Fíliftheos y que entulharão os antigos feitos por
Abrahâo , e Abimelech para evitar contendas pe«
dio a Ifaac íe retirafie , pois eftara já rico , e elle
caminhou para a torrente de Gerara , onde abrio
trez poços , dous j de que fe fizerão íenhores os
de Gerara, e outro, que ficou para os paftores de
Ifaac; e para julgar efta caufa dos poços , e deci-
dir para (empre acfiaem Jiaviâo de pertencer, ttio
Abimelech com Ochocath fea valido, e Phicol iea
General eftipular o tratado com Ifaac emBerfabee,
onde jáentâò aíliftia ; de forte que efte Abimelech
era filho , ou neto do qne foi enganado por Abra-
hâo , e celebr.ocr^oom elle a primeira aliança em
Berfabee. Mimeleè , filho de Gedeão , e de hpmia
criada chamada Druma , depois da morte de fea
pai fe recolheo em caía defua mái emSichem, on*
ue os parentes delia conhecendo lhe a capacidade
para qualquer infulto, lhe derâo baftante dinheiro
para adquirir o governo de líraçl ,' que tivera feii
pai com o titulo de Juiz« Juntou com elle todos
os facinorx>fosi'e' homens de peífimo* coração, de*
^ollou íetenta irmãos filhos legitimos de feu pai
Gedeão , e ulnrpoa o governo de Ifraei. Ficou í&
illefo humirmão legittn^o chamado Joachan ^ que
íe efcondeo, quando elle matou os ostros, o qual
iabendo pQUco depois que o& Sicbiiucaa^ eftaváo
jua^
(J73 )
juntos no campo vizinho âo monte Gazirím ^ do
alto delle os reprehendeo de ingratos , ufando da
parábola das arvores, que pertendendo muitas pa-
ra Rei 9 fó o efpinheiro aceitou a coroa. Acaboa
a inve£liva , pedindo a Deos fahifle delles fogo ,
que devoraíTe Abimelec, e delle outro, que fízeíTe
o meímo aos moradores de Sichem , para que (e
conheceíTe a juftiça , com que os arguia. Ouvio
Deos a fua petição : trez annos depois cançados
os Sichimitas das tyrannias de Abimelec , o lança-
rão da Cidade , e íe valerão de hum fenhor pode»
rofo chamado Gaal , a quem logo colheo Abime-
lec, e o matou com todos os do exercito, e Cida-
de , que mandou falgar , queimou depois a torre
de Sichem , e o templo do feu deos Berith , no
qual morrerão queimadas mais de mil peíToas de
ambos os fexos, cercou a Cidade de Tebas , e que-
rendo pôr fogo a huma torre, onde os moradores
le tinhão recolhido , huma mulher valerofa lhe lan-
çou emdma hum pedaço de pedra de moinho , e
elle vendo-fe mortalmente ferido , ordenou ao pa-
fem da lança o acabaíTe de matar, para que fenão
iíTeíTe que o matara huma mulher, e aílim acabou.
^irão , filho mais velho de Hiel , reedificou Jeri-
có,. morreo-lhe o filho primogénito, quando man-
dou abrir os alicerfes dos muros, e o menor, quan-
do lhe poz as portas, para íe verificar a maldição ,
que Jofué lançou a quem a reedificaíTe. Abifai , fi-
JuiQ.de Sarvia irmã de Abigail , e irmão de Joaby»
e Azael , foi celebre entre os valentes de David,
a quem fempre foi leal. Achou^fe na batalha con*
tra os partidários de Isboíeth , em outra deítroçou
Top. VIL Piii dez-
( 174)
dezoito mil Idumeos , e os fe?- tributários : na gner-
ra com os Filiftheos matou hum Gigante chamado
Acmon , cujo ferro da lança pezava trezentos fi-
dos. AhiJJinia^ ou AhaJJia^ he a Ethyopia alta, oa
Império do Negus , chamado vulgarmente Prefte
João. * Se a mentira tiveíTe pátria certa , podia-
mos dizer que era efte paiz , porque he inexplicá-
vel a multidão de fabulas , que os antigos , e mo-^
dernos efcrevêrâo defte chamado Império , que o^
não foi 9 quando era dilatado , e tanto , que occn-^
pava todas as Provincias defde o Lago Níger até
o Eftreito de Babel mandei entre Oriente , e Poen-^
te , e de Sul a Norte , tudo o aue con»prehendem
os montes da Lua, e cataratas ao Nilo, confinaiw
do com o Monomotapa : hoje porém que os Tur-
cos , e Arábios lhe tomarão tudo o que era bom^
confífte efte Reino em huns deíertos kifrutiferos^
e algumas terras , que em certos annos dão abun--
dantes frutos. São mais negros que pardos os na^
turaes todos , vivem em cabanas , e com miferia ^
porque são nimiamente preguiçofos , e defeftrados :
forão inftruidos na Fé por S. Thomé , íegundo fe.
colhe de buma pedra , que vío Gabriel Timotheo
no anno de ^730, fe he que nfão era feita de poa-^
eo tempo , porque em ficções , e mentiras excedenf
a todas as nações do mundo. São fcifmatícos , e^
íègundo a melhor tradição , entre elles nâo ha ta*
eerdocio ha mais de hum feculo. Defcendem de;
Ghmn , filho de Neé y como^ todos os Africanos^'
o Empérador aífifte no* campo , donde efpera me»
liior colheita naqudle anno , porque todas as ter-
jFas y e fearaS' são fuaa ^ e conforme tf noticia é^
boBt-
( i7jr )
bondade delias , fe mudão as cabanaâ da Corte pa-
ra as desfrutarem. Ainda feguem ritos Judaicos ,
como a CircumcisâO) e guarda dos fabbados. No
Sue refpeita á tradição de ^ue a Rainha Sabá era
aquelle paiz , que viera pejada do Rei Salomão ,
que do feu fiiho defcendem os Reis todos , e con*
férvio hum anel de Salomão ém morgado , os A-
bexins mais pios , e cordatos confefsão que tudo
he fabula , mas os outros o tem por artigo de fé^
como também de que foíTe fua a Rainha Candace,
e a primeira, que inftrntda pelo Eunuco, que bap-
tizou S. FiUppe, lhe communicou a fé. Eutiches,
e Dioícoro os prevertêrão totalrtiente , e a com-
municação com os Turcos os reduzio a eftado,
que fornos Religiofos de Santo Antão fe acha bU
Surti veftigio do que foi antigamente aquella Chrí-
andade. Tem algumas minas de prata , e ouro,
de que tirão còm muito trabalho , è coritrà fua von-
tade b que 'O Rei neceffita para o commercio , e
milicia , e os Turcoar pelo grandfc lucro , que del-
les recebem, osconfervão nos Lugares Santos com
halíante eftimação, e liberdade. O ch*ma hearden-
te , e com efpecialidade rios valles , mas a terra ent
partes tão fertií , (compaixão efpecial , que Deos
teve da fua preguiça) que dá trez , e quatro vezes
frutos no anno. jIHu , ou jfbibu , e Nabad forão
06 dou9 filhos de Âarão ^ que por defcuido offe-
fecêrão incenfo nos thuríbulos com fogo profano
contra a ordem de Deos , que mandava ufaífemí
Belles fó do fogo fagrada, emcaftigo do que mor-'
jrêrão logo na Tabèrnacnfo junto aó monfe Sinai,
Moyfés ordenou qoe lhes levafiem os corpos fór^
do
( ^76 )
do arraial para celebrarem' as exéquias ^ e ainda
que todo o povo chorava , prohibio a Aaráo , e
aos dous filhos menores Eleazar, e Ithamar o pran-
to y porque o facerdocio , que gozavâo , os devia
fazer fó lembrar da gloria de Deos^ e nâo da fua
particular afflicção. Jbiud^ filho deZorobabel, he
hum dos avós de Chrifto. Âblavio , ou Âblabio ^
foi Prefeito do Pretório de Conftantino Magno, e
edificou em Conftantinopla hum fumptuofo Palá-
cio , que depois foi de Placidia , filha dè Theodo-
fio Magno. Conftaqtino na hora da morte o dei*
xou a Conftancio por Confelheiro , mas efte o dei-
pedio^ e vendo que em Bithynia vivia comíocego
em huma quinta, vil, e aleivofamente lhe mandou
dizer o queria por companheiro no governo, e elle
innocentemente períuadido perguntou pela purpu*
ra , e logo çntrárâo aíTaíEnos , que lhe tirarão a
vida , e o priv;árão de fepultura : deixou huma fi-.
lha chamada Qlympiada deípofada com o Empera-
dor Conftante 9 ?q^e a criou,, e leftimou íempre co-
mo Empejratriz, e por fua morte Conftancio a ça<-
fou com Aríaccs Rei de Arménia. Abnaquios çâo
huns povos da America na nova França, a que ou-
tros chamão Canibas , djfiâo de Qiiebec ieíTenta
Icguas , è gozão o mar entre Arcádia, e nova In-
glaterra. Abo yow Jboay he Cidade de Suécia, ca-
beça da Finlândia , fituada tia foz do no Arojokl
ibbre o mar Báltico : tem feguro porto , mas não
tem muralhas : ao Suduefte fica a celebre rocha*
ondQ as Agulhas de marear tem a maior vareação,;
o que fe attribue á grande porção de, pedra iman^
que talvez haja no dito iitio ^ como no paiz vi;^^
nho^
( ^17 )
inho , em que fe achâo com abandanci?» Foi Cida-
"de Epifcopal inftituida por Adriano IV , reinando
Érico II, eGuftavo Adolfo fundou nella hnma Uni^
verfidade, que a Rainha Chriftina augmentou de«
pois liberalmente noanno de 1640. Hum incêndio
reduzio a cinzas toda efta povoação nobiliíEma em
1678, e depois de reedificada fe entregou aosMof-
covitas em 1742, e elles aderáo outra vez aos Su-
ecos,' que a poíTuçm. Ah^briga , antiga Cidade de
Hefpanha , dizem muitos he a que hoje nefte Rei«
no chamamos Villa de Conde. Abogadores são trez
Magtftrados notáveis na Republica de Veneza, cu-
jo oficio dura dezefeis mezes , e correfponde em
parte aos Promotores Fifcaes nefte Reino. Sâo os
•veladores da obfervancia das Leis , e para que os
Nobres fe não defculpem com a ignorância delias ,
as coftumão ler muitas vezes no Confelbofupremo.
Em todas as caufas crimes accusâo os reos , e de-
pois he licito ao Advogado delks requerer , e dar
reípoftas ás accufaçócs , e para ferem rigorofos, e
ieveros , lhes adjudicarão as Leis buma parte do
£íco de cada condemnado. He nulla toda a refolu-
ção do fupremo Confelho , e do Senado , fe nelle
nao aíEftir ao menos hum deftes Abogadores , oiE-
cio, que não podem ter os filhos, e irmãos doDo-
^e , em quanto elle vive. Abrahao Patriarca , Avô
de Chrifto Senhor noíTo , nafceo em Ur no Reino
de Caldea trezentos e oitenta e tr«z annos depois
-do Diluvio, decimo depois de Noé por Sem^ e vi^
geílmo de Adão, fegundo o rexto Hebreo, porém
os Setenta dizem fora undécimo depois de Noé, e
Ti^eíimo. primeiro depois de Adão. Seu pai Thare
ido-
( 178 O
idolatra , como. todos os Caldêos , tinha cento e
trinta annos, quando o gerou, e foi o terceiro de-
pois dedous irmãos Nachor% e Arâo, adorou íem»
pre ao verdadeiro Oeos j <\uçi o mandou íahir da
íua terra , donde levou comfigo feu pai Thare , fua
mulher Sara y e feu fobrinho Loth. Eftabeleceo t
primeira cafa em Haran , onde morreo Thare de
duzentos e finco annos na Religião , e culto do
verdadeiro Deos , x]ue pouco depois ordeaou a A^-
brahão fe mudaflfe para o paiz , quc.elle lhe havia
de moftrar, que era a terra depromifsâo chamada
Chanaan , onde habitou com Loth em Sichem , e
no valle illuftre. Aqui lhe appareceo o Senhor , e
prometteo dar aquella terra aosfeus défcendentes ,
paíTou aBethel y e ria montanha vizinha erigib AU
tar y e invocou o Santiílimo Nome de Deos. Pro^
feguio a jornada para o Meio dia y porém a fome^
que então havia em Chanaan y o obrigou a perer
grinar no Egypta ,. ordenando a Sara difleíG^qn^
era íua irmã y temendo que o mataflem para gqza-
Tem a grande formo fura , de que era dotada» Os
Grandes do Egypto a encarecerão a Faraó tanto,
'<\ue a mandou bufcar para fua mulher y e fez ricq
a Abrahão para lha dar ; porém Deos caftigou To*
go de lorte o Rei y e toda a fua família com taea
calamidades y que fem a tocar lha reftituio uca ^
"queizando-fe do engano. Sahio Abrahão rico y e
honorifícamente acompanhado por ordem de Fa^
raó y e com Sara y Loth, numerofa Êimilia , egà^
^os foi morar etp Bethel , onde fe Uiea multiplicar
rão os bens de forte y qne foi neceflariò dividirem^
ít. Loch foi habitar- «m Sodoma , -e A|)MÍ3ão,Ân
Cha-
'( 179 )
Cfidnaân , onde Deos lhe prometteo outra vez dat
aquelle paiz aos feus defcendentes , que elle havia
de mnltiplicar como o pó da terra. Daqui fe mU'*
dou para o valle de Mambre , erigio hum Altar a
Deos y e aceitou a amizade de Mambre , Efcol, e
Aner , itmâos defcendentes deChanaan, quedomi-^
naváo aqnella terra. Entretanto Codorlahomor Rei
dos Elamitas , Âmaphel Rei de Senaar , Arioch
Rei de Ponto, eThadel Rei deGoim j ou das na-
ções ) vencerão no vaile dos bofques aos Reis de
oodoma) e Gomorra, faqueárâo as Cidades, e le-
Tárâo prizioneiro a Loth com tudo o que poíTuia ;
porém Abrahâo armou trezentos e dezoito dos (cus
criados, fe^iio até Dan os Reis vencedores, que
derrotou facilmente , deo liberdade aos prizionei-»
ros todos'5 repartio os defpojos por feus donos, e
pagou os dizimos a Melchifedech Rei de Selem ,
oacerdote do Altiffimo. Algum tempo depois fál-
ica Deos a Abrahâo , ratifícou-lheas promeíTas an-
tigas, fegurou-lhe a multiplicidade da fua geração j
dfflis^lhe que morreria em paz na terra de Chanaan y
e que os feus netos depois de quatrocentos annos
de cativeiro em paiz eftranho poíTuiriáo aquella ter-
ra deliciofa. Sara mulher de Abrahâo vendo que
não tinha filhos , deo a feu marido huína efcrava
chamada Agar, a qual concebeo, e pario hum me^
oino , a que chamarão Ifmael : tinha então o pai
oitenta e íeis annos , e treze depois lhe appareceo
Deos outra Vez , ratiffcòu-Ihe as promeíTas antigas',
e mudou- lhe o nonie^ que até eíliè tetnpo era A»
brâo , que quer dizer Pai exaltado , em Abrahâo >
que íignifica Pai de muitas nações : ordenou-lhe
que
( tSo )
que fe circumcidafle a íi , e a todos os homens da
fua família ^ e defcendencia em final do concerto ^
e amizade, que Deos celebrava com elles: mudou
também o nome á mulher de Abrahâo 9 que fe cha»
mava Sarai, iftohe, fenhora minha, em Sara, que
quer dizer fenhora , e prometteo-lhe o nafcimento
de líaac. Circumcidou*íe Abrahâo , e fez o me&
mo a feu filho Ifmael , criados , e efcravos da fut
cafa ; e paíTado tempo lhe appareceo o Senhor no
?alle de Mambre na figura de hum homem com
dous companheiros , hoípedou-os Abrahâo na fut
tenda , deo-lhes de comer , promettêrâo-lhe que
Sara lhe havia de parir hum filho no anno feguin*
te , revelárâo-lhe a deftruiçâo de Sodoma , e Go-
morra, para onde caminharão dous a livrar Loth,
e a fua lamilia. Pouco depois fé mudou Abrahâo
para Gerara, onde difle que Sara era fua irmã, pe-
lo que lha tomou Abimelech para mulher , mas a-
viíado por Deos lha reftituio fem lesão, e rica , e
Abrahâo com orações o livrou , e a fua familia do
cafti|^o de efterilidade , que , fcgundo a melhor o-
piniao , confiftia em total impotência para a gera**
ção humana. No anno feguinte, que querem toffc
2139 da creaçâo do mundo , nafceo Ifaac èm Ge*
rara , tendo Abrahâo cem annos , e Sara noventa y
a qual vendo*fe com o filho crefcido , obrigou o
marido a que lançaíTe fora Agar com Ifmael.
LISBOA , Na Ofiicina de Miguel Manefcal da
Cofta, ImprefTor do S. Oíficio. Anno 176^. i
Cçm todas^ ax liceu f ar neceffarias.
(i8r)
CONFERENCIA XVI.
Inha Ifaac vinte e finco annos , quando
Deos ordenou a feii pai que lho íacrifícaf-
fe no monte Moria , ao que obedeceo A-
brahâo fem réplica j nem dúvida nas pro-
meíTas antecedentes da fua innumeravel pofterida-
de. Levou comfigo o filho j que ignorando o qual
havia de fer a vióíima, conduzio o fogo, e lenha;
e quando fobre elia manietado havia de receber o
golpe ^ e perder a vida, lhe mandou Deos íufpen-
oer a acção, e vendo perto hum carneiro prezo pe«
las pontas em efpinhos , o facrificou por Ifaac.
Morreo depois Sara de cento e vinte e fete annos
em Arbé , ou Hebron , e Abrahão a enterrou no
campo de Efron junto a Mambre. Enviou Eliezer
feu Mordomo natural de Damaíco a Mefopotamia
li bufcar huma mulher para feu filho Ifaac, que ti-
nha quarenta annos, e efte depois de feliz jornada
3he trouxe Rebecca fua prima , filha de Nachor,
irmão de Abrahão, Gafou depois Abrahão com
Cetura , e com outras , cujos nomes não refere a
Eícritura , das quaes teve muitos filhos , morreo
de cento e fe tenta e finco annos no de 2213 do
inundo , mil oitocentos e vinte e dous antes do
Nafcimento de Chrifto , e foi fepultado com Sara
na cova dobrada de Efron , que comprou para ja«>
zigo. Abrahão , Emperador dos Mouros em Afri-
ta no íeculo duodécimo , fuccedeo a feu pai Ali ,
que morreo em huma batalha em Andaluzia con-
-3Com. VIL Ct «"
( i8» )
tra Dom Affonfo Rei de Hefpanha o Batalhador»
Abdala Bcrebere, cuj« nação fe ignora, pefcador^
e depois Meftre de meninos em Africa , juntoa
hum exercito de facinorofos contra Abraháo j que
defprezou tâo vil inimigo ; mas depois vendo O
fegqião muitos Grandes defcontentes com nu mero-
fas tropas 9 lhe prefentou batalha , em que foi ven«
eido 9 fugio com a mulher de ancas para a Cidade
de Agmec , cujas portas achou fechadas y bufcou
de noite Orão y e conhecendo o feguiâo , defefpe^
rou y e lançou-fe com a mulher a cavallo em hum
defpenhadeiro. JbràbaOy filho de Zara, por íobro*
nome Al-Soríani , que quer dizer Syro y foi fexa-
geíimo fegundo Patriarca de Alexandria , e delle
reza aquella Igreja. Nâ Livraria Real de França fe
acha a fua vida nas linguas Syriaca y e Arábica , e
hum dos prodigios y que delle refere y he ter mU7
dado para outro fitio diftante hum grandef monte ,
como fez S. Gregório Thaumaturgo. * Ahrahãoy
Bifpo de Augmale na íerra do Malavar , herega
fequaz o mais accerrimo dos erros de Neftorio^
foi enviado pelo Patriarca de Babylonia a reger a-
quclla Igreja y e confervalla na hereíla na aufenci^
de Mar Jofeph , a quem o Arcebifpo, e Vice- Rei
de Goa tinhão enviado a Lisboa y e Roma y para
qqe dé0e obediencÍ9 ao Summo Pontífice , e apreih*
deífç os coftume^ d9 Igreja Latina. Em Lisboa gof*
fárâo tanto dç Mar Jofeph a Rainha Dona Catha^
lina y e a Infanta Dona Maria y que o náo deixa-*
râo ir a Roma y e com recommendaçqes graves pa«;
l^ o Vice- Rei , e Arcebifpo dç Gqa o mandarãç^
para 4 íua DieçQÍe ^ fiados qm quQ. promectêra ««i
Car-
cardeal Infante D-Henrique, então T/egado i la^
tere , havia de obedecer , e todo o feu Bifpado i
Igreja Romana em tudo. Com a vinda de Marjo^
feph fe dividio o rebanho do Malavar , feguindo
a maior parte dos CaíTanares , (aflim chamáo aos
Presbyteros , que íó veftem íiloiras , e camizas co-
mo todos, e tem pordiftintivo dofacerdocio hum
pedaço de panno branco , como meio efcapulario^
prezo á parte pofterior do coleirinho da camiza )
e povo a Mar Abrahão , que foi prezo , e remetti-
do para Roma. De Moçambique fugio para Baby-
loDia; mas coníiderando melhor o negocio em Or-
muz j caminhou para Roma y onde o recebeo be*
pignamente Pio IV, a quem promecteo obediên-
cia por íi 9 e por todos os Malavares j fez nova
proteftaçâo daFé, e julgando- fe nenhum o feu fa-
cerdocio y foi em Roma ordenado Presbytero , e
cm Veneza fagrado Bifpo. Entretanto Mar Jofeph
no Malavar enfinava os erros antigos contra o que
jurara em Lisboa nas mãos do Cardeal , e em Goa y
chegou Mar Âbrahâo com Breves do Papa , e re-
commendaçôes para o Arcebifpo^ e Vice-Rei, po-
rém eftes ^ que o conhecíáo melhor y o prenderão
no Convento de S. Domingos de Goa por ter en-
ganado o Papa na proteftaçâo da Fé y na qual ha*
vendo de dizer y que o Verbo havia tomado a na-
tureza humana y poz outra palavra Syriaca y que
fignifica peíToa, e ao mefmo tempo prenderão tam-
bém Mar Jofeph , e o mandarão para Roma , on-
de acabou a vida y o que fabenao Mar Abrahão
por t^m Malavar efcravo do Convento y. confe«
guio que eíte lhe déífe fuga em quinta feira fanta ^
Q^ii e foi
(184)
e foi recebido em Augmale com fumma alegria j|
que durou pouco tempo , porque fabendo o inten-
tava prender o Bifpo de Cochim , fe retirou para
a ferra , onde ordenou outra vez nullamente os
CaíTanares, que tinha ordenado antes de ir a Ro-
ma 5 e pregou a herefia Neftoriana. O Papa , e o
terceiro Concilio de Goa o obrigarão , com íalvo
conduto y a aíGftir nelle , onde fez íimuladamente
nova proteftação da Fé , confeíTou os erros , pro-
metteo emenda , e entrega dos livros , e lançar vi-
nho no calis , que entregava aos Presbyteros , por
cuja falta erâo nullas as Ordens , e foi neceíTario
conferir-lhas terceira vez ; porém tanto que fahio
do Concilio , efcreveo ao Patriarca de Babylonift
huma carta , em que lhe dava conta do que fucce«
dera em Goa , a qual veio parar ^s mãos do Bifpo
de Cochim, e no mefmo tempo chegou ao Mala*^
var Mar Simeão , dizendo vinha fucceder-lhe por
ordem do Patriarca deBabylonia; e como o favo-
recia a Rainha da Pimenta , íe vio Mar Âbrahão
nos termos de fugir : valêrão-lhe porém alguns
Miflionarios , que perfuadirão a Mar Simeão Tofle
a Roma , onde foi conhecido por herege , e remet-
tido a Portugal para acabar prezo no Convento
de S. Francifco de Lisboa , o que fe executou. Mar
Ábrahâo livre de oppoíitores enfinou todos os er-
ros antigos pilblicamente y não quiz aíEftir ao quar«^
to Concilio Prov^inciai de Goa 9 e queixando- fe os
Padres delle ao Papa Clemente VIII, ordenou efte
ao Venerável Arcebifpo Primaz D. Fr. Aleixo de
Menezes , da Orikm de Santo Agoftinho ,«deva«
(aíTe delle ^ e oifrendeífe ^ o^ue não pode coníc-»
( »80
gutr 9 porqne lhe fíigio para o in terror da ferra, e
o Venerável Primaz por milagre não perdeo a vi-
da* Morreo odefgraçado Mar Abrahâo herege fem
íe querer confeíTar na hora da morte , nem obede-
cer ás admoeftaçóes da Papa, e do Primaz. Mra^
hão Bifpo de Care nafceo em Cir, onde foi Mon-
ge , e tão penitente , que muitos annos efteve pa«
ralytico^ Recuperou miiagrofamente afaude, e pa-
ca agradecer a Deos eíTe beneficio foi com alguns
Gorapanheiros aífiftir em hum lugar chamado Liba-
po y cujos moradores apenas tinháo a femelhança
exterior de homens. Fingio vinha comprar nozes,
de que havia iiaquelle íitio abundância grande , a-
lugou huma cafa ^ onde cantava os Oíficios Divi-
nos, a cujos ecos vierâò os moradores irados pro-
telar- lhe fahifle do lugar com os feus companhei-
ros. Nefte tempo chegarão os Miniftros da Juftiça
a pedir os direitos, que pagavão todos , e achan-
do-os fem dinheiro , quizerâo prendellos. Âcudio
Abrahâo , e pagou por todos , que ficarão pafma*
dos , rogando*lhe quizefie ficar naquelle íitio , e
governallos. Coníentio com a condição de que na-
quelle íitio fabricaíTem huma Igreja ; e vendo-a
brevemente acabada , lhes diíTe buícaíTem Sacerdo-
te para ella. Clamarão todos , que fó a elle que-^
(ião, e com effeito os dirigio trez annos. Deixou
g Paroquia a hum dos companheiros , e retirou- fe
para a fua cella , donde o tirarão para Bifpo de
Care , Cidade grande , e qnaíl toda de idolatras.
Em todo o tempo do feu governo. não comeo pão,
nao bebeo. agua, nem ufou de outro alimento mais
que frutas, e hervas cruas depois de rezar Vefpe*
. Tom. Vir. Ctiii ras.
( x8é >)
ffls. Foi éfpfiçifil «m .pacificar difco^dias ^^ inorreo»,
na Corte do Empcf ador Theodoro j que o chamou
para o venerar i e lhe aíEftio ir exéquias com êb
Emperatrizes;: oíeu corpo foi trasladado paraCa^*
re 9 e a íua fefta fe celebra a 24. d|e Ferereiro«. JÍ^
hrabamios y ou Abrabawitas j foi htuíia ièita de he^
regea, que renovarão aidos Paolianiftas, cujo Âu-<
thor foi Paulo de Samofata, que negavao aOivicH
dade em Chrifto. Abrabem Gervi foi hum Moura
natural de Guerva no /Reino ^de Tunes ^qiie riria
com opinião de.farita entre QSronfraeemGuadiKt^
quando os Re»$ Gatholtcos. oercárâo> Málaga. Jiitt'*
tou quatrocentos companheiros iguaes na detecmiM
nação de morrerem y ou livrarem Málaga dofitio^
e com effeito huma manhã romperão o exercito
Catholico j e entrarão duzentos em Málaga depois
de mortos os outros duzentos» Abrahem de cafo
penfado fe entregou prizioneiro y e pedio queria
dizer ao Rei hum fegredo de importância. Eftava
elie, e a Rainha dormindo a fefta y e por ido o re^
colherão na tenda immediata^emque eftavâo Da«
na Beatriz de Bovadilha^ MarquezadeMoia^ Do-*
na Fiiippa, mulher de D. Álvaro de Portugal ^ fi^
lho do Duque de Bragança y e com ellas D» Alra*
to ricamente veftida 9 como também a Marqueza^
deíorte que julgando o Mouro erão eftes osRerr^
deo huma grande cutilada a D. Álvaro na cabeça^
e parecendo-lhe feria mortal, enveftíoaMarqueza^
a tempo que pelas coftas o fegurou Rui Lopes dá
Toledo, Thefoureiro da Rainha, e acudindo geiH
te foi defpedaçado.^ Acordarão os Reis,, vierão oa
Cabos da exercito , pazerâa os pedaços do Moiií*'
* * * <«
( 187 )
fo em hum trabuca ^ e os lançirío dentro da Pra-
ça , onde os embalfamárão para relíquias , e em
defpique matarão logo hum Chriftâo ^ cujo cada-
rer em hum jumento veio parar naiarraial. Defde
então fe inftituio que guardaíTem a tenda dosReift
de Hefpanha quatrocentos nobres de Aragáo , e
Caftella. Abrantes y povoação nobre, e antiga def-
te Reino , fundada pelos Gaulos Celtas , chamada
cm outro tempo Aurantes por cauía do muito ou-
ço , que as aguas do Tejo alli traziâo , foi Praça
forte , cujo Caftello não pode efcalar Âben-Jacob
filho de Miramohm Rei de Marrocos. D. AíFon-
íb y deo o titulo de Conde de Abrantes a D. Lo-'
po de Almeida , filho de D. Fernando de Almei«*
da. Alcaide Mòr 9 e Senhor de Abrantes <, e o po&
fflirão feus defcendentes até o tempo do Senhor
Keí D. João y 9 que mudou o titulo do Marques
de Fontes no de Abrantes. Filippe ly nomeou Du-**
que de Abrantes a D. Affbnío de Lancaftro , que
não teve effeito. Abroibôr^ derivado do Latim ape^
n óculos , e do Portuguez ahrt os olhos , são huns
penhafco^ pouco fora da agua j e muito agudos
entre a Ilha de Fernão de Noronha , e a cofta do
BrazilV>do qual diftâo £ncoenta \tguzs. Abrnzzo ^
9U Abruffoj em Latioi Jlprutitmi ^ hè huma Pro^vin^
cia do Reino de Nápoles entre Pnlla , terra de La*
vor 9 o efiado Ecclefiaftico , e o golfo de Veneza t
he pais fertiliílimo , efpecialmente dieiaçafrãor ^
Jíbruz%uir , oia Pir Èruzur j nome na melhor of>i^
ffiião inventado, que firaiifica fanto agrefte y foi hnni
embufteiro natural da Europa, cuja patrra fe igna^
gã^ o qual .aportou em Bengala, no anno de 16^03
ca-
(«88)
c^foii êm diverfas terras, e deixando finco confor-*
les pejadas, fugio para Árracâo, Reino, de cujos
coftiimes , e agouros eftava bem informado. Per-
fuadio facilmente aos habitadores era hum fanta
muitos íeculos antes promettido áquelles povos
com poder eipecial para frutificar as fearas, depu*
zerão o Rei, e não fó oacciamdrâo, mas também
lhe offerecêrâo facrificios , c elle para maior vene-
ração os aceitava de noite feitos pelas donzella^
nais formofas* Alguns julgao era magico iníigne^
outros melhor, que tinha grande fciencia da agri»
cultura , porque nos finco annos do fcu governo
derão as terras frutos com tal abundância , como
nunca antes , nem depois fe vio , e confta que pa-
ra iíTo em diverfas Luas maúdava preparar cinzas
de muitas arvores, e folhas efcolhidas , que redu-
zia a polme com agua , e comimuitos facrificios,
ceremonias , e enfaimos mandava repartir pelas
terras antes de femeadas. Acabados os finco annos,
com hum incomparável thefouro fugio para Bea«
gala, e logo para Ho\\anda.\/íbfalão j filho de Da.
vid , e de Maacha , filha de Tolomai Rei de Get-
iur , era irmão de Thamar , filha de David , a quem
violou feu irmão* Ámon , £lho de outra mãi. Sen-
tido Ábfaláo deíb sâFronta , convidou todos os ir?*
inãòs dous annos depois para humbanqiieiíe tiaítia
herdade , quando fe tpíquiavão as ovelhas ^ e no
fnqlhor.delle mandou tirac a vida a Âmon pelod
fws criados. Fugio para Qeífur , onde efteve trez
annos em caía de 4eu^avâ,'aréqne Joab lhe alcaQ-»
çou licença para viver na íha>cafa fcm apparecec
fia prefença de David , que. paflado ^empo o ad«t
mit-
Í-- •■
ímíttio i fua graça , de qne elle abufou logo , por-
que depois de fe fazer querfdo do povo, tratando
familiarmente os que vinhão requerer a íeu pai,
diíTe a eftc queria ir cumprir hum voto y que fize-
ra no defterro , e chegando a Hebron , íe fez ac-
clamar Rei , e quiz logo prender , e matar o pai,
o qual acompanhado de poucos fahio dejerufalem
a pé. Entrou Âbíalâo na Cidade , c com brutal vi-
leza em hum íitio público á vifta de todo o povo
ufou de dez concubinas de feu pai y que elle deixa-
ra para guardarem acafa. Dizia-lhe Aquitofel mar-
chaíTem logo contra feu pai, aquém facilmente ha-
via de deftruir , porém Chufai , a quem David pe-
dira ficafle com Abíaláo para deftruir os confelhos
de Aquitofei j votou o contrario , e com tal ener-
gia ,que feguírâo o íeu parecer , de que afflido Aqui-
tofei fe enforcou , e Chufai avifou a David , que
paflbu o Jordão. Deo-fe depois a batalha no bof-
3ue de Efrdim , foi vencido o numerofo exercito
e Abfalão prodigiofamente , porque forão mais
os que tragou aterra no tempo da batalha, do que
os mortos i efpada. Abíalâo fíigio montado em
hum macho , e paíTando por baixo de hum carva-
lho denfo, fe lhe enrolarão oscabellos de forte nos
troncos , que ficou pendurado : aílim o virão mui-
tos foldados , e o não quizerão matar , porque o
Santo Rei David ^ quando expedio o exercito , re-
commendou a todos não fizeífem mal algum a feu
£iho ; porém o General Joab fabendo onde , e co-
ino eftava , lhe cravou trez lanças no coração , e
vendo os feus homens de armas que ainda palpita-
ira^ o acabarão de matar ^ e lançarão o cadáver em
( tço )
hiima grande cova do bofque , c fobre elle muitas
pedras. * Hoje nâo ló'eftá a cova tapada , mas fo-
bre ella hum monte de pedras digno depafmo, por*
que defde que ifto luccedeo até o prefente todas as
peíToas , que pafsão por aquelle fitio , amaldiçoâo
Abfalâo , e lanção huma pedra fobre o lugar , em
que eftá fepultado. Eu fallei com Catholicos pioS|
que forão com afto reflexo para obrarem o contra-
rio y mas chegandq ao lugar j donde o precipita-
rão y fe enfurecerão y amaldiçoarão Âbfalão^ e lan-
çarão muitas pedras fobre o monte delias y que o
cobre. Foi o homem mais gentil , de melhores y e
maiores cabellos naquellefeculo, osquaes tofquea***
va huma vez cada anno y e pezavão duzentos íiclos :
elles forão caufa da fua morte y que parece lhe va**^
ticinou muito antes o coração , quando erigio no
valle do Rei huma groíFa columna , que fe confer*
va para memoria do feu nome y porque não tinha
filho herdeiro. Jofefo diz, que deixar» trez filhos^
ehuma filha chamada Thamar, que cafou comKo-
boão y filho de Salomão y e foi mãi do Rei Abias.
Jlbjiinentes foi huma feita de hereges no terceiro fc-
culo , que participava dosGnofticos, eManiqueos:
dizião que as carnes forão creadas pelo demónio^
€ por iíFo as não comião , reprovavão o matrimo^^»
nio , e dizião que o Efpirito Santo era creatura.
Abfyrtides são duas Ilhas no golfo de Veneza. Oà
Geógrafos modernos querem que a maior delias fe-»-
ja a antiga Abforis , que hoje fe chama Ofero , e
depende da Republica de Veneza com Cidade Epif-
copal fuffraganea do Arcebifpo deZara em Dalma*
cia^ e a outra ^ a que fe chama Gherfo^ tão vizinha
da
( '90
da primeira , que fe commiinicâo por hiima ponte.
jlhubeqtier foi o primeiro Calife , ou fucceíTor de
Mafoma feu genro , o qual na hora da morte no-
meou Ali marido de íua filha Fátima, dizendo era
íknto 9 e que o Anjo lhos tinha nomeado para de«
fenfores do Alcorão , fe bem difle logo que Abu*
bequer, Ornar, eOfmâo erâo iguaes na fantidade^
e o primeiro, porfer mais poderoío , foi eleito pe-
lo exercito com violento beneplácito dos outros.
Ali defgoftofo foi governar a Arábia , Ornar a Per-
fia , Oímão Africa , e Egypto , c Abubcquer AíTy-
ria , Babylonia , e mais Provincias , conforme dif*
puzera Mafoma no feu teftamento : todos compu-
7eráo versões , e interpretações do Alcorão, de que
feoriginárão diverfas, eridiculas feitas. OsPerfas,
que feguem a de Ali verdadeiro fucceífor , julgão
por hereges os fequazes das outras , e abominâo
os fobreditos Califes. Academia he nome , que ge-
ralmente fe dá ao lugar , em que florecem as fcien-
cias , ou artes , e a todo o ajuntamento de homens
doutos, que efpeculão, enGnão, eadiantão asmef-
mas artes , ou fciencias. Os Gregos forão os pri-
meiros inventores delias , e caufa de que os Ro«
manos , que forão feus difcipulos , fundaíTem de-
pois muitas , a que também na Europa chamarão
Univeríidades , deixando o nome Academia como
próprio fó para as Juntas dos homens doutos, que
não enfínão difcipulos, efó cuidão no adiantamen-
to das fciencias , artes , ou verdade das hiftorias
com os eftudos, e efcritos. Acadia he huma Penia-
fula grande na America feptentrional na cofta do mar
de Canadá entre efie , e o rio de S, Lourenço : tem
I*
l.» .- -
X ^9^ )
quafi cem léguas de circuito , foi dos FrancezesT^
depois dos Inglezes , que lhe chamarão nova Efco-
cia, e a cederão aos Francezes na paz de Breda , e
lha tomarão na ultima guerra. Acapulco he huauí
Cidade da nova Hefpanha na America feptentrio*
nal dillante quaíi cem léguas da Cidade de Mexi*
CO. Os Hefpanhoes , que vão para as Ilhas Filippi-
nas na Afia, deíembarcão em Vera Cruz no golfo
de México , paísão a Acapulco , e tornão a embar-
car em differentes galeões fabricados naquella cojf-
ta , e dalli navegão para o Occidente para chega^
rem ao Oriente : tem hum Caftello forte ^ e bom
furgidouro ^ mas he o porto mais caro de toda a
America , porque difta muito donde recebe os vi--
veres. * Acapulicor chamarão antigamente os Sy-
ros , e Paleftinos á celebre cova vizinha do monte
Oreb, onde fó entrarão Monges de conhecida ían-
tidade , e nunca diíTerão o que lá virão. Alguns
preparados com muitas penitencias , e jejuns ttta
entrado na primeira fala , donde retrocederão che-
ios de horror , mas ouvirão neífe pouco tempo mu-
íica ^ que lhes pareceo do Ceo : os Monges fcifma*
ticos lhe taparão a entrada com groíTo muro. ^
Acchartar chamão os naturaes do Indoílão ás caça-
das dos porcos montezes : lanção nos matos mui»
tos anzoes grandes com carne prezos a cordas , oa
cadeas, eeftas a hum páo forte de trez palmos re*^
dondo , come o porco a carne com o anzol , engo-
le acadea, ou corda, e não podendo engulir opáO|
recebe a cadea , e puxando y cahe atormentado da
dor, que lhe caufa nas entranhas o anzol, acodem
os caçadores , e íem perigo o matâo.
I.ISBO A, Na Oíficína de Miguel Manefcal daCofta, Impreflbr d^
( '93 )
CONFERENCIA XVII.
Ccaren qaer dizer deos das mofcas , que
também fe chamava Beelzebut, que fígni-
fica o mefmo , e com efte nome ultimo o
adoravâo os Âccaronitas , e os JuJeos :
era Júpiter enxota mofcas o feu verdadeiro nome,
porque fingirão os Gentios antigos que facrifican-
do Hercules em Oiympia , o perfeguírao as mof-
cas y porém Júpiter , a quem invocara , as fez reti-
rar para a outra parte do rio Âlfeo. Accolti he
ibbrenome dehuma antiga familiadeTofcana, que
$eve dous Cardeaes doutiíEmos , e hum parente de
ambos chamado o Príncipe dosjurifconfultos Fran«
cifco Accolti de Ârezzo , porém tudo efcureceo Ben-
to Accolti , que foi cabeça da confpiraçâo contra
o Papa Pio IV , para a qual induzio o Conde An*
tonio Canoífa , e outros Fidalgos , promettendo
4ividir as terras da Igreja entre todos, Dcos livrou
o Papa^ e deícubrio a conjuração, pela qual forâo
juâiçados. Acurjio foi hum dos íinco Santos Mar-
tyres de Marrocos difçi pulos de S. Francifco , e
floriofas primicias dá Ordem Seráfica. Ainda que
#eigo 9 o mandou S. Francifco com os Santos Be-
rardo, Pedro , Adjuto , e Othão pregar a Fé entre
os Mouros de Africa. Derão principio á mif^âo em
Sevilha 9 entrarão na mefquita a tempo, que eftava
cheia , e receberão de todos as maiores aâFrontas,
Dalli forão pregar ao Rei, que os mandou matar ,
e lhes perdoou por iaterc^ísão dç hum filho. Or-
. Tpm. VII. R de-
(196)
Hum Blfpo , que então o vifitou , lhe confcrío to-
das as Ordens, o que elle confentio , porque fabia
lhe reftaváo poucos dias de vida, * Paleceo oran*
do y e aflim o acharão : foi fepultado no valle vizi-
nho j chamado depois Acepíimas j quizerâo trasla»
dallo para hum Mofteiro vizinho , e nunca acharão
ofepulchro, não obftante apparecerem de noite lu-
zes fobre cWc. Gabriel Timotbeo Viagem da Syria^
Egypto , e Palejlina. Acemo , ou Aderno , Cidade
pequena do Reino de Nápoles , diftante quatro le«
guas de Salerno , da qual he fuffraganeo o feu Bifpo^
não tem muralhas , e eftá íitoadt em hum valle cer-^
cado de montanhas* O mefmo nome , ou Cerra ^
chamarão os Romanos á terra de Lavoura noRei->
no de Nápoles fobre o rio Âgno , planicie dilata-
da 9 e fertiliíCma diftante quafi trez léguas de Nt<^
põlès, aquém he fofiragaiièo ofeu Biípo compoa«i
cas ovelhas. O mefmo chamarão os Romanos ao
vafo 9 em que guardavão o incenfo ^ e perfumes pa-
ra os Ídolos y do feitio de barco , a que a Igreja
chama naveta. Acah , Rei de Ifrael , filho , e fuc-
ceflbr de Amri , foi o peior de todos os Principes
daquella Monarquia. Cafou com Jezabel , filha de
Echbaal Rei dos Sydonios, que operfuadio a edi-
ficar, hum templo com bofque , e adorar Baal, ifto
he^ Júpiter , deftruindo ao mefmo tempo^ os Alta^
res do verdadeiro Deos , e matando os^^Sacerdo^
tes 9 dos quaes fugirão cem Profetas , que Abdias
Mordomo do Rei efcondeo em duas covas. Santo
Elias pedio a Deois cafHgaíTe o Reino com ífecura^
di0e a Acab não havia de chover iem elle o or^.
deoir^ e) rçcirgu^ic» Paffados tre^ axinos^ lhe orde^
DOU
ki,. . 4
( 197 )
noa Deos fé prefenttfle to Rei \ com o qnal ajuf«
tou fe fizeflem dous facrifictos no noonte Carmelo
diante de todo o povo y hum pelos Sacerdotes de
Baal y outro por elle , e fbfle venerado o Deos y cu-
jo facríficio confumifle o fogo. Fizerâo o primei-
ro facrificio os Profetas , e Sacerdotes de Baal , e
feus bofques ^ que erão oitocentos e fíncoenta , com
hum boi defpedaçado fobre a lenha clamarão det*
de a manhã até o meio dia ; e vendo que não dei*
da fogo ) fe ferirão com lance tas em circuito do
facrificio. Levantou então Elias outro Altar , poz
fobre elle o boi %m pedaços , lançou grande quan«
tidade de agua trez vezes fobre tudo y orou , def*
ceo fogo do Ceo y e confumio até as pedras y e
agua. Confeflbu então o povo o feu erro , e por
ordem de Elias prenderão todos os Profetas de
Baal y que matarão na torrente de Cifon. Promet-
teo logo Elias a Acab chuva copiofa , que alcançou
de Deos orando no alto do Carmeio. Paífado pou*
CO tempo y veio Benhadad Rei de Syria íitiar Sa-
maria , mas Acab o venceo , e obrigou a pedir a
paz. Defejou pouco depois Acab huma vinha de
Naboth y que lha não quiz vender , mas a Rainha
Jezabel o fez accuíar falfamente de blasfemo , e
morrer apedrejado y ao que fe feguio gozar o Rei
a vinha ^ pelo que Elias o reprehendeo da parte de
Deos y e lhe prognoílicou que no mefmo íitio y em
que os cães lamberão o fangue de Naboth y havião
de lamber o feu 9 e comer Jezabel. Trez annos de-
pois teve Acab nova guerra com o Rei de Syria y
e provocou a Jofafat Rei de Judá para ella : qua-
trocentos Profetas falfos lhe promettêrão vi£lo-
Tom. VIL Riii cia^
( 198 )
•
ria ) porém Miqueas , Profeta do Senhor ^ a queoi
chamou Jofafat , lhes diiTe intrépido que Acab mor-
reria nefta guerra , pelo que o mandou prender
com intento de o matar, quando vieíTe triunfante;
porém morreo na batalha atraveíTado com huma
fetta , foi conduzido para Samaria o cadáver no
coche de campanha , que lavarão os criados em hu-
ma piícina junto a Jezrael , e os cães lamberão ro«
do o fangue , que delle correo. Achata , Província
aífim chamada de Âcheo , neto de Deucalião , que
defterrado de TeíTalia fe apoderou de todo o Pe-
loponezo, e teve deCreufa, filhando Rei deAthe-
nas , a Acheò, e Jon , efte, que deo principio aos
Jonios , aquelle aos Acheos. O melmo nome teve
fempre huma grande parte de Grécia , a que Pto*
lomeo chama Hallas , e fe compunha das Provia-
cias de Beócia , Attica, Megarida Focida, Eólia ^
Locrida , e Dorida. Achata propriamente he hum
paiz de Peloponezo entre Sycionia , e Elida , foi
a antiga Republica dos Acheos , cuja Corte era
Pallene , e as outras Egira , Eges, Bura, Hélice ^
Egium y Ripes , Patras , Fares , Oleno , Dime,
Tritea. O mefmo nome teve o Peloponezo todo^
quando os Romanos fujeitárâo Grécia. A primeira
Achaia fe chama hoje Livadia , a íegunda Claren»
cia 9 e a terceira Morea , a qual foi dos Duques de
Sabóia , dos de Anjú , dos Venezianos duas vezes ^
e duas dos Turcos j que hoje a pofluem com toda
a Grécia. Achachica , ou Achacica , Cidade do Rei*
DO de México , tem minas de prata , e difta da Cí-*
dade dos Anjos dezoito léguas. Achan^ ou Achar ^
kgundo Jofefo > do Tiibu de Judá ^ e família de
Za-
C '99 )
Zare , ãffiftio i conquifta de Jericó , onde furtou al-
gumas coufas do faque contra a ordem expreíTa de
&eos , que em caftigo permittio logo foliem der-
rotados trez mil homens, que Jofué tinha manda-
do a expugnar a Cidade deHai. Revelou Deos ao
Venerável General o motivo da perda , e fiiga do
exercito , mandou efte lançar fortes nos Tribus ,
6milias j e peflbas , fahio Achan condemnado , e
confeífou furtara huma capa efcarlate , duzentos
ficlos de prata , e huma régua de ouro , que tudo
eftava na terra da fua tenda eícondido , pelo que
elle y fua mulher , e filhos forâo logo apedrejados
no valle de Áchor , e queimado tudo o que lhes
pertencia. Ficou Oeos fatisfeito , e rendeo-fe Hai
com morte de doze mil dos feus defenfores. Acbar^
tOj oviSantoAicnrio ^ procedeo de huma familia no-
bre do Poitú. Na idade de dezoito annos profeífou
a vida Monaílica na Abbadia de S. Jovino , todas
as fazendas, que Ihederâo parentes para oíeii tra-
tamento , e decência, doou á Igreja de S.Pedro de
Quinçai , donde S. Filiberto Abbade de Juroieges
]he havia mandado alguns Monges. Para efta Igre-
ja fe mudou pouco depois Santo Aicario, e foi elei-
to Abbade delia em tempo que a Communidade
conftava de norecentos Religiofos , e mil e qui-
nhentos criados , familia aíTás grande , e que elle
governou com paz , e fantidade (empre aré que
roorreo no anno de 687 nos feifenta e trez de ida-
de. Achates , rio de Sicilia , chamado hoje Il-Dril-
lo , que corre pelo valle de Noto , e entra no mar
de Africa , féis milhas da teria nova para a parte
deCamarana ^ he o que julgarão os antigos era
pa-
( 100 )
pátria das pedras chamadas Ágathas j porque nellã
íe achou aquella celebre , que foi aprefentada a
Pyrrho Rei dos Epyrotas , em que jMturalmeote íe
vião efculpidas com ApoUo as novtf.Mufas. Jcbasi^
Rei de Judá j fuccedeo a feu pai Joathão : no prin*
cipio do íeu governo foi leal aDeos, que lhe pro*
metteo por Ifaias huma vidoria y que alcançou de
Razim Rei de Syria. Adorou pouco depois Achaz
todos os ídolos do Gentilifmo , aos quaes oíFere»
ceo immundiíEmos facríficios j e purificou gentili»
camente feus filhos , paíTando-os pelo fogo. Cafti*
gou*oDeos com guerra, na qual ovenceo Razim,
ou Razin Rei de Syria , e Faceo , ou Facee Rei
de Ifrael : eftes cercarão Jeruíalem ; £ rendo que a
nãopodiâoefcalar, Razim matou innumeraveisju-
deos, tomou algumas Praças ^ c recolheo-fe a Da-
mafco com os defpojos. Então julgou Achaz podia
oSerecer batalha a Facee y na qual foi vencido y e ,
mortos vinte mil Judeos* Obâinado com efta per-
da , fe offereceo por tributário a Theglatphalazar
Rei dos AíTyrios y e para o obrigar mais a que o
foccorrefle y lhe mandou todos os thefouros y e ri-
quezas do Templo, e do feu Palácio. Theglatpha-
lazar conquiftou Damafco y matou o Rei Razim,
cativou os moradores y e entrando como inimigo
nos Tribus de Ruben y Gad y metade de Manafles , '
Nefalim, e grande parte de Gahlea, levou cativos
para Aflfyria os Ifrael i tas y fez graves damnos no
Reino de Judá, e deixou Achaz tributário por for«
ça, tudo caftigo deDeos, que mifericordiofamente
lhe mandara prometter antes a vidloria por Ifaias ,
O qual lhe deo por final a Encarnação do Verbo*
Gref*
( ^OT )
tirefceo de forte a obftinaçâo de Âchaz , que or-
denou úo fummo Sacerdote Urías mandafle fabri*
cai* em Jérufalenfi hum altar para os idolos , como
o de Damaíca , donde lhe enviou o modelo , e achan-
do-ò acabado , oíFereceo fobre elle facrificios. Do
jitetal. do Âkar de Deos mandou fòzér iium reló-
gio y' fechou: o Templo de Jerufalem f. e ordenou
que efti todos ^'os 'íitK>s da Cidade edíficaíTem alta-
res ao6 idolos de todo o Gentiliímo , até que Deos
lhe tirou a vida fetecentos e Tinte ^ féis annos antes
do ]Aú{ciw!^VíiO'yét Qhri&o. Jthrírofoeta^ht nome
dé hiAuâ Imageiíi dé:>Chrifto Sdnhor noíTo-, que.fe
Íruiirdia eilidadoAiniiente em-Roma haBaiilioa deSâo
óio de Latráo y e dizem, que fora debuxada poc
S. Lucas , e acabada pdos Anjos : deriva- fe eftã
palaíirfa de ootrf^Grejga^^ que quer dizer: O que não
fri feito por mão do bopiem. * Reprefenta cfta.pintu-
tura o Salvador do inundo na idade de doze annos.
Fr. Alberto da Ordem dos Pregadores no livro do
tCofarío diz , que a Virgem Senhora perfuadíra a
si Lucas a fizefib , e queefte preparado o panno^
Í6 pnzera em oração' , pedindo 'ao Senhor Ihé dirir
gifle a mão de forte , que fahiífe femelhante ao ori-
j^itial, e que vindo depois da oração dar princípio
á obra , a achdra feita pelos ^ Anjos , pelo ^ue nof^
íii' Senhora confervtfra- fempre efte painel na íua cia-
inèra , diante do qual orava% Os Stwnmos Pòntifir
ces , e povo Romano íe tem valido muitas vezes
defte Santiflimo retrato, e recebido delle prodigio-
sos beneficios. Eftevâo- II no anoo de 7.52 o levou
defcalço em Procilsâo a-SantaMai^aMáibr, e>CDnp>
íeguio areftauração' dq PiiacipadÀ deRav&na y Dui»
ca-
ctdos de Ferrara y t Urbino j que o Rei Aflolfa dé
Lombardia havia ufurpado á Igreja. ACapeJla, em
que fe guarda íeparacja totalmente da BaíTIica , íbí
algum dia a do Palácio Lateranenie ^ que ultima
mente reftaurou Xifto V: chamava-fe deS.LoureiH
çOy e hoje do Salvador: fóbe-fe para ella por três
eícadas, e a do. meio, que tem viot^ eoitodegráof
de mármore branco , he a mefma ^ por onde lubiq
Chrifto bem noíTo em cafa de Pilatos , ê no oitavo
degráo fe coníerva o final de hnma gota de fangue
do Senhor 9 que nelle.cahió ^iTeíguardado com n\h
ma rede de ferro :íòbem pórella todqsdejpelhos^
e dèfcem pelas dos lados part lucrarem Indulgen*
cia plenária em cada degráo. Celebra nella os O^
£cios Divinos em dia de S. Silveftre o Cabbido Ijh
teranenfe , e todo o aono a CoUegiada , que mftí^
tuio Xifio V. Em outro tempcti a* Tcrviâo y e guar*
davâo doze Cavalheiros Romanos com o titulo de
Recommendatarios do.Santiífimo Salvador , hoje a
Confraria do mefmo titulo , que inftituio João XX
com a fuperintendencia ' do Hofpital de S« Joáq de
Latrâo y e padroado de trez CoUegios de Roma^
em que aprendem todas as fciencias quarenta e oi»
to CoUegiaes y além das muitas caías y que dão a
viuvas para aíCftirem , dotes a orfans , e o privilcr
gio de livrar hum condemhado á morte a is de
Agofto. Achem y, Cdrte do Reino deftenome ao Sul
da Ilha de Sumatra y pais fértil de adubos y como
toda a índia do Cabo de Comorím até á linha y tem
bom: porto , e commercío y e hum notável Caftello ^
que he a Corte y ptírque tudo o mai&sáo caías d«
carro entre acvoces : difta quatrocentas milbas de
Ma-
( ^05 )
jffakca, e quarenta de Písdir, mi!; hoje os Remos
de Pacem j ^ Pedir sSo dependentes y e feudatarios
tSò Achem , <]ne já (oi mais poderoíb , porque no
decimo fe^to feculo nòs fez guerra muitas rezes
com duzentos navios ^ feíTenta galeras , e em tudo
feStnta mil homens ^ privon-nos do forre de Pa*
íceili,' e fition Malaca algumas vezes. He digna de
ihemoriá hnma peça de artilharia , q«ie eíte Rei
mandou de prePente haquelle tempo ao Rei dejor^
com quem êftãva defpofada fua filha ^ oija perfei*
iç&o excedia a tudo o que Te tem viik) na Europa :
nós a tomátnoi^ y é perdemos em Malaca. ^ Hoje
"não obítante as chamadas grandes conquiftas defte
Rei) apenas fem vinte embarcações de remo j e pe«
«ueoas. Jvbi/eay por outro nome Lence, he huma
Ilhaf do Ponto Euxitio die figura triangular fituada
entre as bocas do Danúbio j e do Boriftenes defron*
Te deCherfonefa Taurica: nella deícançou Aqnilea
lom a fua frota , e tomou o nome deftè heroe , cu^
já alma com 'a de Âjaces, e outras defcançavâo na«^
quelle fitio , rdfíTe o Gehtilifmo) vifitavão os na^
veganteS) e obravão milagres. O mcfmo nome te-
ve huma fonte de Mileto , cuja agua naícia falga^
àa y e na corrente era doce y aflim chamada , por-
que nella fe lavou Aquiles. O mefmo chamarão a
hum Caftello junto de Efmirna , a hum porto de
mar perto deTanagra Cidade de Beócia y outro de
Xaconia , e a huma Cidade , e Promontório da Sar-
macia Afiatica. ÂchileOy Santo Martyr y Diácono da
eja xle LeSo de Fnmç» ^-^eio comPoritiniito^j.e
élis pregar cEniangelhoa Valença dç Hefpanha^
forio prozos^ e encar oerados y íoltoa «pôr bum An-
( ao4 )
jo /derribarão com ajua oração imiitos ídolos 9 pe-
lo que forao degollâdos : bs íuas Relíquias fe vene<r
râo em Áries 9 e a Igreja celebra a 23 de Abril a
fua memoria. Achileo , General dos exércitos Ro-
manos emEgyptO) fe rebelou contra o Emperador
Diocleciano y^, ufou do titulo 9 e dignidade Impe-
rial na maior parte daquella Prpvinçia > até que
Diocleciano o fitiou oito mezes na Cidade de Ale»
xandria, e caftigou a fua loucura» Achileo ^ tNerea^
Martyres do primeiro feçulo ,^ fprão.baptizados por
S. Pedro , e degolUdos ambos oaiperfeguiçâo de
Domiciano. Acbiles j nome de muitos homens. faW
lofos, efó próprio de hum Príncipe Grego, Muíl-
co 9 Poeta 9 Medico 9 gentil y e valcrofo 9 que na
guerra de Tróia obrou grandes proezas, as quaes^
e todais as acções da. fua vida -confundirão ôs Poe-
tas com mil fabulas xiáxcnlas. Achimelecb 9 fummo
Sacerdote dosjudeos, foi morto com oitepta efior
CO peflbas do feu Tribu 9 e habito facerdotal pQt
ordem de Saul 9 porque, deo a David os pães de
propofição9 c A emada deGolia^: não quizerãò os
íbldados 9 ou criaaos de Sanl pèr as mãos. nos . Sa-
cerdotes 9 e fó Doeg Idumeo paíbor do Rei execu-
tou a ordem 9 e na Cidade de No|}e 9 que fó habi-
ta vão os Sacerdotes 9 os matou a todos com mu-
lheres 9 filhos 9 e gado$# , AcbinofL 9 ou Acbinoain 9 foi
mulher de David 9 mãi de Amon, era do Tribu de
Judá9 eCidadedeJezrael, foiprizioneirados Ama^
lecitas 9 e reígatada por Pavia.
maÊÊÊmÊmmwtmÊmÊiÊÈàmmÊmÊmmmÊÊmmmmÊÊmmmmmÊÊmÊmmmmmmimmÊÊmmmÊÊmmmtm •
j:;.ISBO'A , Na Oifidita de Miguel Manefcal da
Çofta , lApreflbr do S. Oficio.. Anno, 1763. .
Cm todas ar licenfos neceffarias.
- ■- n
CONFERENCIA XVIII.
' Jk Cbior foi ham Capitão do exercito defío-
/jk lofernes no cerco de Bethulia , e difle no
_/ m Confelho de Guerra ^ que fenâo devia fa-
zer efia aosjudeos, fem primeiro íaber (e
clles tinhâo oSendido ao feuDeos^. porque tendo*o
propicio, era impoíEvel vencdlòs. ^Aborrecerão de
forte o confelho, que mandarão prender logo Achior ,
e entregallo aos J udeos de Bethulia ; mas como ef-
tçs não confentírâo que chegaíFem ás portas , dei-
xarão os foldados Achior no campo prezo a huma
arvore , a(Em o acharão os efpías de Bethulia j e
conduzido á Praça confeíTou o que diíTera , pelo
que o hofpedárão com mimo em cafa de Ofeas do
Tribu de Simeão. Pouco depois cortou Judith a
cabeça a Holofernes , e moftrando-a a Achior em
Bethulia , cahio efte com hum defmaio j vendo o
íingular prodígio j com que Deos confirmara o que
elle tinha dito no Confelho : recuperado o alento,
£edio a circumcisão, e ficou admittido no povo de
)eos. Jcbis foi Rei deGeth na Paleftina: duas ve-
Ees íe refugiou David nas fuás terras , na primeira
tcmerofo de que o mataífem , fe fingio louco na
prefença de Achis , e na fegunda recebeo delle a
Cidade de Siceleg , que depois ficou pertencendo
«os Reis de Judá , donde fahia a fazer guerra , e
prezas nas terras dos Amalecitas , julgando Achis
zs fazia nas de Saul. Alcançou depois eíle Rei hu«
ma memorável vi£loria de Saul , .que morreo com
Tom. VIL S feus
'( 206 )
feus filhos na batalha , pedindo ao pagem da lança
IhctiralTe a vída*,'infultò qíie fó qiiiz obrar hocn
eftrangeiro, quepaíTava pelo monte deGelboé aca-
fo. Jchmet , primeiro defte nome , Emperador dos
Turcos , não matou feu irmão único ^ como coftu^
mavâo os Príncipes daquella barbara Monarquia, mas
fim depois de lhe fazer rebentar os olhos , o prei>-
deo em huma claufura de Mouros. O Sofi daPerfia
lhe tomou EvTftfXim , e Tau ris , e elle depois de
mandar cortaria cabbça por fincoenta Capiges ao
Bachá de Cigala , porque não impedira eftas con-
quiftas do Sofí , recuperou a Tranfílvania , Vala*
chia, e Moldávia por meio de Boftkai Príncipe de
Tranfilvania ^ que fe tinha rebelado contra o Em<-
perador de Alemanha. Seguio depois as partes de
Bethlem-Gabor contra Gabriel Bathori , fucceflor
de Bofikai ; e vendo-fç perfeguido por todas as par-
tes , levantou quatro exércitos, hum contra osPer-
fas, outro contra os Polacos, terceiro para reíiítír
aos Cofacos , e o ultimo para guardar o thefouro
de Egypto : vio todos com infeliz êxito , e talvez
de paixão morreo ai; de Novembro de 171 6 com
trinta annos de idade , e quatorze de reinado , tem-
po, em que ideava grandes emprezas. Contra o que
difpôe a Lei Mahometana edificou no Hypodromo
praça , ainda hoje de cavalhadas , a mefquita cha«
mada nova , ou do incrédulo , porque não deo cre-
dito aos Doutores , que lhe diziâo íó a podia edi-
ficar depois de ter feito novas conquiftas: he amais
formofa obra dos Turcos com féis mirantes tão altos ^
que parece milagre refíftirem aos ventos. Achmet^
Governador do Egypto ^ tomou Antioquia , deo
Sy-
( 207 )■
Syrvãj e Egypto a feus filhos, fez Damafco Corte
do feu Império, deixou dez milhões de ouro, fete
mil efcravos , outros tantos cavallos , e oito mil
camellos : foi o Mouro mais efmoler , que vio o
inundo , e houve dias , em que deo mil e duzentas
peças de ouro de efmola. Âcbmet , fegundo defte
nome, Emperador dos Turcos, era filho do Sultão
Ibrahim , a quem affbgárão os Genizaros : efteve
prezo em quanto reinarão Mahomet quarto, eSoli*
mão terceiro; porém morto efte, eaquelle depofto,
fubio ao throno , foi muito amado dos vaíTallos, e
feliz o íen governo por defgraça dos Catholicos,
auefò lhe conquiftãrão Grão Varadim , e as Cidades
e Jeno, e Giula, e os Venezianos fe virão obriga*
dos a deixar a Canea , oslmperiaes Belgrado, alem
do que conquiftárão os Turcos a fortaleza de Gara-
buza em Cândia : morreo Áchmet de hydropizía , e
deixou o Império a feu íobritiho Muftafa fegundo y
filho de Mahomet quarto. Jchmet , terceiro do no«
me , Emperador dos Turcos , filho de Mahomet
quarto , começou a reinar no anno de 1703 depois
deíer depofto feu irmão Muftafa fegundo, que íuc*
cedeo a leu tio Achmet fegundo : forão pacíficos
os príncipios do feu reinado até o anno de 1709,
em que fe declarou a favor do Rei de Suécia , que
fe refugiou em Turquia, e lhe pedio auxilio depois
de perder a batalha de Pultavva» Recebeo Achmet
efte Príncipe com tanta lealdade , e afiFe£lo , que
mandou degollar os Vizires , que fe deixarão pei-
tar , ou fe inclinarão a favor dos inimigos de Sué-
cia : hum deftes era o Czar de Mofcovia , a quem
Achmet encerrou com todo o exercito além do rio
S íi Prat,
( 208 )
Prut , e obrigou a ceder-lhe as Praças de AfopK
Tayganroch , Karmenski , e o novo forte fobrcorio
Samar com obrigação de evacuar Polónia logo y e
não fe intrometter mais com os Cofacos. Tal vai*
dade lhe refultou defta fortuna , que logo expedio
huma armada contra Morea , então dos Vene2ia«
nos y e conquiítou a maior parte daquella Penitifu-
la ; porém no anno de 171 6 quebrou a paz corn o
Império , e foi vencido em Hungria a j de Agofto
junto aSalankemeU) deíiftio doíitio deCorfú, per-
deo a notável fortaleza de Temefvar , que lhe to-
marão os Imperiaes , eftes o vencerão no anno fc-
guinte Junto a Belgrado a 16 de Agofto , e rende-
rão efta Praça. Por intervenção de Inglaterra j e
Hollanda confeguio a paz com o Império a 21 de
Julho de 171 8, eapplicou as tropas contra osPer-
ías divididos por caufa do intruíb Sofi Mirivyeis,
que depoz o pai deThamaz, mas antes de marchar
o exercito Othomano y recuperou Thamaz o que
feu pai havia perdido , e oppondo-fe aos Turcos ^
que achou nas fronteiras y matou dez mil em huma
batalha , efcalou Tauris y e degoUou a guarnição
toda. Achmet juntou as tropas , que tinha na Euro-
pa, vinte milAlbanoSy eArnautas, paíTou com el-
las , e a Corte a Bosforo y e chegou até o campo
deScutari; mas em quanto deliberava ofitio da fua
refídencia y e elperava nefte as cabeças de alguns
Bachás , que na campanha antecedente forão culpa-
dos y em ConftantÍQopla hum homem de baixa for-
te appareceo a 28 de Setembro de 1730 na Praça
pública com hum eftandarte defpcdaçado na mão ^
gritando que o feguiflem todos os bons Muíulm»*-
neSi^
MS. Âggregárao^fe-Ihe neíTe dia iriaitos ^ paíTárâõ
a noite feni deíbrdem , crefceo o numero dos fub-
levados no dia feguinte, eveío Achmec com a ma-
ior preíTa focegar a deíordem. Os Genizaros ven-
do a perturbação da Corte , formarão (egnndo le-
vantamento , pedindo as cabeças do Grão Vifir, e
do Capitão Bachá, que fe lhes derão para focegar
o feu bárbaro orgulho , o qual fe augmentou ven-
do que o temião , e paflTando á ultima infolencia j
depuzerão Achmet , que logo prenderão no mefmo
lítio, em que eftava claufurado Mahomet, a quem
puzerão no throno de feu pai Muftafa fegundo , e
reinou com felicidade. Âcboy Rei da Noruega , to-
mou as Ilhas Hebridas dos Efcocezes , e julgando
propicia a fortuna , paíFou a Eícocia com huma ar-
mada de cento e fincoenta navios , expugnou oCaf-
tello de Ayr^ mas foi derrotado por Alexandre III
Rei de Eícocia em huma batalha no anno de 1263
com perda de dous mil e quatrocentos foldados»
Na noite feguinte huma grande tempeftade o fez
arribar ás Ilhas Orçadas com quarenta navios y e
quando na Primavera feguinte intentava perturbar
covamente Efcocia , morreo. Jchomatb , filho de
Cherfechy Soberano deMontevero em Efclavonia,
efkava defpofado com huma filha do Defpoto de
Servia formofidima , quando feu pai lha roubou , e
cafou com ella. Defefperado o Principe, fngio pa-
ra Turquia, e no exterior abraçou aíataMahome-
tana j deixou o nome de Eftevão ^ tomou o de
Achomath j mas confervou fempre no coração a Fé
Catholica, e hum Crucifixo , queoccultamente ado*
irava. O Sultão Bajafeto fegundo o amou tanto |
Tomt VIL S iii qu«
( 210 )
que o cafou com hiima filha , fervio de grande ntt
lidade aos Catholicos j porque falvou as vidas de
innumeraveis Venezianos na conquifta de Morea,
confeguio que o fogro ajuftaíTe a paz com aquella
Republica , refgatou muitos cativos , alcançou li-
cença para que João Lafcaris examinaíTe livremen-
te todas as Livrarias de Grécia , diligencia , a que
o mandou Lourenço de Medicis , pai do Papa
LeãoX, para reftaurar os livros^ e noticias do Im-
pério Grego j que ficarão nelle fepultados com a
entrada dos Turcos. Em fim Achomath falvou Ba-
jafeto na batalha, que perdeo noanno deifii com
feu filho Selim. Achrtda^ ou Ocrida^ a que os Tur-
cos chamâo Giuftandil , he huma Cidade de Mace-
dónia na Turquia de Europa , cujos Bifpos Gregos
fe intituláo Metropolitanos de Bulgária , Servia^
Albânia y &c. porque o Emperador Juftiniano res-
taurou efta Cidade , em que nafcêra , e a fez Me-
tropoli de muitas Provincias em prejuizo de TheA
falonica. Acinipo , antiga Cidade de Hefpanha na
Provincia Betica , foi chamada algum dia Velha-
Ronda , da qual exiftem ainda ruínas junto a Ron-
da nas montanhas do Reino de Granada. Acifchj
Santo Martyr de Córdova , ignora-fe o martyrio,
e circumílancias delle , e fó conAa com certeza o
feftejavâo a i8 de Novembro , e nefle dia produzia
roías o campo, em que deo a vida por Chrifto na
perfeguição de Diocleciano. Acindyno , Septimio
Acindyno , foi Conful de Roma no anno de 3 40
com Valério Proculo no tempo ^ em que Conftan-
tino , filho de Conftantino Magno , foi morto junr
to a Âquilea. Seado Governador de Anthioquia^
( re-
(211)
( refere Santo Âgoftinho ) obrigou com prizao , e
pena de morte a hum homem pobre a que pagaíTe
dentro em breves dias huma libra de ouro ^ que
devia por tributo ao thefouro publico : tinha eAe
mulher formofa, a quem hum Cidadão rico folici-
tou para lhe fazer companhia huma noite, obrigan-
do-fe por iíTo a dar-lhe a libra de ouro para ella
refgatar da morte, eprizâo o marido, a quem ella
confultou , e elle coníentio no adultério. Commet-
tido o infulto j entregou o adultero á mulher hu*
ma bolfa cheia de terra , dizendo-lhe que nella lhe
dava o ouro , que lhe havia promettido ; e ella
vendo depois em fua cafa o engano, íe queixou ao
Governador Acindyno , o qual reconhecendo que
a íua afpereza fora a caufa daquella defordem , íe
condemnou a íi em pagar pelo homem a libra de
ouro, e mandou entregar a mulher o campo, don-
de o adultero tirou a terra para a enganar. Jcma^
das são humas Ilhas do mar Britânico, que muitos
julgarão erão as Hebridas de Efcocia , efião íitua-
das além das Orçadas para o Norte, são verdadei-
ramente féis , porque as outras vinte são huns pe-
nhafcos como o Farelão defronte de Peniche , a ca-
pital he Mainland , e os feus habitadores robuftif-
íimos , de forte que vivem cem annos os que vi«
vem menos. Acoemetos , ou Acemetos , forâo huns
Monges fundados em Conftantinopla no quinto íe-
culo por Alexandre Monge de Syria , cujo eftaruto
era oLaufperenne: tiverao muitos, e grandes Mof-
teiros no Oriente, e hum de mil Monges, e houve
entre elles fogeitos doutiílímos , que le oppuzerão
a Acácio , Patriarca de Conâantinopla ^ quando fe
re-
febelòii contra a Igreja Romana , mas áepois fe*
uíráo os erros de ríeftorio , pelo qne forão coo-
íemnados em hum Concilio ConftantinopolitanO)
e depois em outro Romano pelo Papa João II ^ o
que náo obftante fe propagou muito eila Ordem no
Occidente, e tiverSo grandes Mofteiros em toda t
Europa, que hoje poífuem varias Religiões. Afores
chamâo vulgarmente ás noíTas Ilhas Terceiras ^ no*
me 5 que lhe reíultou da multidão deftes paíTaros,
que nellas havia: também lhe chamarão Flamengas ,
porque hum Flamengo foi o primeiro , que as def-
cubrio. Começarão a fer habitadas noanno de 143 9,
no feu meridiano he fixa a agulha de marear, mof*
trando verdadeiramente o Norte fem vareação» De
cada huma fe dará efpecial noticia : são nove além
de outras pequenas inhabitadas , das quaes fe fub*
verterão já algumas , Terceira , S. Miguel , Santa
Maria, a Gracioía, S.Jorge, Pico, Faial, Flores ^
e Corvo. Acquà delia Mella he hum Lugar do Rei-
no de Nápoles , que tem o aíFento no fim daquelle
deliciofo valle , que produz o generofo vinho de
S, Severino : he notável , e muito por fer pátria do
P. M. Fr. Diogo da Ordem dos Pregadores , que
no Concilio de Florença fuftentou a difputa com
os Gregos. Jcquaviva^ Lugar da Província de Bari
no Reino de Nápoles. Jequi y a que os antigos cha-
marão Aqus Statella , ou Statiella , he huma Cida-
de de Itália no Ducado de Monferrato com Bifpo
íujSVaganeo de Milão, muito celebre pelas Caldas,
que nella ainda hoje íe frequentao em Maio , e Se-
tembro , e merecerão aos Romanos a primeira es-
timação : pertence ao Duque de Mantua y he aoti«^
quif-
("3)
qniíEma , e de grande circuito , porém ficou multo
arruinada na guerra de Monferrato. Acra he huma
das montanhas de Jerufalem , onde eftava o Palácio
do Senado 9 que Tiro queimou: era a montanha do
feitio de hum femicirculo , e Simáo Machabeo de-
pois de expulfar delia os Syrios , gaftou trcz annos
em a demolir , com a fua ruina entulhou o valle
{)roximo , e confeguio que nâo houveíTe fitio caval-
eiro ao Templo. Aqui edificou depois hum Palácio
Helena Rainha dos Adiabenos , e quando os Ca-
tholicos conquiftárão a Terra Santa , fundarão no
inefmo lugar oHofpital de S.Joâo para os peregri-
nos adminiftrado pelos Cavalleiros , que hoje cha-
mamos Maltezes, e então fe intitulavão de S.João
de Acra , nome , que elles depois também derão á
Cidade de Ptolomaida ^ quando lhes foi concedida
para Convento ^ e na qual fe refugiarão , quando fo*
rão expulíos da Paleftina. Julgão (e chamou Acra
efta montanha por caufa de huma fortaleza do mef-
mo nome , que nella edificou Anthioco Epifaiiejs pa«
ra dominar o Templo. Acra fe chama também hu-
ma Cidade , e Promontório de Itália na Grécia ma-
ior, vulgarmente chamada Japigia , Salentino, Ca-
po di Leuca , e Capo de Santa Maria. Acrahatam
he hum lago da Ethyopia junto ao rio Aftaboras,
cujos vizinhos deíamparárão o paiz , porque os ma^
tavão os eícorpiôes , que alli são innumeraveis , pe*
lo que lhe ^amão pátria delles. Acrabathane era
huma Cidade , e Comarca do Tribu de ManaíTes
da parte dáquem do Jordão, terceira entre as onze
Toparchias de Juda , a qual foi arrazada por Judas
Machabeo em caítigo de íeguir o partido dos Ma>>
te-
(214)
ccdonios, Jcràbimy ou Acrabis^ palavra, qne íigni-
fica íubida do efcorpiâo , he huma montanha cheit
deites animaes , em cujo alto íe edificou huma Cw
dade nas fronteiras do Tribu de Juda , e entre to*
das ãs da Paleftina he a mais próxima ao mar mor-
to. Acre y S. João de Acre , ou Ptolemais , foi Ci^
dade florentiífima da Paleftina reftaurada muitas re-
zes pelos Reis principaes da Europa , e dominada
de todos os Príncipes delia , e Meftres das mais
antigas Ordens Militares, florentiflima de commer**
cio pelo feu admirável porto , hoje pequena Aldet
dos Turcos habitada de alguns mercadores Catho*
licos , e fepulchro de admiráveis edifícios. A faa
arêa he a melhor para fazer vidro , que dizem fé
inventara cafualmcnte com ella , porque fervindo
de laftro aos fogões dos navios , a víráo converter
cm vidro , de que fe feguio prepararem-na depois
com nitro , e fogo mais intenfo , e achar-fe o que
tanto neceílitava o mundo. Acridofagos são huns
povos da Ethyopia de eftranha ligeireza , mas cur-
ta vida , porque apenas vivem quarenta annos : vi**
vem nos defertos , e fó comem gafanhotos , que o
vento do Occidente lhe conduz com notável abun-
dância no Eftio , e guardão entre fal mineral para
todo o anno : efte lhe diminue a vida , e cauía tal
comichão no corpo , que fe esfolão vivos , e fe lhe
refolvem os inteftinos em huns pequenos bichos
com azas. ^ São innumeraveis os povos da Afia ^
€ Africa , de que Gabriel Timotheo adquirio noti-
cias , os quaes fe alímentão todo o anno de gafa-
nhotos frefcos , ( até em Goa os ha frefcos todo o
anno ) e vivem muito fem achaques ^ de que fe fe-
guc
gne crerem os viageiros que o fal mineral he que
mata com tormento horrorofo os Acridofagos da
Ethyopia. Âcrocermnios chamão a huma fileira de
montanhas do Epyro habitadas de huns bárbaros ,
que vjvemíó de roubar , e matar aíHm nosbofques,
e eftradas vizinhas , como no mar Jonio , e Adriá-
tico 9 com os quaes confinão. No anno de 1537
acampou Solimâo Emperador dos Turcos o íeu
exercito na cofta deftes bárbaros , que guiados por
hum feu natural infigne bandoleiro intentarão en-
vefkír a Tenda Imperial , e roubarem tudo o mais ,
flue pudeíTem^ mas fruftrou-fe a empreza, porque
iiibindo Damiano a huma arvore para defcubrir o
ctmpo 9 quebrarão os troncos , fentírâo a queda os
Genizaros , foi prezo , confeíTou o intento , pelo
qoe foi logo defpedaçado , mandou Solimâo tropas
4» montanhas, que degoUárâo muitos, porém ain<-
cU hoje exiftem com o mefmo officio de roubarem
por mar , e terra nas margens , e bofqués do Da-
núbio. Acrocorintho he hum monte vizinho a Corin-
cho j onde houve hum celebre templo de Vénus ,
foi cercado de muralhas fortes , tinha muitos po-
ços de boa agua, e a notável fonte de Pirene : fer-
re hoje de abrigo aos deCorintho, quando os per-i-
íeguem os CoíTarios. Antigamente houve neíte iitio
trez mefquitas , e finco Igrejas para os Catholicos j
em 1687 o conquiftárão os Venezianos juntamente
com a Cidade de Corintho , e em 171 5 o perde-
t^o. Acron foi Rei , ou General dos Cinineníes , po-
vos vizinhos de Roma no íeu principio. Rómulo ,
que a tinha acabado de fundar , neceífitava mulhe-
res para os feus vaíTdilos, e vendo que nem os Sa-
bi-
#
bmosy nem outros povos vizinhos Ihasqueriaodari
publicou a fefta de Confus j deos do confelho , com
jogos 9 e bailes, a que vierâo aíliftir asdonzellas das
outras povoações todas, dasquaes roubarão os Ro-
manos feiscentas e oitenta e trez. Irritou efta ac-
ção todas as nações prejudicadas , efpecialmente
aos Sabinos , Cinenenfes , Cruftuminienfes , e Ao-
temnates : eftes últimos em quanto os mais fe nío
deliberavâo j tomarão as armas governados por
AcroQ j e prefentáráo batalha a Rómulo , que os
venceo ^ matou o General , e confagrou os defpo-
jos a Júpiter Feretrio. JcropoHs , que geralmente
íignifica toda a Cidadela edificada em fitio alto,
querem feja nome efpecial da Cidadela de Athencs
fundada fobre huma rocha efcarpada , e inacceíEvel
por todos os lados , excepto pelo occidental : oa
raiz do monte cfteve o admirável templo de Mi-
nerva ornado com columnas , e eftatuas dos maio-
res Meftres antigos. No anno de 1687 conquíílá-
rão os Venezianos Athenas j refugiárão-fe os Tur-
cos nefta Cidadela , e guardarão nefte templo a pól-
vora y fobre a qual cahio huma bomba , que rom-
peo a abobada , e voando com horroroío eftampí-
do , e movimento , fe rendeo a Cidadela. Acftnr bc
huma Cidade da Thebaida íuperior nas margens
do Nilo abundante de palmas ^ e do melhor barro
para louça.
LISBO A , Na Olficina de Miguel Manefcal da
Coita, Impreflbr do S. Oíficio. Anno 17 6^.
Com todas as licenças neceffarias.
( "7 )
CONFERENCIA XIX.
Ctos dos Jpojiolos he hum livro fagrado,'
que contém a hiftoria da primitiva Igreja
porjeípaço de vinte etrezannos, foi com-
pofto por S. Lucas , e dirigido a Theofilo :
confta do complemento de muitas promeflfas de
Chrifto Senhor noflb na fua Refurreiçao , Afcensão ,
e vinda da Efpirito Santo fobre os Apoftolos y re-
fere Qs prodígios, que obrou nelles, a união, def-
intereíTe , e caridade dos primeiros Catholicos , e
tudo o mais , que fuccedeo até i feparaçáo dos A^
pollolos para a prégaçáo do Euangelho : depois
conta ló a vida de S. Paulo , a quem acompanhou
em todas as Mifsóes até Roma. Ha outros livros
chamados também A£los dos Apoftolos , que forão
compoftos pelos hereges , cheios de fabulas , erros ,
e defvarios. * Os Scilmaticos do Oriente confervão
cftes livros com fummo refguardo para fua perdi-
Sâo. Jczibj ou Acbzibj foi huma Cidade doTribu
e Afer, chamada depois Ccdippa, nove milhas de
Acco para a parte deTyro: depois do cativeiro de
Bdbyionia foi efta Cidade fronteira dos Judeos , e
todo o mais paiz , que refpeita o Norte , fe cha-
mava Galilea dos Gentios. Adad foi nome commum
a todos os Reis de Damafco « como Faraó aos de
Egypto , depois que Adad primeiro perdeo huma
batiaiha contra David, em que perecerão vinte mil
homens ; mas o Rei obrou taes façanhas , que em
memoria delias lhe tomáráo o nome todos os Mo--
Tom. VU. T nar-
(218)
narcas da Syria. Jdalarico ^ Duque de huma parte
de Gafcutiha , fico^ii meaor par tnQvt^ da fpQ p^i 9 a
quem o Bmperadar Carlos Magno mandou enfor-
car por traidor, e com fumma generofidade lhe per-
doou parte grande do fequeftrp y que deo em fe^do
a Âdalarico ; mas efte herdeiro da aleivoíia pater-
na , logo que chegou a idade competente , yeçla-
rou guerra aoEmperador, nSopoíTuindo aliás mais
que apartedeGafcunha próxima aos Perineos. Luiz
filho de Carlos defejando caftigallo , convocou hu-^
xna Junta , em que o mandou comparecer , de que
fe efcufou y pedindo reféns i vida , e ps Confelhei*
ros para evitarem maiores perigos o abfolvârSo.
Ordenou o Emperador foíTe íentenciado na Dieta
de Vormes , que o condemnou a perpetuo deller-
ro y tomarão logo as armas em fua defeza os vaí^
íallos, e Guilherme Duque deTolofa os pacificou 9
íendo huma das condições o reAabelecimento de
Âdalarico , o qual annos depois fe rebelou fegunda
vez y mas Luiz o Benigno y que melhor lhe conhe*
cia o génio traidor, e aleivolo, o venceo em bata-
lha campal y e mandou enforcar á vifta dos exerci-»
tos. JdalbertOy Arcebifpo de Magdeburgo, criou-»
fe no Mofteiro de S. Maximino de Treveris , don-
de o tirou Guilhermo Arcebíípo de Moguncia pa-'
ra o confagrar Bifpo dos Ruína nos , então póvoa
bárbaros da antiga Sarmacia y cuja Rainha era Ca-
tholica y porém os vaífallos tâo cegos , que Adal-
berto fe recolheo á pátria fem colher delles algum
fruto. O Emperador Othâo primeiro , pai do Ar-
çebiipo de Moguncia y o nomeou Abbade de Veif-^
kmburgo^ e depois primeiro Arcebifpo dçMagde-
( ^^9 )
burgo para o occoparna conversão dos Efclavôeí?,
que fehaviâo eftabelecido nas margens dos rios Ei-
va 9 e Odcr. Adalberto ^ oa Adeleberto , ou Alberto ,
Bifpo de Praga , defcendente da primeira nobreza
deBohemia, deixou o Bifpado por nâo poder cor-
regir asdefordens do rebanho, porque os Clérigos
caíavâo publicamente , os feculares tinhâo quantas
mulheres queríão , e o contrato commum era em
efcravos Catholicos , que vendiâo aos Judeos. Re-
nunciou a mitra em Roma , onde profeíTou a vida
Monaftica em S. Bonifácio , daqui foi outra vez a
Bohemia rogado pelo Arcebifpo de Moguncia , e
vendo que o náo queriáo receber y foi pregar o Euan-
Í^elho na Pruífía , e Lithuania , onde depois de to-
erar as maiores injurias , e trabalhos, omartyrizá»
râo os pagãos com lançadas. Adahaldo , ou ArevaU
do y Duque de Turim , fendo de pouca idade , foi
flcclamado Rei dos Lombardos , e recebeo todas as
iníignias Reaes no Circo. Mandou vifitallo o Em-
perador Heraclio por hum Embaixador, o qual ou
por ordem do feu Monarca , ou por malicia pro«
pría, deo ao infeliz Rei huma bebida atempo, que
íãhia do banho , perfuadíndo-o a que era utiliíEma
para vigorar o corpo. Apenas a bebeo, fe lhe per*
turbou o ufo da razão de forte, que o Embaixador
eonfeguio delle mandaíTe tirar ávida aos principaes
do Reino. Morrerão logo dez , e o povo temendo
maior defordem , depoz , e expulfou o Rei , e fua
siâi Theodelinda. AdaJulfo^ Grande na Monarquia
dos Lombardos , folicitou para adultério a fua Rai-
nha Gundeberga, mulher deArroIdo; e porque ella
oáo confentio* e temeo o accufaíTe ao Rei* em piir
Tii bfi-
( 220 )
blico a accufou de traidora ^ pelo que Arioldo á
mandou prender. Trez annós depois Glothario Rei
de França ^ e parente da Kainha mandou hum Em-
baixador a folicitar a fua liberdade , o qual achan-
do Arioldo refoluto a dilatar o caftigo, lhe oíFere-
ceo quem provaíTe; a innocencia da Rainha em de-
fafio público comAdalulío^coftume antigo, e au*
thorizado com Leis no Occidence. Sahíráo ao canw
po Pito emdefeza de Gundeberga , eAdahilfo con-
tra ella, foi efte vencido^ e morto , pública a inno-
cencia da Rainha y foi ta , e venerada com as accla-
maçôes , que merecia. Jdâa^ palavra Hebraica j que
íigni£ca terra vermelha, he o nome próprio do pri-
meiro homem i que Deos creou no fexco dia do
mundo á fua imagem , e femelhança com domínio
nos peixes ^^ aves , e em tudo o que fe movelobre
a terra , fenhor do Paraifo terreftre , em que tinha
todas as arvores,^ frutos, que Deos creára. Deo-
lhe liberdade para comer de todos, excepto do que
infundia fciencia do bem , e do mal , comminàndo-
Ihe pena de morte fe o comelTe. Depois lhe infun*
dio lono, e de huma coftella>que lhe tirou , edifi-
cou Eva, deo-lhes a benção para multiplicarem , e
ordenou- lhe puzeífe os nomes a todos os animaes.
Eva periuadida pela ferpente, comeo do fruto pro*
hibido, e deo ao marido, que também comeo, cO'*
nhecêrão logo que eftavâo nús , e veftíráo-fe com
folhas de figueira. Chamou Deos, inquirio o deli-
do, e defculpárão-fe ambos, Adão com a mulher,
e efta com a ferpente , a quem. Deos em caftigo a-
maldíçoou, para que íempre aodaíFe derafto, a Eva
asdoíçs de parto, e fujeição ao homem, e a efte;o
tra-
( "O
trabalho !:de cultivar a terra para alimentar* !c , ti«*
rando-lhe os efpinhos , que ella em caftigo havia de
produzir , veftio«»ihe túnicas de pelles , e para que
pão comefle algum pomo da árvore da vida , o ex^
polfoQ do Pafaifo, e poz Querubins, e huma efpa-
da de fogo para o guardarem. Conheceo Adão fua
mulher j que pario Caim , e depois Abel , a quem
matou o ifmâo. No anno 130 do mundo pario
Seth, depois doque viveo Adão oitocentos annos^
€ teve mais filhos y e filhas , e morreo de idade de
novecentos e trinta annos« Ifto he o que eníina a
lEfcritara Sagrada a f efpeito de Adão , e tudo o mais y
que lhe aççrefcentâo 9 ou he íàlfo , ou incerto , oa
erróneo ; porque huns diíTerão que Adão fora Gi-
gante , outros que tSo disforme como o comprimen-**
to do mundo y que occupára fepultado ; huns que
fora creado' juntamente com a mulher unidos os cor-
pos y e que a formação de Eva íó fora feparallos,
butros que fe não falvára ; alguns que não gozará
do beneficio commum aos Santos Padres do Limbo
«a Kefurreiçâo y e Afcensão de Chrifto ; huns que
fora enterrado no Monte Calvário y para que o fan*
Stíe do Redemptor lhe tocaífe nos oíTos y outros
izem que iíto he fabula y e que fora enterrado em
Hebron, ou Cariatharbe. Os Gregos, e Orientaes
celebrão a feita de Adão y e Eva a 19 de Dezem-^
bro : os Marryrologios Latinos a aflinão com diffe«
rença , huns a 24 do dito mez y outros a 24 de Abril y
c a tradição na Dominga da Septuagedma. Adami'*
túSy feita de hereges, cujos erros, Author, e tem«
po certamente fe ignora pelafummadifcordia, com
que todos eícrevêrão nefta matéria , hutís dizem qua
Tom. Vil T iii crão
( "^ )
érao e&andalofamente lafcivos y outros qàe tâò con^
tinentes, que por iflb fe chamavâo Âdamitas, pois
cxpulfarão do paraifo da fua companhia todos os
que-commettiâo culpa pública. Jdar he o nome do
ultimo mez , ou duodécima Lua dos Hebreos , que
comprehendia parte de Fevereiro, e de Março: no
dia terceiro defte mez celebravâo a dedicação do
templo deZorobabel, a 13 a vifloria de Judas Ma-
chabeo contra Nicanor , General de Demétrio Rei
deSyria, a 14 o jejum das fortes deÂman para eí-
colher o mez, em que haviáo de morrer osjudeos^
a 15 a fefta de Efthcr, fe bem Calmet pSe o jejum
a 13 vC outro pela morte de Moyfés a 7, o ultimo
a 9 5 porque ie acabarão as difputas fobre a expli?-
cação da Lei , e a ijr a fefta da exaltação de Joa-
quim Rei de Juda em Babylonia. Jdar-ezer j on
Járazar , como lhe chama Jofefo , fiJho de Rehob
Rei de Syra de Soba, foi vencido por David, que
lhe cativou mil e fetecencos foldados , e vinte mil
de pé , mandou cortar os nervos aos cavallos dos
carros de guerra , e reíervou fó os neceífarios pa«
ra cem carros. Deo-fe efia batalha junto ao no .Eu-
frates , porém Adar*ezer foccorrido por Adad feu
Rei fahio outra vez contra David , que lhe derro-
tou vinte mil homens , conquiftou toda a Syria^
que fez tributaria com guarnição fua , queimou as
priocipaes Cidades , tomou as armas de ouro dos
criados de Adar-ezer , que levou para Jerufalem
com muito bronze , que tirou das Cidades de Be*
the , e Beroth. Adcagatis he nome de hum idolo
fios Syros , e povos de Mefopotamia , a que com-
mununente chamarão Dagon y tinha o corpo de peh»
xe,
( *^3 y
*
xe, roffò, tnâos^ e pés de molher. AàauHo^ Santo
Martyr de illnftre família de Itália, Intendente Ge-
ral da fazenda do Emperador Diocleciano em hu-
ma Cidade de Frigia , onde foi martyrizado entre
milhares de companheiros, cujos nomes fe ignorâo.
Adeantado foi o oificio maior , que houve cm Hef-
panha na paz , e guerra , porque nefta era General
immediato ao Ret , e naquella primeiro Miniftro ,
como fe vê nas Leis da Partida : huns dizem que
os inftituio D. Fernanda o Santo , outros que íeu
pai : no princípio foi huip fó , depois quaíi tantos
como os Reinos, e hoje goza o titulo de Adeanta-
do da Igreja , ou Reino de Toledo , a Gafa de Ar-^
cos fem jurifdícçâo. * De forte , que efta fuprema
•dignidade depois do Rei totalmente fe extinguio
na Héípanha., em que fó nafceo. Adelberto^ ou Al-
berto j Gonde de Baviera , a quem o Emperador
Henrique III fe2 Metropolitano dosPaizes doNor*^
te depois de outras honras , foi primeiro Miniftro
dé HenriquelV , e par zelar a fua vida expulfo da
Corte pelo Arcebifpo de Colónia, e Duque de Sa<-
jconia. Viveo nodefterro de efmolas fem queixar- fe,
reconcilíou-fe com todos felizmente, mas vendo- íe
depois com a maior honra , lhe crefceo de forte a
vaidade , que nunca mais quiz rezar o OíEcio Di-
vino conforme o Rito da Igreja Latina, e na Miífa
ufava de ceremonias Gregas , bufcando em todas as
coufas fagradas , e profanas o maior faufto, e pom-
pa. Foi primeiro Miniftro , e Confelheiro fegunda
vez de Henrique IV , a quem acompanhou nas ex«
pediçôes de Hungria , Suécia , Itália , e Flandes^
em que fe nâo diftinguia a fua copa ^ cozinha , e
mai$
( ^^4 )
diais equipagens das Imperiaes jComò também nos
edificios y que fundou para memoria do feu nome.
Todos os dias lavava os pés dos pobres, que mui^*
tas vezes excedião o numero de quarenta , venera-
:ra todas as peíToas, que ferviao a Deos, e os.bu**
mildes, porém- foi notado de afpero^ ou altivopar
ra com os Grandes | e iguaes : morreo de cameras
no anno de 1062. Âdelida ^ filba do Rei dos Rnf*^
fos, cafou com o Emperador Henrique IV, o qual
aborreçeo com tal' extremo efta infeliz Princeza^
que depois de a prender^ e affrontar, a oíFereceo a
todos os homens , que qui^eíTem ufar delia , maU
dade inaudita dos Nicolaitas , praticada Com tal
cegueira , que até a offereceo a feu filho^ Fugio
Adelida da prízáo para Itália , onde lhe valeo Mi-*
thilda , Princeza de Lombardia , inimiga de Hénrí»
ique , e a recommendou ao Papa Urbano II , qne a
confolou , e perfuadio a recolher<-fe em hum Mof»
teiro. Adelitos , e Jlmoganenos chamâo os Hefpa^
nhoes áquelles embiifteiros , que vivem de adivi»
nharem tempo9 , e fucceflbs futuros pelos votis ^ t
canto das aves, encontro deanimáes ferozess, e ou<p>
trás ridicularias , como também de conhecerem, pe*
lo rafto das beftas quantos são os viandantes , e pa*
ra qne íitio fazem jornada* Adem , ou Aden , como
proiiunciâo osArabios^ he humá Cidade daÂrahia
feliz diilante trinta e huma léguas do Eftreito de
Babel-Mandel , foi Comarca dos Homeritas, hoje
fujeita ao Príncipe de Moca , he huma das melho^
res daquelle paiz com excellente porto , defendida
com boas' muralhas pela parte do mar ,'ex:om ro^
chas pela cerra ^ difta de Moca pelo Oriente trinta
le-
("O
léguas y tem dez mil cafas todas feparadaf^, commu*
nica-íe com ornar vermelho, e Arábio, he paiz ca-
lidiffimo , motivo , por que fó de noite fe ajuntâo
nellâ os mercadores da Arábia , índia , Africa , Sy-
ria, e Perfia. O noíTo memorável Affonío de Albu-
querque a íitiou no anno de 1513 com vinte navios
km effeito , os Turcos a conquiftárão em 1538,
porém os Arábios os lançarão fora , e hoje tem
Rei, que domina também Moca, * e paga tributo
ao noíTo FideliíEmo Monarca, ^der , ou Eder , ifto
he, torre do rebanho, julgão muitos que a edificou
Jacob para vigiar os feus paftores : difta de Belém
huma milha , foi o íitío, em que Ruben oíFendeo a
feu pai Jacob, communícando com Bala íua concu-
bina , e dizem que nella apparecêrâo os Anjos aos
Paftores na noite do Nafcimento de Chrifto , em
memoria do que edificarão alli os Catholicos huma
Igreja, que exiftia no tempo deS.Jeronymo, jíder^
begian , Aderhejan , Adirbeitzan j &c. nome deriva-
do de Ader , que na lingua Perfiana fignifica fogo,
he huma Província do Reino da Perfia, que corref-
ponde á Síni\g2í Media, e comprehende os montes ,
c grande parte da Arménia. Neftas ferras de Ara-
rat , a que chamão os Gordíos , parou , e cxifte a
Arca de Noé , e nefta Província fe fundou a primei-
ra Monarquia do mundo depois do diluvio. Adhad^
Eddoulat he fobrenome de Fanakhofrou , íegundo
Príncipe , ou Sultão da cafta dos Boizdas , ou Di-
Jemitas , que herdou de íeu tio a Perfia , e de feu
pai tanto , que foi o mais poderofo Monarca da
Afia , venceo , e degollou o Calife Ezeddoulat feu
primo y e unio em íi toda a juriídicção Ecckfiâfti-
ca
C "<5 )
ca j e fecular Mahometana. Huma efcrava Aia para
confeguír o perdão de fe facilitar com hum folda^
do j lhe entregou hum admirável thefouro , que o
amante deícubríra cavando a terra para colher hu-
ma rapoía: edificou as muralhas das príncipaes Cí*
dades , meíquitas , e fepulchros excellentes , man*
dou enterrar-fe junto aofepulchro de Ali, e na ho«
ra da morte diíTe muitas vezes : De que mefem^
meus tbefouros , fe os bei de deixar boje ? Adlavo , Rei
de Northumberlanda em Inglaterra , querem 'íèja
Oívaldo , filho de Elduino , ou Bthelfrido , quinto
Rei daquella Provincia, e o que nella recebeo a Fé
Catholica. Efte vendo-fe apertado pelo exercito de
Efthelftan, Rei de huma Ilha vizinha , entrou netle
disfarçado , cantando , e tocando rabeca j goftárâo
todos da fua mufica , e galanteria , efpecialmente o
Rei , que o fez dilatar na fua barraca , e premiar^
e aíEm vio o numero , e formatura dos feus inimi-
gos , e os venceo depois. Adolfo , Emperador de
Alemanha , filho de Vvalderamo , ou Vvaldemaro 9
quarto Conde de NaíTau , neto de Henrique o Ri-
co , favorecido dos Eleitores Ecclefiafticos , e fobor*
nando com attenciofas vifitas , e promeíTas os fecu-
lares I foi eleito Emperador no primeiro de Maio de
1292 em prejuizo de Alberto de Auftria , filho de
Rodolfo , que efperava fucceder a feu pai no Impé-
rio: era tão pobre, que não teve vinte mil marcos
de prata para pagar á Cidade de Francfort os gaf-
tos da fua eleição , e foi neceíTario empenhar algu-
mas Cidades , e Callellos para lhe fatisfazer efte
difpendio, e aos de Aquifgran o da coroação. Edu-
ardo primeiro^ ou quarto de Inglaterra^ o perfut-^
dio
( ^^7 )
dio a quebrar a paz com Filippe o Bello Rei de^
França I e pertender o Reino de Aries ^ para o que
lhe deo trinta mil marcos de prata, ou cem mil li-
bras efterlinas. Conílftio a guerra em pouco mais
de nada, porque empregou o dinheiro em comprar
ao Lanftgrave de Turingia o Marquezado de Mif-
nia, a Lufacia^ e o fenhorio de PleíTe. Os Eleito-
res de Moguncia feu primeiro Mecenas , o de Sa-
xonia, e o de Brandemburgo o depuzeráo, elegen-
do Alberto com defgoftos dos Eleitores aufentes^
efpecialmente do Conde Palatino do Rhim , genro
de Adolfo , o qual intrépido fahio a campo contra
os feus inimigos, que fez fahir de Ulma Vvaldshut
até Strasburgo. Em fim o feu génio precipitado o
fez dar huma batalha noanno de 1298 junto aGeI«
lenheim fó com a Cavallaria , por nâo ter fo£Pri«
mento para efperar a Infantaria, depois de receber
a feliz noticia de que o Eleitor de Moguncia tinha
defamparado ao Emperador novo, o qual o matou
com hum bote de lança em hum olho , a que fe fc-^
guírâo muitos dos feus guardas apenas cahio defa*
cordado. Nenhum , parece , foi vencedor , porque
Alberto depois defta viftoria foi morto por feu fo*
brinho João Duque de Suevia , os Condes de Ho-
lendo , e Ochfefteim forão vencidos , o de Duas pon-
tes morreo affbgado no pequeno rio GliíTa, Gerar-
do Arcebifpo de Moguncia morreo de repente , Con-
rado Bifpo de Strasburgo foi aíTaíIinado por hum
aldeão , e em fim todos os que concorrerão para a
depofição de Adolfo acabarão defaftradamente. Dei«-
xou eíte Emperador varias Leis, efpecialmente bii^
ma arefpeito das Ilhas, que fe formão nos rios, as
quaes
( 2l8 )
quaes determina pertenção ao Império , ou aos Coti«
des mais vizinhos. Adon^ Ado^ e muitas vezes no-
meado por outros nomes fynonimos na lingua He-
braica , chamado entre os Judeos o Vidente , que
tjuer dizer Profeta, contemporâneo de Ahias , flo-
receo no anno , em que morreo Salomão. Efcreveo
Ado dous livros , que fe perderão , nos quaes tra-
tava das visões contra Jeroboâo Rei de Ifrael , e
parte dos fucceíTos do reinado de Salomão. Adonaiy
palavra Hebraica , queíignifica no plurar Senhores^
derivada do (Ingular Adoni , que quer dizer Senhor,
he hum dos nomes de Deos , que aíEm ufárão fem-
pre os Ifraelitas , porque lhes não era licito pronun-
ciar o nome Deos, e ló o Pontifice o podia fazer,
quando entrava no Santuário. Adonias ^ filho fegun-
QO de David , e de huma das fuás mulheres chama-
da Haggith , depois da morte de Amon , e Abfa-
Ião intentou reinar , eftando feu pai vivo , e com
efiFeito Abiathar fummo Sacerdote , Joab General ,
e alguns outros principaes o acclamárao , porém
David mandou logo acclamar Salomão , como an-
tes havia promettido a Berfabé. Adonias vendo-fe
criminofo , e defamparado , fe refugiou no Taber-
náculo junto ao Altar, e dalli mandou pedir a Sa-
lomão lhe perdoafle, o que ellefez, com a condição
de que procedeíFe bem. Morto David, pedio Ado-
nias para mulher adonzella Abiíag, que antes dor»
mia com feu pai , para lhe conciliar calor , e Saio*
mão conhecendo o fim aleivofo defte defignio , lhe
mandou tirar a vida por Bananias feu Capitão.
■b
LI S BO A , Na OíHdna de Miguel Manefcal da Cofta , ImpreíTor do
Santo Officio. Anno 1753 • Cm (êdas «# //Vnifoi ncctfmêi.
CONFERENCIA XX.
Doni-Bejec y€{tic quer dizer Senhor de Bc*
fec^ era Rei dos Canancos, venceo feten-
ta Reis 9 aos quaes mandou cortar as ex-
tremidades das mãos ^ e pés , e íuftentava
fcom os fôbejos da.fua meza. Os líraelitas por or-
dem de Deo9 lhe fizerâo guerra , e vencido lhe fi-
ecr&o «naâ.mW.^ie pés o aieícaQ ^ pelo quQ: dizia
js]h O' tratara Deos como elle aos outros. Morreo
cai Jeruíalem cativo. Âd^nifedecj ou Adoni-Tfedekj
ÍWi de Jerufalem ) íabendo que os Ifraehtas haviâo
çonquiftadõ Jericó ^ e Haí, e íe lhe tinhão fujeita*^
do os.GabaOQitas;, pedio foccorra a quatro Reis
vizinhos para íe oppòr a eftas vi£lorias , e todos
cercarão Gabaon. De noite íahio Jofué de Galga-
la 9. fez levantar o cerco , feguio os vencidos até
j^Aceda , e nk> caoiit^o mandou Deos febre elles
tal chuva^de ped^a, que matQU muitos mais do que
Ijfkv^o degollado as efpadas dos foldados de Jofué.
Os íinco Reis para fe livrarem delias , e da chuva
cfcondê.râo-fe em huma grande cova junto a Macer
da , a qual mandou Jofué tapar com grandes pe-
dras , e fazendo parar o. Sol ^ c a Lua com a fua
oração , acabou de extinguir os inimigos. Acabada
a viftoria, veio com o exercito á cova deMaceda^
a qual mandou abrir , e fahindo Adonifedec , c os
outros quavo Reis, os matou.^ e fez pendurar em
arvores até á noite : então mandou lançar os finco
cadáveres na mefma cova 9 e tapar a boca delU
Tom. VII. V com
X MO )
com pedras , o que executarão os Toldados com tal
deftr^a V qul^ àté Wfé tí3K> lioUte J^mfti ;p.li^e)re a-
brilláy nao óbffántè o ler tradição commua quejun»'
tamente com os cadáveres dos ílnco Reis eftáo fe-
-pultadas ts íuas coroas ^ manilhas , e outros ftpz*
tos de ouro, que os Reis da PUeftina ifidifátdía-
vel mente ufarâo naquelle tempo ; más he fabttl|
dizer-fe que os fepuleárâo com eflas precioíiéades ,
^ue entSo pertehciSô uo F\(qo. Adopção^ Heacçáo^
pela qual hum admitte ^ e recebe- por feu filho > a
què naturalmente he filho de outrem: ufiirâo mai^
to difto antigamente* os Romanos tom muitas kSs^
que fe ufárão , e usão também ainda hoje , pot^
^ue para adoptar he neceflario que o adoptaatt
não tenha filhos ; e Os adoptados hão de^tomal^o
appellidó da fainirm do adoptante. Adoptanm h^
rão hiins hereges^ que povorfrâo gfdhde partie dá
Hefpanha y os quaes diziâo que Chdfto , em quanKl
homem, ifto he, em quanto á natureza hucnan^^
não era Filho deDeos, fenãô por adopção ,^j^«i
ça. Chamou^ fe efta herefia P^Iiciana, e íe ignj^ào
motivo, era hurti pedaço do Neftorianífmo ^ f>Òtf^
que dividia a Chrifto em dous filhos , e como em
duas peflbas. Aderatoríos chamavão os índios de
México aos lugarâs , em que guardávão , adora»
vãb^ e õfiFérèciâO faeríficios ãosfefts ídolos. Ome«
Ihor de todõS efa dedicado a Viztzilipuztli Deo»
i^â guerra , aè^qual julgàvão foperior a todos. Con^
fiftia eM hititià grabde Praça cercada em quadro^
tom nnfnfftlha de eanteria lavrada por fora coift
«ât>f aS' ^nl^çadas , que rematavão iU> pórtico: dèd*'
tk« fe iubiâ<> IrkAA degráos de pedra âtéhttm eúk^
j» i
doVno-qnal em barras de ferro fnípetifas em tron-
cos de iiryores eftaváo . as cayeiras. dos homens 9
que fe tinháo facrificado , infladas pelas frontes. No
^ntro eftava huma admirável pyramide j em que
era formada a fubida .com cento e vinte degráos^
que finalizavSo no feg^ndo plano de quarenta pés
fim quadro., cujo pavimento era cuberto deprecio-
ibs jafpes negros , coni ligaduras de betume bran*
(O9 e encarobdo , cercado- de ameias curiofamente
lavradas em corações.. No parapeito , onde ternii-
nava a efcada , eftaváo duas excellentes eftatuas de
ferro iuftentando dous candieiros. Seguia* fe huma
pedra 9 onde Jigavâo omiferavel, que facrificavâoi
e aqui lhe tiraváo o coração : defronte eftava a Ca-
pella do ídolo , e élle em huma tribuna fechada
com cortinas: era de figura humana , ientado em
huma cadeira , como throno , fundada fobre hum
fflobo azul , a que chamavâo Ceo , de cujos lados
^biâo quatro cabeças de ferpentes , que ferviâo
para o iuftentarem nos hombros , quando o mof-
travão ao povo : tinha alpeâo horrorofo j e para
ítr mais feio duas fitas largas azues atadas huma
pela refta, outra fobre o nariz: hamâo direita hu-
ma cobra ondeada por baftâo y na efquerda trez fet-
tas :, que diziáo ter vi^do do Ceo , e huma rodei-
la com finco plumagens brancas em cruz , íobre a
cabeça hum penaxo de. plumas em figara de paf-
faro com bico , e crífta de ouro. No lado efquer-
do defta Capella eftava outra dedicada ao Deos
Tlaloch eni tudo íemelhante ao primeiro : diziâo
queerâo irmãos, e tão amigos ', que dividiSo en->
tre íi os patrocioios da guerra ', iêodo iguaes no
11 po-
poder^ e unifoiiries na vontade' /pdo'qiíe)Sffcftíi
ciáo a. ambos o mefmo facrificio. O ornato dé anH
bas as Capellas era de inextimavel pfeciofidade ,}ptf fM
que paredeã j e s|t(are$ eftavi£a cobeftos^^ejttiaa
precioíiflitnasfobre> plumas de varias ^rts.[HiBi^
via em Mexicó' oito ^i^emplús^ como (ífte^ e iMi9
de mii .dos menores ^ àc forte, que apenas havia rua
fem Àdoratorío do feu ídolo tutelar , nem tinhtf
a natureza pensão 9 cocitra-a qual não Itouvefle^ hmil
ídolo advogado para a foccorrer;' j^i^f^* 0'Ve-*'
neravel João ÂgÒftinhO' Adorno da antiga família*^
defte fobrenome, fundou em Nápoles huma Con^
gregaçáo de Clérigos, queapprovou o Papa Xiíki
V. da Ordem dos Menores , e por ifib quiz fe cha^
maíTem Clérigos Regalares Menores: tem inuítoa
Coliegios excellentes, em que admittem a exerci-^
cios erpirituaes: o feu Fundador quiz imitaflemoa
Acoemctos de Conftantinopla , de íorte que fem-f
pre ao menos hum Religiofo em cada CoUegio de
dia, e de noite eftá fempre orando diante do San^^'
tiífimo Sacramento: : morreo em Nápoles a 19'dtf
Setembro de 15*9 1. Adrets. Francifco de Beaufmont
Adrets foi hum Gentil*homem valerofo , e feroz
do Delfinado : concebeo tai ódio ao Duque de
Guiza , porque em bumi Concelho protegeo contfa^^
^Ic o Senhor de Pequiny , que para fe vingar fe*
guio o partido dos Hugonotes no anno de 1561.
A Rainha Gatharina de Medicis, inâi do Rei Car-
los YjL. lhe recoaimendou deftruiíTe no Delfina-^
do a authoridade^ e poder do Duque de Guiza íèa
Governador: elle o executou com oito mil homens y
çie íobprendêrao Valência > Viena |. e outras mai^'
ta&
( ^33 )
itas Praças I e Grenoble: conquiftòn depois Leão,
€ outras finco Províncias , nas quaes arrazoa as
Igrejas , roubou os vaíos Sagrados , prohibio a Mií*
íãf c obrigou a todos afEAiflem aos Sermões dos
CalviniAas, para os quaes fez conduzir diante de
fi como em triunfo os Parlamentos. Durou efte
frenezí até que o Duque de Nemours , conhecen-
do que elle vivia já defgoftofo com osHugonotes,
o fez fufpeitofo para com os principaes daquelle
partido y que o privarão do governo j e mandarão
prender por hum Capitão a lo. de Janeiro deis:63«
Foilolto nomefmoanno por beneficio da paz , que
então fe fez entre os dous partidos , continuou a
vida na Fé CathoJíca Romana j mas nada obrou
em beneficio delia ^ e morreo fem reputação algu^
ma. Âdria , Jíria j ou Hadria j he huma Cidade do
Eftado.de Veneza, cujoBífpo hefuffraganeo aRa-
venna j foi Grande em tudo , e hoje hum pequeno
Lugar habitado fò de pefcadores , porque as aguas
a deftruírão totalmente : o Bifpo aíEfte em Rovi-
gpy c julgão muitos que efta Cidade deo o nome
ao mar de Veneza chamado Adriático. Jdriano Papa
I. deftenome, iliuftre por íeu talento, zelo, e cari-
dade, era filho deTheodoro, edefcendia de huma
das mais nobres famílias de Roma : foi eleito depois
de EftevãoIlL a 9 de Fevereiro de 772. DidierRei
dos Lombardos o intentou enganar com huma Em<
baixada , arruinou todo o património de S. Pedro , e
ameaçou Roma: valeo-fe Adriano de Carlos Ma<
gno, o qual entrou na Itália com grande exercito,
cooquíftou as Cidades dos Lombardos , e em quan-
to durou ofitio de Pavia foi a Roma , onde o Pa-
pa ^ Qero, e poYO o recebeo com os maiores ju-
Tom. VIL y iii bilos/
bifòs) èelIecoflfirhiQU , eseenefcentou a$d;otf^6et$
quefeupâiPípiri^fitíera áSéApoftoIic«: etitregou»
fe Pavia á difcriçib) do vencedot cotti O Rei Didier ^
que fel etiriado ' príftionttito ptra Prdiiçá' y e focei
^õu álMlia. Pouco depois t^cebeo Adriano acoiH
fifsãó dá Fé de Taraíio Patriareá de Gonftantitio^
pia ; e fabendo que ó Bmperador Conftantino d
Moço j e fua tiiãi a Émperatriz Irene intetitavto
convocar hiiM Concilio contra os Hereges Icoao*»
daftes j mandou a elle por íeas Legados Efteváo ^
e Theofilafto com hurtia carta fobre efte aíTampto :
efte foi o (egnndo Concilio Niceno celebrado no
anno de 7S7. Taciíbém mandou Legados ao CôA<*
cilio de Friancfúrt, que fez juntar Carlos Magno ^
o qual lhe vâleb nas diífensôes , que teve com o
Arcêbifpo de Ràvena > com os Napolitanos ^ e com
o Empèràdor Cònftantino/ Regiftou os Titulos de
S. Pedro, reedificou a fua Igreja em Ronia, efe2
outras munas obras , e reparos em todo o pâtri^
nionio da Igreja , fendo a mais digna de memo^
ria hum candieiro em forma de cruz j no qnal
fem Confusão , nem defcommodo ardiâo mil tre-^
zentos t fetentâ círios diante do Altar de S. Pe-
dro. No feu Pontificado fíiccedeO a^nemoravfel iiv
tondaçâo de RòitM, etti que ;ás aguas do Rio T^
bne enchéfâo a Cidade ^ e chegi^rtío aos primeira»
tilidáfes dás cafas ; tnas Adriai^o com fingular cari*
láade máhdòu i^zer barcos , em que fe conduzirão
ns alimetitos a rodos os que tííó podiáo fatiir das
cafâs 9 'nsparou ú fua cufta todos os daoMos ^ que
ízerâo as aguas, e pagou aos moradores todas aa
finiâs píerdaiB : teínòu vint^ e treá; annod ^ àtík meteB^
« de£tfetedia»> morreoá«6 tie Dezembro âé ^v
loi
v( :^3T D
foi fcpidtido na Igreja de S.Pedro. Cboroti Cario*
Magno y quando recebeo a noticia da fua mortç j e
compoK o Epitáfio do leu jazigo. Adriano Papa U. do
nome, naturaldeRoma , íbi eleito depois deNico^
láo I. a 14 de Dezembro de 867. aos fetenta éíeis de
fiia idade 9 aceitou muito contra fua vontade aXya*
ra , que já antes havia rejeitado duas vezes. Pa-^
deceo defaflbcegos no principio do Pontificado p&»
las traições , e levantamentos j que excitou em Ro«
ma o Duqiie de Efpoleto , e compoz Lothario Rei
de Lombardia , a quem Adriano obrigado levan*
tou a excommunhâo , com que o deixou ligado feu
anteceíTor Nicoláo, por haver repudiado fua legi-
tima mulher Thietberga j e caiado com Valdrada.
No anno de 868. congregou em Roma hum Con^
citio contra Focio j e mandou Legados a outro
Ecuménico , que fe celebrou em Cónftantinopla n^
aiino feguinte. Ratificou tudo o que fe decretoa
no Concilio contra o tal Patriarca de ConAantino»
pia ; mas depois tolerou graves enredos com o
Emperador Grego ^ com Ignacio fucceilbr de Fo^
cio 9 que pertendia fofie a Bulgária dependente do
íeu Patriarcado , e com Carlos Calvo por cauía
de Hincmaro fiifpo de Laon^ que appellou para a
Sé Apoftolica daíentença pronunciada contra elle
tm 809. no Concilio de Verberia , Cafa Real de
Valois fobre o Rio Oifa na Diecefe de SoiíToos :
reinou quatro acinos^ onze mezes, e doze dias ^ii-
leceo no primeiro de Novembro de 872. Aàrumo
í^apa IIL defte nome , chamado antes Agapy to ^ Rt)^
tiiano denaçSío, filho de Benediâô, foi efeito dobs
dias depois da morte de Martinht) IL a 20. de Jímfao
4e 884, 'Ba£lío o Macedónio y Emperador do QtitsoÊ-
te;
te 9 O apertou fortemente , para que rerogafl!e tu*
^o ) quanto os feus anteceUores tinháo decretada
contra o Patriarca Focio y e o recebefle na cominiH
nhâo da Igreja Romana ; porém Adriano reíiftié
intrépido , e o Emperador defabafou a paixão en
huma carta injurioia^ que chegou a Roma, quaa-
do já Adriano tinha paíTado defta para a eterna vi-
da em 9 de Maio de 885:. tendo reinado hum aiH
no , trez mezes , e dezenove dias : morreo em hu«
ma cafa de campo, foi fepultado emS. Pedro com
univerfal fentimento , vagou a Cadeira dous dias.
Adriano Papa IV. defte nome , Inglez de nação ,
chamado antes Nicoláo Haftrifago , fuccedeo a A*
naftafio IV« foi Apoftolo da Noruega , que con*
verteo á Fé, fendo Bifpo de Alva, e Legado ^Ah
tere de Eugénio III. que lhe deo o Capello nefta
Legacia, e na de Dinamarca. Foi eleito em $* de
Dezembro de ii5'4. excommungou os Romaaos ,
epozInterdi£lo na Cidade, até que lançarão fórã
o herege Arnaldo deBreícia: o mefmo fez aos que
ferirão o Cardeal de Santa Pudenciana , prohibio o
governo aos Senadores, excommungou a Guilher-
mo Rei de Sicília, que havia ufurpado alguns bens
da Igreja , e ajuftou com elle a paz depois com
randes ventagens : coroou o Emperador Frederico
arbarroxa , mudou a Cadeira para Orvieto, Cidade
do Bftado Ecdeíiaftica, aonde o forão bufcar com
lagrimas os Romanos ; porém vendo que os Senado-
res fe querião outra vez intrometter no governo , fe
-f erirou para Anagni , Cidade Epifcopal na campa*
nha de Roma , onde faleceo no primeiro de Se«
tembro de 1159. * Creou vinte e dous Cardeacs,
^acroBifpos^ 4ezPresbytero8^ reinda quatro an*
nos^
o fea ccrJ!K> para o Vatidano ,' vagou á Cadeira' irei
dias. Jãriano Papa V. cfcftehomte Gcnovez y^h*-
mada^Dtes Oifhobom> de Fieíca^ fiUiôde Theo*
doro de:Fíefpov ita^ 'do- Papa Iiinocéntio IV:. ée
Jaem peoebeo Adriano íeu fobrinho ò Capello d^
>iacono, Cardeal de Santo Adriano ^ foi Legado
em Alemanha, e Inglaterra, e por morte de Inno«^
cencio V. eleito a doze de Julho de 1276. mas
quando eftav^a para ferconfagrada^ e coroado^ fa-
leceo a 18 de Âgodo do méfmo anno com trinta*
e nove dias de reinado em Viterbo , onde foi fepuU
tado no Convento deS. Francifco, e vagou* a Ca*
deira vinte eíinco dias. Quandoos parentes lhe de-
rSo Dspacabcns do Pontificado, refpondtfo: ^y^r^i^
eu queria me viffeh Cardeal com faude , do que Papa
moribundo. -^íírww VI. Papa defte nome, HoMandeso
de nação , natural de Utrecht , chamado antes A^
driano Florifz , iftohe, Adriano filho de Florente,
nafceo a a de Março de 1459. ^^^ infigne Filofo<'
fo , Theologo , e Canonifta , tomou o gráo de Dou^
tor a 21 de Junho de 149 1. em Lovaina ácuAa de
Margarita de Inglaterra , irmã de Eduardo IV. e
viuva de Carlos o Atrevido, Duque de Borgonha,
fei pouco diepois Cónego de S. Pedro, Cathedrâ-^
tico de Theologia ^ Deão da Igreja dl: Lovaina ,
e Vice- Chancel ler da mefma Univerfi^dade , a que eU
le defpois agradecida aggregou hum Collegio do
£ru nome , que fundou para eftudantes pobres. O
Emperador Maximiliano I. oefcolheo para Meftre
de íeu neto o Arquiduque Carlos , depois Empe-
sador, e Rei deHeípanha^. que oinaiadÍ9n pprEm^
bai*
Cardeal no primeiro de Jiill:
morte foi elcico Papa em att
náo obítante fer ^rangei ro ,
ca tc;r vifto Itália ^ e menos >I
ticia da faa eleição na Viflorii
com tal focego de animo , qi
dem. effe pojlilbão , ou ejfe homi
Poncificios no dia feguinte , e
ahou para Roma , onde entroi
coroado a 3 u do mefmo , tend
peiro do cne(mo anno de 15*22
nome, renovou a aliança come
pacificou a Itália , intentou a ri
difcipUnaEcclefiafiicai mandoc
» Terâmo com o titulo de Nunci
I ve 9 além de notáveis inftrucçôc
berga. Nâo defendeo a Ilha de
[ vento dos Cavalieiros de S. Joâ
não perturbar os interefles do
^ Ç10 anno de 152 2. emqueoTui
defoccorros. Dizem nn^*--"—
gia eípeculativâ ^ i\\it{oTãoque^ôtsquodlíbeticaSj e
!iamTiratacl& fobre d \Wto quarto do Meftrc das fen^
Tenças. * Déó^tá fempre aoaRds deHefpanha 4
^dignidade de Mttftfeada» Ordens Milíltaves dosfeus
"Reinos : ^ eaftèniKod ti S. Bennon Bifpò' MHheiv-
f e , Cfèon hum Cardeal Prcsbytero do Título què
tivera , foi íepitltadô em S. Pedro ; e depois ó
Cardeal j que creou da fua nação j o trasladou pa^-
ra a Igreja de Santa Maria da Alma, chamada dos
Tiidefcos , onde deixou algumas memorias : vagõil
a Sé dous mezes , e quatro dias , e fuccedeo-lhe ecÀ
attençSo domefmo Empera dor Carlos V. Clemen^
te VIL feu muito fârorecído. Adriano^ HadrtanOy
ou Ariano y Publio EIío Adriano Emperador deRo*-
ima, filho de Elio Adriano, chamado vulgarmente o
Africano ', poir ter fido GovcrnadorJ do Egypto , naf-
teo em Roma^, ou na Cidade de Itálica, a ^4 de
Janeiro de 76. da era de Chriíbo , de huma fami^
lia originaria dé Adria , a que hoje chamâo Atri , nõ
Reino (ie Nápoles , ficou orfao de pai aos dez art^
nos de baixo da tutela deTrajano, eCelio Tacía-
no, eftudou cótn grande curiofidade, e aproveita-
mento, entrou de pouca idade no ferviço do Im^
perio, de forte que era Tribuno de huma Legiãò^
antes da morte de Domiciano , foi deputado pelo
exercito dá baixa Mefia , ou Myfia , pára noticiar
a Trafano a morte de Nerva, e a ftià eleição. Foi
táo gaftador , que Trajano íe defgoftou delle ; po-
rém emendou- fe, e cafou com Sabina^ fobrinha fe-*
gunda do Emperador , e de altivo génio, acompa-
nhou Trajano em todas as expedições com finala-
(Us façanhas y de que lêíegui occiipar lodos os òf*
£CÍ03^^
«"•• " "iariuo a que o
^a?í PíflbualneJaterra ru
|?n;pnmí„,rt, edificSu^S
Jrlotina., alíAníi r- "*^"^™
.RlenRj í?"-^« 5™ Athe
«•«venda os livros rèiií
vario, hum a Adónis em Be
.Occi|ltarasyerrugas,foidou
eido, q«« rcmanríon .j-_ •
( »4« )
CONFERENCIA XXI.
€
ADriano , Santo Martyr em Cefarea na per-
feguição deGalerío Maxímiliano, por or«
. dem ao Governador Firmiliano foi expofto
' aos leóes a 5* de Março ^ e degollado pelo
Confeâor , cujo oficio era acabar de matar as feras j
ou os que ellas fó feriâo nos efpeâaculos públicos.
Adriano^ Santo Martyr de Nicomedia: cada Mar-
tvrologio lhe aíEgna íeu dia em diverfo mez , don-
de naíceo julgarem muitos , o que he hum fó; e as
luas A6ias são taes ^ que não fe lhes pôde dar cre-^
dito algum y por caufa das fabulas , que mifturárâo
muitos com as fuás acções heróicas verdadeiras.
Adriano. Santo Adriano he huma pequena Cidade
de Flandes fobre o rio Tenra , ou Dendra j difta
quatro léguas de Gante j chamava-fe Geersberg y
e Gerardi mons , porém mudou o nome no anno
de X 1 10 , em que recebeo o corpo de Santo Adria-
no. Adriático he aquella parte do mar Mediterra-
fleo entre Illyria , e ItaHa com quaíi ^00. milhas
de comprimento , e 200. de largura , tomou o no-
me da antiga Cidade de Adria íituada no extremo
do .Golfo j chamárão-lhe mar Superior em contra-
pofição ao da Tuícana j que fe chamava inferior,
por ficar ao Sul, he o maior Golfo do Mediterrâ-
neo, ecomprehende outros fete, que sao odoCa-
marino, o deCactaro, odeSanta Cruz, oDrino,
o de Narenza , o de Siponto , e o de Triefte, ef-
tá cheio de Ilhas , e penhafcos pela parte de Illy-
Tom. VIL X ria.
( 14* )
ria y que pertencem todas aos Venezianos , cercio*
no vfirios PaizeSyCinos^noaiqii^ntodi^nos sSo: Al*
bania , Dalmácia y mria , Fríul , Marca Trevifana ,
Ducado de Veneza, Poleíina de Rovigo, Ducado
de Ferrara , Romandiola y Ducado de Urbino , Mar-
ca de Ancona, Abrnzzo y Capitanata, Terra de
Bari y e Terra de Otranto. Antigamente chan^avâo
mar Adriático a todo o que eftá defronte de Itá-
lia , e por iíTo S. Lucas ^ contando o naufrágio de
S. Paulo em Malta , diz que fuccedêra no mar A-
driatico. Ainda que muitos Principes pofluem tei^
ras neíte mar y como são o Turco , o Imperador
de Alemanha y o Papa y o Rey de Hefpanha , e a
Republica de Raguza , com tudo os Venezianos y
que tem nelle a melhor parte , fe denomtnâo Se*
nhores delle y e adquirirão o feu dominio pelas
armas; porque o Papa Alexandre III. perfeguido
do Imperador Frederico Barbarroxa , fe retirou a
Veneza; eoDogeSebaftiãoZani derrotou aOthao
£lho do Imperador > e o Papa agradecido o veio
efperar no Golfo , e lhe deo hum precioío annel f
dizendo o deípofava com aquelle mar , o que fa*
rião todos os annos y ceremonia que ainda obfer-
vão y e fe contará na palavra Veneza. Coftumavâo
também os Papas de nove em nove annos conceder
com novas Bulias as decimas do Clero para a de*
feza defte Grolfo y fempre infeftado de CoíTarios y
que chegavão até Marca de Ancona y e fe recolhiãa
com excellentes defpcjos. JÍdricofmo. Chriiliiano
Adricomio Delfo y natural de Delf , foi Sacerdote
muito pio y e virtuofo , compoz a Vida de Chrií-
to extrahida exceUentemeote dos Euangeliftas y o
Thea-
( ^43 )
Theatro di Terra Santa , e huma Cbronica do TeC*
tâmcnto Velho , c Novo , que tudo cxifte com o
titulo deChronicon deChriftiano Âdricomio Del*
f0| traduzido de Latim emHcfpanhol por D. Lou-
renço Martinez de Marcilla , além do original La-
tino. Advento , tempo j que a Igreja dedicou , para
que os fieis fe preparaííem com jejuns ^ e peni-
tencias para celebrarem o Nafcimento de Chrifto
Senhor noflb : algum dia erão todos obrigados a
efte jejutn , depois fó os Eccleiiafticos , e os fecu-
lares obrigados a não comerem carne : o Concilio
de MacoQ limitou o jejum ás fegundas j quartas j
eíextas íèiras: em algumas Igrejas foi coftume je»
juar quarenta dias , hoje fò os Religiofos são obri-
gados a efte jejum , que ordinariamente começâo
a dous de Novembro , e os Gregos de todos os ci-
tados a. quinze, outros a íeis de Dezembro, e ou-
tros a vinte, e o Natal a ^s de Janeiro. * Jdven^
to da Igreja Romana são quatro íemanas , cujas
Domingas tem eífe titulo , e a primeira he fefta
roudavel todos os annos, e por iflTo a quarta raras
yezes^he inteira, por fer fixo o dia de Natal, e mu-
darei a primeira Dominga do Advento , que o prei*
cede« JduJa , ou Adullas montanhas dos Alpes , que
contém o monte de S. Godardo do Cantão de Uri
na Suifla , os montes Crifpal , e Vogelsberg , on-
de nafce o Rhim , o monte Furk , ou da tocca ,
onde naíce o Ródano , e o Tefim , e o monte
Grímfel, donde mana oRuíTo rio deSuiíFa. Adtdfo
Bifpo de Sant-Iago foi accufado do crime nefando
por quatro efcravos da íua Igreja , o Rei D. Or-
donho imprudente lhes deo credito , ordenou que
X ii vief-
cero , que delle fizerão , ,
galrem os accufadores ; V
Jóm o^"°"'r logo a Mie
com opiniáo bem merecida
erevem com ditoneo M
fJ niar branco em cootrapofiç
:. 9ue chamâo mar negro :dFv
^as, e dizem tomara o nom
d1or:rfo,''''«^9-,e
-o Qiverlos princípios , e t
fo Arri::;í: '■f"™ «««^
Í"j-:í^.°° ??■»'"«<> fedei
( »4Sr )
perverteo mnitos Bifpos ^ e innomeravêis GatholK
cos , eníinando que as torpezas erâo acções ifino*
centes, e que íó nos havia pedir Deos conta da
fé , foi hum dos mais fobcrbos. , e defavergonha-
dos Hereílarcas ; muitas vezes condenado veio a
morrer em Conftantinopla. Africa ^ terceira parte
do mundo , feparada da Âíia pelo Iftmo de Sués^
e fahidas do Nilo j cercada de mar por todas as
partes, i fendo a mais próxima a nós , a que ellá
defronte de Gíbaltar , e com elle forma o Eftrei*
to , e a mais remota o Cabo da Boa Efperança :
certamente fe ignora donde teve origem o feu no«
me, os Gregos lhe chamarão primeiro Lybiai de?
pois Africa, as outras Nações diverfos nomes., pa-
rece moralmente certo, que os feus primeiros ha^
bitadores depois do Diluvio forão os netos de
Noe filhos de Cham , e depois varias Naçóes da
Europa , e Afia : tem finco mil léguas em circuito ,
figurando hum coração , * mil eieifcentas de com-
prido , mil e. quatrocentas , ou feifcentas ( como
outros querem ) de largo: dtá quafi toda na Zona
tórrida, fe bem da parte do Sul chega a35'. gráos,
onde eftá o Cabo das Agulhas , aflim chamado ,
porque alli são Jxas ^ tem grande , ou maior par-
te inhabitada, por caufa dos.areaes, e ofilores^ex-
cefiivos, de que refuka a cor negra mais, e menos
de feus habitadores , que também adquirem os ef-
trátígeiros, que lá vivem fupportando o Sol como
«Ues, coufa mil vezes provada «t}oS'derertos pfoxir
mot a Moçambique , onde i Portugueses liav^í*
j}oS| e outros fugidos ^f para èvjtafi.a iomie ailti-
varão as terras como os negros ^ e. o Sol os fi^ ne^
Tom. VIL A iii &^^y
( H6 )
gros 9 e a feas filhos , e netos : nem he neceflarlo
viajar tanto para conhecer o principio da cor pre»
ta lios homens, quem obfervar, o que o Sol, e va-
por da agua falgada , obra nos trabalhadores das
marinhas em Alhos Vedros , e nos portos de Al-
bufeira, Olhão, Fnzeta, &c. no Algarve. Confi-
na Africa com Judea Arábia , Mar roxo , Mar da
índia , pelo Sul com o da Ethiopia , pelo Occiden-
te com o Oceano Atlântico, que afepara da Ame»
rica , e com o Mediterrâneo pelo Norte , e Orien-
te. O Iftmo de Sues., que divide os dous mares
Roxo , e Mediterrâneo , tem dezenove , e fegundo
outros, trinta léguas de largura. Enganou-fe quem
períuadto a Moreri , oue os Turcos o intentarão de^
balde cortar, como ieifto fofle obra tão dificulto*
fa , como a ferra que Alexandre cortou para entrar
melhor na índia , ou como o canal de Languedoc
em França, temerão fim perder Sues, e muita par-
te do^ Egypto com a precipitada corrente das a-
;ua3, e abrir hum caminho breviflimo para toda a
Europa fe utilizar da Afia, quando fó elles queríSo
dominar toda. O paíz todo he fertiliffimo , e os
gados excellentes , ou os melhores , os carneiros
tem finco quartos, e nas vacas, que julgamos ca-
dáveres fobeja gordura , e efpecial gofto , efibito
dos paftos : dizem que os antigos Africanos tório
Idolatras , o que íe deve entender depois que ou-
tras Nações fe mifturárão com elles , porque líojc
os que nunca ti verão efpecial communicaçâo vivem
comof brutos^ e como viverão em toda Afrka fima
avós , comendo-fe htins aos outros , e fendo os
ventres dos vivos fepultara dos mortos: recebérío
afé
( U7 )
a fé ao menos cem annos depois da morte de Chrií-
to y deo á Igreja innumeraveís Santos de todas as
ClaíTes, e a foa luz Santo Agofiinho , hoje o me-
nos que tem sâo Catholicos y e tudo o .mais sâo
Mouros , Gentios bárbaros , Judeos , e Climáti-
cos, de que.fe dará noticia nos nomes das Provin*
cias 9 e Cidades. Jgã y nome que na lingua dos
Turcos iignifica Senhor , e fe dá no Império Otho*
mano á maior parte dos officiaes da caía y e exer«
cito do Sultão , e aos Governadores das Praças
fobalternos dos Bachás : o dos Genifaros tem ef-
pecial reípeito y e não he Genifaro ordinariamente
por nafcimento, porque o Sultão dá eíTa dignida-
de, a quem lhe parece y correfponde a General de
-Infantaria , tem cada dia o pequeno foldo de cem
flrfpre» y mas fempre he rico y porque herda todos
os Genifaros y que morrem íem filhos y e cada Car
pitão delles , quando toma pofle }he dá quatro
DoKas y o que fe recompenfa na morte y porque os
Genifaros são os feus herdeiros : he o único VaA
íallo , que na prefença do Sultão pôde entrar com
livre compoftura , íem os braços cruzados fobre o
peito, como todos os outros, ronda todos os dias
com trezentos Genifaros, ehe tão refpeitado, que
todos fogem , e fechão as portas , quando ell^
pafla- pelas ruas. ^gabo foi hum dos fetenta e dous
diícipulos de Chrifto : dizem os Gregos , que de
Jerufalem fora para Antioquia , onde efiavão S.
.Paulo , eS.Bernabé , e profetizou que huma gran-
de fome havia de affligir aquella grande Cidade
brevemente , o que fe verificou no quarto anno do
Império de Cláudio : também profetizou a S. Pau-
lo
Io em Cefarea ^ que fe foíTe a Jerufalem , o haviío
de prender os Judeos , e entregallo aos Gentios ^ co*
mo fe vio : dizem fora martyrizado em Antioquia j
e celebrão a fua fefta a 8 de Março j a Igreja La*
tina a 1 3 de Fevereiro. Agaies Reino de África nt
Provinda de Nigricia, he fértil de maná ^ o qual
guardâo os naturaes em cabaças ^ e vendem aos
mercadores , o Rei he tributário ao de Tombut.
Agag , Rei dos Amalecítas , foi defpedaçado por
Samuel diante do Altar de Deos : efte povo impe*
dio aos Ifraelitas a entrada na terra de Promifsio ,
do que fe vingou juftamente Jofué, e os derrotou;
porém como ifto não baftava para fatisfazer a
Deos , ordenou elle a Saul por Samuel y que def*>*
truíflTe os Amalecitas totalmente , matando ho»
mens, mulheres, meninos, e gados, arruinou Saul
as Cidades , degoUou todos os moradores , mas
perdoou a vida ao Rey Agag , e aos gados mais
gordos para fazer delles bum facrifício , além de
refervar todos os moveis preciofos : indigQOu*fe
contra elle Deos por efta defobediencia , que reve^
loa a Samuel , o qual lhe veio fahir ao encontro
em Galgala , onde &zia o facrificio , e depois de
o reprehender, e annunciar a vingança, que Deos
havia de tomar defta defobediencia , mandou vir o
Rei Agag, e o defpedaçou: ^ era velho, e muito
gordo , vendo^fe na prefença de Samuel , e conhe-
cendo o matavão , tremia dizendo : Por ventura úp-
fim fepara bitma amarga morte ? Defculpava*fe Saul^^
dizendo refervára os gados para offereder « Dcós
facrificios, ao que reipondeo Samuel , que mdholr
era obedecer do que facrificar. Agsges j ou Jaccba y
sâo
( M9 )
sSo huns povos fêrociffimos de Africa , que no an-
uo de 15*60 fenhoreárâo o Reino do Congo, cujo
Kei Álvaro L fe refugiou na pequena Ilha de Zai«
TO 9 onde padecendo todas as miferias, vio deftruir
« fangue , e fogo o feu Reino : conftou ifto ao nof-
lo Rei D. SebaftiSo j que o mandou foccorrer com
boas tropas , as quaes felizmente expulfárâo os
Agages, e reftabelecêráo o Rei Álvaro y que mor-
reo no anno de 1580 : attribuírão os bárbaros do
Congo efta de(graça a terem recebido a Fé Catho-
liça no tempo do noflb Rei D. João IL e nós cla-
ramente lhe perfuadimos nafcêra do pouco cafo , e
dcrprezo, que a Fé padecia naquelle Reino. Jga^
frita Papa 9 primeiro deftenome, Romano, filho de
Gordíano , fuccedeo a Joáo IL a 28 de Abril de
539 * logo depois de eleito recebeo cartas , e hu-
ma confifsão da Fé, que o Emperador Juftiniano L
mandava a íeu anteceflbr : refpondeo*lhe fuave , e
forte, nâo confentindo no que lhe pedia, que era
« pofle das dignidades Ecdefiafiicas nos Arrianos
com o pretexto de procurarem a união : pouco de-
pois Theodato Rei dos Godos em Itália , vendo-
íc opprimido pelo grande General Belizario , obri-
gou violentamente Agapito a que fofle interceder
por eíle , e paz dos ieus dominios em Conftanti-
nopla: nâo lha concedeo o Emperador, e perten*
dia que rccebefle na communhão Romana o Pa*
triarca Anthiroo , fobpena de defterro , Agapito
com liberdade Apoftolica IhediíTe : Imaginara que
afiava na Corte de hum Imperador Catbolicõ ^ efe a*
ehama na de bum Diocleciano , o que não objlcmte ne-^
mbum medo tinba^ Efta cefpofta obrigou a Juftiniano
illu-
( ^ío )
illufo pela Emperatriz Xheodora herege Arríana j
a examinar a cauía , de que relultou e^pulfar Aa«
timo, que não quiz confeflar em Chrifto duas na-
turezas, e nomeou Mennas, a quem Agapito con-
fâgrou y e poucos dias depois morreo , quando dif«-
punha a jornada para Roma a 17 de Abril de 5:36:
reinou 11 mezes, e 18 dias, vagou a Cadeira dous
mezes, efeis dias. Agapito y fegundo do nome, foi
eleito Summo Pontifice a 18 de Maio de 946 por
morte de Martinho IIL, congregou muitos Syno-
dos no melmo anno, e aíEftio em hum , introduzLo
em Roma o Emperador Othâo contra Berengario
II. que íe queria fazer Rei de léalia , e tyranniza-
va os Eccleiíafticos , morreo a 27 de Dezembro de
95*6, reinou 9 annos, 6 mezes, e 10 dias , vagou
a Sé doze dias. Aagapitas , chamarão na primitiva
Igreja ás donzellas, que fem votos, nem juramen-
tos vivião juntas em amor, caridade, e união, que
tudo íiguifica a palavra Grega , donde íe denvoa
efta : conftou depois que vivião com pouca honef*
tidade , de forte que & João Chryfoftomo as ani«
quilou no feu Patriarcado , e o Concilio geral La*
teranenfe condenou , e diflblveo efte modo de vi-
da : chamavão também Agapetos aos que tratavão
deftaa mulheres. Agapito ^ oxxAgapeto^Szxito Mar*
tyr no tempo de Anreliano na idade de quinze an*
nos , foi cruelmente açoitado , prezo quatro dias
fem lhe darem alimento, lançárão-lhr brazas fobre
a cabeça , pendurárâo-o fobre huma fogueira , eí*
folárão-o vivo , lançárâo-^lhe em fima agua fer*
vendo, quebrárâo^^lhe os queixos, foi expofto aòs
leões j e vendo que nSo morria , o degollárâo no
an-
( ^yl )
ânno 170 , a Igreja o celebra a iS de Agofto,
Agar Egypcia foi criada de Sara mulher de Abra-
hSo j a qoal vendo que não tinha filhos perfuadio
o marido a que ufafle de Agar j a qual parlo If-
mael : tanto que íe vio pejada defeftimou a ama,
que fe queixou ao marido , e efte permittio a lan*
çaíTe fora: no deferto lhe diíTe hum Anjo bufcafle
a cafa de Abrahâo, e fe humilhaíTe a Sara, o que
ella fez: depois do nafcimento delfaac, ínftou Sa»
ra com o marido lançaflTe fora de cafa Agar com o
filho Ifmael , porque efte zombava de Ifaac : íen«
tio ifto o Santo Patriarca, mas revelando-Ihe Deos
que era vontade fua , a defpedio com agua , e ali-
mento : tinha Ifmael dezoito annos , quando en*
trou no deferto deBerfabee com amai; e faltando-
Ihe a agua , chegou ao ultimo parocifmo da vida ,
de forte que Agar para o não ver morrer o dei-
xou enfcoftado a huma arvore, e foi para outro fi-
tio lamentar a fua defgraça , hum Anjo a confolou
vaticinando-lhe , que Ifmael íeria cabeça de hum
grande povo , moftrou^lhe hum poço cheio de a«-
Í3;ua, donde ella deo de beber ao filho, o qual ca«-
ou com mulher Egypcia , e foi cabeça dos Ifmae-
litas. Jgar fe chanjava huma Cidade do Tribu de
Judá fundada no fitio , onde fallon com Agar mâi
de Ifmael o Anjo , e jnnto a tila ( que hoje ape«
nas he aldeia ) exifte a fonte por modo de poço ,
que Deos milagrofamente produzio para confervar
a vida de IfmaeL Agarico he hum rio da America
Meridional y que entra no das Amazonas , e traz
na fua corrente muito ouro. Agathã Sanra Virgem
Martyr, aque vulgarmente chamamos Santa Águe-
da^
da , nafceo no terceiro feculo era Palermo Capital
de Sicília 9 formofiflima 9 e illuftre. Quinciano Go-
vernador defta Ilha pelo Eioperador Dccio íè na-
morou delia j eftando em Catania ; mas vendo a não
podia mover a que idolatraíTc j a fez atormentar
cruelmecrte: mandou cortar^lhe os peitos, arraftaU
Ia nua fobre carvões em braza , até que em fim re-
colhida no cárcere efpirou. Jg/ubon^ ou Jgathã$
Papa , e Santo j único defte nome na ferie dos Pon-
tifices Romanos, nafceo em Palermo, dizem fora
Religiofo Carmelita, outros que de S. Bento, foi
fucceílbr de Dono L eleito a ii de Abril de 679,
confagrado a 29 de Maio: condenou em hum Con«
cilio Komaoo os hereges Monothelitas , fez cele-
brar o fexto Ecuménico Conftantinopolitano , ex-
tinguio o tributo, que a Sé Apoftolica pagava nas
eleições dos Papas aos Reis Godos de Itália , con-
tinuado nos Emperadores do Oriente : morreo a
10 de Junho de 68a , ou a 10 de Janeiro , como
dizem outros, dia, em que o celebra a Igreja Lati-»
na , e a Grega a 20 de Fevereiro. Vagou a Cadei*
ra fete mezes , fagrou dezoito Bifpos , dez Pref-
byteros, eílnco Diáconos, foi fepultado emS. Pe-
dro. Agazos são huns povos faivagens da Ameri-
ca Meridional no Paraguáz, fortes, robuftos , in-
trépidos , e tão preguiçofos , que por nâo cultiva^
rem as fuás terras , vivem de roubar as fearas a-
Iheias , e tudo o mais pelos rios em canoas.
LISBOA, Na Officina de Miguel MantfcAl da Coíh . ImpreíTur da
Santo OflSdo. Aano 17^4. Çmn iodai asikgnfâi w^mas.
( >« )
CONFERENCIA XXII.
•
AGãe , be huma Cidade de França na fahi*
da do rio Araurio no baixo Languedoc,
com Bifpo fuâraganeo aNarbona: não he
grande, mas forte, commoda com porto
fofficiente para todo o commercio em barcas : nel-
la fe celebrarão dous Concílios , ^ hum antigo,
em que ha dúvida, outro não menos , porém íem
cila , em que S. Cefario Bifpo de Aries preíldio a
trinta e íinco Bifpos , e fe £zerâo fetenta e hum
Cânones , de que exíftem quarenta e oito em ma-
nufcritos antigos : hum delles obriga os fieis acom-
mangarem na Pafcoa , Pentecoftes , e Natividade
de Chrifto fob pena de não ferem havidos por Ca-
tholicos : em outros fe prohibe fahir da Miífa an^
tes da benção do Sacerdote , que fe jejue a Qua-
refma , e outras coufas aflfás neceífarias no fexto
feculo , em que foi celebrado, ^gen , ou Jgem ,
Cidade de França junto ao rio Garona na Guiena,
{o\ Capital dos antigos Nitiobriges, grande, rica,
e bem fortificada : padeceo muito nas guerras ci-
TÍá , teve trez Bifpos Santos , que forão S. Capra-
fio , S. Febadio , e S. Dulcidio. Agenoes , he Pro-
víncia de França na Guiena com o titulo de Con-
dado. Agen , ou Agem he a fua Capital , e foi a
habitação eftimada dos Nitiobriges : efte Condado
efteve unido ao Reino , e depois Ducado de Aqui»
taoia, depois o dominarão os Condes de Tolofa,
Guilhermo II. o deo em dote a íua irmã Rogelin*
Tom. VIL Y da.
da , quando cafou com Wlgrino Conde de Ángn-
lema , cujo filho fegiindo chamado Giúlhermo Sjí
Conde de Perigordo , e de Agenoes , depois o
poíTuírâo os Duques de Guiena /e de Gafcunha^
até Leonor dcÃquitania, que caiou com HeDri*
que IL Rei de Inglaterra , o levou em dote com os
mais Eftados , que tornarão para o dominio de.
França no cafamento de íeu filho Ricardo y que
os deo em dote a íua irmã Joanna , para também
cafar com Raimâo VL Conde de Tolofa , de que
nafceo Joanna de Tolofa , que cafou com Âfibafo
de França , e ficarão os Eftados de Agencea na
Coroa. S. Luiz os prometteo aos Inglezes y e Fi«-
lippe o Atrevido confirmou a doação ; porém Edu*
areio L Rei de Inglaterra foi tão ingrato, que lhos
confifcárão, e unirão para fempre á Coroa deFraa-
Ça. ^gg^o , ou Jggeu y cujo nome fignifica Gozo y
foi hum dos Profetas menores : começou a efcre--
ver a fua profecia no fenundo anno do reinado de
Dário filho de Hiftafpes Rei da Perfia : unido com
o Profeta Zacarias j animou os Judeos a continuar
o edificio do Templo y e lhes vaticinou , que havia
fer mais gloriofo que o primeiro , o que fe deve
entender com Santo Agoftinho ; porque nelle foi
prefentado Chrifto, e o honrou muitas vezes com
a fua prefença y e não pelo edificio material , que
não tinha nem fombras da preciofidade antiga do
que edificou Salamão: os Gregos celebrão amemo*
ria defte Santo Profeta a i6 de Dezembro , e os
Latinos a 4 de Julho. Aghuanos são huns povos
da antiga Albânia maior , chamada hoje Schirvan :
o Tamorelão da Perfia os mudou das fuás terras
pa.
I
í íff )
pira as fronteiras do IndoMo , e lhes tirou o^ Sa-
cerdotes j e Meftres do rito Arménio para evitar
as continuas fublevaçôes. No anno de 1729 feguí-
rio eftes bárbaros o partido de Magmud, e o pu-
serão no throno da Períia , que ufurpou ao Princi-
pe Thamaz filho deSchac Hufleicn; porém efte fa-
vorecido do memorável Thamaz Koilikan , alcan-
çou tantas vitorias^ queMagmud poíTuido de trif<>
teza , perdeo o juizo y e pouco depois do frenezi
lhe deo huma parlezia: elegerão logo os Âghua-
nos a Efchref por fucceíTor , mas tão defgraçado ,
ue na primeira batalha perdeo quinze mil folda-
os ; e temendo o cercaíTem em Ifpahan j fe reti-
rou para Candahar íó com dez mil Aghuanos ,
que fielmente o íêguírão ; mas pouco depois fe en-
tregarão todos a Thamaz vencedor , o qual man-
dou pregoar com trombetas , que ninguém os of-
íendefle, nem fallalTe na rebeldia paflada : retira-
rão-fe para a fua antiga Província de Candahar ,
onde vivem nos campos em barracas juntamente
com os cavallos , e gados vivos j e mortos em tal
immundicia y que parecem brutos fem olfato , co-
roem carne mal afiada , ou mal cozida , bebem a-
gua y aborrecem o vinho , todos hoje são Mouros ^
:inas nada obíervantes , fempre promptos para fur-
tar , e ir i guerra , na qual levão na vanguarda as
melhores tropas, a que chamSo carniceiros, ou lu-
tadores y cujo oflicio he romper a vanguarda do
inimigo y e depois de lhe perturbar a forma y e
caufar damno , fe retirão pelos lados para a reta-
guarda y para que ninguém volte cara , nem fuja.
jígiam-og lanes y ou À4s,amoglanes sãõ efcravos mo-
Y ii ços
( ^$(^ )
ços em Turquia 9 ou colhidos na guerra, on cqm-
prados aos Tártaros , ou violentamente tirados
aos pais Catholicos Gregos de Morea , Albânia ,
e outras partes na idade de doze annos : em Conf*
tantinopla os reparte o GrSo Vilir pelos Serra-
lhos , onde fervem nas cozinhas , cavalharices ,
jardins ) e officios humildes. Agila^ qm Aguilano ^
Rei dos Vice Godos em Hefpanha y único defte
nome , e decimo terceiro na ferie dos Godos , fuc-
cedeo a Theudizelo , e foi igualmente impio : &^
tiou a Cidade de Córdova , que fe lhe tinha rebe-
lado , e profanou o Templo de Santo Âcislo , fa^
zendo delle cavalharice do exercito , os íitiados o
derrotarão em huma fahida , e Âthanagildò cabe-
Ía dos defcontentes com foccorro do Imperador
uftiniano o venceo totalmente, de forte que fugío
Í>ara Merida Cidade de Caftella a nova , onde os
eus mefmos parciaes lhe tirarão a vida no anno
de 5" 5*4 de Chrifto. Agiulfo ^ ou Agom ^ Doque de
Turim, cafou no anno de 5:92 com Thendelinda
filha de Garibaldo Rei de Baviera , viuva de Ân-
tharico Rei dos Lombardos : a efta memorável
Princeza fe deveo a conversão de Agiulfo , e de
feus vaíTallos j no baptifmo fe chamou Paulo , foi
poderofiflímo , de forte que fujeitou toda a Itália )
excepto Ravena , e Roma, que intentou íaquear,
e efles cuidados obrigarão S. Gregório a interrom-
per as explicações íobre o Profeta Ezechiel no an-
no de 594 para obfervar os movimentos defte ini*
migo , que acabava de recuperar Perufia , e outras
Praças , que lhe havia conquiftado o Exarcho dç
Ravena. Obrarão os Lombardos nas vizinhanças
de
(>5'7)
ãc Roma os infultos ^ que S. Gregório lamenta :
colherão grande numero de prizioneiros , que ven-
derão aos Francézes , e deftruírão com terro, e fo*
go Cortona , Pádua y Mantua , Cremona , e ou-
tras muitas Cidades. No anno de 603 lhe nafceo
hum filho, que foi baptizado a 7 de Abril com o
nome de Âdrevaldo , ou Adeívado , e morreo Agi*
iilfo em 616. Jgiro , ou Jgira , he hiima Cidade
de Sicilia junto ao monte Ethna , pátria de Dio-
doro de Sicilia. Jgifymhaj he hum grande paiz de
Africa para o Sul da linha Equinocial chamada ho-
je Zanguebar: alguns querem feja efte o Reino ce-
lebre c^ M onomotapa j a que chamâo os naturaes
Changamira ; outros que huma Cidade da Ethío-^
pia y e Reino do Congo : a primeira opinião he
certa. Agitadores forão huns ÒíHciaes creados pe-
los Soldados Inglezes no aftno de 1643 para con-
fervarem os intereífes da milicia na guerra eivei:
excedia a fua authoridade o Confelho de Guerra 9
pelo que íe unio Cromnel com elles. Jgiurdo he
Cabo j ou Promontório de Africa na Província de
Zanguebar^ ou Zanzibar, como vulgarmente lhe
chamáo , perigoíiífimo por caufa dos refluxos , e
correntes das aguas. Agmat he Provincia de Afri-
ca, parte da antiga Mauritânia: comprehende oar-
te dos oiteiros , e valles do celebre monte Atlas.,
que sâo fertihflimos , e faudaveis pelo ar purifli«
mo , que gozão. O mefmo nome tem huma Cida«
de da Provincia de Marrocos diftante oito léguas
da Capital daquelle Império , íituada na cofta de
hum dos montes , que compõe o Atlas : foi Opu-
lenta , teve fete mil cafas, e hoje confta de pedras,
Tom. VII. Y iii her-
e aproveiíâo fin^ularmcntc
bu ticos. Perto do Lago e
CâO| alEin chamada, porqi
he he tão venenoío , que n
fazem a experiência em hui
cebe o ar da cruca , fica fei
o banhâo no lago Agnano ,
iuccederia fe o banhaflem ei
ce donzella de Âthenas defej
Medicina, epara iíTo Cm tra
toii a efcola de Herofilo in
ticou efta fciencia em benefic
das y ás quaes aíEftiâa nefte t>
mo hoje as parteiras , e Ag
tolerar que homens exercitafl
municava a todas o íegredo (
aí&m confeguia que ellas fen
partos , c ie diminuifle o lu(
quaes a accufárâo no Areopa
cfte oíEcio , para abufar das
juftificott a fua refta infpn/*sí^
( ^y? )
do Papa j è efte os benze : tem admiráveis virtu-
tudes contra os demónios , raios , tempeftades , e
todos os males. Agonizantes , he huma Irmandade
de penitentes y qne fó ha em Roma ^ cujo exerci-
do he rogar a Deos pelos íentenciados á morte:
na veípera da execução da fentença , pedem ora*
ç6es em todos os Conventos , e no dia tem o Se-
nhor expofto , e fazem celebrar grande numero de
Mi (Tas pelo fentenciado , a quem no Domingo fe-
gainte fazem exeqnias. * Efta Irmandade , de que
trata Moreri , eftá fundada na Igreja do Convento
de Santa Maria Magdalena da Ordem dos Padres
Agonizantes j Religião notável y que fundou S.
CamiJlo de Lellis Cavalheiro Napolitano no anno
de 1586 9 e approvoH Paulo V. a Irmandade em
2616 : o feu Eftatuto he afliftir aos moribundos ^
para que são chamados j rogar a Deos por todos
os outros , fervir aos enfermos y e por efpecial vo-
to aos empeftados : nos Domingos terceiros eftá o
Senhor expofto nefta Igreja trez horas em memo-
ria das trez que efteve na Cruz y e hum Religiofo
faz huma pratica ao povo. Jgojlo era o mez íexto
do anno de Rómulo y chamado por ifib Sextil , e
dedicado a Ceres : o Senado Romano ordenou íe
chamafle Âgofto em memoria do primeiro Confu«>
kdo y triunfos , e vitorias do Imperador Âuguilo y
qne tndo fuccedeo nefte mez. Jlgoujla y ou Juguf^
ta yh^ huma Villa de Sicilia na Província de No»
to muito forte y íituada na cofta Oriental defta
lUia 9 feparada do Continente com foflb communi-
cavei por huma ponte de pedra ^ tem.porto fegu-
ro com trez Foites para defèza : neQa íe hoíjpedár
C lio )
tio os Garalleiros de S. João , quando perderão
Rodes 9 até que Carlos V. lhes deo Malta. Com
grande trabalho a conquiftárâo os Francezes em
1675-9 e a cederão voluntariamente ao Rei deHef-
panha em 1678: a 1 1 de Janeiro de 1693 hum ter-
remoto a deftruio inteiramente, ^gra ^ he hum Rei-
no da índia fujeito ao Gráo Mogor no meio dos
feus dominios: em outro tempo foi governado por
hum Rei .próprio 9 toma o nome da Cidade Capi-
tal fituada além do Ganges, fobre. o Geminí ^ foi
Corte dos Imperadores ^ e nefle tempo ert cÚgna
de memoria pela grandeza das fuás muralhas^ que
ie nâo caminhavâo a cavallo em hum dia ^ com
hum foflb de cem covados de largura , Palácio Im-
perial i e fepulcros ; * boje (6 conferva a fua gran-
de extensão ^ que procede , como todas as outras
Cidades dos Mouros ^ de não ter cafa fobre outra j
e todas pateo para lhe communicar luz y quinze
Praças ^ mais de cento e vinte eftalagens^ que ac«
commodão cada huma duzentas peíToas oom as
equipagens competentes naquelle paiz : no Palácio
Imperial , que algum dia teve, excellentes pintu-
ras , e brotefcos de ouro y aíEfte o Nababo > e iò
exifte o quarto interior antigo , térreo , como íem-»
prefoi^o, e são todos,. renovado comeftuqae pai>
iloy. e nos íitíoa dos oâtros palmeiras: a íepultort
<le Cha-gehan eftá reduzida a cinzas fem o menor
final da barbara arrogância , com que fe levantava
por fitodo de trono quadrado de, ladrilho :inats de
iluzentos. covados i^ aide^&a ihtalher teve<iiibis diB-
i^ção y ou foi mais refpeitada:*depoÍ8 daB:«ucrras
^r caufa de huns legâdoa perpétuos que deixoa ^
pa-
(i6t)
para qne os Eunucos ( hoje extin£los ) lhe guar^
daíTein os oflbs , que exiftem com efFeico debaixo
de todo o edificio em huma abobeda pequena , e
confta o fepulcro de trez eftaçôes , como eirados
tudo de ladrilho com fuás torres , hoje dtftruidas.
jígramut , ou Jgramuni , Villa antiga de Catalu-
nha j goza o corpo de Santa Sabina. Jgreda , he
Villa de Hefpanha nas raias de Caftella para a par-
te de Aragão, e Navarra: tem mil vizinhos, còm-
mercio de pannos , excellentes gados , por armas
hum touro com huma mitra entre as pontas , no
meio huma figura de hoftia , e na orla a letra : T?-
berio Cefar Âugujlo filho doheos AuguftQ. Nefta Vil-
la nafceo a Venerável Maria de Jefus chamada de
Agreda , a quem a Virgem noíTa Senhora revelou
a lua Vida, e de feu Filho , que ella efcreveo nos
livros que hoje correm com licença da Sé Apofto-
lica , e titulo de Myftica Cidade de Deos : feu pai
fe chamou Francifco Coronel , fua mâi Catharina
de Arena, a qual teve revelação para edificar hum
Convento de Religioías da Conceição , para o
que deo confentimento o marido , e começou a
fabrica a 13 de Janeiro de 1619 , em que ella to-
mou o habito com duas filhas , e o marido o de S«
Francifco , onde já tinha dous filhos do mefmo
jnatrimonío , tudo na mefma Villa» A Venerável
Maria com diípenfa na idade foi eleita AbbadeíTa
no anno de 1627: foi íempre exemplar de todas as
virtudes , recebeo grandes mercês da mão divina ,
e a maior foi a das revelações , com que efcreveo
efta fingular obra, âqual lhe mandou queimar hum
Confeuor na aufencia do que a dirigia , e ella obe-
de-
jcL^iua mil nomens , c a b
íincoeiíia peças: confiava s.
Ungaros plebeios , e ieiíce
poucos ajudados varoniliix
defenderão ^ e os Turcos
tempo deile houve muitas ^
hum dia ; e como as mulhe
com os homens a defender
os Turcos hum Ungaro ao
a mãi lhe rogou deixaíTe o c
tar o corpo do marido j ac
Deos me livre de o enterrar , J
€Ípada , e broquel do marid
drôes inimigos y e recolheo-i
tar alguns Turcos. Outra vei
a qual trazia huma grande p<
çar^ lhe tirou a vida huma I
mente carretou a pedra moU
mãi , e a foi lançar fobre os \
muralha. Mahompr Tíí - ^-
doas léguas fora do campo. Em t ^84 a íitiárío os
Imperíaes , durou o cerco trez annos j até que fe
renderão os Turcos , pedindo aíEnafle o Imperador
a capitulação , com receio de que os Catholicos
ufaflem com elles o meímo que fizerâo os feus ven-
cedores. Agrippa. Herodes Aggripa , filho de Arií-
tobulo y e de Bernice , neto de Herodes o Gran-
de , nafceo onze annos antes de Chrifto Senhor
noíTo : feu avô o mandou para Roma ^ onde mere-
ceo o afFeâo do Imperador Tibério , de feu filho
Drnfo , e fua cunhada Antónia : fahio de Roma ,
quando morreo Druío , e Tibério expulfou todos
os que lhe podiâo lembrar a morte do filho , foi
recebido em Judéa por feu jio o Tetrarca Hero-
des y que lhe deo o governo de Tyberiades com
huma grande mezada y que nunca lhe baftou y de
que enfadado o tio , o obrigou a ir para Roma y e
contrahir grandes dividas y pelas quaes o mandoii
Tibério prender, e Antónia o defempenhou : affei-
çoou-fe delle o neto delia Caio Caligula com tal
extremo y que Herodes foi accufado y e prezo por
defejar a morte de Tibério para ver Caio no thro-
no , efle o foitou , deo a Coroa de Judéa , e fez
hum dos mais poderofos Reis da Aíia : degoUou
Sant*Iago , prendeo a S. Pedro ; e indo depois da
Paícoa a Cefarea celebrar huns jogos em honra do
Inliperador y appareceo no throno com veítidos tâo
ricos, que os Deputados deTyro, e Sidónia, que
lhe vinháo pedir paz , lhe díficrâo acompanhados
dos aduladores do povo , que parecia Deos y de
que elle fe deívaneceo , e logo vio fobre huma cor-
da hum vulto , que annos antes lhe apparecêra ni&
pri-
( ^^4 )
prízioy e diíTera havia fer iirre brevécnente y mas
que morreria em finco dias j (e outra vez o vifTe,
logo o açoitou hum Anjo y e paíTados os finco
dias morreo convertido em bichos j e padecendo
dores infernaes no anno 43 de Chrifto. ^grtppa II.
filho deHerodesfoi o ultimo Reidosjudeos , crea-
va-fe em Roma em cafa do Imperador Cláudio ,
quando morreo feu pai, e por fer de menor idade ^
lhe nâo deráo a Coroa , fenâo depois da morte de
Herodes Rei de Chalcida irmão de Agrippa I. : paf-
fados quatro annos lha tirou 9 fazendo izentas mui-
tas Cidades, de forte que Agrippa ficou fendo Rei
íò em o nome, etoda fua jurifdicçáo era noEcclefi*
aftico y pelo que fe occupava em depor a cada paf-
íb os Pontifíces , arrogando afio Summo Sacer-
dócio : cafou com huma filha de Cayfaz , matou
Sant^Iago menor , fe bem muitos dizem , que
quem maquinou a morte defi^ Santo Apoftoio ,
fora Agnano , ou Anarió filho de Annaz , a quem
Agrippa tinha feito Pontífice, e o privara porcau-
fa defta morte : o certo he que os Romanos eícan-
dalizáráo fempre a Agrippa , eelle lhe foi tão leal,
que vendo nâo podia cohibir emjudea a rebelião,
juntou as fuás forças com as de Nero, para os caf-
tigar, e ficou ferido no cerco Gamala : depois da
morte de Nero foi a Roma , donde veio pedir as
alviçaras a Vefpaziano Imperador novo, que efiava
em Judea : afliftio com o Principe Tito á deftruição
de Jerufalem , e acabada a guerra morreo em Ro-
ma: teve grandQS, prendas , e fó Jofeío o nota ^e
inceftaofp com fua irmã Berenice.
LI S B O A , Na Offidna de Mfgucl Manefcal da Cofta » rmprdfur do
Santo Oílicio. Anno 17^4* C^nt todas atijcinfús n^^Quê$%
( »<f )
CONFERENCIA XXIII.
AGtia do Sol. He huma fonte vizinha ao
Templo de Júpiter Amon em Lybia , Pro-
víncia de Africa , onde agora he o Reino
da Barca ^ cuja agua pela manhã eftá mor-
na , e vai aquecendo por gráos , de forte que pe-
la meia noite ferve , e logo vai perdendo também
por gráos o calor até amanhecer. Agualva , e
Agua de Moura y são dous rios do xioífo Portugal y
que íejuntâo no Cadâo: o mcfmo nome Agualva
tem huma Cidade na noíTa Ilha Terceira, diftante
duas léguas da Villa da Praia. Jguas mortas. He
huma Cidade do baixo Languedoc na Dieceíe de
Nimes junto ao mar, duas léguas diftante doRho-
dano , e finco de Mompilher : tem grandes mari-
nhas , feguro porto , e hum grande farol em betie*
ficio dos navegantes : derâo-lhe efte nome por eftar
cercada de lagoas, e charcos , de que refuhão va-
pores peftiferos , e tantas doenças , que hoje eftá
3uaíi deferta* Agiier^ Cidade de Africa no Reino
e Marrocos, fundada em hum Promontório junto
ao monte Atlas fobre o mar: nós a conquiftámosj
e no anno de 15:36 a governava Gutterre doMon-
tazoio , que foi íitiado por fincoenta mil Mouros ,
morrerão dezoito mil no combate , mas renderão
a Praça, degollárão a guarnição, e leváráo. cativos
o Governador , e fua filha D. Mecia , a quem o
Xarife Mahomet quiz violar, promettcndo-lhe fol-
tar o pai ^ e não confentindo ella , a mandou en«
Tom. VIL Z tre-
(266)
tregar aos negros ^ para que a gozaíTem. Então por
evitar efta aponta , confentio a recebeíTe por mu-
lher própria , o que elle fez ; porém as outras mu-
lheres Mouras j vendo o muito que a amava , lhe
derâo veneno , eftando pejada. Jguila , ou ^guia^
he huma Cidade na Província de Habat Reino de
Féz , hoje arruinada y mas com fertiliíSmos y e vif-
fofos arrabaldes^: nos bofques vizinhos ha muitos
leóes , mas tâo cobardes y que fogem de qualquer
menino, ^guiuy Rainha das Aves y a mais forte ^
veloz, e de mais alto voo: he de cor cinzenta or-
dinariamente y e outras quaíi negras y o bico pre-
to y curvo , olhos rafgados femelhantes aos huma-
nos y vifta excellente ; faz o ninho em rochedos aU
tiíEmos y fuftenta-fe y e aos filhos com carne de
paíTaros y coelhos y lebres , &c. e tanto que podem
voar, os leva nas unhas até o mais alto, quando o
Sol eftá mais vigorofo , e então os larga , e dcí-
pede para fempre : vive muito , tem duas ordetis
de pennas fempre , e por iflo larga todos os annos
huma , quando a iegunda eftá crefcida; algumas
tem o bico amarelo , e todas géfto foberano. O
Império Romano , cuja primeira bandeira foi hum
molho de palha pendurado em hum páo , tomou
depois a Águia por infignia dos feus pendões , e
Eor iflfo chamarão Aquiliter ao Alferes : não fe fa-
e quem foi certamente o primeiro y que efcolhea
^as armas, fò fim, que o Imperador Confiante-
no lhe mandou accrefcentar a fegunda cabeça para
fignificar o dominio , que tinha nos dous Impérios
de Oriente , e Occidente. * Muitos Authores at-
feverâo y que certamente fe virão já Águias vivas
com
com duas cabeças y e que ha poucos annos viera
da nova Hefpanha huma deftas embalfemada : íe
affim he , creio procede de terem os ovos duas ge-
mas , porque o mefmo fuccede a cada paflb nos
das gailinhas, de que nafcem (como vi) frangaos
com duas cabeças j quatro pés j e quatro azas ; po«
xém nenhum vive , e poderão viver os monftros
das Águias , por ferem mais robuftos. Nos ninhos
das Águias fe achão humas pedras ouças , e fono-
ras por caufa de outra, que tem dentro, e muitos
julgâo fer ovo petrificado : chamâo4hc pedra de
Águia y tem virtude para facilitar os partos ; e tu-
do o mais que delia refere Dioícorides , e Mathio*
Io sâo fabulas. JÍguia branca , he nome de huma
Ordem Militar inftituida por Uladislao V. Rei de
Polónia no anno de 1325^ , quando cafou feu filho
Caíimiro com huma filha do Duque de Lithuania.
Hum ninho de Águias pequenas , que acharão os
primeiros Reis de Polónia , quando fe abrirão os
alicerces da Cidade de Gnefna , deo occaíião a que
fe tomafie a Águia por infignia defta Ordem : o ha-
bito confífte em hum colar de cadeias de ouro , do
qual pende huma Águia coroada de prata. Águia
negra , he nome da Ordem Militar , que inftituio
Frederico Duque de Brandeburgo , Eleitor do Im-
pério y para folemnizar a fua coroação de Rei da
rruífia, que fe fez em Conisberga a 18 de Janeiro
dei7oi y àxzy em que a inftituio, e deo o habito a
vinte Grandes da fua Corte : confífte elle em hu-
ma banda cor de laranja y que corre do hombro e&
querdo até o lado direito por baixo do braço , da
qual pende huma Cruz azul cercada de Águias ne-
Z ii %J^^^>
( 262 )
gras, e a letra : Suum cuique y a cada hum o fen.
Jguilarj he hum lugar de Hefpanha na parte Me-
ridional do Reino de Navarra junto a Bifcaia , e
rio Ebro, entre Logronho, e Salvaterra. Jguilar
dei Campo y he huma Villa de Hefpanha emCaftel-
la a Velha , quinze léguas diftante de Burgos ío-
bre o rio Alhama entre as Cidades de Calahorra,
e Soria. D. Henrique II. a deo em Condado afea
irmão D, Tello, Senhor de Bifcaia, ehoje a gozão
os Marquezes de Aguilar. Jlguilar àelneftilbas y he
huma Villa do Reino de Aragão. D. João I. a deo
a D. Ramires de Arelàno, hoje pertence ao Duque
de Monte Leão. Jguilar. Jeronymo de Aguilar,
Hefpanhol Diácono, fez viagem para a Ilha deS.
Domingos na America deHeipanha antes dos def-
cubrimentos , e conquiftas de Fernão Cortez : nau-
fragou a caravella nos baixos dos Lacraos , /al-
vou-fe elle com dezenove companheiros no batel ,
e faltarão em terra na Cofta de Yucathan povoada
dos Gentios Caribas , cujo Cazique mandou fepa»
rar os que vinhão mais gordos para fazer delles fa-
criíicio aos idolos, e banquete aos amigos : hum
dos que mandou refervar por magro foi jeronymo
de Aguilar , o qual fugio da gaiola de madeira ,
onde o alimentavão, para fervir, quando eftiveflc
gordo, em outro facrifício: paflTou muitos dias pe-
los montes comendo hervas , até que o prenderão
outros índios inimigos dos Caribas ; a eAes fervio
alguns annos com differente forte , até que chegou
a ler valido do Cazique , a quem fervio na guer-
ra : cfte por morte o deixou recommendado a feu
filho, que lhe deo nas campanhas os primeiros em*
pre-
( 2^9 )
pregos 9 de que réfultou perder o amor i pátria, e
nação , de forte , que não refpondeo á carta , em que
Fernão Cortez o folicitou para a fua companhia ,
e morreo entre os bárbaros por feu gofto. O mef-
mo fízerão outros companheiros , a quem os Cari-
bes perdoarão as vidas. Aguillon^ ou Eguillotiy he
huma Cidade de França em Agenoes de Guiena
entre Agen j e Tonneins , banhada dos rios Lot , e
Garona: foi faqueada no anno de 1430 , e eregida
em Ducado Par no anno de 15*99. PoflTuio muito
tempo efta Villa a (obrinha do Cardeal Richilieu,
chamada Duqueza de Eguillon , hoje os Duques
de Richilíeu. Jguirre. S. Martinho de Aguirre ,
òu da Afcensáo , da Ordem Seráfica , Martyr do
Japão canonizado : dizem que era natural de Ver-
gara em Guipofcoa, outros que deVaranguela em
Sifcaia. O Imperador Taíco^Sama o mandou pren-
der com outros Religiofos òo anno de 1596 : foi
crucificado com vinte e finco companheiros , e o-
brou grandes prodígios. Agojlinho. Aurélio Agof-
tinho , Santo Doutor da Igreja , e íua hiz , naíceo
em Africa na pequena Cidade deTagafte^ vizinha
de Madaura , eHypponia na Província deNumídia :
fcus pais forão Patrício, Cidadão illuftre Gentio ,
que no fim da vida fe baptizou ; e Santa Mónica ,
que com as fuás lagrimas converceo o marido 9 e o
filho : nafceo a 13 de Novembro de 3 5* 4. A Mãí
tão illuftre, como pia, defde o berço lhe enfinou
íempre os Myfterios da Fé , de forte , que pade-
cendo na primeira idade huma grande dor de efto*
mago, pedio o Baptifmo; porém melhorandb; lo-
go, o deferio para outro tempo: eftudou em Ma-
Tom. VIL Z iii dau-
C ^70 )
daará as Humanidades ; e paíTando a Cartago pfl<>
ra frequentar os eftudos maiores ^ lhe morreo o
pai, tenJo elle dezefetc annos : então fe applicou
aos livros fagrados ; porém aborrecido do eôjrlo y
os dcfprezou. Já então o engenho de Agoftinho
era aíTombro, porque fabia todas as artes liberaes^
(elle o diz) íem queMeftre algum oeníinafle; mas
eíTa mefma agudeza o fez cahir nos erros dos he-
reges Maniqueos , que na fua feita lhe promettê*
râo acharia a verdade , e bemaventurança : /ègui-
iâo*fe os vicios da adolefcencia , fem que as lagri-
mas da Mãi Santa lhe pudeíTem corrigir a vida«
Enílnou primeiro em Tagafte, e depois Rhetorica
em Cartago , onde em hum Certame Poético foi
coroado pelo Pro-Conful Romano. Nove annos
leguio os Maniqueos ; mas vendo que Faufto fea
Bifpo , e entre elles Oráculo , lhe nãó dava foiu*
ção ás dúvidas , que tinha naquella feita , não cui-
dou mais nella ; e aborrecido dos licenciofos coí^
tumes dos eftu dantes Cartaginezes j enganou a mâi ,
e navegou para Roma , onde padeceo huma mor-
tal enfermidade , de que o livrarão as oraçóes, e
kgrimas da Santa Mãi aufente. Leo Rhetorica em
Roma , e depois por confelho do Prefeito Syra-
macho em Milão, onde o Imperador Valentiniano
moço havia eftabelecido a Corte , ahi o veio buf*
car a Mãi ; e confeguindo que elle ouviíFe os Ser-
mões de Santo AmbrofiojArcebifpo daquella Cida-
de , deixou os Maniqueos totalmente ; e á imita-
ção dos antigos Académicos , duvidou de tudo ,
em quanto não achava verdade , que lhe fatisfizeíTe
o entendimento tão fubtil nas iuas dúvidas , que
San-
( ^71 )
Santo Ambrofio temendo ograviffimo damno, que
podião fazer á Igreja os argumentos deAgoftinho,
mandou que nas Ladainhas do feu Bifpado ( que
ainda hoje tem efpecial rito em tudo ) diffeííem :
Da Lógica de Jgòjlinbo nos livrai , Senhor. Alif-
tou-fe Cathecumeno ; e ouvindo contar a prodi-
gioía vida, ^ morte (então fuccedida naPaleftina)
de Santo Antão Abbade, afflrgio-íe, vendo que os
rudes conquiílavão o Ceo , e qne elle doutiíEmo
vivia immerfo em dúvidas , e .vícios : ifto , os Ser-
mões de Santo Ambroíio, os confelhos deS. Sim-
fliciano j e as orações , e lagrimas da Mãi j a quem
um Anjo tinha moftrado Agoftinho em huma vi-
são nomefmo paralJelo^ em que ellaeftava; e San-
to Ambrofio tinha dito , que era impoíEvel fe per-
defle hum filho de tantas lagrimas , o obrigarão a
deixar a Cadeira, e retirar-íe para a quinta deVe-
recundo, onde fe applicou á lição dasEpiftolas de
S. Paulo. Hum dia, para a Igreja fempre memorá-
vel , e que cila fefteja , eftava Agoftinho vacilan-
do nas verdades Catholicas reclinado debaixo de
huma figueira com p livro das Epiftolas á vifta ,
quando ouvio a voz de hum Anjo , que íuavemen-
te cantando lhe diflt : Levanta-te , e lê. Sentou- fe ,
abrio o livro , e o primeiro texto , que fe lhe ofFe-
receo aos olhos , roi aquelle , em que o Apoftolo
nos diz , que deixemos contendas , emulações , ban-
quetes, elaícivias, enosviftamos dejelus Chrifto ,
imitando-o. Então lhe entrou a luz do AltiíEmo
no entendimento , e cahio como outro S. Paulo.
Teftificárão as lagrimas a firme refolução , com que
abraçava a Fé ^ e as da Mãi ^ e amigos feftejárão a
re-
( ^72 )
refoluçâo, que teve o deíejado fim em Miláo no
fabbado Santo do.anno de 387 , rendo Agoftinho
trinta e trez annos de idade. Baptizou-o Santo
Ambroílo , e com elle a feu filho natural Ádeoda-
to, e feus amigos Álipio , Nebridio , Ponciano y
Simplício, Fauftino, Condolo, Valeriano, Jufto,
e Pauljnó; Acabada a função , Santo Ambrofio
cheio de alegria difle em voz alta : Te Deum laun
damus , e Santo Agoftinho de joelhos refpondeo :
Te Dominum confitemur , e ambos alternadamente
compuzerão todo o Hymno Te Deum , defde então
o mais eftimado da Igreja , e quotidiano. No Do*
mingo in Albis , em que Agoftinho , e todos os
Neófitos defpírâo as veftiduras brancas, veftio eU
le o habito preto feito por Santa Mónica, cingio-
íe com corroa , e fe coníagrou a Deos no eftado
Religiofo, que naquelle tempo coníiftia em deixar
tudo, viver cafto, e folitario. Para executarem el*
le, e feus amigos efte fanto propoílto, determina*
râo a jornada para Africa , fazendo caminho por
Roma, onde não podendo ji aquelle Sol da Igre-
ja tolerar a loberba djos Maniqueos, efcrevço con*
tra elles o primeiro livro. No porto de Oftia Ty-
berina , não tendo yi Santa Mónica mais que defe*
jar nefta vida , paíTou delia para a Bemaventuran-
ça , e foi íepnJtada no Templo de Santa Áurea.
Deo pouco deppis; Santo Agoftinho Regra aos
Monges de Etruria , e na praia fronteira á Cidade
de Corneta, querendo efpecular, e comprehender
o Myfterio da Santiífima Trindade, lhe appareceo
o. Anjo em^gura de menino , que intentava com
fa uma concha lançar todas as aguas do mar exn inti-
ma
(^73 )
ma pequena cora ; e dizendo-Ihe o Santo , que era
trabalho inútil , lhe refpondeo , que aflim traba*
Ihava elle; cdefapparecendo , ficou até hoje no íi-
tio huma prodigiofa fonte. Em Africa lançou o ha*
bito religiofo a muitos , que lho pedirão , e com
elles em caía de feu pai eftabeleceo a Ordem Ere-
mitica, e viveo com elles trez annos , exercitando
as virtudes , efcrevendo livros , enfinando os ru-
des, e convertendo hereges. Tão grande era Agol-
tinho nefle tempo , que com as fuás orações curou
de huma chaga incurável a feu amigo Innocencio ,
quando intentavâo cortar-lhe a perna ; e de forte
dpp/audia já Africa a fua fama y que elle fugia das
Cidades^ quenãotinhãoBiípos, temendo o elegef-
íem os moradores : veio porém a Hypponía para
converter hum amigo fem aquelle receio , porque
nella havia Bifpo ; mas aíEftindo ao Sermão defte ,
em que confultava o povo na eleição de hum Pref*
bvtero , todos clamarão foíTe Agoftinho ; e não
coftante repugnar elle com toda a efHcacia , o or-
denou o Bifpo S. Valério , e para o confolar , Jhe
deo huma horta, em que edificou ofegundo Mof-
teiro da Ordem Eremitka. Ordenou-Jhe prégafíe
na fua prefença , coufa até efle tempo nunca vifta
cm Africa ; e temendo lho tiraífem para Bifpo de
outra Cidade, alcançou do Primaz lho confagraí-
fe por Coadjutor, e futuro fucceflbr na Mitra de
Hypponia. Nefte meio tempo dilputou Agoftinho
gublicamente dous dias com Fortunato, Bjfpo, e
leftre dos Maniqueos , o qual envergonhado , e
convencido, fugio. Por ordem dosBiípos doCon-
ciJio Hypponenfe difputou neIJe com admiração de
C a74 )
todos. Depois de fagrado Bifpo foltou os aque»
dudios da iabedoria em livros , e Sermões contra
todos os hereges daquelles feculos, e contra todos
os futuros, como a Igreja confeíTa nos feus Hym«
nos : daqui fe originou intentarem muitas vezes ti«
rar-lhe a vida , que Deos lhe confervou prodigio-
famente. Começarão as Igrejas de África a pedir
Religiofos Eremitas para feus Bifpos neífe tem*
po , outros também rogados fahíráo para fe orde-
narem Presbyteros y e ajudarem os Bifpos ; e A-
goftinho vendo que devia hofpedar a muitos j e
que os hofpedes inquietavâo os Religiolos y cha*
mou para as cafas Epifcopaes alguns de feus Ere«*
mitas, que todos erão Leigos , e os ordenou j os
quaes depois de ferem Clérigos confervou na fua
companhia para ailiftirem aos hofpedes : deftes fe
confagrárâo depois muitos em Bifpos, com ane fe
proverão as Igrejas de Africa. Padeceo Agoírinho
innumeraveis trabalhos pela Igreja , difpotou trez
dias com Félix Maniqueo y que abjurou y venceo
Emérito, Bifpo, e cabeça dosDonatiftas, perante
os Legados Àpoftolicos ; o meímo fez aos* Arria-
nos, relagianos, e Çemi pelagianos , já com difpu**
tas , já com livros , pregando , ouvindo requeri*
mentos , defpachando benignamente a todos , e
paífando ordinariamente os dias fem comer para
acudir a todos. Foi tão eímoler , que muitas ve-
zes reduzio a dinheiro os vafos fagrados para re*
mediar os pobres.; táo defintereífado , que não fó
recufou doaçóes feitas á fua Igreja , mas cedeo de
muitas antigas , entregando aos herdeiros dos que
as fizerâo as efcrituras. Entrarão os Vândalos
em
( *7ir )
em África , e depois de a conqiiiftarem qiiafi toda ,
cercarão Hypponia ; e o Santo vendo as calamida-
des j que padeciâo as fuás ovelhas y pedio a Deos
que ou livrafle a Cidade, ou confortafle osCatho-
licos para tolerarem tantos males , ou finalmente o
tiraife defta vida. Adoeceo no terceiro mez do íi»
tio 9 curou hum enfermo , pondo-lhe as mãos na
cabeça , ordenou lhe tiveíTem diante fempre os
Pfalmos Penitencia es, que lia, derramando copio-
fas lagrimas , e entregou a alma a Deos a 28 de
Âgofto de 430 , com letenta e féis annos de ida-
de, e trinta e quatro deBifpo. O feu Corpo, Mi-
tra, eBago forâo trasladados para Sardenha , quan-
do os Vândalos conquiftárâo Hypponia ; tudo ref-
gatou Luitprando Rei dos Lombardos , que lhe deo
lepultura na Igreja de S. Pedro in Cwlo áureo na
Cidade de Pavia , onde alternadamente aíEftem ao
corpo do Santo os Eremitas , e Cónegos Regran-
tes , feftejando eftes S. Pedro , aquelles Santo A*
froftinho. Compoz o Santo Doutor innumeraveis
ivros , dos quaes alguns fe perderão , e hoje exif*
tem da ultima imprefsão , correâa pelos Monges
de S. Mauro , os que compõem onze volumes
grandes. Hum Anjo lhe tirou o coração , quando
elle efpirou, e o deo muitos annos depois aS. Se-
gisberto , Bifpo em França , indufo em huma cuf-
todia , hoje íe ignora onde eftá ; mas em quanto
o Anjo o não levou , não entrava herege na Igreja ,
em que elle fe guardava , porque morria ao entrar
da porta ; e quando fe cantava o Trifagio Seráfi-
co Smfíusy SanStusy Sanílus^ dava faltos, feftejan-
4o a Trindade Santiíllma. O feu Bago , e Mitra
fe
( a7<5 )
fe confervâo em Sevilha ; hum dente no Santuário
do Convento de N. Senhora da Graça de Lisboa ;
relíquias em todo o orbe Cathoiico. Jgojiinbo de
Cantorbery. Santo Agoftinho , Arcebifpo de Cantor-
bery no Reino de Inglaterra, da Ordem deS. Ben*
to , e Apoftolo de Grão Bretanha : era Prior do Moí-
teiro de Santo André em Roma , quando S. Gregó-
rio Magno vio naquella Cidade vender os meninos
Inglezes gentios em praça publica; edizendo-lhefe
chamaváo Anglos , exclamou chorando: Âi quefor^
mofas almas poffue o demónio ! Com razão lhe cbamão
Anglos , porque parecem Anjos. Mandou logo Santo
Agoftinho com outros Monges da mefma Ordem á«
quellailha, onde pouco antes fe haviâo eftabelecido
os Inglezes , e Saxonios , expulfando os Bertôes , que
íe tinháo retirado para Gales , e Cornualla , os pou-
cos, que não entrarão em França : dizem concorre-
ra , e pedira efta Mifsâo a Rainha Bertha , filha de
Cariberto, Rei de França, mulher deEthelberto,
Rei deKent em Inglaterra , e gentio, a quem ella
moveo fempre para abraçar a Fé , e confeguio fe
converteíTe com as praticas de Santo Agoftinho , cu-
jo exemplo feguio todo o Reino de Kent logo , c de-
pois toda Inglaterra , de forte, que tendo principio
aMifsão noanno de 596, em dia de Natal do arnio
ieguinte baptizou Santo Agoftinho dez mil peflbas.
S. Gregório o fez Arcebifpo de Cantorbery, a S. Me-
lito de Londres , a S. Jufto de Rochefter : morreo em
Cantorbery ziá de Março de 607 , e foi venerado
por Santo, e Apoftolo daquelle Reino com todo o
culto ^ e fiimma piedade até a entrada doScifma.
LISBOA , Na Offidna de Miguel Maneícal daCofb , Impreffor do
Saqto OfRcio. Anno 17^4- Cojtn todas asUc^fai ncc^ariêh
( >77 )
CONFERENCIA XXIV.
AGoJiinho de Sicília , conhecido pelo nome
deMatthens deTcrmes em toda a Itália,
* he o Beato Agoftinho Novelo da Or*
dem dos Eremitas de Santo Agoftinho , e
do qual ella reza ha trez annos a 28 de Abril: ef-
tudou em Bolonha , onde fe graduou em Direito
Civil, e Canónico, que depois enfínou na mefma
Univeriídade : daqui paflbu a Sicilia , onde naf-
cera ; e o Rei Manfredo , conhecendo a Aia gran«<
de capacidade 9 o fez primeiro Miniftro^ oflicio, em
qiie mais refplandeceo a pureza dos ícus coftumes
á vifta dos preverfos do Rei , a quem por força
acompanhou na batalha de Benevento , e vendo-o
«ella morto , fe auíentou do campo tâo disfarça-
do, que todos julgarão tinha morrido no conflito.
Em Sicilia, onde fc rccolheo occulto , teve huma
enfermidade mortal , em que fez voto de Reli-
gião , »fe Deos lhe dcffe faude. Reftituio-fe mila-
frofamcate , quiz entrar na Sagrada Ordem dos
regadores, e para o confulrar, mandou trez ve-
zes chamar Rcligiofos Dominicos ; e os criados ,
não obftante as advertências, lhe chamarão fempre
Agoftinhos. Conhêcé9 o fim dcfte myfteriofo enga-
no, tomou o habito, mudou o nome, e fò cuidou
cm viver folitario , humilde, e defconhecido : pa-
ra ifto pedio mudança de Sicilia para Tofcana , e
efcoiheo o Convento de Santa Barbara , em hum
deferto junto a Sena, cujo Prior o levou por com-r
Tom. VIL Aa pa-
(»78)
panheiro aRoíTa. Âlli vio osfeus Religiofos affli-
£los CQng huma demanda qqafi perdida na Caria ,
em qub fè intêreíTava ò património do Convento.
Compadecido Fr, Agoftinho , bufcou o Letrado , c
pedio-lhe o neceíTario para efcrever huma dilatada
petição : fervio de recreio o intento , porque o
Advogado vendo*o tSo humilde , pobre, emal ali-
nhado , fe divertio com elle , julgando que nem
ler fabia ; mas importunado lhe deo papel, tinta,
e penna , com que fe recolheo Fr. Agoftinho y e i
vifta dos autos fez huma petição tal , que vei>
do-a o Advogado da parte contraria, diíTe: O» 4
fez AnjOy ou demónio^ ou o Senhor Mattheus deTer^
mes , com quem ejiudei em Bolonha , e morreo na ha^
talha de Benevento com o Rei Manfredo. Quiz ver o
Author , e conheceo logo era o que elle julgava
marto: quiz publicar a todos o thefouro efcondi*
do , e affligio*fe Agoftinho com exceíTo , pedindo»
lhe o deixaiTe viver incógnito , íe bem não pode
confeguillo , porque o condifcipulo deo aos Reli*
giofos os parabéns de vencerem o pleito , e difle^
lhes quem era Fr. Agoftinho , de que fe feguio ve-
nerai lo de forte , que o Bemaventurado Clemente
de OíEmo , então Geral da Ordem , o levou com*
figo para Roma: obrigou-o a que fe ordenafle Sa*
cerdo te , e pedindo-lhe o Papa Nicolao IV. hum
Religiofo para feu Penitenciário , lhe preíentoa
Fr. Agoftinho, que fò conheceo o emprego, para
que o conduzira , quando o Papa lhe poz as mâoa
na cabeça , acção , que o obrigou a chorar exceí^
fivamente por humilde, e moveo a lagrimas o Pa«»
pa ^ e Cardeaes prefentes. Sérvio nefte emprego ^
e no
( ^79 )
c no de primeiro Miniftro a Nicolao IV. 9 Celcfti-
no V. ^ e Bonifácio VIII. , rejeitando Mitras , e
Capello Cardinalício em todos eftes Pontificados ^
e íiifpirando pelo ermo. Efte ultimo o mandou
por Legado d latere a Sena para focegar as altera»-
ções da Tofcana , c depois o obrigou a aceitar o
oificio de Geral , que occupou fó dous annos do
fexennío , c renunciou para fe retirar ao Convento
folitario de S. Leonardo junto a Sena , onde com
poucos companheiros viveo celeftialmente nove
annos, e foi gozar o Ceo a 19 de Maio de 1309.
Obrou muitos , e notáveis prodígios , teve defde
ent£o em Sena , e toda a Itália culto publico com
o titulo de Santo Agoftinho Novelo , que lhe con-«
firmou oSantííEmo Padre Clemente hoje reinante.
Agoftinho Portuguez. Fr. Agoftinho da Trindade y
da Ordem dos Eremitas de Santo Agoftinho , en«
íiaon Theologia na Univerfidade de Coimbra no
decimo fexto fcculo ; o mefmo fez depois em To-
lofa , onde compoz , e explicou fnbtiliííimamente
oMeftre das Sentenças, e o Angélico Doutor San-
to Thomaz : efcreveo hum admirável Tratado da
puriífima Conceição da Virgem Senhora. Ainda
hoje conferva o nome doSapientiíIimo Portuguez,
até na boca dos hereges, que cofumírâo hum Tra-
tado , que efcreveo contra, os Calviniftas , e ou-
tros, jâgoftinhos sfio os Relígiofos Eremitas <Ie
Santo Agoftinho , Calçados , e Deícalços. * Nefte
titulo , e no de Santo Agoftinho efcreveo Moreri ,
como fempre a verdade ; mas os feus tradu6):ores.,
além de lhe accrefcentarem em toda a obra noti-
cias Iridiculas, e vidas de íogeitos, que não inere-
Aa ii cem
( 28o )
cem lembrança alguma , neftes dous títulos vicia»
rão o que elle^fcreveo y tão cegos , que mil ve-
zes fe contradizem j e (em refpeito a Deos , Bui-
las , Decretos, Concílios, e Cenfuras, nem pejo
dos homens, diíTerâo que a Regra de Santo Ago(^
tinho era falfamente attribuida ao Santo, como fe
foíTe neceíTario dizer tanto , para os julgarmos pe»
los maiores ignorantes das determinações da Igre^
ja, hiftoria Eccledaftica , e Secular. Eftes Religio*
fos Âgoftinhos Calçados paíTárão de Africa y on-
de os &nidou, e propagou Santo Agofiinho, para
Sardenha com o corpo do Santo Patriarca , e de*
pois fe diâFnndírão por toda a Europa , na qual
perfeguidos das guerras , mudanças de Impérios ,
pobres, retirados das povoações , íe dividirão em
muitas Congregações^^ que tomarão os nomes dos
íltiosi,. OU; Santos, que as governarão, confer^an-
do-fe fempre muitas fó com o nome de Ordemnde
Santo Agoftinho ; o qual appareceo trcz noites
fucceílivas ao Papa Alexandre IV. cercado de hum
grande refplandor , veftido com habito preto , e
capello, citlgido com corréa, como usão^^os Padres
Eremitas , e fobre o habito pluvial , e na cabeça
mitra. Notou o Papa que o Santo Doutor neftas
visões tinha a cabeça grande , e os membros do
cprpo pequeno^ , do que admirado confultou ho-
mens doutos , e pios , que todos aíTeritáráo figni-
ficava aquella prodigiofa monftruofidade na cabeça
grande o grande fundamento que o Santo fora na
Igreja de Deos , e os membros pequenos a fua Re-
ligião efpalhada pelo mundo, e deftituida de todo
o favor : tudo ii^o são palavras formaes ' do: Papa
Aíe-
Alexandre IV. na Bolla da ooi^ dos Eremiaf As-
guftiniaoos , em que refere a TÍsão , c o r
dos qne confultou; e para o cxectitir, iin?o a
das as Congregações de Sanro A^cniobo 25
trás y qoe fendo do mefmo Sanro , e gTurÍ£:>iid a
inefma Regra , fe chamarão hnxa de S. GtLino
das neftes (itios , de forre qce o corpo rr::
dos Eremitas de Santo Ago&inho , cise fen?rfe ex*
iftio , defde que os hindoa o Sanro , e haria Dr£b
tempo ^ como diz o Papa , e todos com Svb^o As*
toníno de Florença , crefceo notardis^ire coa a
nniáo das outras Congregações ^ qi^e feaia As-
guCkinianas , tinhão direr los cornes , e íe gortrsa-
vâo feparadas. Crefceo àtic^ então eêa fsg^da
Família tanto em virtudes, letras, drgnida^ie^, e
numero de Conventos , que eires país^o de ào^^^
mil , e o mais nem fe pôde numerar , nem defere»
.ver. Tiverão grandes litígios com os CoDego5 Rjc-
grantes a refpeito da filiação de Santo Agi^nho;
e hum deiles o múor j eque decidio aqoeíEao, \o\
em Pavia, de iorte que a Igrqa de S. Pedro, o*
de eftá o corpo do Santo, ehe commua por alter*
nativa dos mezes ás Religi6es Eremitica , e Ca-
nónica , efteve dez annos interdicla , até que o Pa*
pa Urbano VIII. fentenceau definitivamente a can-
ia a favor dos Eremitas , ordenando que efies fò ,
e fempre , ainda que na alternativa nâo lhes com-
petifle o mez de Agofto , feftejaflem com primei-
ras , e fegundas Vefperas a Santo Ágpftmho , re-
Tom. VII. Aa iii cc*
( 282 )
cebeflTem a offerta da Cidade^ em cujo pendão vem
Santo Agoftinho com habito Eremitico; e que em
todo efte tempo não pudeflem os Cónegos Re-
grantes entrar na Igreja , nem eftar no adro , ex-
cepto á hora precifa , para celebrarem as MiflTas
rezadas na fua nave : no dia porém de S. Pedro ,
ainda que competiíTe aos Eremitas o mez de Ju-
nho , fariâo os Cónegos Regrantes a fefta do San*
to Apoftolo 9 e os Eremitas íó poderião entrar na
Igreja a celebrar as MiiTas rezadas na fua nave.
Se o tradu£lor , e viciador de Moreri não fofle
ignorantiíEmo , íaberia alguma coufa difto^ ou do
que agora callo, para oefcrever em outro titulo, e
efcufaria a todos o efcandalo j com que efcreveo :
ChamãO'fe vulgarmente Cafas da Ordem de Santo -^-
gojlinho todas as Communidades , que feguem a fua
Regra , ainda que feja differente o feu Injiituto : os
Cónegos Regulares fe tntitulão todos da Ordem de Sone-
to Agojlinho , e com effeito são os que melhor o imi^
tão : os Religiofos Mendicantes chamados Agoftinhos
pertendem fer de huma Ordem fundada por Santo A^
gojiinho y attendendo^fe ( palavra fielmente traduzi-
da ) ^ huma Regra falfamente attrihuida a efte Santo.
Tão rude , ignorante , e falto de noticias era ef-
te efcrevedor , que fuppoe neftas palavras fer a
Regra dos Eremitas diíFerente da dos Cónegos
Regrantes , e da que profefsão fetenta e duas Re-
ligiôes , fabendo todo o mundo que foi , he , fe-
ra fempre a mefma , fem diíFerença em huma fó vifr*
gula : e dizer que a dos Eremitas he falfa , he di-
zer contra a mente da Igreja , que não ha Regra
de Santo Agoftinho , e que mentirão os Concí-.
lios.
( »83 )
Jjos , e Papas , que diflerâo havia Regra feita por
elle , e como fua a derão a íetenta e duas Reli-
giões difierentes, além daEremitica, e Canónica,
ás quaes a deo o Santo. Não tem numero os defa-
tinos y que a nenhum louco lembrarão, e efcrereo
efte ignorante , dizendo que a Religião Eremitica
de Santo Agoftinho fe dividira em Monges Jero-
nymos, Eremitas de S. Paulo , Religiofos de San*
taBrigida, de Santo Ambroíio, Irmãos da Carida-
de j e outras feíTenta. Fatal ignorância ! Os Sum-
mos Pontífices derâo a Regra de Santo ÂgoíHnho ,
que profefsão Eremitas , e Cónegos , a algumas dei-
tas Religiões, que nomea, quando osfens Santos
Fundadores as inftituírão , e nenhuma delias nal^
ceo , nem he membro , em que fe dividio a Eremi-
tica Âuguftiniana , mas fim cada huma efclarecida
Religião nova , aífim como a fagrada , e venerável
dos Pregadores, que tomou a Regra de Santo A-
goftinho , a de S. João de Deos , a dos Servitas ,
&c, e ló quem for tão ignorante como efte efcrc-
vedor , dirá que os Eremitas de Santo Agoftinho
fe dividirão neftes , ou que eftes procederão dos
Eremitas í e para que a fua ignorância não fe divi-
da em muitos , diremos com Moreri quaes 5^ão os
membros defte corpo myftico. Àgqftinbos Def calços.
São os Eremitas de Santo Agoftinho, que delejan-
do vida mais auftéra , e mortificada , fe defcalçá-
râo, e com approvação dos Summos Pontífices fi-
zerão difFerentes Conftituições , e fe propagarão
em muitas Províncias com fingular benção em fan-*
tidade, e letras. Muitas deftas Congregações, co-
mo algumas dos Eremitas Calçados^ tem Vigários
Ge-
(2«4)
Geraes ; mas todas compõem o corpo myftico dé
huma fó Religião Auguftiniana , com hum fó Prior
Geral por cabeça. Em toda a Europa , Áíia , e A-
merica tem quaíi tantos Conventos , como os Ere-
mitas Calçados na Europa, eAíia: he fua a Igreja
Aulica dos Imperadores em Vienna de Auftria. Em
Portugal lhe deo principio o Venerável ?• M. Fr.
Manoel da Conceição , com o patrocinio da Sere-*
nifllma Rainha D. Luiza ; em Hefpanha o Venera^
vcl P. M. Fr. Luiz de Leão , com o patrocínio de
Fihppe III. ; em Itália o Venerável P. M. Fr. An-
dré Dias ; em Alemanha o Venerável P. M. Fr.
Marcos de S. Filippe y convidado pelo Imperador
Fernando III. j que o mandou receber ao caminho
pelo Cardeal de Harrach , e Grandes da Corte ;
cm França o Venerável P. M. Fr. Mattheus de
Santa Franciíca, todos Eremitas Calçados, que de-
pois de rejeitarem Mitras , Capellos , e renuncia^
rem as primeiras dignidades nas fuás Provindas ,
abraçarão efta Venerável Reforma , novo Jardim
da Igreja, jígoftinhas. São as Religiofas de Santo
Agoftinho , a que vulgarmente chamão Monicas ,
ou de Santa Mónica , fundou-as o Santo Doutor
em Africa , e lhes deo por Superiora huma irmã
fua : algum tempo depois lhe moftrou a experiên-
cia neceíEtavão Regra certa , e lhes deo a que já
profeíTavão os Eremitas , mudando-lhe algumas
coufas para ficar proporcionada áquelle íexo. Pro-
pagou-íe de forte em Africa efta celeftial planta^
que na entrada dos Vândalos forão martyrizadas
doze mil Religiofas Agoftinhas , de que trata O
Martyrologio Romano^ e rezão os Agoftinhos a^
de
(^8^ )
de Dezembro. As que vierão com o corpo do Pa-
triarca , e mais Eremitas para Sardenha , fe eftabc-
Iccêrão primeiro neíTa Ilha , depois em toda a Eu-
ropa y Afia y e America , dando ao Ceo tantas San-
tas, Beatas, e Venerareis Virgens não Martyres,
como Martyres Virgens lhe derão no berço. Divi-
dírão-fe, como os Eremitas , em Calçadas, c Def-
calças , eftas íervem de exemplo , e pafmo em to-
da a parte , e excedem na auftcridade até ás Car-
tuxas: Roma confeíTa, que são as mais úteis para
a Igreja humas, e outras; porque as Calçadas edu-
cão as meninas orfans deíde a idade de trez annos
até czfarcm^ ou ferem Religiofas, outras curâo as
mulheres enfermas defamparadas , outras fervem
nas clauíuras ás incuráveis , outras governao , e
enfinão as filhas dos nobres ; e em fim todas imi-
tão o Sol da Igreja íeu Pai , e feus Irmãos , para
o augmento delia. Agtiyar. Hè hum Ducado de
fíefpanha nas montanhas de Bonal , Reino de Leão :
o feu ultimo poíTnidor toi Álvaro Peres Olorio , e
foi incorporado na Coroa deHefpanha por Henrí»
que IV. Rei de Caftella. Âbias , ou Acbias Profe-
ta, natural de Silo, encontrou ajéroboão em hum
campo perto de Jerufalem , raígou a capa em doze
pedaços , e da parte de Deos entregou dez a Jero*
boão, em final de que havia defer Rei de dezTri-
bus , como o foi por morte de Salamão. Efte mef-
mo Profeta vaticinou depois á mulher de Jeroboão
( que disfarçada por confelho do marido o conful-
tou a reípeito da faude , e vida do Principe feu
filho doente ) que havia de morrer, e aniquilar*fe
a fua cafa em caftigo das idolatrias de Jerobo ão.
( 286 )
Jbiman , ou Achiman , filho de Enac , ou Hanafc ,'
íe chamava hum da familia dos Gigantes , que ha*
bitavâo a parte MeridioDal da terra de Chanaan:
z fua prodigiofa eftatura atemorizou os explorado-
res , que Moyíés enviou com Jofué , e Calcb ; os
quaes introduzirão o mefmo horror no povo. Abio
irmão de Oza , Levita ^ acompanhava com Oza z
Arca do Teftamento , quando David a trasladou
para Jerufalcm , e prefenciou a morte repentina |
com que Deos caftigou a feu irmão no caminho ,
porque tocou a Arca para a fegurar , e evitar-lhc
a queda y a que eftava expofta pela defenvoltura
dos bois 9 que levavão o carro. Aix. He huma Ci^
dade de França , Capital da Provença alta , com
Bifpo , Cancellario perpetuo daUniverfidade; dif«
ta finco léguas de Marfelha para o Norte, e doze
de Avinhão para o Levante : eftá fituadá janto a
hum pequeno rio chamado Arco , em huma viftoía
planicie. Os Romanos lhe chamarão Aqti£ Sextia^
onCivitas Aquenjísj por caufa das excellentcs Cal-
das , que nella curão innumeraveis enfermos : foi
Colónia Romana fundada por Sexto Calvino no
primeiro anno do feu Confulado, no anno 630 da
tundação de Roma, e 124 antes doNafcimento de
Chrifto. Foi deftruida pelos Lombardos, Sarrace*^
nos, e outros bárbaros: os Condes de Provença a
augmentárão , Carlos V. a reduzio a cinzas ; maa
hoje he huma das mais excellentes , e formofas
Cidades de França em tudo. Luiz XIL lhe eftabe-
leceo o Parlamento em 1501 , Alexandre V. a Uni*
verfidade em 149^ e todos os Reis de França lhe
tem concedido honras , e privilégios 9 a maior de
to-
todas he confervar na Igreja de NoflTa Senhora ,
<}ue dizem edificara o Imperador Carlos Magno, c
confagrára o Papa Leão III. , o corpo defte Impe-
rador y de quem rezâo os Gregos , incorrupto , o
feu boldrié, a fua efpada, hum livro dos Enar.ge-
Ihos, de que ufava , e as relíquias de Santo Efie-
vâo ; o que tudo envião a Francfort para a coroa-
ção do Imperador, que he Cónego da Sé de Aíx,
e fó nella pôde fer coroado , como o forâo mui-
tos, e hoje para o ferem em Francfort, ou em ou-
tra parte , he neceflario o confentiroento defta Ci-
dade , petição deftas infignias , e penhor • delias :
foi Corte de Carlos Magno , e nella fe celebrarão
dez Concílios. J/a , palavra Caftelbana , de que
uíirão os Portuguezes no feu principio antes de
pronunciarem Aza , que no Latim he Ala : foi em
Portugal a efclarecida Ordem da Ala de S. Miguel
Archanjo , fundada pelo Venerarei Rei D. Am>n-
fo Henriques , depois da batalha , em que venceo
Albarac Rei Mouro de Sevilha , junto a Santarém ,
na qual , dizem lhe apparecêra hum braço com ha-
ma aza , e efpada na mão pdeijando a íeu lado , e
julgando fora o do Arcanjo j de quem era devotiC-
limo , o declarou Cuftodio do Reino , e inftituio
a Ordem Militar da Ala, cujo habito era o mefmo
braço com aza , e elpada , com a letra : Quis ut
JDiusy^ que he a dignificação do nome Hebraico Af/-
chatL^ e com manto branco. Só entravâo nella oa
illufires fem difpenfa , o tempo a eztinguio , e
igDora-fe quem a approvou .: foi ioHituida no an-
uo de II7I* Akiba , ou Alama^ he huma pequena
Província de Helpanha ^ que £oi de Navarra , de*
pois
( 288 )
pois de Bifcaia , e hoje de Caftella Velha, confina
do Norte com Guipofcoa y do Oriente com Navar-
ra, do Occidente com Bifcaia, e do Meio dia com
a Provincia de Rioja : he fertiliílima , tem minas
de ferro , e grande commercio , os moradores na
lingua, e génio participâo dosCaftelhanos, eBif-
cainhos , intitiilárâo-fe Reis de Alaba os de Na-
varra y e depois os Mouros , que a conquiftárâo j
'depois a gozou com o mefmo titulo D. Aâ^on-
fo de Caftella , a quem a tirou o de Navarra ^ e
os naturaes aborrecidos de tantas mudanças , c
governos fe oflferecêrão aô Rei D. AflFonfo XIL
de Caftella para fempre , e elle lhes remunerou a
offerta com grandes privilégios. Mabajtra. He ha-
ma Cidade de Egypto , aíEm chamada , porque
nellã fe fabricavão os admiráveis frafcos de peara
branca finifllma , a que hoje chamamos Alabaftro ,
fe bem depois derão^fte nome a todas as vaíilhas
de vidro, prata, e ouro, em que fe guardavâo os
aromas , e óleos odoríferos , para que ie inventa-
rão os de psdra , os quaes náo tinhão boca j mas
fim cúpula , que grudayão fubtilmente com certo
betume feito dopo da mefma pedra, egoma bran-
ca, motivo, por que minha Senhora Santa Maria
Magdalena quebrou o alabaftro para lançar o óleo
aromático fobrc a. cabeça de.Chriftp. Alaçrêma^ y
são humas Ilhas da Nova Heípanha , a qqe deo cf-
te nome a prodigiofa multidão de Lacraos 9 que
nellas fe criâo.
LIS BO A . N? Offtcina de Miguel Mancfcal daCoíh," Imprcílor dp
Santo Offido. Aano 17^4^ Cem tedas »siiep$fâs me^gfiriai.' /.
CONFERENCIA XXV.
Aluãf^ Rei dos Sarracenos na Alia , faben-
do que os Catholicos haviâo alcançado al«
gumas vitorias dos Turcos , levantou huni
formidável exercito , com que cercou a Ci«
dade de EdeíTa , e a conquiftou na noite de Natal
do anno de 114$^ : efta perda ^ e a de Foulqaes^^
Rei de Jeru falem , que morreo na caça em 11 42 y
foi a caufa de fe unirem^ e tomarem a Cruzada os
Príncipes Catholicos perfuadidos jpor S. Bernardo ;
mas por altos juízos de Deos. pouco fruto refultoa
defta grande expedição* Juigâo muitos i^e efte A-
laf, foi o que teve prizioneiro aBalduino II. , Rei
dejerufalem, trez annos. Alagtm. Cláudio Alagon
de Merargues ^ natural de Provença , foi Syndico
de Marfelha , e a quiz entregar aos Reis de Hefr
panha; mas cegou-oDeos, como poraltiífima pro-
videncia ufa com osinfames traidores aos feus Prín-
cipes : £ou o fegredo a hum forçado das Galeis ^
que moftrou kx nobre , porque o revelou ao Du-
que de Guiza, e efte ao Rei. Foi Cláudio prezo ^
e degollado em Paris , onde fe (^roceíFou a caufa ^
e depois efquartejado v a cabeça foi expofta fobrç
a porca de Marfelha mais publica , os quartos nas
de Paris. Alaminos. António Alaminos, foi o pri-
meiro Piloto que deícubrio na America de Hefpa-
Ilha, aProvincia vaftiíIimaYucatão^ na Armada de
Fraocifco Fernandes de Córdova , no anno de 1 5 1 7 :
eftes ambos defembarcárâo na Florida ^ onde oa
. Tom. VII. Bb àccom-
( ^90 )
flccommettêráo os bárbaros, que mattfrao Francis-
co Feroan^s, e ^r(râo na garganta Ancooio Âla*
minos j qae (e retirou á nao j e continuou a via*
gem como Governador, até que cedeo aGrixalva,
e Fernão Còrtez , qoc o mandou a Sevilha $ e á
fua grande experiência , e aétívidade fe deveo che-
ca r a falvo o navio do avifo, porque nefta viagem
^i o primerro , que navegou as perigoías corren-
tes do Canal de Bahama , e fuftentou a defeza con*
tra todos os insmigos barbairos^ que lhe impcdião
a cada paffa a derrota. ./í/omír^, PrincipedeTarfo,
tomou o nome de Calife no feculo nono: entrou
nas Provincías do Império com tâo grande exerci-
to^ e tSo foberbo blasfemo , que mandou dizer a
André Scytha j Governador de Levante , que fe
ibe preítntafle batalha, nem o Filho de Maria era
capaz de o livrar das fuás mãos. Caftigou Deos a
blasfémia : o Governador pendurou efta carta, nas
mãos de huma imagem da Virgem Senhora j que
kvou por eftendarte, com cujo favor venceo a ba-
talha, em que morrerão millitíSes.de Sarracenos, e
foi prezo Alamiro, que degollárão logo. Âlamun*
dãFj Rei dos Sarracenos , k% nataveis eftragos ^na
Paleftina em 5^09 , tirou a vida a innumeraveis Mon-
;es , de que trata 6 Mariyrologío Romano a 1 9
te Fevereiro; mas Deos que o tinha predeftinado ,
lhe illuftrott o entendimemo : e vendo os prodir
gios y que obravão os Cathoíicos j pedio o BaptiP-
mo. Apenas recebeo efta feliz noticia a Igreja do
Oriente, acudirão os hereges Acéfalos , difcipulos
de Severo j a perfuadíllo qutzeíTe baptizar-fe pelos
íeas Bifposj e iegair os feus erros ^ que coníiftitfo
. . na
( *9i )
«a confbslíò das naturezas divina 9 e fcomaiii cm
Chrifto ; e no abfurdo de dizerem , que a nature-
za divina padecera em Chrifto. Dilatoa Alamuo-
dar a refpofta , e entre tanto fingto huma carta , em
que lhe davão a noticia de que tinha falecido o Ar»
chanjo S. Miguel : communicou ifto aos hereges 9
que lhe refpondêrão era impoffirel , porque os Ân^
jos erâo immortaes , c os glorioíbs impaíEireís ;
então rindo^fe lhes diffe: Se bum Ahjo não póàe péh
decer , nem morrer , amo bei de eu feguir bmnafeiiã
de bomens tão loucos , que éúzem padeceo ^ e marreê
a divindade. Recebeo o Baptifmo dos Catholicos
Romanos j rivco j e morreo exemplarifEmo. jfíatH
droalj como lhe chamavâo os Mouros , e hoje oa
Hefpanhoes Landroal, pequena ViIIa de Portugai
na ProTÍDcia do Alentejo ^ entre EWas 9 e Évora 9
junto a hum ribeiro abundante de peixes , forti&
cada com hum bom Caftello , no qual íe acha hu-
ma infcripçSo Romana j em que fe faz menção do
Deos Endovelico 9 ^ a quem os tradu£lóres de
Moreri chamâo hum Deos eftrangeiro , por falta
de noticias , fendo as mais fabidas no Alentejo j
que nefta Villa houve hum Templo dedicado aCa^
pido 9 que iílb íigm'£ca Endovelico , a quem os Por-
tuguezes davão o maior culto ^ affim nefie 9 coom
DO de Villa-viçofa , titulo a que pertence a maior
noticia. Ignorâo também a coufa mais notável del^
ta Villa y que he nunca lhe entrar pefte , por efpe-
ciai milagre de huma antiquiífíma imagem de S«
Bento 9 que nella fe venera. Alano da liba ^ ou ir
Lila j por fer natural defta Qdade , ou como ou-
tros querem « por fer efte o appellido dafua afcen^
Bbii dcn^
3
( IPI )
ééniíà^t fcH ham dos mais infignes Dòntores da
Univeríidade de Paris, da qual ioi Reitor, e me»
receo nella o nome de univerfal. A fua maior fci-
encia foi o conhecimento da vaidade mundana, que
o obrigou adeíxar as honras, e tomar o habito de
Cifter incógnito no eftado de leigo: occupárâo*no
em guardar' os rebanhos do Mofteiro , officio em
ue fervio a todos de íingular exemplo. O Abba-
e, que mais eftimava a lua virtude, o levou por
<:ompanheiro ao Concilio Lateranenfe , no quai
vendo Alano , que íó fe oppunhão alguns argu-
mentos de pouca entidade aosíofifmas fubtiliffimos
de hum herege difcipulo de Amauri , defcubrio o
theTput-o defabedoría que tinha efcondido, de for-
te que o hereje convencido diífe , que ou era de-
mónio , ou Alanb , a que refpondeo , que era Ala-
no , e não demónio : calou*fe o herege , pafmárâo
os Padres do Concilio, vendo nelle o fogeito mais
douto daquelle feculo , ordenqu-lhe o Papa que ef-
creveíTe , a que obedeceo prompto ; mas não foi
polEvel nunca obrigallo a aceitar as muitas, e gran-
des dignidades, que Iheoffereceo o Papa, e outros
Príncipes : morreo em Cifter com bem merecida
opinião de Santo no anno de 1294 , como diz o
feu Epitáfio, que alguns querem íeja de outro Re-
ligiofo em tuoQ femelhante , o que não he crivei.
Jllano. Guilherme Alano , Cardeal do titulo de S.
Martinho dos Montes , e melhor conhecido pelo
nome de Cardeal de Inglaterra , onde nafceo da,
nobiliífima famiHa de Lencaftro : eftudou na Uni-
verfidade de Oxfbrt, foi Cónego na Sé de: Yorck,
€ quando a Rainha Ifabel, filha de Henrique VIIL
. e An-
( *93 )
e Ânna Bolena ^ òrdenoa fio Clero n reconbecefle
por faprema òabeça da igreja Ânglicdna y:k lhe
oppoz Âlam intrépido ^ c depois fe retiroa parh
'Lovaina, onde o patrocinou o *Rei de Heípanha^
:e efcreveo contra os Proteftantes : entrem depois
em Inglaterra , e compoz outros livros yqut irri*
tárâo os feus adverfarios , pelo que fe retirou aòs
Paizes baixos. Foi Lente de Direito em Duay j
Cone^ emCambray, fundou trez Seminários pa-
ra os Inglezes Catholicos em Duay , Rhems , e
Roma : recebeo o íCapello deíXiftò V. j a Abba-
dia grande de Calabrir de Filippe IL , e OrArce-
bifpado de Malinas^ para onde o nâo' deixou ir. o
Papa, conhecendo a neceilidade da.íua peflba em
Roma y onde faleceo aosifeíTenta e trez annos de
idade no de i;r94« AlarcÍQ. Fernando- de Alarcão,
Heípanhol , hum dos prrimeirbs Generaes > de Car^
los V.y. governou a Infantaria Hefpanhola násgueiv
ras de Itália, em que obrou as maiores proezas em
diverfas batalhas , de forte que os feus menos af-
feiçoados coníeífavâo tinha morto* com a fua eípa-
da em algumas funções duzentos inimigos , quan--
do menos. Foi fummamente amado dos íubditos>,
e fó delle fiárSo o guardar , c conduzir até Hcípa-
nha o Rei de França Francilco I. prízioneiro cm
Pavia, como também o cerco do Caftello de San-
to Anjo cm Roma, quando nelle fe refugiou o Pa-
pa Clemente VIL : o Imperador Carlos V. em re-
muneração o fez Senhor de Sicada , e Valle Si-
jciiiano no Reino de Nápoles , com o titulo de Maf^
•quez defte fegundo Senhorio. Alarcão , Villa de
ifíefpanha nò Bifpado de Cuenca , foi no tempo
.Tx)m. VII. Bb iii dos
( ^94 )
dos Moaros tâo forte j qoe a não pode expu^ar
ti Iftfapte D. Hmrique no tempd doiRei D. Joáo
IL de Heff^nha : defta Villa tomarão o fobreno»
me os illuftres Zeirallos, que primeiro a conquiftá*
rio aos Moaros. AlaricOy Rei dos Godos, foi hum
dos maiores inimigos do Império Romano no fim
do quarto ifeculoy e princípios do quinto: Rufino |
tutor de Arcadiovdepois da morte de Theodofio
o Grande , no anno de 39$^ o íolicitou a que en-
trafle no Oriente , onde. arruinou muitas Provín-
cias .,. invadiõ ItaUa ém.4Qf^ .foi vencido por Sti-
4tcãé^ que o deixou ietirari^c depois o conyidou
com grandes offer tas para lançar do throno Impe-
rial Honório 9 e dallo a feu filho Euchario; porém
Alarico, que fó defejava fitiar Roma, nao aceitou
o partido, eStihcão.fe vío precifado aoffcrecer o
mefmo. dinheiro ao Imperador, para que impedi/Te
os defignios do Godo , o que fez duas vezes, oí^
ferecendo^lhe parte das Gaulas em remuneração
dos interefles , que podia ter no faque de Roma.
Quando Alarico hia tomar pofle defias terras ^ o
flccommetteo no caminho Stilicâo ,: e foi morto ,
defcubrirâo-fe as maquinas , e traições que ufára
-com todos, e Alarico cego da patxâo retrocedeo ,
e entrou a fogo , e fangue na Itália ^ deftruio Ro-
ma , fem perdoar mais que aos lugares .íâgrados :
nomeou por Imperador a Attalo , e no fegundo
anno lhe tirou o governo, entrou por Gampania
até Reggio ; e não podendo invadir Sicilia , retro«
cedeo afHiflo , e morreo em Cozenfa , onde com
grandes theíouros foi fepiiltado em hum rio. Ala^
rico IL Rei dos Více-Godos , fuccedco a feu pai
Eva-
• ' : f
( ^9S )
Evaríco, on Eurico, no anno de 484, ratificou a
,paz com os Fi^ancezes , e entregou a ^Clóvis , od
Clodoveo, Rei de França, Siagrio ,. filho de Gi*
lon, que vencido em huma batalha, fe tinha refu-
giado em Tolofa : caftigou Deos efta aleivozia ,
:porque Clodoveo , depois de jurar nr.uitas vezes
tratados de paz eterna.com ÂÍarico , os quebrou
-todos , e o matou em huma batalha fobre o rio
Cleno : unio á Coroa todos os efiados de Alari--
CO, que erâo Âqnitania, Ânverna,ToIoía, Uzes,
e outras Cidades , e ficarão ló aos Yice-Godos as
de Séptimania.na Gania Narboneza então dividi-
da. Deixou Alaríco hum filho chamado Amalarico,
havido em fua mulher Theodogata , filha do Rei
dos Oftrogodos de Itália , e Gefalico baftardo ^
que tomQU poíTe do Reino , e expulfou o irmão le-
gítimo , apenas lhe confiou efiava íeu pai morto ,
no anno de5'07. Alavino foi cabeça dos Godos ex-
pulfos dofeu paiz violentamente pelos Hunos, pe-
dio ao Imperador Valente oadmitttiTe com os feus
por.vaflallo , e lhes permittiíTe habitaflem nas ri-
beiras^ e margens do. Danúbio : com fummo gof-
to lho concedeo Valente, parecendo-lhe , que nel-
]es tinha a mais excellente muralha contra os ini^
migos do Império por aquella parte : não fe enga-
nou, porém os léus Miniftros os affligírão de for-
te com tributos , que elles tomarão as armas para
fe eximirem delles : vencerão a primeira batalha ;
e julgando o Imperador , que os atemorizaria com
a fua prefença , aflifiio na fegunda , eiti que foi ven-
cido , e morreo queimado em huma> cabana no an-
no de 378. Jlbay he nome de trez^ ou quatro Ci-
da-
( ^9^ )
dades, entre as.quaes a digna de memoria foi AU
ba longa , fandada por A^nio , filho de Eneas ,
e depofito dos Deòfes de Tróia : foi Corte dos
Reis Latinos inimigos capitães dos Romanos j qne
os vencerão na ceidire batalha ^ ou defafio dostm
Horactos Romanos , e trez Curiaceos Latinos :
mortos os trez últimos ^ ficarão pelo ajufte feito
antes dd defafio j fujeitos os Latinos aos.Rom^
nos, os quaes deftruirâo a Cidade de Alba , Jevá-
râo as fuás grandes riquezas , e peflfoas nobres pa-
ra Roma, e confegutrâo fazer de ambos os poTOs
huma fó nação , fortuna que fe deveo aó: Rei de
Roma TuUio Hoftílio , que depaftor fubío aothro^
no. Junto ás fuás rninas fe edificou a Cidade de
Albano, Principado hoje da Cafa Sabelli: he hum
<los leis Bífpados iuffraganeos a Roma , titulo de
hum dos feis^mtis antigos Cardeaes , e pátria de
excellentes vinhos, ^iba Pompeia , he Cidade de
Itália em Monferrato :. toi do Duque de Mantua ,
que a cedeo ao de Sabóia em 163 1. jíJba Real em
Alemanha, na Hungria baixa, foi illuftriífima, nel-
la fe coroaváo os Reis, e'erão lepultados: Amu-
rates 11. Imperador dos Turcos a conquiftou no
anno de lói, recuperou*a o Duque de Mercor ,
tomárSo*na os Turcos fegunda vez em 1Ó02 , e a
poflTuíráo até 1688 , em que os Imperiaes a reco-
brarão , e dominâo até agora. Jlba , ou ^/va de
Tormesj he Cidade de Hefpanha no Reino de Leão,
fobre o rio Tormes, diftante quatro léguas de Sa-
lamanca , titulo do Ducado de Alva , de que usao
os primogénitos dà Cafa de Toledo. Alva. O ce-
lebre Duque de Alva D. Fernando Alvares deTo-
le-
'ledo , aprendeo a Arte Militar de feu pai D. Gàr^
cia, Almeirante deCaftelIa, de feu avô Frederico,
General de Helpanha contra França , e Navarra ^
•do Conde Nadafii, e de Carlos V., a quem fervio
em todas aa expedições militares com a efpada^ e
confelho , na verdade heroe em tudo : na batalha
:em que venceo o Duque de Saxonia , dizem , fuc«
cederão alguns prodigios , e que hum delles fora
•dilatar*(e o dia, como na de Jofué, e de D. Paio
•Peres ; eftando depois o Duque de Alva em Fran-
ça lhe perguntou ifto o Rei Henrique IL , e elle
refpondeo: EJiabayo entonces tan occupado enJo que
paffava en la tierra , que me def cuide todo de las co^
fas dei Cielo. Depois de governar tantos annos os
exércitos do Império, e Hefpanha , fempre vence-
dor, prudente, acautelado, e feliciffimo, o man-
dou Filippe Prudente governar os Paizes baixos ,
a que hoje chamamos ió Hollanda , e fubjugar a
fua rebeldia; difle elle ifto ao Príncipe D. Carlos,
quando fe foi defpedir para a jornada , e a refpof*
ta foi querer-lhe tirar a vida eomhum punhal, di»
zendo : Primeiro te bei de cravar efte punhal no pei^
to , do que confentir vos dejiruir Provindas , que eu
ejiimo tanto ; abraçou* fe o Duque com o Príncipe
'Com tanta força, que o náo pode ferir, e gritou,
que o Duque o queria matar , acudio o Rei , que
liTás conhecia o génio do filho , a quem depois
matou prezo, não lhe deo credito, e louvou a ac-
clo fidelííTima do Duque, que.fó nefte governo foi
imprudente, e defgraçado. Talvez cego da cóle-
ra pelo que lhe fuccedêra com o.Priacipe, ufòu de
todo o rigor nas Províncias unidas : tez degollar
o Con«
\
( »9« )
O Conde de EgtBOOt , em cajo faogue mulhárâo os
lenços os Flamengos j e fobre elles jurarão honia
tal uniáo de forças , e vontades j que perdeo Hef-
panha tquelles notáveis Paizes ^ e riqtiiâimos do-
miníos pela imprudência , e cólera do Duque de
Alva. Nâo defcahio porém da graça do prudente
Filippe , fenão quando abfolutamente negou fea
filho o Marquez de Dória para marido de huma
Camareira da Rainha j pelo que foi prezo oa Ci-
dadella de Uzeda , e feu filho no Caftello de Tor-
defilhas. Empenhou-fe debalde o Papa ^ eo&tlde
França na fua liberdade, que lhe deo o mefmo Fi-
lippe , quando neceífitou delle para a conqniíhi
deite Reino 9 onde renceo ao Senhor D. António,
na ponte de Alcântara em Lisboa , e morreo na
Villa de Thomar nos braços de Filippe Prudente ,
que o tinha chamado para as Cortes : tinha íeten-
ta e quatro annos, militou com eterna fiima íefleií-
ta e quatro, faleceo a 12 de Janeiro de 15:8a., foi
íeu corpo levado com grande pompa a Salamanca ,
e fepultado na Igreja de Santo Eftevâo , jazigo dos
Duques de Alva. Huma das acçôes mais heróicas
deite General , foi ter certa a conquifta , e faque
de Roma, chegar de noite com hum exercito ven-
cedor , e formidável aos feus muros , conhecer que
tudo eftava em profundo filencio, e fem defeza, e
mandar retirar o exercito finco milhas de Roma.
Jlva , veftidura fagrada de linho , fignifica a vefte
branca ^ que Herodes mandou veftir a Chrifto pqr
efcarneo; também fignifica a innoeencia, e pureza
da alma, com que a devem uíar os Ecclefiafticos:
vefte-fe primeiro no braço direito em memoria de
que
( ^99 )
qoe effe foi o que primeiro crucificarão em* Chrif-
to. InfUtoio Deos efta veftidura no Teftamento
Velho efireita ^ porque íignificava o efpirito de e(«
cravidão da Synagoga , a Igi^ejâ a afa larga para
fignificar o efpiritp de adopção , e liberoade na
Lei da Graça. * Ignora-fe quando íe começou a
ufar í^^ Igreja j e alguns querem foíTe introduzida
pelos Monges Gregos y que a ufárâo , e usão nas
rrocifsôes : be certo que íempre foi habito dos pe*
nitentes , e Neófitos ^ que a traziâo veftida os oi^
to dias, e noites deCde labbado Santo, em que re-
cebiâo o Baptifmo y até o iabbado in Jlbis , aífim
chamado , porque nelle defpião as Alvas. Muitos
dizem que as introduzirão os difcipulos dos Apoí-
tolos com íeu beneplácito , para cubrirem os vefti-
dos pobres, comqueoelebravâo, mas iíto he equi*
vocar a Alva com a Sòbrepelliz , que foi a primei-
ra veftidora Sacerdotal , e Cafula , como fe dirá
no feu titulo : o mais verofimel he , que a ufárâo
os Gregos para vefte efpecial dos Diáconos , e
S|ubdiaconos , por fer a antiga dos Levitas , que
tinhâo femelhantes officios , depois o foi de todos
os Ecciefiafticos , e confagrados a Deos , e os La-
tinos lhe derâo o ufo que tem ao prefente. Âbala^
te. D. André de Abalate , da Sagrada Ordem dos
Pregadores , infigne em virtudes , e letras , foi Ar-
cebifpo de Valença , donde alguns querem fofle na*
tural , fendo verofimel , que teve eíTa gloria Tar«*
ragona : fundou o magnifico Mofteiro de Cartuxos
chamado ?OTta QbU , confeguio em Roma de Ur»
bano IV. a Cruzada contra os Mouros , aíEftio no
Concitro de LeSo y e morreo com opinião de San-
to
[
C 300 )
tom Viterba Albanenfes fe chamarão huns here-'
ges do. oitavo» fecolo , que renovarão a maior par-
te dos erros dos Maniqneos : dizião que o infer-
no era coufa fatiuloía^ que os Sacramentos, exce-
pto o Baptiímo „ erâo íuperfkiçóes , que o mundo
não tivera principio ^ eas Efcrituras dous , hiim
bom y Pai de Chrifto author do Teftamento No-
vo, outro máoy author do Teftamento Velho , pe*
lo que o negavâo todo. Albânia ^ he o nome que
antigamente . fe deo a toda a Efcocia Septeatrio-
nal , a quem osnaturaes chamâo parte mais. alta ^
ou coita de Efcocia : hepaiz montuofo, e os feus
habitadores , chamados Clanes j antigamente ví-
viao de roubarem os vizinhos , que ordinariamen*
te oiatavão com tjrrannia inhumana ; mas fe eAes
os colhiâo , o caftigo era enforcar logo o princi-
pal em huma arvore, e obrigar todos á fatisfaçâo
do roubo : he efteril , e fó conhecida pelos íeus
Duques, dos quaes forão muitos os Reis deEfco^
cia. Albano. Francifco Albano , natural de Bolo-
nha, nafceo em 1578 9 não quiz feguir o emprego
de feu.pai, que era mercador de feda, applicou-fe
ao debuxo , e eftudo das bellas letras : em Roma
íe fez pintor confummado, cafou em Bolonha com
huma dama formoíiffima , de que teve lindos filhos ,
ella , e elies lhe fervkâo de exemplares em todas
as fuás pinturas , hoje as mais eftimadas pelo arti-
ficiofo, e engraçado : viveo oitenta e dous annos,
eftimado dos Príncipes , venerado de todos , dei-
xou os celebres difcipulos Francifco Mola, e Joáo
Baptifta Mola.
LISBOA , Na Oflidna de Miguel Manefcal daCoíla» ImpreíTur do
"^ - Siato Offido. Aano 17^4. Cêtntoiêi êslictngai mc^mêh
( 30' )
CXJNFERENCIA XXVI.
A Lhano. Lago , e montanha fertiliflima na
Campina de Roma. Albano j ou Monte AU
banOj he huma Cidade pequena de Nápo-
les com o titulo de Principado , fértil , e
poiroada de muita nobreza. Albano. Santo Albano,
primeiro Martyr de Inglaterra no tempo dos Im-
peradores Âureliano, e Probo, dizem o converte-
ra, e baptizara hum Eccleiíaftico , em cuja caía (e
tcíiigiit^ no tempo da guerra , e não da perfegui-
ção , porque em tal cafo feria já Catholico : ahí
o prenderão , e foi condenado logo , executon-fe
a lentença em hum íltio além do rio Cole, e o San-
to nnilagrofamente o fez vadeavel, no caminho con-
verceo o foldado, que lhe havia de cortar a cabeça,
o qual também foi degoUado. O Martyrologio ,
que dizem compoz S, Jeronymo , diz que junta-
mente com Santo Albano forão martyrizados nove-
centos companheiros. Albarracin^ he huma excel-
lente , e inexpugnável Cidade de Hefpanha , dif-
tante trez léguas da T2àã de Caftella da parte de
Aragão: fundou*a D.Jaime II. no anno de 1300,
o Rei Mouro Abenracim , que a opprimio , lhe deo
o feu nome , que depois corrupto ficou Albarra-
cin , o Rei Lobo de Murcia lhe chamou Lobeto^
e a deo a D. Pedro Rodrigues de Azagra , Que a
iC^và>qu com feus parentes , e lhe deo o titulo de
íanta Mada: tem fortiflimas torres, muros, e Al-
caçar, abundância de gados, peixe, caça, pão, e
Tom. VIL Ce fru-
( 302 )
frutas. Foi Cidade livre fera reconhecer outro So-
berano 9 ou soverrto mais j que ô dos Ázagras ,
até que D. Pedro iV. lha tirou , offendido de D.
João Alvares Nunes de Lara , ( ou de feus parentes)
que a poífuia.como marido de D. Terefa Álvares
de Azagra. Jlbaiada. He huma fértil , e abundan-
te povoação de Hefpanha junto ao rio I régua ,
célebre nas hiftorias , porque na fua vizinhança
derrotou gloriofamente o Rei D. Ramiro I. a Ab-
derragman Rei de Córdova na batalha de Clãvi^
jo , e D. Ordonho L a Muza Abencazin Rci de
Toledo, eD. Garcia Rei de Navarra: foi deftrui-
da pelos Mouros , quando entrarão na Hefpanha ,
e reftaurada pelos mefmos para conterem as hoftili-
dades dos Catholicos de Rioja. Âlberico. Santo
Alberico , da Sagrada Ordem de Cifter , facceflbr
de S. Roberto no anno de 1099 foi prezo , e mal-
tratado no Mofteiro de Molefma, onde era Prior,
para oue moderaífe a obfervancia regular ; e elle,
que fo iífo defejava confeguir , apenas folto , dei-
xou a companhia dos que não querião a reforma 9
e com os Obfervantes fe retirou para hum deferto,
donde veio para Cifter , e confeguio que o Papa
Pafcoal II. tomaíFe a protecção defte exemplar
Mofteiro , berço de innumeraveis Santos : dizem
que íendo nelle Abbade nove annos e meio , com-
puzera , ou accrefcentára as primeiras Conftituí-
çôes da Ordem Ciftercienfe : nelle paíTou defta vi-
da para a eterna a 26 de Janeiro de 1 109 , e obroa
defde então contínuos milagres. Âlfónfo 'Òè Múffí/*oi ^
ou Affonfo de Monroi^ Grão Meftre da Ordem Mi-
litar de Alcântara em Hefpanha^ era Claveiro dei-
(303)
íãj fendo Gtío Meftre Gomes de Cáceres, a quem
elle macoQ , e fez que os Cavai leiras o elegeífem
Grap Meftre ^ o que fizerSo obrigados de medo y
porque Monroi tinha vencido y e morto o Gomes
em batalha campal , e fe tinha apoderado de AI*
cantara , e muitos Caftellos da Ordem no anno de
k470« Depois de eleito por muitos , continuou a
guerra contra os outros , que o náo reconhecerão |
e defendiâo com a voz de feu anteceíFor muitas
Praças. D. Francilco Solis , fobrinho de Gomes ,
cftava fenhor de Magazela , e para melhor vingar
• morte de feu tio, fingio a queria entregar aMon»
roi y íe ihe déífe para mulher fua filha natural :
deo-Jhe credito o defgraçado Meftre , veio com
mil e duzentos Cavalleiros tomar poíFe da Praça ^
e cego j em caftigo de feus peccados , quiz often^
tar valor, e confiança no genro, e entrou ló a vi^
fitallo. Chegada a hora de comer , fentárão-fe á
meza , e em lugar de pratos vierâo grilhões , e
algemas , com que D. Francifco prendeo o Meftre
Monroi em hum cárcere ; e chegando logo as tro-
pas do Grão Meftre de Sant-Iago , e da Condcça
de Aleldim , a quem o Solis tinha pedido foccor-
ro, forão prezos os mil e duzentos Cavalleiros de
Monroi , que eftavão fora da Praça , e obrigou o
Solis a todos que o elegeíTem por Grão Meftre
da Ordem. Nefte tempo a Duqueza de Placencia ,
vendo efta cadeia de eleições nullas, denunciou ao
Papa a dignidade por vaga , e coníeguio que el-
le a conferiíTc a feu filho D, João de Zuniga : foi
reconhecido de muitos defcontentes , e de outros,
que tomarão o habito , e a Duqueza fe apoderou
Ce ii de
( 3^4 )
de Alcântara, e outras Praças importantes da Or«
dem. PaíTados féis mezes de prizâo fugio delia
Monroi ; mas como o feu peccado o feguia j foi
logo prezo 9 e conduzido a Magazela, onde oSo-
lis lhe mandou tirar ávida, fentença, que evitarão
os rogos de Mofon Soto , que fe intitulava Cla-
veiro da Religião, e foi commutada a pena capital
em prizâo apertadiíllma , e fegura , -onde euere
oito mezes , no fim dos quaes teve o Solis a deP-
graça de cahir do cavallo em huma batalha , e fi-
car de forte, que não podia levantar- fe: pedio foc«
corro para iíFo a hum foldado , que tinha fervido
a Monroi , e efte para vingar a feu amo prezo , ma-
tou com eíbocadas o Solis proftrado : foube ifto
Monroi , e confeguio que Mofon o foltaífe , jun-
tou logo tropas , e entrou em Placencia , donde fe
aufentára a Duqucza , e Grão Meftre Zuniga , pro-
feguio a vitoria , reftaurando muitas Praças , e apro-
veitando-fe da guerra , que então havia entre HeA
panha , e Portugal , que difputava a Coroa a D.
Fernando , e fua mulher D. líabel , íeguio o par-
tido dos feus Reis , a quem fe opunha com Por-
tugal a Duqueza de Placencia , e confeguio ordem
para lhe fazer toda a poíEvel guerra ; mas depois
levado da fua natural inconftancia feguio a voz de
Portugal contra D» Fernando , até que feita a paz
no anno de 1479 , foi hum dos Artigos , que os
Reis Catholicos perdoarião ao Grão Meftre Af-
fonío de Monroi , e que eíle renunciaria a digni-
dade , o que ellc fez , e morreo pobre Cavallciro
particular, Alfredo ^ Rei de Inglaterra, quarto fi-
lho de Etelulfo ^ e de fua primeira mulher Osbur-
ga^ diamado também Dalfredo, e Alirredo y fuc*
cedeo noanno de 871 a feu irmão Ethelredo , nren*
ceo a Gitro Rei dos Danos y e obrigou a fer Ca-
tholico y e todo o feu Reino , fundou trez Mofteí-
ros , e a Univeríidade de Oxford , convocou ho-
mens doutos para Inglaterra y gaftava oito horas
cada dia em eftudo y e oração , outras tantas em
ouvir feus vaflallos y e para excitar os doutos a ef-*
tndos, compoz huma collecçâo deChronicas, tra-
duzio os Diálogos de S. Gregório y o tratado de
de Confoiatione Pbilofopbia y os Piai mos de
y a hiftoria de Oroíio, e outras obras: rei*
nou com immortal gloria y dando leis fantas á
Grão fiertanha vinte e oito annos y íuccedeo*lhe
íeu filho Eduardo , do qual y e dos mais Reis de
Inglaterra fallaremos no feu Cathalogo y não ob-
ftante pertencerem a efta letra outros. Alftafiord y
ou Alfia y he hum Golfo na Cofta Meridional na
Ilha de Islanda. Algaevejo , he hum lugar de Hef-
panha no Reino de Córdova , diftante dcfta Cida-
de trez léguas : tem duzentos vizinhos y e dilata*
dos campos y nos quaes íe acharão muitas fepultu-
ras no tempo y em que plantarão vinhas y todas
com boas campas, efpecialmente huma de hum Bif-
po chamado Martinho , que morrera , fendo man-
cebo y em Maio na era centefima iexageíima nona.
Algarria y ho huma das quatro partes de Caftella
a nova ^ e a mais coníideravel de todas y porque
contém no feu território Madrid y e Toledo : ou-
tros lhe chamão a Planície , e os Hefpanhoes la
Llanura* Álgebra. Tomou efta fciencia , a que per*
tencem os pezos, e medidas, o feu nome da pala*
Tom, VIL Ce iii vra
vn Arábica Algebar , que íignifica reftabelecer ^ e
reparar , por fer o fim defta fcíencía , fegundo os
termos dos feus Profeflbres , reduzir os termos da
comparação á forma defejada da igualdade. Os
Arábios j e Perfas efcrevêrão muito nefta fciencia ,
e melhor que todos Cartezio , a quem muitos dif-
putáo eíTa pequena gloria para a grandeza do fea
engenho. Algezur. He huma povoação do Reino
do Algarve, aquém os additadores deMoreri ch^-
mão Cidade , diftante trez léguas pequenas , m^s
aíperas, de Monchique , conquiftou-a aos Mouros
o Rei D. Afibnfo III. : nella eftão as caveiras de
huns Santos milagrofos, e efpeciaes advogados de
todas as molcftias da cabeça , como eu experimen-
tei : ignorâo-fe os nomes , e vidas , e fó exiftem
humas tradições confufas, e feinvocâo, e venerao
com o nome de Santas Cabeças com immemorial
culto , fendo certo não fó para as moleAias da
cabeça o (eu patrocínio, mas também, o que atrei-
ta o Reverendo Pároco daquella povoação , ( que
foi Villa , e tem efle nome , e privilegio , fem Juiz
de Fora ) e confifte ^ em que fe tocão com eftron-
do as duas Cabeças repetidas vezes no lugar , em
que eftão fechadas , tanto que fahe de fua cafa qnaU
quer devoto a vifitallas , para confeguir remédio , ou
agradecello , de que reíulta dizer o Pároco , quan«
do ouve o eftrondo milagrofo : Temos hofpedes , San^
tas Cabeças^ porque a pobreza do lugar, e falta de
eftalagem faz que o Pároco hoípéde a todos. Se
tiver mais claras noticias deftes Santos , as quaes
folicito , darei conta delias nefta Academia na le-
tra C, e palavra Cabeça. Algezira^ he huma Ci-
da-
dade de Hcfpanlia no Eftreito de Gibaltar com
bom porto , e antigamente muito confideravel ,
mas hoje inteiramente arruinada : muitos com Ma-
rianna fe enganarão , julgando que ella era Tarifa,
c outros Cartagena. Âlguer , ou Jlgeri , antiga-
mente Corax , he Cidade da Ilha de Sardenha' na
Cofta Occidental, comBifpado fuffiraganeo deSaf-
fari ; ha nella a mais ezcellente pefcaria de coral ,
ipe excede aos das outras partes , que sâo Boca ,
licilia , Catalunha , e Ilhas de Malhorca. Albacan ,
R.ei Mouro de Toledo , impoz exorbitantes tri-
butos aos feus vaíTallos , que opprimidos lhe nega-
rão a obediência , e elíe para melhor os caftigar
mandou o Governador de Çaragoça , e Huefca ,
Amoroz , bem inftruido , com huma carta pater-
nal , em que expreflava o muito que fentia havei-
los magoado , mas que efperava compuzeflTe aquel«
le Deputado a diflensão, de forte que o povo co-
nhecefle o feu paternal affedlo : aíEm o fez Amo-
roz , levantou os tributos ,. e perfuadio a todos
que em íinal de agradecimento ao Rei devião edi-
ficar no meio da Cidade hum Forte , ou Torre pa-
ra defeza dos feus MiniAros , para o que fe abrio
hum grande poço: mandou logoAlhacan feu filho
Abdurrahamen com hum grande exercito para hu-
ma fingida expedição , o qual fe acampou na vizi-
nhança de Toledo 9 e os moradores vendo o Prín-
cipe herdeiro jFóra da Cidade , lhe rogarão fe hoí*
pedafle nella , o que também fingidamente lhe per-
fuadio Amoroz j entrou elle ^ efcolheo para quar-
tel huma parte do novo edificio y e convidou para
cear os principaes do povo y que julgando tinhão
nif-
( 3o8 )
niflb a maior honrt , ríetâo todos y e ápena? ea-
trayâo, os hiâo degoUando^ e lançando no poço,
que fe fizera para alicerce da torre do edifício , até
que hum advertio o perigo , rendêrâo-fe todos , e
aceitáráo o tributo. Alhama , he Cidade nobre do
Reino de Granada j a quem banha o rio Frio y e
todo o território he hum jardim de fontes : tem
huns banhos, tão efpeciaes j e tâo eftimados dos
Mouros pelas fuás virtudes y que quando elles a
dominarão , rendiâo ( diz Rodrigo Mendes da Sil-
va ) quinhentos mil ducados , de que fe admirão
muitos , porque ignoráo que no tempo dos Mou^
ros eftes erâo os que na Heípanha rendíão menos:
hoje tem oitocentos vizinhos y foi conquiftada pe-
los Reis Catholicos no anno de 1482 , e a primei*
ra conquifta daquelle Reino. Alhambra , he nome
Arábico do Palácio Real dos Reis Mouros de
Granada , e o único y que confervão inteiro os
Reis de Hefpanha para memoria da riqueza , e
faufto dos Reis Sarracenos : admirão* fe nelle as
mais excellentes falas, antecameras , e mais cafas y
e nellas o melhor Porfido , Jafpe y e Mármore , as
paredes , teflos y e mezas cubertas de ouro , e gra*
vados nelles geroglyficos Egypcios , e cara£leres
Arábicos y aíFás moftrão a grande riqueza daquel-
les Reis , que hoje nenhuns imitâo nefta fuperflui-
dade. Ha oíHciaes deputados para repararem o que
damnifíca o tempo 9 goza a mais deliciofa vifta y e
teve entre outras huma porta y pela qual fahio o
Rei Mouro chamado Chico y quando vencido en*
tregou a Cidade ao Rei D. Fernando y a quem
pedio a mandaíTe fechar para fcmpre y e elle o fez
de
( 309 )
de forte ] que no fen lugar mandoa edificar hum
baluarte, que exifte. Jlharitis , filho de Muavias,
fot o primeiro j que inventou caçar com as aves
chamadas Sacres , palavra derivada da Arábica Sal*
Kara , que quer dizer vifta aguda , ou o que a tem :
he eípecie diferente do Falcão, e íó no génio íe-
melhante , mas tanto mais feroz , e melhor para
^ caçar , que duas lançadas a huma Cabraz montez^
animal velociífimo , de forte a perfeguem pelos o-
Ihos, que a fazem vir parar nas mãos do caçador.
Ali^ palavra Arábica, quer dizer o Leão de Deos
fempre vencedor , he nome do genro de Mafoma ^
cafado com fua filha Fátima: aeíte deixou na hora
da morte por feu fucceíFor o fogro , declarando-o por
Santo; masAbubequer, de que já tratámos, velho
mais antigo , e fegundo contão os Mouros , efpe-
cialmente meigo, efacil em conceder indulgências,
lhe tirou o Califado , tendo por padrinhos a Omar ,
e Othman , que cedo efperavão fucceder-lhe , fup-
pofta a fua muita idade , e com eíFeito ambos o con*
feguírão hum depois do outro ; e Ali para íe vin-
[ar compoz huma nova coUecção das malditas
leis , e pravoices do Alcorão , pcrmittindo muitos
âbfurdos , e com iflb adquirio os corações dos A-
rabios , e outros muitos povos , que lhe derão ex*
ercitos grandes contra os dous Califes Omar , e
Othman , e depois contra Mahomet , filho do íè*
gundo , e a viuva de Mafoma , aos quaes todos
yenceo , como também a dous traidores , que fun»
dados no Alcorão o perfuadirão aleivoíamente a
que admittiíFe juizes árbitros na caufa de feu Ca-
lifado y para o deporem : reinou quatro annos e
meio^
\
mciO) c morreo «flaíEaadoi, por hum Mouro ," que
fez vpto^em Meca^de o mawr ^ e a ftus CapitSwé
jíUcaiu,e^ he huma exçellentfe Cidade de Hefpanht i
íituada fto Medíteçraneo ^ e pertencente ao Reino
de Valença : gOTja excellentes uvas , e vinhos , fc»
licidade^ que deve. a hum curiofo agricultor delles^
que foi. bufcar ^s rii>eiras do Rhtm as mais excel?
Jentes. vides ^ e as plaritounos arrabaldes deCta Ct«»
dade y onde melhorados os fi:i)tos eòi terreno ef*
tranho , mas para as fuás razões íeminaes o oiafs
proporcionado , dáaos .nacuraes, eeftrangeiros ex*
cellentâ bebida 9 e alimento , e.iao Rei nos direitos
hum grande lucro» Tem hum forte Caftello na en*
trada , e hum Molhe para fegurança das embarca*
ções pequenas, que fá admitte o porto. Foi con*
quiftada aos Mouros por Jaime L Rei de Aragão
em 1164, a 8 de Julho de 1706 rendeo obediência
a Carlos IH., e em Dezembro de 1708 a Fí/ippe
V. , íe bem o Caíkello permaneceo na obediência
de Carlos até o anno. íeguinte , em que fe rendeo
em 9 de Abril. O mefmo nome tem o Golfo vizi*
nho, em que fe comprehendem no mefmo mar as
Coftas do Reino de Valença , e algum dia fe cha-
mava Goifo de Illici« Aljubarrota^ he hum lugar
da Eftremadura , diftante quatro léguas da Cidade
de Leiria , aonde ganhou o Rei D. João L a 14
de Agofto a memora v^el batalha, que tomou o no*
me defte íitio , de que já tendes verdadeira noçida
na vida deíFe Áugufto Monarca; e os.HefpanhoeS|
e Morerí fundado nèlles , a deíarjeve com d£.s maío-p
res falfldades , .que fe víráo na hiftoriá de Hefpa-
t\\\2í. Almadravay he a íttio, ou ara>a3;em y em que
fe
(3")
(è goardáo as redes , e mais couías neceflaria.^ pa-
ra a p'efcaria dos Atuns, e hoje fechamão no Rei-
no áò Algarve Almadravas , ou Almandravas os
direitos , que pagão os Contratadores defta pefca*
ria , e os Eftrangeiros , que levão para fora do
Reino eftes peixes falgàdos. Almagro ^ he huma
Villa de Hefpanha quatro léguas diftante de Gala-»
trava , hoje fó conhecida pelos ex<:ellentes -ma-
chos , e mulas , que nella fe crião : em outro tem-
po a fízerão célebre os Cavalleiros dàquella- Or^
dem, e feõsMcfttes habitarão nella, de que ekif-
ícm aiflidaõs Paladitfs, e pérgamihhos dos privilé-
gios. Tem huma chamada Urtivèrfidade tão pobre
6m tudo , como todas as de Hefpanha hoje , báí^
taiites vizinhos , e -potica 'tiobreza. Alpes , a quem
òs Italianos ^chtfrtíao Aipi ,' 6 cs*Alertií[<s Albén ;
^Sohnmafs níoiiiránhass que*féparfio Itália de Fran*
Ík\ e Alemanha ydefdé o mar Ligtiftico , ou 'dô
Vança, até o mar Adriático , ou, Golfo dê Vene-
ta eníFriul: derão- lhe os antigos diverfos nòmes^
chaftoav^o Àlpefs mariítimos aos que eftaVão mais
piroximos ao mar 3 e incluiâo as montanhas , que
lê eftendem defde Savqna , e o mar de Génova ^
até Monte Vifa, dortde nafce o rio Pó, e outros
nomes hoje totalmente ignorados dos feus natu-
racs, e habitadores á vários íitiosddqiíellas frigi-
diíEmas montanhas. Ha trez caminhos entre eftes
montes para enifar*4N^.luilM«, -^ue «ao 'O^Eftrei-
to da.Tenda, a EftrekQ diiCrDZi^.o «loi^te me-
nor de S. Bernafdo ^^hi tambetn ibivtroí» Vit% eiii
Argentiera , Monte Vifo , e Monte Genevro , mas
tão perigofos y que rara vez os efcolhem os paíTa-
gei-
(3")
geíros. He a nere perpetua neftes montes , nem
podem numerar^fe os tnilhôes de peíToas ^ que elU
nelles tem morto y ella forma os rios Rhim , Rho-
dano y Adda , Ratíaonoi Savo , Dravo ^ e outros
de menos nome , que regáo Alemanha , e Itália com
excellentes aguas» O paiz he eíteril mais do que
pôde encarecer-fe^ e fummamente defabrido, mas
os Cantões feus habitadores agigantados , animo-
fos , e robuftiíEmos. Alfaciay lie huma Província
de Alemanha (icuada nas margens do Rhim , con*
fina da parte Oriental com Lorena , pelo Occtdeti-
te 9 e Norte com o Palatinado 4o. Rhin) ,. ao Meio
dia com o Condado de Ferrara , Franco Conda-
do , e Suiília : os Romanos a poíTuírâo mais de
quinhentos annos, e depois os Francezes até olm-
Í^erio de Othao L po feculo decima Othâo III. a
ez Lanfgraviado |. e a Caía de Àuftria a-^pofluio
aífim muitos annos , até que paíTou para o domi-
nio de França ; depois a tomarão os Suecos , que
a çedêrâo aos Hefpanhoes , e Auftriacos , e cftes
ultimamente aos Francezes , que a pofluem dçldé
o anno de 1^48 : he defabrida , fujeita a inunda--
çôes a baixa , por caufa das enchentes do Rhim ^
e a alta a nev^es , ventos ^ tempeftades , nada fru-
tifera , nem ^dcUciofa , eftando no dominio da na*
çãd, que boje melhor emenda com trabalho ^ e ar*
te a natureza.
XI^BÓ A . N4 OfBdna de Miguel Maõeftd diCoílt, Im^edor é»
0iiUo Officio. Aon0i764. ÇmtoÍ9$ gu/iwf«# bi€(^mãi. • <
.»" .' » .' Ill '.'..'* . . • j .' i
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CONFERENCIA XXVII.
ALJacielj onAIairielj he huma grande Pro-
vincia no Império do Grão Mogor , e de
que elle não fazcafo, eftá fituada na Coi-
ta de Bengala com dous portos de mar,
que fó admittem embarcações razas por dous rio«
largos povQados de Jacarés , e Tigres : fepara-fe
de Ârracão por huma ferra delicioTiífima peias ar-
vores j e fontes , mas afpera no terreno , que pare-
ce efcoria de ferro , e habitada de Tigres Reaes ,
e outros brutos ferozes j fe bem não coníta offen-
deflem nunca aos moradores daquelle paiz j ou
porque andão todos nús , ou porque diflPerem pou-
co delles. O M. R. P. Fr. Agoftinho da Purifica-
ção ^^ primeiro Miílionario de Arracão , da Ordem
dos Eremitas de Santo Agoftinho y compadecido
deftes miferaveis , atraveflfou a ferra a pé , não ten-
do já nelles unhas, porque lhes tinhão cabido no
caminho de Arracão: achou hum Império demonf-
tros 9 brutos , ou racionaes filvcftres , porque vi-
vem em covas , comem tudo cru , não tem Reli-
gião alguma 9 nem fujeição , e fó moftrão o racio*
cinio em levarem os enfermos ás coftas pelas co-
vas 9 até acharem quem lhes applique alguma cou-
fa para feu alivio ; e f e morrem , os enterrão no
meímo íitio, onde dormiãoy quando erãQ vivos y
e ninguém mais o piza , nem dorme fofare elles ,
dê íorce, que em nlorrcneb íihco^ du feis^pcflbas
de huma familia ^ já não podem habitar na mefma
Tom. VII. Dd CO-
C V4 7
cova , ou cemitério , e tem o trabalho de a entu*
Iharem com a terra ^ e pedras, que tiráo do fítio,
em que abrem outra para viverem , e fe fepulta-
rem : não cultivâo a terra , nem vírâo nunca inf-
trumentos para iíTo , fuftentão-fe com frutos íllveí*
três , hervas , e caça , que tem em abundância ^ ef-
pecialmente porcos , merús, bois, e cabras filvef*
três, o que tudo matão com páos, e pedras facil-
mente de noite. Nâo foi poíCvel admittirem a Re-
ligiâo Catholica , nem vir hum para Bengala a-
prender o Cathecifmo , fugiáo do Padre com te-
mor reverenciai , e pofto que percebiâo baAante-
mente a língua do interprete de Arracão j donde
Vâo alli muitos búícar deita caça, quando padecem
efterilidade de arroz ^ moftravâo que nâo entea^
díâo , tanto que elle lhes faltava em admittir aLci
Euangelica , que certamente já fe tinha pregado
naquelle pai% em outro tempo , porque em dous
montes altiíEmos exiftem trez Cruzes dé pedra to í^
ca , que os naturaes por tradição venerio com te*
mor fervil , porque todo o culto coníifte em tapa«
rem os olhos para as não verem , e nâo (ubirem
atrás das feras os taes montes , de forte que pa&
márâo , quando virão que o Padre , e mais Ga-
tholicos feus companheiros^as adoravãa de longe ^
e de perto ^ e fe abraça vâo com ellas ; porém ne*
nhuma tradição puderâo defcubrír de quem as ere-
gio , nem fe erâo diAio£livo de fepulturas de Ca-
tholícos , porque nâo tiverâo inftrumentos para
cavar os taes íitios ^ eliàs rochedos , e ellas feitas
de pedaços toícos. O que ba digno de admiração
neAe paiz he > que feado os habitadores tâo brii«
tos 9
( 3'jr )
tost, t lúmmamertte lafcivos , nâo sâo adúlteros ^
nem inceituolos , abítendo-fe ainda para o matri*
monio das primas com irmans, egráos íuperiores,
âo mefmo tempo em que vivem ^ e morrem ^ como
naícem j e nunca tiverâo outro veftido mais que a
pelJe y e por eípecial fegredo da providencia a ter-^
xã os nâo confome ^ ainda que eftejão enterrados
mil annos, o que fe prova com a multiplicidade de
cadáveres inteiros , e frefcos , que leváo as cheias
pelos rio3 y de que já fizemos menção y para o mac
todos os nnnos , os quaes eCtavao enterrados cm £*•
cios y que ha muitos feculos nâo são povoados j
por caufa das ímindaçôes, que refultárâo de fe in-
tupirem com terra y pedras y e troncos de arvores
aotiquiíEma3 as largas y e primeiras correntes , ef*
feito dos grandes hiracóes alli certos , como em
Moçambique, e toda a Contracofta de Africa de
fetc em íete annos. No mefmo dia , em que lhes
nafce hum £lho, ou filha, (acção myfteriofa ) co*
meçâo com páos a romper a terra os pais y e pa«
rentes,, abrindo a cova y em que hão de habitar ,
i]uando caiarem , e o caiar confifte em confentir a
mulher que o homem níe delia, e antes, ou depois
lhe ate o cabello com cabellos da íua cabeça , de
forte que com tantas casão , quantas usSo , e os
toucados das caiadas são os cabellos da cabeça dos
mandos , que nellas fó teqi as dores de. os arran-
car com as mãos para aÚp os das mulheres leaes
atóá morte -^9 porque fe pr^cipitão nos rochedos,
eotregão aos Jacarés nos rios , e em fim fe matâo
c«mo melhor podem ,on menos padecan todas
a$ Viiíjras ., Dão .obrigadas (como as Gentias .dp
Dd ii Ori-
Oriente qiiaíl todo) da neceíHdade, c credito, mas
fim da íaudade , e amor defordenado : elles pelo
contrario nãò conhecem extremo, enomefmo dia,
em que fepnltSo huma , vão toucar outra. Vivem
muito , e sâo perigoíiílimos os partos naquella gran-
de Província , que feria pequena para tantos bru-
tos , fenão morreíTem nos ventres , e nafcimento
tantos. Temem íummamente os trov6es, e chnva,
de íorte que nenhum fahe da* cova mais vizinha ,
onde encontra a tempeftade ; e perguntando-Ihe a
caufa do feu medo , refpondem : Jlt^ Senhor en/o*
dãy que no noíTo vulgar quer dizer : EJld enfadado
o alta Senhor ; mas he deígraça , que conhecendo ,
como todos, a primeira caufa , e que ha hum Se«
nhor de tuJo, nada mais querem, nem podem fa-
ber delle. Pafmâp , e fogem de qualquer veia , ou
caxidea acceza , porque nunca ufárâo, nem conhece*
rão o elemento do fogo. Refolveofe aqueliegran*
de MiíHonario , a quem devèo o Oriente eftas no-
ticias, a conduzir comíigo dous meninos, a quem
havia attrahido com dadivas, para que depois, fen«
do homens , e bem inftruidos na Fé , cathequizaf*
íem os feus naturacs , eíperança bem fundada , por-
que tão bárbaros, e mais forão algum dia os mo^
radores da RuíEa ; mas apenas entrou com elles
nas montanhas , forao taes as faudades brutaes da
pátria, que hum fugio por falta de vigia , e outro
não comeo, nem bebeo mais , e acabou no quinto
dia da jornada : na hora da morte lhe miniftrou o
Baptifmo , e foi tal a caridade em todos , que le-
varão o cadáver ás coftas trez dias , íoffrendo na-
qiielle ardente clima fedores intoleráveis., até che-
ga-
( 3*7 )
gareoi á fiam valle , cbi^^e puderfTo (cbra ficas ,
€. ca tanas romper terra -moUé para ofepuItaTetn':
teria dez annos y e feparou-fe da mãí atrahido de
hum Ròfario de velório encarnado , qae nnnca ti-
rou do pefcoço, e com elle foi fepultado/ A caufa
éa não poder conduzir outros ^ foi io.xoftiiane inal-
tei-arel daquelles bárbaros , que até ca&vem '- fe
oáo feparâo das mais y como entre nós os de peito.
jllcaírão. He huma efpecie de betume excellente
para matéria ^e alimento do logo: o natural lança
o mar nas praias em occafiáo de tempefkades , e Te-
co , ou purificado ao Sol, parece maiTá branda ; o
artificial fe extrahe com fogo dos cepos de arvores
rezinofas ^ e em Flandres o deftilão os pinheiros j
ieoi mais diligencia que fangrallos : arde dentro
da' agua , e com elle venceò o Imperador Conftan-
finoPogonato aos Mouros no anno de 670 ^ílan**
çando-íhes na Armada muitos arxotes , e outras in-
venções alcatroadas , e accezas , de que hoje coftu*^
mão encher os burlotes de fogo para lho lança-
rem 9 tanto. què asentenas fii^mão os arpéos nas en-'
íarcias dos navios de guerra. Era moralmente im<>'
poífivel a navegação fem eíte betumeV o feu Amo
he o melhor remédio contra o ar corrupto , e afua
agua Cura innumeraveis enfermidades* Âlpupearras.
Hehum paiz de montanhaa jtia Retno deGranada',
Dome derivado de Alpllz«r^9^primeiro Governador
delle, tem fete léguas de comprimento'^ e onze de
largo 9 eftendendo-fe pela Gofta do Mediterrâneo
entre as Cidades de Velez-Malaga , e Almeria : ef-
tá povoado todo de Mouros ^ que abraçarão a Re-
ligião Catholica y e nella viVem., coníervando 4)0^
Tom. Vil. Dd iii rém
Cj^8 >
rém omodo dfe Tirer ^ refttf ^ e Aliar ^ átndi cjue
já com muita corrupção. DÍTidem^fe em onze ter»
ritorios ^ a que elles chamáo Taas , e os Heípa*
nhoes Cabeças de partido , fendo os principÍM
Taa da Orgirâ ^ que pertence aos Marqueses de
Valenzuela, eTaa de ritros^ onde fe adinirSo ai!^
Tores de extraordinária grandeza. Entre Pitros^.c
Portugos corre hum pequeno rio y cujas aguas ân
hum inílante tingem de preto toda a 12 , e feda y
que nellas molhâo; ealli perto eftá huma calema ^
cujos maligftos vapores mátáo todos os aninnes ^
t^ue lá fe chègáo. Sáo innonoeraTéis os lugares de
Mouros que ha neftas montanhas , os quaes imi»
^ando o laboriofo ) e íncançavel génio deíeus airòs^
enchem as montanhas de vinhas ^ c arvores finti*'
feras , e vão a Velez^Malaga , e outros lugares
vender os fens bons vinhos ^ uvas^ paflas ^ e o»
trás muitas frutas ^ que alli lhes vem comprar mer»
eadores eftranhos. jlltar. Os primeiros entre o
Gentilifmo erao vafos de ferro com trez pés coroo
diz Varrão j e nelles fe lançava o fogo que abra«
zava a viâima, depois os feetáo de terra para os
Deofes terreftres fenh degráos , para os Deofes in«
fernaes em covas ^ e para os ceieftes em fitios al-
tos , e com muitos degráos compoftos todos de
pedras, ultimamente gaftárão nefledefatino ospor**
fidos:, e'mát'more0: mais finos y emetaes précíofos,
e algumas vezes madeiras : na lei Natural erigirão
os Patriarcas Altares a Deos verdadeiro de pedras
tofcas , e na lei Efcrita ordenou o Senhor foifem
da mefma matéria , e fem degráos , excepto os do
Tabernáculo , que já onviftes contar a fua mace^
ria.
(319) .
ria ) e feitio : ná lei da Graça os primeiros forâo
de madeira ^ hnns como arcas , curros como ban-*
cas j depois fó de pedra j confervando fempre o
nome de Ára , palavra Grega , que ilgnifica depre^
cação ; e os Gregos em lugar do Altar portátil, e
Ara dos Latinos , usâo de huns pannos bentos.
Em Athenas achou S. Paulo hum A4tar excelleote
dedicado ao Deos ignorado, defconhecido , e oc*
culto , de que tomou o Apoftolo motivo para me*
Ihor lhes pregar a Fé de Chrifto , verdadeiro Deos ^
que elles ignoravâo* Nâo houve tempo mais mal
empregado j que o muito que gaftárSo Authores
de ooa nota em queftÔes íobre a origem | e moti»
vo defte Altar j e rotulo delle y porque deveodo
fiâo fe apartar do que refere o texto y quando diz
què o Altar era dedicado a hum Deos ignorado y e
affim conftava do letreiro : Ignoto Deo y embaraça*
dos com ditos y e opiniões de Gentios y aflenttf rSo
que o Altar era dedicado a todos os Deofes da Eu*
ropa y Aíia y e Africa , e aos Deofes ignorados y
de cujas ultimas palavras y dizem y fe valera o A*
poftolo para o Sermão. Ecumenio efcreveo, o que
he tao conftante entre as nações Catbolicas doOri--
ente, como a Fé, e vem a fer, que houve emA-
thenas huma epidemia , ou contagio , e para efta
ceflar y edificarão Altares y e levantirâo eítatuas a
muitos Deoíes , e a todos aquelles y de cujos nomeS
tinhâo noticia ; mas como não ceflava o cailigo y
julgarão havia outro Deos occulto , e defconheci***
do , que ainda não eftava applacado y e como náo
fabiaó quem era , como fe chamava , nem que fei-
tio tinha 9 não lhe levantarão efiatua fobre o AU
tar^
( gio )
tar, mas (ó fizeilío hum Ahar dedicado áefleDedf
ignorado com effe letreiro até faberem quem elie
era , para então lhe coUocarem fobre eflfe Altar a
eftatua; o que feito, ceifou o contagio, e attribuí-
ráo ao Deos que ignoravâo o beneficio : aos doa«
tos y e náo a mim pertence julgar íc eiU he a no»
ticia mais conforme ao texto do Apoftolo: Pr^r^i-
riens enim , ^ videns Jimulacra veftra , invm ér
arani , in qua fcriptum erat : Ignoto Deo : quod ergo
ignorantes coliPis j boc ego annuncio vobis. Oe íbrte
que o Apoftoio de paflagem foi vendo huma muU
tidâo de ídolos , cada hum em fea^Altar , e entre
eftes vio hum Altar fem ídolo , e fó com o letrei-
ro , que dizia fora dedicado a hum Deos deíconhe-
eido , occulto , e ignorado. Alteza. Foi o tratar^
mento de todos os Reis da Europa, e Potentados
delia até o decimo quinto feculo: os Reis deFran««
ça da primeira , e fegunda linha o fizeráo íèa pró-
prio , fatiando de fi em Leis , e Cartas ; no tempo
da terceira* linha o deo S. Bernardo ao Bifpo de
Langres: em Hefpanha duvidâo qual foi o primei*
ro que a ouvio , mas labe-fe que Carlos V. não ,te-
ve outro tratamento , até que o elegerão Impera-
dor de Alemanha , porque então ufou da Mageí*
tade, que deixou a feu filho com a Coroa deHeí^
panha : em Portugal o mais certo he, que D. Se-
baftiâo foi o primeiro Rei a quem fe fallou por Al-
teza , e D.João IV. o primeiro a quem por Ma-
reftade, como tinhão ufado com osFilippes. Dei-
le que a Coroa de Hefpanha , c a Imperial fe uni-
rão com a de Auftria. , os parentes de ambas ufá-
rão de Alteza , e o mefmo tratamento fe deo: ^os
I Prin-
w^^t
( 3^» )
Príncipes Flllsberto, e Thoma^s de Sabóia, filhos '
da Infanta D. Catharina de Auftria , prima com ir-
iná de Filippe IIL D. João de Aiiftrià , filho na-
tural de Filippe IV. , que perdeo em Portugal a
batalha memorável do Ameixial , qniz lhe faliaflem
pbr Altecsa , quando tia menoridade de fcn fobri-
nho Carlos II. governou os" negócios de He(pa«
nhá , e no anno de 1677 confentirão niíTo osGran*
dès do Reino com acondiçSo de-que elle lhes déf-
fe Exceltencia, Em França íó os irmãos dos Reis
a tinhão, e aosmais Príncipes da fangiie ÊiUavâo,
como ainda hoje íe ufa ^ ou impeflbalmente , oa
Vòs Senhor ; mas depois que o Príncipe de Con-
de foi a Roma no anna de 1621 , e õ Papa lhe
mandou dar Alteza com o privilegio de fe cubrír
nas audiências 9 e preceder ao Cardeal Diácono de
menor antiguidade, derâo: em França Alteza a to*
dos os Principes do fangue , e filhos naturaes dos
Reis 9 o que imitarão as mais Cortes da Europa.
Em Alemanha: uíárão os Eleitores de Alteza Eleí*
toral, e f ó de Alteza os Bifpos Principes , depois
que o Rei de França ordenou aós feus Plenipoten-
ciaríos em Munfter lhe deíTem eílê tratahrento , que
Luiz XIII. deo também ao Príncipe de Orange >
que antes fó tinha Excellencia , fe bem lhe difputá*
fáo o primeiro tratamento. muitos Principes Ipgo^
e muitos annos depois* Cromuel , quando vfurpon
o governo, e não a Coroa da Grão Bretanha em
1649 , ordenou* lhe deíTem o 'tratamento de Alterr
jjà. Em Itália nâo he commum a todos os Princi«>
pes /porque o Doge de Vcheia^íó tem Excellen*
cia ^ e aí&m tracaváo aos Duques de Parma ^ mas
de->
( 3?^ O
depois .qílcb Cpoci^ftavel Coloii»^'e o DiiqtiQ d?
BraccMno djaftáfãa entre íi tratarem-fe por Alteza
Sereniínma hum ao outro , fiíerão o mefmo paâo
muitos: os Papas a concederão a alguns , a depen-
dência a fez daffi a tantos ^ y)ue hoje a tem quaíl to-
dos. os Bifpos donatários 9 iiendoicerto,:c^tie algum
dia a neg(avâo oai^raodeade Hefpanba aos filhos
fegundos das Gafas de Medíeis, e Sabóia. Efta de(^
ordem produzio infinitas, de forte que noanno de
1633 , quando o Cardeal Infante D« Fernando foi
Eor Itália 4»ara os Paizes baixos , o Dnqae de Sa?»
oía,' a quem eile C6 fazia tençSo dar Excellencia^
de antemão lhe deo Alteza Real, de que fe feguio
dar elle Alteza ao Duque, a quem imitarão todos
os outros , que eftavão no mefmo perigo , e apa^
receo na Europa efte tratamento novo , de que lo^
go ufárão todos os Infantes de França , Ing/atei>
ra , Suécia , Dinamarca , os filhos dos Imperado^
res , e depois o Duque de Sabóia, o de Lorena ,
e por Alvará do Imperador o Grão Duque da Toí^
CBm^ é/lUbama^^Cid^dQ do Reino deGranada, áiC*
tã fete milhas da Capital , nas fronteiras de Aada-
luzia ^ íiindada em montanhas de grande fertilida-
de: tem Caldas excellentes para muitos achaques,
e a cqnfa mláis! admirável, que nella moftrão aoseí-
traqgèir(»s , >hé^ hnma igrande Gjuiz.de pedra fo^
bre hiim penhafco ,'jonde nunca, feípode fubir^ por
mais qfoe fe canç£rSo .os engenhos, em idear meios
para Já chegar-^ de- forte que julgâo foi collocada
pelos Anjos , porque a natureza impedio todos .09
paífos , e meios ipttarlá ^ trbndiizirem , e ^ercm d^
perta '^líéro. Foi. |ioiU rdos^Embaizadoxcs , .qciô
mán-
( 3*3 >
mtndárâo aScipiâo os moradores deKdmanda, 6
3 uai não foi admittido , e os Numantinos julgan-
o-o traidor , o matáráo : nâo tardou o caftigo ,
porque mandarão outros com igual fortuna, e tU
les defefperados intentarão fugir ; porém efcon-
dendo-lhe as mulheres , e filhos os freios dos ca-
vallosy degollárâo todos, e fazendo huma grande
fogueira , em que lançarão eftas amáveis prendas
com todas as luas riquezas , depois de bem atea-
da '^ morrerão voluntariamente todos nas melmas
chammas : vejão Numancia. Âlypio , ou Âlipio j foi
hum Santo Stelita, o mais memorável depois deS.
Simeão do mefmo íobrenome : nafceo no fexto fe-
eulo em Adrianopolís y Cidade de Paflagonia , cre**
cni-fe em caía de Theodofo Bifpo da mcfma Ci-
dade j em cuja Sé foi Diácono , e Ecónomo ; mas
deíejando maior perfeição de vida ^ fe retirou pa-
ra o ermo : fez hum cerco no alto de hum monte ^
e no meio delle huma coluna com hum telhado ,
onde fubio tendo trinta annos de idade : paflado
pouco tempo j- lançou fora o telhado , e viveo ío»
bre a coluna íincoenta e trez annos a todo o rigor
do tempo , pregando o Euangetho a todos j e ron-
dando trez Communídades huma de Monges Con-
▼entuaes , outra de Ererttitas , e Solitários , e a
terceira de Religiòías. Quatorze annos tolerou ío^
bre a coluna com fumma alegria huma terrivel en«
iermidade y de que morreo : ignora-fe o anno do
feu feliz tranfito , fe bem os Gregos Orientae.^ di-
zem foi no dé Chr>fto de 670 y porque cômeçoa
a penitencia no tempo do Imperador Heraclio, que
^incçíía a^íinír iíar4tiTccnfõr<
u.
X' ' ■..•".%,..:. j •t*^S- ^'íiíJft •■■ify *. ■ to
Cjh)
V ieCfiriilo pelo cnmputo mais certo de Paggio
.-fc* CrinVa de Buronio, que deveo aos Monges de
>i.nro Antão as noticias fundamentaes dafua obrâ|
c rodos ao íeu eftudo , c trabalho inimitável de
âjuftar com a emenda do Kalendario Romano a
conta do Grego. Am. He luima Cidade que teve
ctm mil vizinhos y e mil Igrejas : foi conquiftada
pelos Tártaros no anno de 12 19 com doze dias de
iitio , era a melhor da Arménia da parte do Nor-
te 9 e hoje huma vil Aldeã , que fó excita ^tzniQS
aos viageiros Catholicos. O Venerável Fr. Gui-
lherme de Santo Agoftinho Martyr extrahio delia
muitas reliquias de Santos , que fe conferváo no
Capitulo do Convento de NoíTa Senhora da Gra-
ça de Goa , da Ordem dos Eremitas do mefmo
Santo de quem era Religiofo , e Conventual em
Hifpaban Corte da Perfia , que poffue os arrabal-
des deita Cidade 9 divididos delia com hum preci<*
pitado rio íem ponte. Amaàah , he a Cidade Ca-
pital do Reino de Cambaia , riquiilima pelo feu
commercio , e fabricas de feda , algodãq , e bor-
dados : foi Corte antes que o Grão Mogor a con-
quiftaíTe; mas nada fe diminuio, antes fe augmen-
tou com o novo governo : he cercada de excellen-
tes muros , com tr^ze portas , diítantes dous ter-
ços de légua. huQia. de outra. Antes de Vaíco da
Gama entrar na índia fe levantou o Governador
dôfta Cidade^ e fe chamou Rei delia , e feus fuc-
ceiTores mais de duzentos annos ; porém depois a
CQ^f^i'itou outra, vez o Grão Mogoc 9 que ,a poi^
tlSÍO Al , NaÒflficIhj de Miguel MahèTcal daC<ílA,'lApíciror da
i Santo Officio. Anno 17^4. Com todas ai iiccn£asncec^ariâh
í 3»í )
CONFERENaA XXVIII.
AMadahat , on Ârbaãabat , he huma grande ^
e riquijQima Cidade no Império do Grão
Mogor pertencente ao Reino de Guzarate
janto ao rio Indo j diftante de Cambaia
dezoito léguas : he o mais vivo retrato de Lon-
dres , fegundo aifirmão os que vírSo ambas : eftá
uarnecida de grande preíidio, e muitos Elefantes
e guerra para a defenderem das invasões dos Ba*
duros y povos bárbaros , e guerreiros, que nâo o«
bedecem ao Gráo Mogor , ehabitâo zs ferras vizi-
nhas. Ha nella a melhor fabrica de colchas borda-
das de ouro , que até hoje vio o mundo , de forte
ue no Oriente y onde fó parece creou Deos precio-
dades , fó usâo colchas de Amadabat os Princí*
pes , ou os que nas rendas fe parecem com elles ;
em Goa bavia trez ; e não fendo eu facil em me
admirar , confeífo me -elevou os fentidos o primor
da obra , e precioíidade da matéria , que he hum
monte de ouro de Veneza tirado á 6slf9í ; mas no-
tei logo a fuper£uídade na^ compra , porque a pri-
meira que vi y tinha cuflado a D. Francifco deSoto-
maior doze mil cruzados , para o feor defpoíorio ;
porém íervio fempre (como todas as mais) ló para
cubrir a cama, eftando fem gente, porque nem em
íima , nem debaixo delias fe pôde deitar peflba al-
guma , excepto por caftigo , ou penitencia , tal he
o feu pezo , e táo levantadas as figuras do borda^
do ; mas como no Oriente todos os cobertores , e
Tom. VIL Ee col-
i
( i^6 )
colchas sâo peças de eftado até nos doentes , não
admtrji|c]ue o fefâo asdeÃmadabat, efpecialmente
fendo inexplicável a riqueza da Afia , e entre as
precioíifllmas alfaias a melhor a cama. Setecentas
colchas deftas remetteo para a Perfia hum ConfuI
daquella nação : para Turquia levâo os mercado-
res todos os annos centos , e para os Nababos j e
Principes do Império do Grão Mogor nunca ha
de fubejo. Aqui íe fabricâo precíofas alcatifas com
ourO) efem ellci tiçus, e todas as efpecies de té-*
las ) e fedas preciofas. He efpecial empório do
commercio do anil , lacre , azevre, gengibre, af-
fucir de pedra , âmbar griz j e almiícar que vem
doPegú, e Bengala. Tem a mais preciofa Mefouí-
ta , que j dizem os Mouros ha em todo o munao ;
porque além da grandeza, e arquite£lura eftranha,
ne toda forrada de obras Mofaicas difierentes das
que fe inventarão na Paleftina , e hoje fegonda vez
admira a Europa ; porque deve mais á natureza do
^ue á arte: coníifte a defta excellente obra em pai-
res ,' bofques , &c. tudo formado de pedras Aga*
thas de rarias cores, com que também eftâo orna»
dos muitos fepulcros de Reis Gentios , de quem
foi Pagode efta Mefquijta. Hoje não ha memoria
dò fdolo , a que fora dedicado; mas conferváo ain-
da o&Gentio6 os legados dos Reis que a fundarão ,
€ engrandecerão , applicados a trez Hofpitaes , em
ue recolhem, e fuftentão com muita caridade to-
os os cães , gatos , e outros quaefquer animaes
velhos, ou eftropeados, compaixão, que lhes não
itoerecêrão nunca os homens , já porque , dizem el-
les ^ podem adi|uirir cabedacs para a doença , e
ve-
3
( 3*7 )
relhice , já porque nos animaes cretn tfftâo as al«
mas de feus avós. Em outro tempo tinha aqui o
Gráo Mogor íó doze mil Toldados , e ílncoenta E*
lefantes , como eícreveo Tavernier ; mas depois
que fe temeo dos muitos eftrangeiros j que alli con-
correm, tem ordinariamente dezeíete mii homens,
e oitenta Elefantes, ^gata , he buma preciofa e(^
pecie de pedra , que íó perde a eftimação por oâo
fer rara : nas montanhas de Cambaia fe acha a mais
fina y e de muitas cores , e defta vem para a Euro*
pa muita parte , onde ferve de tampos nas caixas
de tabaco , e a outra gaftâo os Príncipes , e mer*
cadores ricos do Oriente no ornato dos Pagodes i
e Palácios. Só os naturaes daqueIJas terras confer*
vão o fegredo neceíTario para as cortar direitas :
dizem que as excellentes pinturas de homens , ani-
maes j. rochedos , arvores , e outras mil coufas que
nellas fe admira feito pela natureza , procede de
lhe fazerem fombra eftas coufas, quando o Sol naf-
ce ^ outros dizem que íó fe lhe imprimem eftas fi«
^uras j fe depois de grandes chuvas aparece o Sol
intenfo, e entre elle, e a pedra eftá alguma deftas
coufas interpofta : a verdade he fer obra da nat»*
reza , e em algumas merece a primeira admiração ,
porque nunca a arte pintou tanto ao vivo , o que
(em arte íe vê nellas debuxado. Nenhuma he per«
leitamente diáfana , mas todas jellas tem eíFa pren-
da: ^ eu vi não poucas vidraças de todas j que fe
bem náo introduziâo tanta luz , como as oftras |
e madre-perolas j também não ofiendião a vifia a
quem recreavão com as excellentes pinturas ^ e re*
prefentações vivas de coufas, qtie nanca advertio «
Jbe II ar-
( 3»8 )
flrte para deleite do homem ; mas quem vio que à
natureza obrava prodigios femelhantes em muito
a eftes nas pedras de Montes Claros , e em ou-
tras j menos eftima aquellas. Jgatbasí ^ ou jlgae-^
taZj chamarão em Cambaia a hum mercador riquií-
íimo , mas tão molefto de excandefcencia do figa*
do , que fendo pardo , ficou malhado de branco ^
repreíetitando aífim a cor branca , como a parda
tantas figuras no feu corpo , que por ter alguma
femelhança com as pedras Ágatas , lhe chamarão
Agathaz : hum Sacerdote dos ídolos lhe aconfe-
lho» tivefle efpecial devoção com hum , para lhe dar
fande , e elle antes de a confeguir gaftou milhões
no edificio , e dote de hum hofpital para brutos ^
e Pagode preciofo para o idolo : acabou-fe tudo
em breve tempo á força de dinheiro ^ em que o,
Sacerdote, que era o Superintendente, furtou mui-
to, eíbi tal oaugmento da moleftia, que o Bania-
ne quiz arrazar tudo , e matar o embufteiro. Neí^
te tempo chegou a Cambaia hum Cirurgião Por-
tuguez , daquelles que nem íabem fangrar , mas
como no Oriente fer Português , e Medico he o
mefma na opinião dê Gentios , e Mouros , houve
quem o inculcafle ao Bantane , e elle felizmente
pendiiranda-lhe ao pefcoço hum cágado vivo em
huma caixa , de que já tendes noticia nas Confe-
rencias de Medicina , o curou em breve tempo , e
Baníane julgando fuperfticiofamertte que o cágado
o curara , nâo por natural virtude , mas por íer
divindade , fez em cinzas o prefciofo ido)o que ti-
nha coUocado )em> o ncyvò Pagode ^ e nomefmo lu-
gar poz hum armário deoufo com porta àb crjrf-
f ai ^
l
tal 5 é dentro o dgado , que nnncá tnais fe foube
ie era vivo , on morto ; porque além de não ter
or onde fe examine , fenâo quebrando o cryítal ^
c tal o.refpdto que Jogo ^adquirio , que fó o que
entre elles he Príncipe ; dos. Sagerdotes ^ pôde lá
ehegar-fe, para limpar a tribuna ^ altar ^ armário ^
e mais coufas vizinhas. He aífiftido de muitos pe«
nitentes , a que chamâo Jogues, que fó cuidão em
receber as oâFertas de innumerareis romeiros que
alli vão de todo o Oriente, !è atiçar as muitas lâm-
padas de ouro , que lhe deixou oBaniane, e outras
do mefmo metal, e de prata, que lhe tem manda*
do Reis da AGã , onde eíla romaria , e devoção he
táo commua para os Gentios, como a de Meca pa-
ra os Mouros ; e Gabriel Timotheo bem conheci*^
do em Portugal, e todo o mundo pela íua verda-
de, riqueza, e commercío, me diffe fora ver por
curioíldade o Pagode, e pafmdra , affim do ouro^
e pedras preciofas , que nelle vira , como dos mui-«
tos contos que rendiâo cada iemana as offcrtas dé
dinheiro, fendo mais o que rendiâo as de feda, ai-*
godâo , e tudo o mais que fe fabrica , e produz
na Âíia: e náo vos admireis defta brutalidade, por-
?ue maior culto deo a hum dente de bugio todo' o
oriente, e ainda hoje o dá a coufas iguacs, e peío-^
res , de que tereis noticia a feu tempo. Jmato Lu*
fitano , Âuthor célebre de Medicina , foi natural
defte Reino , onde fe chamava João Rodrigues de
Caftellobranco : eftudou em Salamanca , onde ad-
quirio grande nome , paíTou a França , Flandes j
e Itália , onde enfinou Medicina com grande ap-
plaufo em Ferrara , de forte que o Rei de Polo-
Tom. VIL Ee iii nia.
nia , e a Republica de Raguza o oonridírâo cóffl
grandes emolumentos para eníinar nos feus Efta*
dos, e elle os não aceitou j mas fim , nâo poden-
do encubrir mais tempo o veneno de Apoftata que
tinha no coração, paflbu paraTelTalonica, mudoa
o nome em Amato Lufitano , e declarou que vivia
na Lei de Moyfés , em que morreo. Commentou Di-
ofcorides , e Avicenna , e efcreveo fete Centúrias
de obfervaçôes Medicas. Amazonas , he nome que
derâo os Gregos a. bumas mulheres naturaes de
Scythia , e moradoras junto ao rio Termodâo em
Capadócia: os homens, que vierão para efte fitio
com ellas , perturbarão os vizinhos todos , e eftes
juntos os vencerão , e matarão , íem efcaparem
com vida mais que poucos mancebos , que forão
levar efta noticia ás mulheres , as quaes os mata-
rão , e cheias de furor tomarão as armas , vence-
rão em muitas batalhas os povos vizinhos , con-
quiftárão muitas Cidades, elegerão duas Rainhas ,
huma para as governar em caía , e outra na cam-
panha, eftabelecêrão leis, huma das quaes., dizHi-
pocrates, era guardar virgindade até matarem trez
homens feus vizinhos, criarem fó as filhas, e ma-
tarem os filhos , queimarem o peito direito , para
manejarem melhor as fettas>no arco, enão admit«
tir homem fenão até conceber ; porém como ifto
era mais cafa de loucas , do que Republica , fó ti-
verão quatro Rainhas, e no reinado das fegundas
as vencerão , e degotlárão os vizinhos todas. Efta
he a hiftoria verdadeira das Amazonas, que extra^
hio de antigos monumentos de Grécia Monítur
Rogleier , e tudo o mats que delias contão , são
fa-
(331)
fabulas ', que inventarão os antigos Poetas ; como
confefsãoMoreri, e outros^ que tiverão paciência
para trasladallas. Na America he célebre o rio cha-
mado das Amazonas , cuja boca tem mais de trin-
ta léguas de largura , e tem o leu nafcimento nas
ferras do Peru , defde o qual até o mar recebe mui-
tos y e caudalofos rios , e abraça quaíi todas as
Conquiftas de Portugal , e Hefpanhli , regando as
coftas, por onde fe dividem ambas, e cortando pe-
lo meio o melhor da America. Francifco Orelha-
no y Tenente General de Gonçalo Piflarro , Gover-
nador do Peru j intentou navegar todo efte rio ; e
conftando-lhe por informação de hum Principe da-
quelles Salvagens , que mais adiante habitaváo ha^
mas mulheres guerreiras , as quaes caufavâo terror
ás nações vizinhas , veio contar ifto em Hefpanha
com tal encarecimento , fendo aliàs fabula , que
aludindo ás antigas Amazonas ^ chamarão os Hef-
panhoes a efte rio o rio delias. Todo o paiz, que
rega j he excellente , com ar temperado , nâo obftan-
te a vizinhança da linha Equinocial : e o mais di-
rei quando falia r nas terras , e Provincias delle.
nimbar y he huma matéria a mais difpofta para re-
ceber , e confervar fem diminuição toda , e qual-
quer outra cbeirofa, ou fedorenta. Huns dos erros
communs nefte Reino , ainda entre os Dronuiftas ,
e boticários , como fe vê na Farmocopea Tubalen-
fe 9 e outras , he crer que o âmbar bruto , a que
chamão âmbar gris, he cheiro fo, fendo certo, que
o âmbar nunca foi , nem ha de fer cheiroíb , mas
fó fim recebe , e conferva fempre o cheiro da pri*
meira matéria odorifera^ que fe lhe avizinha ^ e cop*
mo
f 33»)
oio os mercadores o pôeoi fem razão na claíTè dos
gromas , e entre elles o conduzem j pega-fe-Ihe o
cheiro do mais vizinho ; e as bolas de âmbar eo»
gaftadfts em filagrana y ou fem ornato , que vem da
índia , he âmbar mifturado com almiícar ^ e óleos
aromáticos , manefa£èura que eu vi fazer muitas
vezes nas boticas de Goa para contrato ; e he ifto
tâo certo y qffè todo o âmbar , que fe acha na ÂfrH
ca, defde o Cabo das Agulhas até o mar vermelho ^
na Aíia defde os Cabos de Comorim até Timor ^
e Solor , todo fede a marifco j em quanto fe não
feca ao Sol , e perde a agua falgada j em que efie-
ve mais , ou menos tempo. Não he o âmbar o que
imaginarão , ou fingirão tantos Authores , Dro-
guiftas y Boticários y e Médicos , que o chegarão
a numerar entre as partes de animaes , chegando
ao delírio de efcrever y que o mais ^rimorofo o
vomitaváo asBaleas, e o mais preto evacuavão in-
feriormente , quimera que fó inventa quem nunca
vio Baleas y e por iiTo ignora que a mais pequena
podia evacnar em huma femana âmbar, que occu<*
pafle meia légua de terra , que le não perderia no
Golfo de Sofala y onde ellas são innumeraveis , o
mar claro, etão baixo, que em partes tem fótrez
bral^as de altura ; o que não obftante , fó deíejão
os moradores de Sofala , que as Baleas , e mais
peixes lhe não comâo o muito âmbar , que as on-
das remettem para as fuás praias , depois de tem«
peftades grandes. O hcroe eternamente memorá-
vel] no Oriente António CardimFroes, fendo Go-
vernador de Moçambique , e aíEftindo nas Ilhas de
Angoza o M. R. ?. Fr. Francifco Xavier de Santa
i^ Ele-
( 333 )
Elena j Religiofo de S. João de Deos , fizerâo e&
pedal ajufte , e obfervação nefta matéria , depois
da Monomocaia de 1729 , e acharão que o âmbar
era aquella primeira cera , que as abelhas formão
antes de conílruirem os favos , as tempeftades o
curão cpm as ondas j e o Sol com os feus raios nos
admiráveis rochedos daquelles mares , até que per-
dendo muita parte da virtude rezinofa , os defpe-
gão as ondas , e conduzem ás praias : provou-ie a
experiência com pedaços delle imperfeito , e outro
perfeitiílimo 9 que os pretos forão tirar dos fitios,
em que eftiverão favos y e aflentárão , que as partes
mais claras , e veias da mefma cor , era fegunda
cera das mefmas abelhas íilveftres« Concorda efta
experiência com as que fe tem feito nas Coitas de
Pruflia 9 e Mofcovia , e o confirma a experiência
quotidiana , porque íeparando^fe o âmbar em pe-
daços, fe achão no feu interior mofcas, palhas , e
finaes de outros infe£los , que nelle ficarão prezos ,
e morrerão quando eftava mais rezinoío : em fim ,
nos cortiços das abelhas manfas ( fe he que Deos
creou algumas ) em Portugal , efpecialmente no
tampo de íima j fe acha huma cera quafi preta , re-
zinofa, e dura, porque a cortiça, eoSol lhe tem
gafto as partes mais oleofas 9 e fubtis , a qual mif*
tnrada com tormefltina ierve de emplafto para as
quebraduras , e efta tmolhando^^fé repetidas veies
em agua íalgada , e fecando-fe ao Sol , he âmbar
gris perfeito , como vi muitas vezes manipular a
peflbas curiofas. Ha outro âmbar loiro , e branco
tranfparente , aflim chamado por muitos Autho-
res y mas fó conhecido de todos pelo nome de
alam-*
(334)
alambre ) e cfte, como confta de innumeraveis er-
periencias modernas j he rezína de arvores Uivei-
três y das quaes o feparâo as tempeftaJes j e depois
íem miftura endurece , fem perder o óleo, que det-
]e feextrahe para muitas doenças. Amianto^ he hu«
ma pedra que íe achava na Ilha deChypre, a qual
cozida com fabâo , e anil ( fegundo dizem ) fica de
forte que a paisâo por fedeiros , fiâo , e tecem dei*
la panno branco, femelhante ao noíTo de tStopZy e
quando eftá immundo , o lançáo no fogo , que o
purifica, fem o queimar, ainda que milhóes de ve-
zes fe faça em braza. Na livraria do Vaticano fe
coníerva huma toalha defta matéria, que tem nove
palmos de comprimento, e fete de largura, a qual
foi achada em hum tumulo de mármore fora da
porta maior. No anno paíFado acharão por acato
outra e^i outro fepulcro , e deftas invenções in(e^
rem como certo, que os antigos queimaváo os ca-<
daveres envoltos em lançoes de Amianto para nâa
íe perderem as cinzas , cautela que dizem inventa-
,râo os Bracmenes ( ifte he , Gentios Sacerdotes) da
índia y pátria de toda a mentira agigantada , fendo
certo, que a Afia nunca vio Amianto , nem pinta-
do, e muito menos tanto para queimar cadáveres,
coufá , que fó , dizem , uíárâo , e certamente náo
usâo os Pef fas , nem as outr A .nações. Também
não foi tanto em Chypré que fe fizeíFem velas pa-
ra os navios , e papel dos feus trapos como refere
Le Brum mal informado de outros , que ifto foi o
menos que fingirão. Amiens , he huma Cidade no-
tável do Reino tle França, Capital da Província de
Picardia fobre o rio Soma » que dividido, em trça
cor-
( ss? )
correntes formoíiífimas , e bem ornadas, a rega pelo
meio, fervindo-lhe para todas as manufaâuras: he
mimo da Europa a fua Cathedral , onde querem per*
fuadir os Francezes fe guarda a Cabeça de S. João
Baptifta : ha nella treze Paroquias , vinte Conventos ,
fincoenta mil vizinhos, efeis mil caías. NeftaCida^
de deo homenagem o Rei Eduardo III. de Inglater-
ra ao Rei de França Filippe de Valois pelo Duca»
do deGuiena , e Condado dePuthieu a 6 de Junho
de 1 329 , eftando prefentes os Reis de Aragão , Na-
varra, Bohemia, e Malhorca. Conquiftárâo-na os
Hefpanhoes em 1597 , mas pouco depois a reftaurou
Henrique o Grande; mas não acabou a fortificação ,
que íería a melhor de França, anão eftar imperfei*
ta. Jm-Kas , he a lala do Palácio do Graô Mogor ,
onde'eUe fe deixa ver dos feus vaíTallos poucas ve^
zes no anno : era a coufa mais preciofa que havia no
mundo, e fó delia extrahio Thamaz Koulikan mui-
tos centos de camelos carregados de ouro, prata, e
pedras preciofas ; mas aquelle Monarca he tão rico,
e poderofo , que não obftante lhe levar o inimigo
Feria os feus thefouros , para que forão neceflarios
muitos mil dormedarios , e camelos , fez publicar
que Thamaz adorara como coufa divina o feu Palá-
cio , e fe não atrevera a damnificar , ou extrahir del-
le coufa alguma : em quanto fe publicou efte ban*
do naquellevaftiíOmo Império, fe adornou a fala, e
fizerão novo throno ; mas como todos os mentiro*
fos são efquecidos, de forte perderão osartifices as
efpecies do primeiro throno , e ornato , que a pezar
do fen inviolável fegredo , na primeira occaíião de
fer vifta a fala ^ conhecerão todos que era coufa no*
va
(330
va j e muito mais preciofa que a antiga , feita pela
generoíidade do Imperador Cha-Gean , que defere-
ve Bernier. O antigo throno de ouro j rubíns , e(«
meraldas, e diamantes valia quinze milhões; em o
novo fó o ouro paífa de trezentos, e as pedras delle
nunca fe puderâo avaliar , porque além de innume*
raveis , e exceíEvagiente grandes , são as mais finas , e
antigas , que os Imperadores fuperfticiofamente não
ufavão j e como coufa fagrada tinhâo em depofito, e
thefouro occulto em trez Mefquitas , de que náo ti»
verão os Perfas noticia. O antigo nada tinha de Ma-
[eftade , ou arquitedlura , fendo o melhor delia dous
^avôesReaes de ouro, cubertos de efmaltes, epe*
dras preciofas , obra de hum Francez , que depois de
enganar muitos Principes da Europa com pedras fal«
fas , foi refugiar-fe na Corte do Mogor , onde teve
grandes fortunas; e o novo tem afigura domais ex-
ce] lente rctabolo , em cuja tribuna, e throno apparece
o Grão Mogor veftido de ouro, e cuberto todo de
taes diamantes, e tantos, que cega a quem olha muito
tempo para elle, fendo entre todas as pedras a maior ,
e mais preciofa o topafio Oriental até hoje único no
mundo , de que ufa no turbante , e fó pôde competir
com elle a luz do Sol. A grandeza defta fala excede as
maiores de que ha noticia : no te£lo, e paredes fóap*
parece prata lavrada porartifices da Europa, enella
hiftorias dos Imperadores , guerras , convites , erar
baixadas, dividido tudo em laminas iguaes por figu-
ras , e brotefcos de ouro mafiiço. O mefmo ornato
tem as varandas do átrio , porque a íala , e Palácio
são térreos, etudo alcatifado de feda, eouro.
LISBO A\ Na Officina de Miguel Manefcal da Coda» Impreflor do
Santo Ofiicio. Aaao 17^4. Com todas atUoonfas noo^fmks.
I ■
( tn )
CONFERENCIA X3aX.
r * • . 1 , - 1
I ^.
. A> ^ MflerdM , ou AmfteJdM ^ he huma Cidade
/% de Hollanda íbrmofiífiiiia , muito rica , e
y % poderofa , cujo nomei^^ier dizer : Repre^
' *zaM. aguas, , ou Dique de Amjiel : ha dq*
zentos annos que efta Cidade era o mefmo que
Olhão 9 lugar maritimo do Algarve > porque fó çoni^
tava de cabanas de junco , em que habiçavão po»
bres pefcadores , cujo commercio com os vi^^inhos
ihes áto tal angmento, que os Condes de Hollan-
da lhe forâo. concedendo privilégios até: o de Cf-
4ade9 que no^nno de 15.00 deo cuidado a militas
ida Europa , que víráo acabados os feus muros , e
fortalezas. Em cada feculoteve íeu augmento , e
no. de 1 67; já era tão grande , que excedia muí^
CO a Paris , ainda que. (ó então deígraçada , por-
que neíTe tempo lançou fofa os Miniftrpsda Igre-
ja Romana ^ deftruio coox barbaridade inaudita os
Templos, Al tares, ;e Imagens dos Santos, .e abra*
^ou as hereílâs de Olvino , e Luthero , a cujas
leitaseregio fumptuo^ílIntasQuercas, epara maior
ruina das almas íe permicte nella deíde então até
^agora toda a lei , iherefia , ejuperfticao , e fó he
prphibida a verdadeira /Fé Catholica Romdna. Ef**
.tá íituada em lugar tão baixo , que:ba muito a te»
-riâo fubmergido as inundações , feas não evitaíTe
.4Qm.fbrt;es , e apraKi^eis <:anaçs jje pedra^, ;ladrilhp ,
.t ofadeira gu^ri^ecidçs cop arvofesj «.p^ra/repni-
^ír o mar|,fjuç,;jl>^.ftça,eippíf^liíl«i tctn.osadfnir
' Tom. VII. Ff " ' ra.
( «n
rareís diques formados das mefmas matérias j en«
tre o^/í)aa0S7mc6rlo*^mttiM de
todas às pVftès doinundó^ íegoíás. CorividSo ama*
ior admiração muitos dos feus edifícios, como são
õGUuftrofdá communicaçSo ;dos homens' de iwgo-
cio «hamddo a.BdíÀ V ^ ^^^ das''Jddia$ , 09 Ar-
fcnaeít , â Igrejft' ^Iha, ^"^ ^^ dedicada ^ S^jNico-
]ão Bffpo/a quem perdoárSío por cauta dos riquif*
fimos Maufoleos, que nella íê confervão , c í de
Sanfta Catharina compadecidos do púlpito j e or<í*
gãòs^ qi»è cuftáráo milhões decnizados. Gavemão
efte Empório trinta fe féis Senadores , que alguui
dia erâo eleitos dos mais ricos j e hoje dos mais
doutos, e sâo perpétuos : eftes nomeão os MagiT^
trados da Cidade, que correipondem a Correge-
dores , e Juizes dos -Bairros por tetiipo limitado \
e agora aió confirmados politicamente pelo Sra-
touder y dignidade da Cala de Orange. Os Sena-
dores podem tirar do Banco , ou Erário público
todo o dinheiro neceíTafio para o bem da Cidade ,
aífiftindo os Mágiftrado9 , «que tem as chaves defte
thefouro o maior* do mundd , que fe guarda em hu-
mas grandes abobadas debaixo da cafa do Senado
com portas fortiffimas die bronze , guardado de
dia , eckffioite com muitas t^otppanlWas do Prefídio.
As mefmas guardas tt^m oErapio dos partiéu1arçs>
no qual tem cáfda Mm^o-itu; dinheiro pafa lhe evi-
tar os perigos -^ que pódé ter nas caías particura-
res. O mefmo nome Âmftérdâò derâo os Hollan-
dezes a hiHna Cklade dònovò Paíz baixo na Ame-
rica Sô|}tehfrionaIS'aí>h(iniA Ilha entre nora Hol>-
landa > >e>'Mada>^(rfeà^ i'ie outras 'no uar 'áÈí Ihdia>
B:Q\m^t\]/liâ^diaiii)i}it ci^cfli>;ò» Ladinos) bhnriár^
^ãnàtíisiav^ i^ liuiraí^ dilat»<ít' Provincis tir.>HefpQ«*
Bha^ que comf>iieheride quft&todé a antígi JBetica :
eofténa da parte dOf Oriente com o Reino-, de Qra^
sada ^ do SeptentriSo com a Eftremàdura 9 e Caf-*
têUa i^va ^ do M tiodía com o Oceano ^loMedrter-^
raneo', è do Occidente com Po||pgaI , onde a fé-r
para do Algarve o rio Guadiana ? terá noventa le^
guas de comprimento defde Âyamònte fronteiro a*
Caftromarim acé Ubeda^ e feffenta deiargura^oc*-
cupando <)uafi ! fincoenta léguas dé cofta no Ocea^*
noy doze no Eibeito de Gibaitar,: e nove no Mê^
direrraqeò : a .fi» -Capkal he* Sevilha , e os feus
cavallos os Aielhores. de Hefpanha» < Angela.Rocca^
ea Rúccba.j rSáct^Aá* do Papa. Clemente VIIL , Bíf-
po^dé Tagacfte y fbi Eremita de Santo. Agoftinho ,•
e Fundadot de httm ^ dos Cohverftos defta Sagrada
R^eligifío isfif Roma : naíceo em Rocca Contrata ,
lugar dai Marca .de Ancona , eftudou em Roma j
Veneza;, Pevhíia ^ e.Padua , otldefoi grádnadò Dou*:
^^9 pregoa depois em iVeneza com fuAioioti^p*-
plattfo»^ e dabi o chamou pata Roma o Revcren-
díífimo P. M. Fr. Agoílinbo Pavizani Geral da Or-
dem , pUra lograr a Guria as grandes noticias, qne
tinha das antiguidades Ecciéfiailicas. O Papa Xift;
to V. lhe encommendou ^ emenda , e ímprriefsâo das
Bíblias, ConciHosi^ e Santos Padiies, e> morrendo
fem' premiar os íèus trabalhos , e taflentos ,0 fe^
Qemente VIII. , de quem não quiz aceitar o Ca-
pc!lb» de.Cdiijeal , contentando*fe com a graúdt
botmii de; Sacrifta y e pedindo-lhe comóHitafle a pur-r
pura em.beneficios para a íua. amada Religião/ O
Ffii \í^-
Papa retido . o.feá reNgiofo defiotereíTe tlhe enttô'
goo .o^gflíverno:f.e Erário , de quèiáè aproveito\i
com benep^cita feu para: fundar a In/iraria Angér
líca ,' que d«l!e tomou o nome no Convento da fut
Ocdèm 9 a qnalíeftá patente todas as mâhbans para
todos os.que neUa querem eftudar; e f ó o que D.
Fr. Ângelo Rocq^efcreveo j e imprimioy ( díJbMo^
rerí) podia formar huma livraria : morreo em Ro-
ma a 7 de: Abril de 1620 de ietenta e íinco ânnos^
defejado de^ todos. JÍngelicfis , -sâò humas Relígio*«
ias^ qlie fó tem dousConvento&emlf alia, hum etn
MtlSo, outro em Crema: fundouras Luiza Torrel-
li, Condefla deGulbla, com licença do Papa Pau-
lo IIL eiti i5'34, e dahí a dous annos as exímio do
Arci^bifpó de Miiáo o mefioio. Sontifide ^ fujeitan»
do-às ao$ Clérigos Regiidares de S. Paiiío chàmt-*
dos Bet^nabitas ; S. Cartos Borroòieo J^es íez as
ConftitufçÔes, que approvou Urbano Yííí. , e sãò
os dous Conventos o refiigio das Princesas j e Ser
nhoras principaes de Itália. AHgdla^ helium Rei-
no emAfricay cujas praias, e o melhoc^das terras
interiores compõem hum grande domínio de. Por-
tugal j cuja conquifta , e progreflbs ouvireis cedo
a outro Académico no defcubrimento do Congo j
a quem pertence effe Reino: o íeu porto principal
he Loanda^ bem conhecido. por fer a pátria da do-
ença chamada Efcorbuto, á qual os navegantes da
índia 9 que a padecem fem verem Angola , chamâo
commummeme mal de Loanda , e os ignorantes
mal de Hollanda. Tem Governador , Bi^o , e Sé
com muitos Cónegos y muita riqueza, commercio^
e abundância de carnes^ p^^?^ hortaliçasy efriH
tas 9
(«4» )
tas , tudo excellente y dcliciofo j e Baratiffimo : a
fiofla induíbria y trabalho j e conveniência fez da^
quelles matos incultos hum jardim primorofo de
arvores de efpinho j e mais frutas da Europa , que
muitas melhorarão naquelle ardente clima junta-
mente com todas as da America , que le náo pode*
ria fuâentar fem Angola , donde lhe vão os efcra»
ros para todos os empregos lâboriofos. Quando
entrámos em Angola cada Província tinha hum So-
berano chamado Sova , que reconhecia por Supe-
rior o Rei de Congo : depois hum deftes com a
iiofl*a aliança ^ e foccorro conquiftou as Províncias
dos outros j e eftabeleceo hum Reino, e ao nome
de Angola , que antes tinha , accrefcencou o fobre-
iiome de Ineva : deixou por morte trez filhas y e hum
fobrinho , a mais velha , e baptizada chamava *fe
Anua Xinga, feroz , altiva, e valerofa ; e vendo
?ue o fobrinho lhe ufurpava a Coroa ajudado dos
iortuguezes, apoftatou daFé, e recolhida aoCer*
tão com os principaes nos fez dura guerra , mas
fempre comdefgraça., e perda de muitos mil vaÚTalr
Jos , pois houve choque, em que duzentos Portu-
guezes matarão feflenta mil negros, coufa fácil de
crer, porque eftes falvagens fem forma, nus, efem
armas de fogo apenas recebiâo a primeira defcar-
ga, viravão as coftas todos os que ficavão illéfos,
ecahíndo huns fobre outros, huns morrião dasba^
las, outros de medo, e outros fufibcados. Confe^
jguio em fim a paz com Portugal , e moveo a guer^
ja contra osjagos, que vençeo, e expejlio das me-
JUiores terras^ tão barbara, e defefpelrada , que fa-
crificava ao feu idolo homens ^ e mulhcrçs antes 4«
Tom. VIL Ff iii qual-
( 34* )
qualquer batalha , vivia no exercito , e era a pri*
meira para tudo. Hoje o Rei de Angola habita em
hum monte feguriffimo , porque tem hum fó cami-
nho difficultolo : o feu deleite he creação de Par
voes, e o bom que produzem as fuás terras he dos
Portuguezes. Ha nos Certoes defte vaftiffimo Im-
pério innumeravcis homens , e mulheres íilveftres ,
a quem os negros chamão Quojas-Morroii, e nós j
falvagens : p>ouco differem dos pretos feios ^ co*
mem com aíTeio , dormem como racionaes , não fal*
lâo, mas uivâo, e em tudo o mais são brutos , qwe
podeis ver admiravelmente retratados na hiftòria
do mundo no eftado prefenre, compofta em Italia-
no com eíta^npas. Nos lagos , e rios deAe Paiz vi-
vem as antigas , e celebradas Serêas , de quem tan-
to fingirão os Poetas : os negros lhes chamâo Am*
biciangolo , e nós peixe mulher, ha machos^ e fê-
meas com figura humana disforme , porque quaíi
não tem barba, nem orelhas, pefcão-íe com redes ^
e nellas os matâo com flexas : apenas feridos , ge-
mem como osracionaes j^ aílim efpirão, a fuá car-
ne tem o mefmo cheiro , e gofto que a de porco,
são quaíi pretos , tem os dedos das mios «uito
compridos , os olhos ovados , o nariz chato , a
tefta alta , grande a boca , e eftatura maior que a
humana ordinária. Também neftes lagos hamuitQS
Cavallos marinhoa, innumeraveis Tartarugas , t ^
muitas Baleas , porque íe communicão com o mar
por dilatadas bahias , e enfeadas fundas, jlnno já
X^beis o que he , e de quantos dias confta hoje )
depois da reforma, que nelle fez o Papa Gregoríá
XIIL y t íó refta dizcr*vos que o aono civil do»
He-
(M3)
Hebreos começari «a Lua nora do Otitbno , c o
Ecclefiaftíco tia Paícoa em: Marca: oaGaulas ^e
Sãxonios começarâa o anno enr> Setembro ; :os pri^
meiros Romanos em Março ,< depois em Janeifó ;
os Egypcios, Perías, Armeiiios, Athenienfts ^ e
Tebanos no mez dè Julho , e principio dos Cani;*
culares ; ò& Arábios em. Março;. os Indioer em Ja*
peiro ; os Macedonios em Setembro ; os: Franceses
antigos no primeiro de Março', como fevê no Gof>-
cilio Vernonenfe celebrado no anno de fetecentos
e iíncoentja.ie finoo , depois áté Carlos IX. .come^
çaráo o. anno no dia. dó Nafcimento-de Chrifto a
T^S de Dezembna, a que chama vao Eatarnaçao:
mefmo fizerâo fempre os Inglezes Catholicos at^
o reinado de Guilherme Conquiftador : t>* mefmo
ufárão os Alemães ; porém oi Florentinos , Pifá^
tic» '; e quafi toda a Itália começavSo .o^anno a ^5
deMarça:<ifmo Cii/2/a;^, célebre eotre. os.Chrofoo*
lógicos ,' confiava de trezentos e feíTenta.e finco
4ia8, diftribaidos emdoze mezes de trinta dias ca-
da- Jrám y a que; accrefcentavao íiílco .chamados £pa<»
gomenos , fem f^izer cafo 'dé^ feia. horas ; ^m r^m
confusão^ que náo merece gafto de: tempo: AnifiQ
yuiiaHo tomou onome dejulio Gefar, qufe o emen-
dou, *e:redazio ao eftado prefentc, fendo terceira
irezf Go«pfnl yi da.iorte que^anno vidgar y anna Ju-
liano , ahno Civil'!,> e anno Gregoriano he on^elr
mok Jinno Sabbático na Lei efcrita era o fetimó, ,e
em todo elle fenâo trabalhava, pelo que Deos no
IMAo-fpxto lhe dava frutois. para trez annos; Anno
<êo JubiUatKtst os Me fc geoa r era > o i i^írt quagefima^
«ontâèdoaaimò^ejobijco antecedente; ins^ní^
o COQp
(m)
O contando 5 era; O t|aadragefinio nono : a primei
ro dizem fora defde-Outubro de 26^7 do mundo p
até o ^mefmb met do ieguinte anno : do anno do
Jubileo na Lei da Graça já tendes noticia na Híf*
teria Romana. Anno Platónico ^ aífim chamada , por«
que o intentou Platão , he o tempo , que hão de
gaftár todos os PJanetas,«lBftrellas fixas no íen
moimento até pararem no íeu primeiro, eftado ^
no qoe dizem hnns fe gaftáo quinze mil annos ^ e
outros que trinta efeis mil. Ariftoteles Ibechamoo
o anno grande ^^ alguns Filoíofos julgáiao que
acal>ando oicírcolo dos Aftrbs em Capricórnio cau»
faria unirerÍBl diluvio, e íè em Câncer total inceiv
dio. A rerdade nefta matéria he que eftes tècs
nunca puderâo faber com certeza quando haveria
chuva , ou calma« Ama Egypciaco conftava de trin*
ta dias ^ ou trinta e hum , conforme o cufíb da Loa ;
ma^ durou pouco efte Hfo entre o^ primeiros E^*
pcfos. Afhtú V^âgo são doze mezes Lunares fem E-
paâa. AfMos Climatéricos , Críticos , ou Decr etários ^
he hum do9 famoíos delirios 9 em qni; osí homens
gaftár^ o tempo : di2em que sâo todos os annos
da vida humana , em que ha noves , ou íc^^ , e
por iíTo fatal o felFenta e trez , porque nelle íè juo-
tão fete vezes nove 9 e nove vezes fete^ outros
juigâotnais fianefto o anno oitenta é hum poj* cooir
tar deiíove vezes novey rporquèneKa idade mor»^
rêrâo Platão , Diógenes Cynico , Dionyíio Cracleo-
tes 9 Brafthotenes j e outros homens grandes 9 co?
mó fe houveíTeniimerp algum de annos 9 emi)ue. 9S9
amteStm íonitos incsm^iini^ fk>
4|aeeíte$^ e&ndo:oertoyà>^^
til-
( U^ )
thlhnò Feijó nas vidas dos. Santos '> homens Hlnf->
triffimos, e livros de óbitos, que hè raro o iogei-»
to , íque inorre cm anno climatérico. Eui tive a ineí-
ma credulidade j quando fó tinha quinze annos y
fem fiie lembrar de que tive nove annos climate*-
ricos fQCceíIi\ros 9 porque até os nove todos os
ahnos tive huma doença mortal ; mas defcnganei-
me logo na náo Santa Terefa , ondcf com quinze ,
etrez mezes eíkive iacramentado , e vi morrer tre-
zentas e;feírenta e duas pcfibas j que perguntadas
pelos CapelUes 9 e Enfermeiros,. a quem euy e ou-
tros curiofos O' recommendámos , quando peflbal'-
mente o não pudemos fazer ^ nenhum eftava em
anno crítico , ou climatérico , fendo ao mefmo
tempo certo que o Capitão de mar e guerra Cu(-
todio António da Gama j o Piloto mór , . e o Mef«
^re^. :doiiS'Religiófos de.S. Domiilgos, que Trunca
tinhão embarcado, Joíé de Soufa, que depois foi
Clérigo , e deixando o feculo morreo na Ordem
Seráfica , e outros muitos eftavão em annos críti-
cos., c dos mais agoirados , e nem huma dor de
cabeça tiverão. A verdade infalUvel nefta matéria
he Í6f»^anno , é dia critico , climatérico , fatal ^ e
decretorio aquelle, em que cada. hum morre, equc
em todos íe morre , e ha igual perigo de morrer.
iántequera , ou Antiquara ^ he huma excellente ,. e
rica Cidade de Hbfpanha , que^ihndárâo os Mòu->
ros^.doze léguas diftante de Granada ^ e oito de
Málaga , fe bem he certo havia eiti outro iitio vi^
zinho outra do nfiefmo.nome, que fe julga fundara
Tubal : teoiriete mii vizinhos , onze Conventos
de Religioibsy^e íete. de.Religiofas > excellenttQ
Hoí-
( J4Í )
HoipíttAyttéi, Ekaàoáy tíntíze^ErmdAs:^ GoHq^
dft^ ootaiTel :de Cooegos , ecmtras prebendaa, lítoí*
to rica , porqtie nao paga alcavalts o que nella fc
compra, erende, motivo, porquje cada Temana fe
jnútía mais de trez mil pdEoM na feira. O que
nella ba mai9 digoo de memoria (le i^ Arfeoál ^ ou
Trem de ttmm Moiirífcas no Caftelio, e fára det«
la excellentes Caldas. Jnta , he hum aotma] bem
conhecido nas montanhas de Bifcaia , em a%ttmaa
de Hefpanha, e em todas as do Norte: tem moi-
ta íemvthança comrOS^ machos , e mQlasiV>eàom 09
pbrcbs no focinho^ tem empoada mão quatro. QidMS
ocas, e no5 pés trezc , cauda curta, côr cinzenta,
a fna pelle bem preparada refifte a eftocadas, e ti^
ros de mafquete. Jnúlbas chamão a nmitas Ilhas
fítuadas entre o continente da America MevWtio*^
nzXy e a. parte Orientai de S. João de ^ottouricoy
outros lhes chamão Caraíbas , ou Cannibaila&: Fran*
cezes , Inglezes , e Hoilandezes as pofluem todas ^
fendo a melhor dos primeiros a Martinica ^ e a
maior a de S. Martiaho commua a todas^ as trez
nações. Antimonio ^^ foi medicamebto ignòFado até
o duodécimo fecuio , em que o enímou a preparar
Boiíilio Valentino , e Paracelfo Ibe.deo o raaior
credito com os feus: encarecimentos^ de que refal^
tou o feu ufo y e com elle a morte detamas* mil
peflbas: ,. que 0( Parlamento de Batia o coádeAoii.^
e prohfbio no aiMo^dei^òá ^ etpuUandò dv &cuU
dade Medica a Bernier , que o defendia ;. uns fbi
admittido, htun:^ e outra pelo. mdmò Parlamenta
ao aono de iéc^y ^ondra o parecer ée iCSuída Pati-
ntífy que.ercrevco:còikra.'èUehchfinaadbt^lbd'V^
co'
.1
( S47 )
CD dos etifefinÒ8>^è compoz hinn catalogo ^ dos
mortos ) cujo tiralo foi : Martyrologio. do Jntinto^
nio : o que nâo obftante he certo , que depois do ^
ciptS preparado , conforme a Farmocopea dejacobó
dt Cafiro Sarmento , hè a infusão do Ântimonio
preparado^ óu vitrificado o mais excellente, e fe^
;tiro emético. Antioquia , chamada hoje Ânthaquia ^
le a Cidade Patriarcal , cabeça de toda a Syria , on-
de S^i Pedro teve a primeira Sé , è Cadeira Pontí»
ficai : dizem muitos que ella foi a antiga Ribla ^
ou Ktblata ^ de que falia o livro quarto dos Reis
no cap. 23. huns que a fundara Ântigono, outros
que Antioquo IV. chamado Epiíànes , ou Illu&
ttâ; o certo he que foi a terceira Cidade do mun*
do chamada Capital do Oriente , Corte dos íeus
Imperadores y o rio Oronto a dividia delicioíamen^
te em: quatro partes , tendo légua e meia Hefpa*
iihola de comprimento^ e pouco menos de largo^
ornadas todas as fuás ruas de Palácios ^ e admira*-
veis edificios : tudo arruinarão dous terremotos
fios annos de Chriflx) ^ 15* ye i id, reinando Trajano.
ReftaurOQ^-fe coni o favor dos Imperadores, mas
nos annos 334, 394, 396, e458 padeceo tão fii-
riofos terremotos, que (é arruinarão os principaes
edificios ; em fim, quando efperava melhorar* fe ,
huma íefta feira 29 de Maio de 52 6 padeceo ornais
liorrivel , de que ha memoria , equarta feira 29 de
Novjsmbro de 528 o ultimo,. que a arrazou de to«
do. No de 5*29 a reíburou Juftiniano , chamandoí-
lhe Teopolis, que quer dizer Cidade dcDeos^im
548 a conquifbou Chofroes Rei da Fèrfia , degol-
j[ou Os mõradoies , qnehnoiiDS edíftaps:tiidp-Tr^
( 348 )
«
taàron Jdftiniana em 552', edifica odona -mis' règo^
lar, e formo fa y e tudo ddftruío Cfaofroes fegaoda
vez ; em fim , depois de muitas vezes reftaurada pe-
los Imperadores , :e Reis de Jerafalem já do terre»
moto de 31 de Outubro dè 6^7 y cm que morre-
rão feíTenta mil pefibas , já do domínio dos Fer-
ias 9 e Turcos , eftes a poíTuem defde o anno de
1268 , fem confcrvar do feu antigo eiplendor for-
moiura , e grandeza mais do que em cada bàhãt'
te huma ciftema grande , e excellente : tere mui^
tos Patriarcas Santos , más hum hereíiarca , e tnuw
tos hereges , hoje hum ícifmatíco Grego« Anton-'
gily he huma Bahia da Ilha MaJdagafcar, mais co-
nhecida pelo nome de S. Lourenço no Oceano O-
riental : foi defcuberta pelo Capitão Portuguez
António Gil, de quem tomou o nome, mas não a
felicidade , porque elle a teve em fer Mi^onario
de muitos portos do Oriente , que guardáo a tra-
dição 9 e agradecida lembrança de que António
Gil lhes enfinára as primeiras luzes do Cathecif-
mo : e efta excellente Bahia , que tem aonde me-
nos nove léguas de largura , e foi o feu primeiro
defcubrimento , nada abraçou , nem conferva delle
mais do que huma Cruz de pedra preta , que ain-
da ímâo pode demolir, por mais diligencias,. que
para íiTo fizerâò os bárbaros*, ç. hereges, impedi-
dos todos de fuperior impulfo. No meio ,defta Ba-
hia tem os Hoiiandezes huma povoação pequena
fundada emjiirmallba abundante de viveres , !fe lhos
fiâo: negbreói o3 Cafres*^' e boasi aguas, exom oid6
peças de. artiíèeria , Hojeícoufa^efcufada»! .
í- 1 S B O A . Natàrtclna de MÍgacf MíAtelTcál^-da Cbfta .^teprcflof db
" ■ Santo Officio. Anão 17^4. C^mtoiaêutJtccn^asncccJ^ariêu
- . '
CONFERENCIA XXX.
••í
Surgidouro defta Bahia de Madagafcar
( continuou o Letrado ) he dos melhores
para náos grandes, mas o clima terrivel
para os naturaes da Europa, de forte que
ió não tem febre continua , os que. bebem agua ar«
dente como nós bebemos agua , nem fe defcubrío
até hoje outro remédio para confervar nefta Gofta
de Africa ( como já diíTe de Moçambique , Sena ,
Sofala y && ) a vida. Outro maior inimigo tem el-
la nefta Bahia , e são os mpíquitos ínnumeraveis.^
€ tão grandes , que o não acreditâo os Europeos,
fenáo quando fogem perieguidos delles : a náo N.
Senhora do^Livramento , que fahio de Lisboa pa*
^a Goa em 1729 arribou a efta Ilha , e por miia-
;re fe achava com muito pouca gente em Moçanv-
âqueem 1730 y onde osfeus Oificiaes.me conta-
rão os trabalhos que tinhão padecido naquelle por*
tOy e os muitos centos de companheiros, que nel*
Ic tinhâa morrido , moftrando*me arnda muitos as
ocatrfzes ?das venenofas mordeduras dos agigan*
tados mofquitos. Os primeiros HoJlandezes^ que a
ipovovrao^' morrerão parte degollados pelos nátu-^
raes indómitos , parte de epederhia, hoje fó tem a
pensão da bebida, que nunca lhes falta, e ade po4
Jeijar de dia com os mofquito^ ^ porque^.de noitq
ps defendem os mofqueiròs j a> qiie no Oríeúte cha^
flkâo Mogerins :, e os naturaes pom £3gnQÍi'as de
iiei ^as fecas 9 mais por coílumè^ do^que por necef^^
-.Tom. VIL Gg fi-
(35^0
íidade, como elles confefsâo^ porque além dafam»
ma dQWZâ (U fua cútis , e cetjcuila tofiada do calor
ardentitlimo daquella região, e por iíTo menos fen-
ilvel j o coftume de tolerarem innumeraveis pica-
das daquelles monítraofos infeélm defde ha<feido«,
os faz infenfívets ao que os Eurapeos fentetn roaii
do que eftocadas. Efta Bahia he o único t^faâo
dos navios , que padecem ruína no Garbo de Boa
efperança iodo para a índia, e também para josiqoe
¥em , e o jnâo podem montar h, nera jretciooeffer.pa»-
ra Moçatnbique ; iporque Tafel Bai joÍo tem posi*
to, nem furgidoiro capaz , efiando no meHior ii^
para os nec^itados , porque eAá fundada oa çomí^
ta ào Gabo. Antónia , chamada por outros Íutís
antigamente , he hnma montanha de Jeriifalem , fo»
bre a qual oiandon >Herodes o <jrande ievantar a
mais regular ^ e forte torre , que vío o mundo , á
qual chamou Antónia^ nome derivado de António
feu intimo jamigo. Box Herodes em todas aa foas
obras magnifico , porém nefta excedeo os limites
do conceito , que delle tinha feito a Paleftina nas
obras do Templo, e outras : depois de fetta a tor/-
re com a mais .excellente arquiteâura , a mando*
cubrir de mármore branco tâo artificioíamentc nnif"
do , que parecia hnma fò pedra liza toda a obra:
o fim dcífta inveâiira foi deixalla inexpqgraaTel , e
incapaz de conquifta naquelle tempo , em que nâo
havia pólvora ; mas como talvez então fubejava
por iíro;a ifiduAria , ^vinte Toldados , hum Alferes ^
e hum* trombeta !d(f exercito de Tito ci«qoiftárâo^
o que hoje não expugnariâo cem mil homens^; poc«
^le achando as feotinellaadoriiiiiodo por fatigadas^
- ■ Ulm
C jn )
(nbfrSa ao alto com varies engenhos j degoWirío
todas j e Tito a fez demolir toda em (ete dias.
Muitos lhe perfuadírâo nâo arruinafle aquella ma-
ravilhofa fabrica , que toda junta reprefentava hu-
ma Cidade formoíiífima, com Palácios, e pequenas
torres no antemural j que tinha íincoenfa corados
de altura ; mas como efia era a principal defeza do
Templo 9 e efte a Cidadella^ refugio , e defeza da
Cidade j nío quiz perder aquella importante en^
preza j por confervar efta noaravilha. Antes da re^
iKttlkO dos Hebreos , e no pacifico governo dos Ro^^
manos ^ guarda vâo elles nefta torre os ornamentos:
Pontificaes riquiflimos t e quando ferviâo huma íd
vez no anno em a fcfta Tirfi , no decimo dia da^
Lua de Setembro f lhos davão os.Romanes/ conri'
a condido de qúe- acabada a ièfta os liaviâo ttcâi«
tuir Jogo ao theíouro daquelle prefidio» Jnionia
doozelU Portugueza ^ cuja pátria le ignora j na an**.
oo cie 1606 fugio de cafa de huma irmá fua, e vef^
tida em trage de homem paflbu a Mazagâo y onde
liarvio com grande V;alar.na guerra contra os iVfou-%
ros: ás dopzellas da Praça axtrrahid!^ da fua gentia
kza y e fama ^ a pertendéf âo para maridp com tia
importuna eficácia j que ella h vio obrigada a de&
cttbrif ao Governadof ^ que era doiuiella : cafou
eom: himi OíRcial daquella Praça , e o Rei D. Fi^
lippe IL de Portiigal^ e III. de Hefpanha aí docoii
liberalmente com [luma grande tença. Jhttaninos y
ou Âttiouiftas j sâo buns Religioíos de Santo An-
tão Cónegos .Regrantea de Santo Agoftinbo : o
fen habito hç túnica^ ecapa preta, e fobre huma^
e outca coufa huma Cmz Grega azul ^ que nada
Cg ii dif-
C 3r» )
diffcKréoX grande dos Latinos. A Ordem Mili-
tar de Santo Antão foi inftituida em Henao pelo
Conde Alberto de Baviera, para coníeguir do San-
to o remédio de huma epedemia , a que chamSo
fbgo de Santo Antão : fó entravão nella Fidalgos^
da primeira grandeza , que deixarão eterno nome
nas batalhas contra os infiéis da PrníEa, e Africa^
mas durou pouco tempo : a fua divifa era hum
cordão , e nelle pendurados hum báculo ,. e huma
campainha. Antros ^ he huma pequena Ilha de Fran-
ça em Guiena na boca do rio Garona^^oude eftá o
grande farol , e torre do Co rd o vão para guiar as
embarcações , que entrão nefte porto para irem a
Burdeos* Anveres y ouAmbereSy he huma excelicn-
te Cidade dos Paizes baixos Catholicos , a que tos
Latinos ^ .eiPortn^uezes chamão Antuérpia , ho]C
fó conhecida pelas notáveis Imprentas* para toda
a cafta de obras. Em milhões de fabulas eftabele-
cêrão Authores crédulos , e Poetas a fua fundação^
e origem dos feus moradores : foi certamente a
mefma que tiverão as outra» Províncias , começaa^
do em cabanas, como todas as Cidades populolas;
a vizinhança de Amftcrdão Ihediminuio o commer-
cio 9 muitos incêndios a formofura, e preciofidade
incrivel de muitos edificios , as guerras civis lhe
cailíárlo maiores danos, como ouvireis à feu tem«-
po: foi o theatro do, chamado por antonomaíia.
Grande Capitão de Hefpaniia j que a cercou , e
rendeo cercado do exercito inimigo , que a foccor-
ria ; mas depois de tantas ruinas , além^da íingu-
\ar , e natural formofura do terreno j em. que eftá
fundada com oito canaes , por onde entrão os na*
vios
( 3S3 )
▼1Ó9 até i Cidade , communicadòs com fetenta 'ie
quatro pontes, e capazes cada hum de cem navios,
tem duzentas e doze ruas eípaçofas , e povoadas
de palácios 9 e caías magnificas , vinte e duas Fran-
ças excellentes , huma das melhores Cathedraes
que tem o mundo j com feíTetita e féis Capellas de
jafpes 5 e porfidos finiífimos com montes dé oitro,
quinhentos pés de comprimento, e duzentos equa^^
rcnta de largo , e a torre com duzentos e quarenta
de altura , fuftentando trinta e quatro finos bons,
t grandes. O Clauftro de communicáçâo dos ho^
mens de negocio ( chamado Bolfa etn todas as ná^
çâes do Norte ) dizem ei^cede hoje o de Amftéf^
dão , e a cafa Capitular com quatro Palacioã , e á
Hofpedaria antiga das Cidades ^Qfèderadas sâo
huns dos melhores edifícios da Efiròpa; jAnnunciã^
dãj palavra, que fignifica a Embaixada do Arcanjo
S» Gabriel á' Virgem Senhora nofla , e EAcarnaçSc)
do Divino Verbo , he huma das princípaes feftaá
da Igreja zi$ de Março: no Sacramentat^io d&Pa^
paGelafíoI. venerado do6 Gregos^ conftaltavia efi
ta feila na Igreja antes do anno 491$ , e o decihid
Concilio Toletanõ a manda celebrar a tÉ dà De^
Mmbro , e d méfihõ obfervrfráo muitas ígre/asdé
Ftartçâ, e Hefpanhã, até qitô em íeu lugâí eftàbe-
lecêrio a fefta da Expe£laçãò. Tem aCathedtal dô
Noffa Senhora de Pui em Langnedóc o privilegio
de celebrar efta fefta íempre a 25 de Março com
jubileo , ainda que t(k dia íeja ( cômo muftaldf Vt^
Msfucéede ) fétta ^eirá maior. Muitas Cbrtgt^&gb-*
$6és fe dtdicárão à eftfe Myfterio ew todo o Orbtf
Cathõlico i e S. Filippe Benkio \hú d^dicdu a fua*
Tom. VIL Gg iii Re-
^
JR^eligião dos SerVitás, Amadeo VI. Duque de Sa*
bóia chamado o Verde, no anno de 1362 fundos
por efpecial devoção a efte Myíterio ( e não a ha*
ma Dama , que dizem lhe mandira hum coUar te»
eido dos (eus cabellos ) huma Qjdem Militar da
Annunciaçáo , cuja primeira divifa foi hum collar
de laços com manto branco j depois em algumas
funções efcarlate com extremos de ouro , logo azul
com forro de prata , e ultimamente de encarnado
obfcuro , ou cor própria da flor Amaranro , que
chamâo flor veludo , com forro verde em chão de
prata , e no mefmo campo huma Cruz floreada da
cor do manto fufpenfa no collar antigo. Aqflay he
hum valle dos Alpes , que confina com o l^hman-^
te, e Sabóia , tão grande , e ácompnhado de Vil-
las y e povoações , que forma tudo hum dos mais
antigos Bifpados de Itália , cuja Sé tem e/pecial
rito j e canto por iíTo, e com grave fundamento^
porque no anno de 408 era feu BifpOcPaíchaíiO) a
quem fuccedeo Eufl:áchio. Os Romanos a julgarão
neceflaria para a confervação dos feus domínios ,
e a guarnecerão com muitos mil foldados , cha*
mando-lhe Augujia Fretaria : o mais notável nelia
são as Caldas , que frequentão no Verão innume-
raveis peflbas. Apelles Principe dos Pintores di-
zem huns nalcêra na Ilha de Coo , outros que em
Efefo y e outros que em Telecfon. Não podemos
julgar fe alguém o igualou , ou excedeo , porque
nunca virão as fuás pmturas , os que dizem mara-
vilha^ delias '5 e fe algum as vio y certamente não
vio as que nos outros feculos admirarão o mundo;
hei certo porém que foi ioílgne ^ e ditofo; porque
( 35^5 )
itfaqne^IhedeoAJexandre Magno pé\ò feh retrai
to , ( cfoe fò quiz o fi^eíTe Apelles ) baftava para
fer riquií&mo , e além díflb o amou com tanto ex*
tremo , que mandando-lhe retrataíTe fua concubina
Campafpç , e vendo^o namorado delia y lha deo
bem .dotada^ Floreceo trezentos annos antes do
nafcimentó* de .Chriftò , dizem nunca tivera dia o-
ciofo no feu emprego ^ de que naíceo o provérbio :
Nullus dies fine lineaj eque efcrevêra muitas obras,
e regras pafa a arte da pintura j que fe perderão.
Contão-(e vários defafios entre, elle , e Protogenes
feu . contemporâneo ; mas na verdade sâo fabulas
inventadas por outros Pintores. Jnverftij íobreno-
nie da mais memorável Dama de Heípanha no fe*
culo paíTado ^ chamada D. Ifabel de Anverfa : depois
de muitos difvélos , e maiores difpendios , a con-
feguio para mulher própria D. FrancifcoValcarcel,
Alcaide da Corte , e Cafa de Filippe IV. de Heí-
panha, e ella defprezando as obrigações, e lei do
matrimonio , admittio no tbalamo ao Conde Du-
que de Olivares, e a outros: naíceo delia hum fi-
lho, a que chamarão Julião , fabula daquelle fecu-
lo, e péla da fortuna, porque nem D. Francifco,
nem o Conde Duque , e menos os outros o reco-
nheciãò por filho , defgraça que o obrigou a mili-
tar nas índias , onde foi condenado á forca , e o
livrou da pena dizer que era filho de D. Franctfi-
CO : militou depois em Flandes , e fempre com
máos cofiumes : veio á Corte ; e achando a mâi
fepultada , pedio a D. Francifco , que ao menos lhe
permittiíTe o fobrcnomè de Valcaxcel , renunciando
toda a herança ^ porém ^Ik ceito em que. não era
ícu
fen pai , fó na bora da morte y para evitar us im-
portunaçóes do Conde Duque , o reconheceo , e
elle aproveitou logo bem a nobreza j cafando com
D. Leonor de Verzueta , dama pública da Corte |
2ue lhe proteftott fe não queria embaraçar cotd ú
londe Duque j fe tinha parentefco com elle. Ce^
lebrou-fe o matrimonio em cafa da mãi da noiva
em prefença do feu próprio Pároco ; mas para dí^
vertimento do mundo ^ de repente com authorida*
de Regia appareceo Juiiâo Valcarcel declarado £^
iho do Conde Duque^i que perdidas as efperançaa
de tèr íucceíTôr para a fua grande Cafa*, efcolheo
efte filho duvidofo para fuccefsâo delia ; e como o
nome Julião he abominado em Hefpanha , deíde
que o Conde defte nome a entregou aos Mouros
toda •) o imaginado pai mudou o nome ao filho y
que dahi poi^ diante fechamou D. Henrique Fi)i«
pez de Gufmão : crefceo o delirio^ querendo-o ca-
lar^ fendo legitimamente cafado, fahia a Juizo em
Roma a nullidade do primeiro matrimonio y co«%
metteo o Papa o exame ao Bifpo de Ávila , que o
julgou nullo pelo bem achado y e fálfo titnlo de
que o matrimonio fe contrahíra em cafa da tnâi y
que vivia em Paroquia difierente , da em que mo^
rava a filha y e náo aíliftir o Pároco defta. Socegi-^
râo o^ clamores de D« Leonor ,.cafando-a logo
com hum Bacharel ^ a quem derâo largo dote y e
o ofEcio de Ouvidor nas índias ; e o Conde Du-
que ajuftou logo D. Henrique côm D. Joanna Yc^
lafco , fiiha mais velha do Condeftavel de Caftellâ
da primeira Granddza de Hefpanha y^c DaAia do
Paço. Emudecêráa os damores dos; parentes ^ -0
her-
. ( %n )
Iferdeiiios íi^tlmbs do Conde Duque' ^ vendo qué
o Rei fazia ao noivo as maiores honras, e Ihepro-
metti» outras com os titulos y e dous Ducados de
fett imaginado pai : cada hum lhe mandou o me*
Uior que tinha , e o Duque de Medina de las Tor*
res lhe mandou tanto^ que excedeo o valor de hum
milhão de cruzados o mimo. Teve o chamado D.
Henrique hum filho , que morreo menino em 1 644 ,
e feguindo-fe logo a defgraça , e morte do Conde
Duqtie^ como já ouviftes na vida do Rei D; João
IV., os feus parentes , e herdeiros, vendo que o
Rei abominava o íuppofto filho , moftrárâo ^ que
eiie tinha outro pai , de que fe ieguio privallo o
Rei das honras ^ e herança, o Almeirante do tha«
lamo da filha , e o defgofto da vida ^ ultimas cir*
cunftancias, que Moreri cala para não renovar mais
alguma dolo roía memoria deHefpanha, onde aii^
da muitos defejâo efcurecer a verdade defta trage-
dia impreíTa hoje em todas as linguas da Europa.
Apicia , era* nome irriforio que os Romanos derãd
âoi^: glutões do. feà tempo ^ em que houve muitos^
e hum 'tão célebre y que abrio efcola pública de
gloroneria na Cúria j em que enfinava os modos,
com que o homem fe podia excitar para comer mui-
to ,. e deu á luz para iíTo hum livro do mefmo a(^
fumpto: efte gaftou emguizados fuperfluos milhão
emeio>;e vendo que lhe ficava já pouco para con*
tinuar o vicio , matou»fe com veneno , que para
tal bruto foi o melhor bocado. Apocalypfe^ já fabeis
que he hum livro do Teftamento Novo revelado t
S. JoâoEuangelifta , que o efcreveo ; porém no anno
de 1674 ie levantou em Roma huma íociedade de
lou-
Umcoi officlats inecatiicos ^ intitiiladois Cavriieirot.
do Âpocalypfe^ cnjo iflftitutx> diziâo clles, era de^:
fender a Igreja da perfegurçio do AntichriAa^ qoe
eftava próxima : trazíâo por habito , e dírifa nos
vefiidos bama catana j e bum baftão em a(pa com
a letra : Gabriel ^ Micbael ^ Rãpbael ; chegarão ao
numero de oitenta y em que entrário alguns nobres
attrabidos dã conveniência j que tinhâo nos erFOS^
que em fegredo eofinavâo os fundadores , a £iber:
que todas ás mulheres, como não faltaffero emcem^
po algum com o debito a feus maridos , podiSo
lervic qúándo quizeffem a todos j e que oa ca&H
dos, eípecialmente fendo defta ordem, podiao re-
pudiar as mulheres, qnandolhenâoagradaflTein; fa^
râo venerados do povo , porque da vão muitas ef*
molas y favoreciSo a todos , e pfofefla,váo tão ri-
gorofamente a cavalleria , que trabalhando em of-
ficios , Que requerem bem expedito o cx>rpo j nâa
tiravâo da cinta a efpada, como parte do habito ;
ipas durarão pouco ^ porque o feu Meíkre> e fuivt
dador Agoftinho Gabrino natural de Brefcia y que
entre oa Cavalleiroa fcf intitulava Príncipe do wme^
ro feptenwio , e o Menarca da Sautiffima Trindade ^
foi pre^o nomeímo anno da fundaç^; porque em
dia de Ramos , quando na Igreja de S.. Pedro /e
carltoQ na Prociíáâo o verfo , oue diz : Quem be cA
te Rei da Gloria ? de repente aefembainhou a efpa^
da 9 e com ella nua fe introduziu na Cammnnida-
de dos Clérigos gritando, e dizendo: Emfotíy eu
foH ejje Rei da Gloria \ levárfio-no logo paria a cafa
dos loucos , e pouco depois oiitro declaiKUii úb er<
ros da nova naiíicia > pelo. que forão tcinu pregos >
ceai-
«caftigixIoS) o que baftou para curar Síiàâo$.'\/fpá9
€ryfy. Efte nome <enrre o vulgo tem accepçâo to-
talmente dnrería do que fignifica , e figni£cou fem«
pre j fwrque os ignorantes , e muitos que ignoráo
ter efle ddetto, entendem^que apocryfo quer dizer
coufa falfa^ fingida , mentírbfa , e inventada , quan*
do aliás efte nome derivado do Grego , nunca íi-
gnificou 9 nem pôde fignificar leoão x:ou(a occulta ^
eignot;aqÍa9 [de forte qiie pòdc bum livro (er Xagra*
do, ou divimi., e chanTar^íe apocryfo , porqus ã^
cando dlguin tempo occulto , e fendo muitos an*
nos , € por muitos íbgeitx>s oao conhecido , dd*
inerecfo a fé poUica da Igneja j que í& o pode re^
CQobecer ^ e publicar íàgradío ^ ou divino , como
rào 'todos os que o Sagrado Concilio Tridtxitino
oos pmrpoz^ ieapprovou por verdadeiros , eCano-
níícos no .Corpo da Bíblia , deixando por apocry*.
fos os bvros terceiro, e quarto deEídras, eaOra**
çSo de.M|inaíres,;tudo pertencente ao.Teftamento
Velho , pi*quacs «áo ohftante íerem algumas vezes
citados pelos Santos Padres , o commum da Igrga
os ignorou muito tempo y e Santo £pifanio diz não
íe achirâo com os outros. Santo Agoftinbo no li*-
yro 15. de Cmta^e Utei ap, 23. d|z fe chama livro
opocpyfo j ainda que íèja Santo , a todo aquelle y
cuja origem não eftá conhecida : ifio bafta. Jlpolo^
adoradq por todo o Gentiliímo do mundo como
Deos daMuíica, Poezia, e Medicina, objeâo das
maiores ficções Poéticas , e defatinos , qne adora**
xáo, e crêráo.os homens (a cu}as eftatuas erigirão
Templos, que fe podiâo numerar entre as maravif
i|ias ido mnndoj entre as^uaes adcDelfos erabníp
dos
( 3^o )
doá^racolos / por cuja boca reípondia o demónio
ao que fe lhe perguntava ) toi hum homem perito
na Medicina , Poezia , cMuíica, cuja pátria feigno^
ra, mas floreceo em Grécia ^ onde depois de mor-
to^ ou aufente, lhe levantarão a primeira eftarua:
julga Voffio/ que oidolo Jubal de que falia oTex*
to Sagrado era Apolo , mas foráo tantos os Apo-
los de Grécia , e Egypto todos adorados \ qnè fe
não pôde aflentar émqúal dellesfi^ía Jubal, equal
o pai do Medico Efculapio, €{ue também foi Dcos
daGentiHimo. Amrou Benlaith i, ow.Laitb II. P ria*
cipe da Dynaftia dos Soffaridas, Senhor daPerfia,
e terras dos antigos Parthos mereceo efpectai Jerm
branca por hum dito jocolo: vencido ^ epriziooei»
ro efte grande Príncipe no arino de 900 potlfmael
Samaili, deígraçá de que foi caufa ofeu caraUo^o
qual desbocando fe o introdu^io no exercito inimh!
go , pedio a hum foldado lhe guizaíTepara comer
alguma coufa , e efte poz a cozer hum pedaço de
carne no caldeirão ^ em que bebião os cavallos ^ atra*
vcíTando-Ihe nas azas bum páb: veio hum cãorwi^
bar a carne , e efcaidahdo no caldo o focinho y íe
retirou com tal preíFa, que levou o caldeirão pen»
durado napefcoço pdo páo.que tinha atraveffado:
Amrou qiievio tudo^ rio com tal exceíTo , que, o
jeprehendêrão os íeus, dizendo não era tempo pa«
ra rifada» , a que elle refpondeo : Rithme j par^
ejia manhã me dijfe o meu Mordomo , que trezentos ca*
meios não podião levar a minha cozinha , t -xigora ve^
jo , qtte hum fá cão a leva toda : morreo dcr fome
prezo.
# « f
LISBO A , Na Officina de Miguel Mancfcal daCofta; ImprcíIor'<fi
Santo OíScio. An no 17^4. Com todas êsiicçnfas ncc^ãriâSt
( 3<' )
CONFERENCIA XXXI.
ALbornoZj hefobrenome do Cardeal Gil Al-
vares Carrilho Albornoz, hum dos fogei-
tos mais excellentes , que nafcêrão cm Hef-
panha : defcendia dos Reis de Leão por
feu pai , e dos de Caftella por fua mãi : foi gra-
duado em Direito Canónico, Efmoler mór de D.
AíFonfo XI. de Caftella, Arcediago de Calatrava,
e Arcebifpo de Toledo : fez grandes íerviços a ef-
te Rei, livrando-o de Alboazem, Monarca pode-
roíiíEmo dos Mouros , e alcançando-lhe do Papa
Clemente VI. , e do Rei Filippe de Valois gran-
des donativos. Morto o Rei D. AíFonfo, feu fuc-
ceíTor D. Pedro o Cruel o intentou matar , fugio
para Avinhão, onde eftava o Papa Clemente VI. ,
que lhe deo o Capello no mefmo anno de 135:0:
Innocencio VI. feu fucceífor o mandou por Lega-
do , e General a Itália , a qual reduzio toda á obe-
diência do Papa, caftigando, e vencendo todos os
ufurpadores do Património de S. Pedro: Innocen-
cio V. o chamou a Roma, eUrbano V. depois de
oeftimar, como merecia, IhediíTe: (para fe diver-
tir com a refpofta ) Dizei-me: Onde gajiajles tantos
milhões de cruzados da Igreja na guerra de Itália ?
Sem alteração refppndeo Albornoz , que no dia fe-
guinte lho moftraria: nelle fez vir o Cardeal á pra-
ça do Palácio Pontificio hum carro com todas as
chaves , e ferrolhos das portas das Cidades , que
reduzira á obediência da Igreja , e convidou o Pa-
Tom. VIL Hh ^^
pa a que viíTe efte rol do gafto defde huma janel>'
la. Antes de morrer fe rcfiron para Viterbo a tra*
tar fó em o negocio da falvaçao : morfco no anna
de 1367, foi (entida pelo Papa, c toda a Cúria a
fua mone^ e concedeo muitas Indulgências a quem
acompanhaíTe o feu cadáver defde a Igreja de S.
Francifco de AíEs , onde foi fepultado , até a de
Toledo, para onde o trasladarão. Fundou em Bo-
lonha o Collegio dos Heípanhoes , reedificou a fo^
bredita Igreja de S. Francifco de AíEs , e foi táa
deíintereíiado , que apenas recebeo o Capello, re-
nunciou logo o Arcebifpado ; e eftranhando^lhe aK
guns íguaes efta acção heróica , refpondeo : He
CO ufa indigna vituperar^me j porque deixo a Efpofãj
que não pojfo guardar , nem fervir , quando o meu
Rei deixa buma excellente EJpofa por D. Maria àt
Padilba. Albufeira j he Villa antigamente íorúBitna.
no Reino do Algarve, hoje, depois do tcrremota
d^ ^755 y apenas Aldeã, fe bem antes já o era, e
menos alguma coufa , porque nella fe não acha
coufa alguma do neceflfario para a vida humana ^
nem huma fó peífoa , que firva outra , elevados ,
ainda os mais pobres y e mendigos , na fua antiga
imaginaria nobreza, que feria grande, fefofle pof-
fivel confervar-fe no domínio de tantas nações ^
que a dominarão , a que lhe deo Tubal , que ( fe-
gundo as memorias de Luiz de Couto Fclix ) paf-
íou nella para a eternidade, e dahi o levarão a fe-
pultar , como ordenou y ao Cabo , ou Promonto^
rio Sacro , hoje chamado de S. Vicente, Merece
porém efta Villa efpecial memoria entre todas as
da nação Portugueza y porque no anno de 1593 >
ha-
( 3«3 )
havendo pefte nefte Reino, e efpecialmente em Al-
bufeira ) onde havia huma Capella dedicada a S*
Sebaftiâo , na noite do dia trez de Fevereiro , ifto
he , na primeira hora do dia quatro do dito mez ,
porque foi pela meia noite , fahio da íua Capella
a imagem de S, Sebaftiâo acompanhado de vinte e
Suatro Anjos com tochas accezas , formando em
uas alas huma viftofa , e celeftial procifsão , que
os moradores atónitos virão das íuas janellas , e
portas: caminhou aprocifsâo por todas as ruas, e
outros Anjos invidyelmente abrirão as portas de
todas as Igrejas, ou Capellas da Villa, entrou na
Matriz peia porta principal , e íahío pela mefma ^
entrou na Capella de Santa Anna por huma por-
ta , e fahio pela outra , e fó náo entrou na Igreja
da Mifericordia , ainda que eíbva a porta aberta ;
excepção , que fenão foíTe myfteriofa , e celeftial j
podiamos attribuir a nojo, que os Anjos, e o San-
to tiverão de entrar nella , porque ainda hoje , de-
pois de concertada, creio he a caía deoração mais
indigna defle nome , que ha em todos os dominios
da nação Portugneza , e a que melhor repreíenta
agora com o Sacrário , a eftrebaria, em que nafceo
Chrifto Senhor noíFo. Recolheo-fe a Procifsão á
Capella do Santo , deixando livres da pefte todos
os que moravão nas ruas , por onde ella circulou :
fecharão os Anjos as portas , e collocárão a ima-
gem no Altar. Pela manhã cedo communicárão os
moradores mutuamente o que tinhão vifto , e a
melhora repentina, que os âpeftados havião expe*
rimcntado ; e para que não julgaíTem fora engano
da fantezia^ o que era íingular maravilha da omni-
Hh ii ^^-^
f otencia 9 acharão nas ruas muitas fettas do Sao-'
to , que elie deixou cahir para teftemunho de que
por cilas andara, e nas pedras limpas das ruas pin-
gos de cera das tochas , que os Anjos levarão ac-
cezas: correrão todos com o Pároco, e Clero de-
votos com as íettas a Capella do Santo , e acha-
rão que não fó erão as mefmas, que fempre teve,
e lhe faltavão^ mas virão outro prodigio maior, e
até hoje certamente único em todo o Orbe Catho^
lico , teftemunho divino , perenne authentíco de
todo o referido: acharão a imagem do Santo (que
antes não tinha defeito na encarnação , e membros)
com o corpo todo cuberto de nódoas pardas, que
era o mefmo , que antes padecião os apeftados ,
com os olhos noCeo, o pé efquerdo fixo, e o di*
reito no ar , como fe eftiveíTe para fubir alguma
efcada para o Ceo , e ( o que mais he, e faz paf-
mar ) hum dedo de mais em cada mão , prodígio
o mais raro , e myfterio incógnito , que ha cento
e fetenta annos tem fatigado com efpeculaçóes os
Pregadores mais doutos, e engenhofos; e porque
os prodígios não coftumão ter femelhança com os
defeitos, pois são obras de Deos, e perfeitas to-
das, o dedo, que o Santo tem de mais em cada
mão, não eftá pegado áraiz dopollex, como fuc-
cede nos homens , e mulheres , que naícem com
féis dedos , mas fim he hum de mais entre os de-
dos compridos , com tal igualdade; na raiz com os
outros , que fe ignora qual he o novo , e prodi-
;iofo , e quaes fó os que lhe fez o Efcul tor ^ e fó
fe vê que he bum dos compridos de mais , e que
íendo proporcionados > são féis. Appareceo liga-
do
( s^s )
do á arvore 9 como antes eftava , e com acção mais
penofa, e violenta do que antes tinha, quando fir-
mava os dous pés na peanha y e não levantava a
cabeça. Â imagem he de madeira , e boa efcultii-
ra ^ de forte que osartifíces, íem (lie verem os de-
dos , conhecem que ha nelle coufa , que excede a
arte na dífpoíiçâo do corpo , que pouco excede a
altura de trez palmos. Quando andou pelas ruas a
pé no fim das duas alas de Anjos, foi folco, efem
a arvore , a que eftá ligado , e á que fe reftituio
logo. Com o terremoto de 17551 cahio a fua Ca-
pella y que agora lhe levantão melhorada no defe-
nho : todos os annos o fefiejâo no dia quatro de
Fevereiro , e o Pregador he obrigado a referir, e
ponderar todas as circumftancias defte raro prodi*
gío: aílifte o Senado, e no fim daMiíTa vai o San-
to em Procifsão pelas ruas acompanhado de vinte
e quatro Anjos, em memoria dos verdadeiros, que
o acompanharão naquella feljz noite. Conferva as
mefmas nódoas da pefte , que tomou íobre fi para
livrar aquelle povo ; e aílim eftá exppfto todo o
anno aquelle protento na ciiamada Igreja da Mife-
ricordía em hum Altar nada decente, e pobriflimo
entre as mais imagens, que eftavao na Matriz, que
cahio; e por náo haver ou^ra alguma Igreja, em
ue ter o Sacrário , ecelebrar os Officios Divinos,
e mudou para a dita Mifericordia , onde íe náo
pôde dizer com decência huma Mifla rezada , quan-
do aliás efta rara maravilha da omnipotência devia
jcftar com o maior reíguardo, ^c^glto tpido o anno
efcoodida , e moArar-íe ^^àlle ih , em qiie
delJa fe faz memoria, para!i||B(t)f:^ú^ ^eÍ3 dcvo^
To m. VIL Hh iíi çáo ,
i
çáo j' piedade , religião , e conhecimento do qne
devemos a Deos , e a efte grande Santo. EftoE
certo que íe efta Santa Imagem eftiveíTe ( quando
obrou o prodígio) no maior Eritio de qualquer ou-'
tra Província do Reino , a devoção lhe edificaria
o melhor Templo , e o perenne concurfo de ro-
meiros , e devotos fariáo huma populofa j e bem
afliftidaV^Ua, o que antes náo ttveíTe huma caía; e
fenâo, lembrai- vos dos Santuários íó defte termo^
cujos princípios foráo defertos , e hoje delicíofos
povoados abuqdantiflimos com Templos magnifir
cos j tudo fruto das efmolas dos romeiros , e cí-
rios. Efta chamada Villa, onde não ha forno para
e povo, nem conía alguma de venda y nem moço,
ou criada ^ que firva , em fim , onde tudo faka , c
fó a neceífidade de tudo fobeja , tem Juiz de Fo-
ra, huma cafa rica, algumas abundantes | e todos
até o nvais pobre , e miferavel fervente de pefca^
dor, nobres. Creio não tem a Coroa Portugueza
dominio tanto , nem mais apto para caftigar hum
vaíTâllo com degredo ; porque Caftromarim ^ Ma-
zagão , Cacheo , &c. á vifta de Albufeira são Pa-
raizos terreftres ; mas fora da Villa tem os mora*
dores as mais alegres , e bem difpoftas fazendas :
e fe bem ordinariamente chamão quinta a hum pe-
queno figueiral com huma vil cabana de junco, to-
das merecem a nome pelos frutos, deliciofo fitio,
vifta excellente do mar , e aftmosfera fafntifera ; e
entre eftas ha quintas verdadeiras , e mais rendo-
fas , qiie as das outras Províncias , femelhanteâ na
extenção : os feos frutos principaes são os melho-
res figos de muitas eípecies^ bufcados por iflb dos
na*
tiattiraes ^ e eftranhos ; beneficies , que devem ás
arêas , que eflerilízando-lhe as terras para outras
colheitas , lhe faz as dos figos mais preciofas. O
feu peixe he o primeiro , que no Algarve fe parece
no gofto com o de Setuval , Lisboa , e Peniche ,
porque eftá fundada em rochedos , c cofta brava ;
mas podendo-o ter com abundância , padece até
diíTo j como de tudo , penúria , porque como os
pefcadores fe juigâo nobres antiquifiíimos , fó obri--
gados pela Juftiça, ou fome fahem a pefcar, etâo
perto de terra , com tal medo , perguiça , e frou*
zidáo y que nSo ha memoria de que pefcador de
Albufeira foíTe a Argel. Segundo as memorias de
Luiz de Couto Feiix^ foi Albufeira o primeiro
porto de Annibal , donde paflfou a fundar o que ho-
je chamão Villanova de PortimSío, e o Portus An^
nibalis , que o terremoto defcubrio. Os Romanos ,
e Mouros a julgarão inconquiftavel com grave fun-
damento ^ e aínm o experimentou o Rei D. Affbn-
fo IIL : nada deveo efta Villa ao Moreri ^ e a mim
fá me deverá o dizer a verdade.
Depois de vos contar ( difle o Letrado) tu*
do o que vi , e ouvi no Oriente das pedras Aga-
thas ^ me lembrou a fingularídade de huma , que
•tem j e muito eftima o Duque Carlos de Lorena
'irmáo do Imperador de Alemanha , e Governador
dos Paizes baixos : he efta pedra opaca em humas
partes , e diáfana em ou^tras , tem muitas , e di>-
verfas manchas brancas , pardas , e vermelhas , no
meio delia fe vê prímorofamente pintado pela na»
tureza hum Cifne, e eípecialmente por huma das
faces, ou lados da pedra ^ e o que nella tem admi-
ra-
( i^B )
râdo o orbe literário, e fatigado osentendimeatos
dos melhores Filofofos defte feculo, he que le enr
volvem efta pedra em hum papel molhado em a-
gua , defapparece totalmente a pintura do Cifne ,
confuadem-íe as manchas das partes opacas , e fó
fica apparecendo huma pintura cinzenta , ao mef-
mo tempo em que as manchas vermelhas ficão mais
vivas y e preciofas y e as das partes diáfanas mais
pequenas, e efcuras: fe pôe efta pedra fingular em
fitio húmido , ou fobrç .alguma pedra molhada ,
padece as mefmas mutações , poréoi nunca tão
grandes, como quando a envolvem em papel, ou
panno molhado, porque o Cifne não defapparece ^
ainda que fe lhe alterâo as cores , como também
alguma coufa as das manchas: e o fegundo prodí-
gio natural, que nella fe admira he apparecer oCiC-
ne, e reftituirem-fe todas as cores ao feu primeiro
eftado , ao compaflfo que fe lhe evapora com oSolj
ou vizinhança do fogo a humidade , que recebeo
do panno , paliei , pedra , ou íítio molhado. O
Revercndiflimo Padre D. Thomaz Mangearx Mon-
ge de S. Bento da Congregação de S. Vannes , e
Antiquário do Duque imprimio em Bruxelas no
aono de 17 Si huma doutiíEma diífertaçâo a ref-
peito defte fenómeno , que muito louvâo os Padres
de Trevoux uas memorias, do olefmo anuo. Creio
ierão mais feníiveis , e dignas de admiração as ma*
taçôes ncfta pedra: fe a molharem com agua falga-
da, ou. vinho, vinagre, azeite, ficc. e que fe báo
de reitituir as fuás primeiras oones , tanto que eva- ^
porar as huiijidades , poirquí .na ná(}..Madr« 4p ^
Dcos , em que }á vos diíft: trazia itttlit;<^ centos
def.
( 3^9 )
deftas pedras Gabriel Timotheo , e João de Mel-
lo huma excellente no tampo de huma caixa : per*
deo efta todas as cores , e a pintura de hum boi
comendo os frutos de huma arvore , porque a te-
ve debaixo do traveíTeiro no tempo, em que pade-
ceo hum copiofííSmo íuor na defpedida de huma
cezao^ o qual molhou a pedra, e caixa toda: hum
Cirurgião, que vinha namefma náo, eprefumia de
viageiro, e naturalifta, a mandou lavar com vina-
gre forte , com o que ficou abfolutamente branca ,
tendo-a o fuor deixado fem pintura , e toda ama*»
relia: aíHi£lo o dono com o infortúnio, emáocon-
felho, me pedio lha guardafle , e eu fem mais di*
ligencia , nem beneficio , que tirar-lhe o tabaco , e
envolvella em roupa branca , a achei dahi a hum
tnez, e alguns dias na barra da Bahia, tão precio*^
fa como era , e com a mefma pintura , manchas , e
tudo o mais que tinha: a fegunda peífoa, a quem
logo communiquei efta admirável obra da nature-
za , foi Gabriel Timotheo , ao qual pedi exami-
naíTe as Âgathas , que trazia , e fe bem lhe não
havia tocado agua faígada , nem a íua avarey.a con-
fentia experiências na mais vil de todas , confeíFou
tinhão as cores mudadas , reípeftivamente , ás que
tinhão, quando as embarcou em Goa; mas expon*
do-as ao Sol na Bahia com o meu confelho , de-
pois me fegurou que tanto as penetrava o calor y
como renaícião as pinturas , e cores mortificadas ,
até o eftado natural, em que, dizia, eftavão quan-
do as moftrou. Na opinião dos Filofofos moder-
nos , e verdadeira , confifte efta mudança em íerem
muito flexiveis as fibras^, e partes ténues defta pe-^
dra y
(370)
drsíy motivo, porque a humidade , e qualquer ca-
tro exterior agente lhes muda a configuração , e
moíbráo diverfa cor y aílim como a prata !iza , cu
quebrada, tirada do cadinho-, ou batida , a agua
de galhas , e caparrofa , e mil exemplos, de que
tendes noticia , ao que fe accrefcenta a experiên-
cia , e noticia de que as Agathas fó recebem , e
coníervâo para íempre as cores , e figuras que íe
lhe antepõem ao Sol depois de molhadas com a
chuva , que naquellas Provincias he morna , e no
tempo da maior calma , de forte , que todas as
manchas Julgáo os naturaes forâo antes figuras y
mas que faltando o Sol intenfo para roborar as
íbmbras ( e como nós dizemos ) pôr em tono , e
configuração competente as fibras , e partes infen-
fiveis da pedra , repetindo-fe humas fobre outras ,
vem a fer mancha , o que pudera íer admírave/ re-
trato de alguma coufa. Albuquerque ^ he huma Ci-
dade, e Praça fronteira de Hefpanha na fua Eftre-
madura , julgada inexpugnável pela vaidade Hcf-
panhola , que fe defenganou muito á fua cufta ,
vendo->a rendida ao Conde das Galveas no anno
de 1704, fó com trez dias de fitio , e fogo , fem
lhe valer a íua eminente , e fortiíEma Cidadela , e
mais obras dignas fó de apreço pela antiguidade.
yJ/exandria , chamada a Grande para diftinçâo das
outras, que tiverâo o meímo nome, he huma Ci«
dade Patriarcal do Egypto fobre o mar Mediter-
râneo : Alexandre Magno a fundou pelo deíenho
do memorável Arquiteto Denocrates, ou Steficra-
tes, para memoria das fuás conquiftas , e vitorias
trezentos e trinta e dous annos antes donafcimen-
to
( 371 )
to de Chrifto Senhor Noflb : foi fituada entre o
mar, ehum braço do rio Nilo , no lugar onde an-
tes eftava a Aldeã Rachotis : foi a primeira Cida-
de de África depois que padeceo a ultima ruina
Cartago y e a primeira Cidade do mundo depois
de Roma na eftimação dos Imperadores , e fogei-
tos grandes. Letras , Armas , abundância , e de-
licias parecia que fó nella havíSo nafcido , porém
iflb fez os feus moradores tão foberbos , e fatyri-
cos , que o Imperador Caracala para lhes caftigar
as línguas , fingio queria erigir humas novas , e
honradas tropas dos mancebos illuftres Alexandri-»
nos j e juntando muitos mil em hum campo , on-
de concorrerão o.^ país, parentes , amigos, e ou-
tros para feftejarem a fortuna dos eleitos , os de-
gollou a todos. Ornar III. Calife dos Mouros a
conquiftou , e deftruio , e os Turcos , que a pof-
fúcta defde o anno de 15:17 , a fizerão hum monte
de pedras : deftruirão a celebre torre do Farol ,
que nella edificou Ptololomeu Filadelfos , e os
mais primorofos edifícios , em que fe empenharão
os Cidadãos , e Imperadores Romanos muitas ve-
zes eleitos pelos Alexandrinos , que afpiravão a
fazer a fua pátria a primeira Cidade do mundo.
Depois do refgate de S. Luiz a defmantelárão os
Francezes , e Venezianos com fogo , reftaurou a
Soldâo as muralhas, e os Turcos as ruas, que os
naturaes defamparárão perleguidos do contagio y
que lhes refulta das aguas corruptas das cifternas,
e na verdade efpecial caftigo de Deos, porque an-
tes fe não corrompião. No primeiro de Agofto
com grande feftejo abrem o canal, por onde o rio
Ni-
( 37i )
Nilo entra na Cidade por baixo das muralhas , e
com a fua agua enchem as cifternas cubertas de
abobadas , e defta agua bebem todo o anno , por-
que não tem outra; mas , ou porque faltou a lim-
peza nas cifternas y ou porque adquirirão alguma
eftranha qualidade , no Verão íe corrompe. Hum
Veneziano , que a frequentou muitas vezes , me
aíTeverou y que a corrupção annual dos ares de A-
lexandria não era a corrupção das aguas do Nilo
guardadas nas maiores ciílernas , que ( elle dizia )
ie virão até hoje , cobertas de abobadas y mas dca
o fedor dos banhos dos Turcos. Ainda exiftem na
Cidade algumas ruinas dos Palácios de Cleópatra;
da coluna de Pompeio íeira de huma fó pedra ar-
tificial^ que hoje Te não fabe fundir, e não admit-
te polimento; o Conclave, onde os fetenta Inter-
pretes verterão os Livros fagrados, de que já ten-
des noticia ; huma pequena Igreja , de que tem
hum Catholico a chave para a moftrar aos pere-
grinos , dedicada a Santa Catharina Virgem , e
Martyr, natural deíla Cidade , e edificada no fitio
onde efteve preza; outra Igreja de S. Marcos, que
poíTuem os Chriílãos Scifmaticos Cofitos , onde
eítá ofepulcro, mas não o corpo de S.João Euan-
geiiíta, que dizem roubarão os Venezianos, fenda
certo, que nem elles, nem outros o virão. No fim
da Cidade efiá hum grande forno , em que dizem
exercitara Jacob Almanfor o officio de padeiro , c
os Mouros, que venerão eíle Rei de Marrocos por
Santo , vifítão com muita devoção o dito forno ,
jnlí>ândo que nelle eftá enterrado.
LISBOA, Na Offícina de Miguel Manefcal da Cofta , Impreflbr do
Santo Officio. Anno I764. Com todas qs licenças nccejfariau
( 373 1
CONFERENaA XXXII.
Ifta efta Cidade de Alexandria, (cont^uioiz
o Letrado ) da do Cairá quatro* léguas ^
motivo, porque o mar roxo, e o Nilo lhe
introduziáo com fumma abundância todas
as riquezas da Afia, e Africa , que Jogo com gran-!»
des lucros fe communicavâo á Europa^ mas como
o fea porto ^ fendo excellente, be perigofo na en»
trada , por caufa de dous penhafcos , hum chama-
do Diamante, e outro Gírofele, e o noífo defcu-
hrimento da < navegação da índia kz. mais fácil
efte commercio para toda a Europa ^ -hoje apenas
frequentâo cem navios cada anno o porto.de Ale^
xaildria. Teve efta Cidade as maiores , e melhores
livrarias antigas : a de Ptolomeu , que abrazou Jú-
lio Ceíar, e a de Cleópatra, $}ue Marco António
accre&entou com a de Attalo Rei de Pergamo ^
8 qualjuntamente.com o Templo de Sarapis qtlei^
márão os Catholicos comiicença do Imperador
Theodoíio, e extinguirão neUa o maior Arquivo ^
e theíouro da Aiperftiçâo Gentílica*. No anno jTo.
de Chriíb fundou S. Marcos efta Igreja , em que
£31 o primeiro Bifpo , e a dividio , e cxtendeo de
íõrte , que o Patriarcado de Alexandria tiriha dez
Arcebifpados , e innumeraveisBiípos fuffraganeos;
poréfii^cQmo foi pátria da herefia Arriana , e ptr>^
j&guia ao feu Patriarca Santo Athanafioi , pei^deo
toda a honra , e gloria , que lhe tinhão, adquiri-
do tantos Concílios, íinco Patriarcas Samos, mui-
• Tom. VII. li tos
( 574 )
tos Doutores 9 e fogeitos egrégios, de forte, qne
hojeiciin tzStiàõ dos fcilmas , jeherefits , ít vê caf-
tigada, como toda a Grécia , com hum Biipo , e
poucos Clérigos Gregos , idiotas , pobriíEmos , dei-
Seaados-) crfctfmaftiobs fujèitos b Ot)nâ:antino{lk.
ouve' outras latiftás Cidades com o mefáo no-
me y como fpráo JÍJtxandria Sarmata^ que Âlexiii-
dre Mamo edificou junto aoTanais rio da Sarma-
cia ça Europii \ esjuiaba fe^enta efiadios de circui^
to : outra /andada pelo mefmo no* trtònte CauoN
íb y humt em Trácia , outra na índia , todati ex«
tintas : e ultimamente Alexandria da Palba , que
fundirão os naturaes de Cremona y Placencia , e
Milão para "defenderem o partido do Summo Pon-
tifice Alexandre 111/ contra o Imperador Frederi-
co Barbarroxa , o qual dizem, que por ignominia
lhe chamara Alexandria de palna : outros que lhe
dera efte iobrenome irríforio a fundação ptimeira
dos fens muros , que er âo de terra , e palbiços ^ ou
paHias, e fenos ^ ò que he incrível, fendo ella fun»
dada ( como diisem todos ) no anno At \i$^ ^ t^
conM> duvidio alguns, em X170, quando aArqui-
teâura das Praças inexpugnáveis , antes da inven*
çâo diabólica da pólvora , tinha chegado ao maior
auge de periciçia, e facilidade para fe^rdticar; e
certamente falfo, íenáo mentem Platina, VoUtír-^
rano , Merula , e outros muitos , que afleverâo fé
defenderão fei^ meMs de filio quinze mil vizinhos
valerofamente ^ e obrigarão Barbarroxa a retirar-
íe. Foi protegidànos primeiros anÀofS pela Sé A^
poftolica , que Ilieerigio Bífpado : depois a coih
quiftárão os Duques de Milão « os Francezes . e
Híf-
( 57^ )
Herparihoés , na cjne padcceo muito , e tiío menos
oo cerco y que lhe pnaeráo fem fruto o Príncipe de
Conti , e o Duque de Modena em 165*7 : o Impe«
rador a entregou como feudo do Império ao Du-
que de Sabóia í^ anno de 1707 com todas as ter-
ras dependentes» Jkxandre Magna y terceira defke
nome entre os Reis de Macedónia, e o que ih me-
rece efpecial lembrança y fsÀ filho de FJHppe y e
Olympias : nafceo trezentos e íiQCoenta e féis wor
nos antes deChcifto Senhor noSb para caftiga das
nações do Oiiente : abrasou^fe o admirável tem*
pio de Diana ensi Efefo na noite da feiroaícicneGK
tfíy òe que inferifão os. Agoireiros hama grande
fatalidade no munda , fe Alexandre chegafie a ter
nelle daminio* Apenas teve forças para manejar as
armas , íervia de forte a &u pai em direrfas cam-
panhas y qiue em hnaia.lhe íalvou a vida^ e nas 011-^
trás fervia de admiração aos Geoeraes mais expe«
rimentados. Sentido juftamente de que Filippe re«»
pudiafle fua mãi .CHympias para cafar com Cko^
patra y foi fervir na guerraf a íeu tia miatemo Rei
de Epíro y donde veio obrigado do amo€ de (ena
vaflTaJIos y de cujos corações fe fez fcnhor com be^
neficíos , e liberalidades. Aâaífinou Paufanias a fen
pai o Rei Filippe y tenda vinte annos Alexandre y
vingou a morte y focegou o Reino , conquiíloii
Traâa^ cUliria^atemotizoa: toda aGrecbi com; a
deíbruiçâo de Tebas y declarou guerra aos PerÊis y
e entrou na Afia 9 venceo. Memnon General dcEla^
riOiReir da Perfia« na Firygia maior ^expugtiou Efe*
íb > Mileto y Halicafinafoíf e Sardes y eoicpiif)»)»
con^ fomma bsrevidadls toda ^Lydia ^ Jonia y Caria
li ii Pam-
( 370
Pamfiliâ^ e Capadócia: cortôa com a efpada ò nd
de Gordio j que nSo pode defatar , e a que eftatt
annexò o agoiro, de que fò gozaria dàÁfia , quem
o diflolvelTe : venceo o Rei Dário em hum paflb
eftreico junto a Iflus j poíTuio os feus grandes the^
íouros I caftigon os que o matarão , e tratoa com
rara modeftia , e urbanidade a mâí , mulher j fi-
lho , e duas filhas defte infeliz Principe : conquif*
tou logo Fenicia, Sydonia, Damafco, Tyro, Ga-
ZB. E^reveo ( fegtmdo refere Jofefo ) ao Summo
Pontífice dos Hebreos , pedindolhe o mefmo loc*
corro , qne dava aos Perfas para conquiftar Tyro ;
c vendo lho negava , moveo depois da conqnífta
o exercito contra Judéa : o Pontífice ( diz Jofefo )
enfinado por Deos em fonhos , fahio a recebello
veftido com o preciofo Pontifical , e todos os Le«
vitas, e Anciãos de gala: pafmou Alexandre quan-
do o vio , e proftrado adorou o Santi/fimo Nome
de Deos , que o Pontifice trazia efcalpido na fa-
ce anterior da Tiara ; e admirando*fe todos defta
inaudita mudança , refpondeo Alexandre , que náo
adorara o Pontífice , mas fim a Deos , de quem era
Miniftro , o qual lhe apparecêra em fonhos vefti-
do daquella mefma forte , quando meditava entrar
na Afia', e lhe diflera paflafle animofo oHelefpon-
to. O Pontifice lhe moftrou nas Profecias de Da-
niel y que hum Principe Grego havia de dominar
a Perfia , e Alexandre agradecido offereceo grandes
facrificios a Deos, e fez muitos beneficios ao Poo»
tifice y Sacerdotes , e povo Judaico. Conquiftoa
logo o Egypto j e coníultando o demónio no orá-
culo de Jopiter Amon, eAe lhe chamou filho ^ de
( 377 )
queelle fejaélou depois com efcándalo de fui mãi,
c de todos : venceo na batalha de Arbela as reli»
quias dos Perlas y tomou Babilónia^ Suzania^ Per-^
íepolis y toda a Media , Hircania, e Provindas vi*
zinhas: venceo o Rei Poro, fujeitou toda t Afia,
e vendo íe lhe acabava no Oceano a conquifta ,
voltou para Babilónia , onde, dizem, que lhe aca-
barão com veneno a vida , pouco depois de rece«
ber Embaixadores de todas as nações , que náo ha-
via conquiftado , as quacs lhe mandavão render
obediência. Viveo trinta edous annos^ e oito me*
zes, reinou doze : era pequeno do corpo , olhos
grandes , e boca , cor morena , cabello preto , e
creípo, affavel , e gentil prefença , membros for-
tes, livre de enfermidades , ágil, vigilante, libe-
raliíEmo , amigo das letras , e Varões doutos , pai
dos foldados , e nas marchas , e trabalhos irmão
de todos ; mas todas eftas prendas , que o fizerSo
taiemoravel entre os maiores heroes , que admira-
rão o mundo , efcurecêrão os abomináveis , e pú-
blicos vícios , que teve dcfde os primeiros annos,
que fbrão íoberba , ambição , laícivia , e vinho :
efte ultimo ( como fempre , e em todos ) foi o
peior ; porque eftando preoccupado delle matou
léus colaços , e amigos , que depois de dormir ,
iencio com o maior exceflTo : efte o fez cafar com
huma mulher vil , tratar efcandalofamentc com o
Eunuco Bagoas , trazer comfigo trezentas concu*^
binas, e fazer mil deíatinos, e loucuras, que obri*
gárâo aAntipater, e outros a commetter o infame
attentado da fua morte , le he que não morreo ,
como outros dizem, de. febre. caufada de yinfho, c
Tom. VIL li iii agua
(378)
agua ardente, na Perda, e Babilónia ^Iradiçâo cociA
tante. Alguns Authores, que fó goftárâo de fabu-
las y crerão que Alexandre nâo era filho de FiUp-
pe, mas ílm de hum feiticeiro, que fingi ndo-^fe Jú-
piter o gerara; outros, que attrahíra com feitiços
Olympias para concubina; alguns , queFilippe an-
tes de morrer declarara nâo era feu filho Alexan-
dre , ou foíTe para condecorar o repudio da mâi,
e novo amor , ou porque fe achava offendido , e
que nifto fe fundara Alexandre para dizer era filho
de Júpiter ; outros , que elle poflTuido do ym\\o ,
aífim o mandara publicar no exercito , depois que
venceo Dário , e que comprara o principal Sacer-
dote do oráculo para em nome de Júpiter lhe cha-
mar filho, verdade, que dizem provâo muitas me-
dalhas defte Príncipe , nas quaes eftá efcujpido o
Sacerdote moftrando^lhe o novo pai figurado na
cabeça de hum carneiro. Muito ignora a que che-
ga a natureza fem graça , quem julgar impoflivel
oualquer deftas loucuras ; mas he certo , que fe
Alexandre nâo bebeíTe vinho com exceSb , nin*
guem lhe difputaria entre os Reis fer o maior , e
melhor no Gentilifmo. No primeiro anno do rei-
nado deXhamaz Koulikan appareceo naPerfia hum
retrato de Alexandre , que tanto moítrava a fua
antiguidade, como a aftucia, e adulação de quent
o fez , ou mandou fazer para lifongear o novo
Rei , que em pouco parecia lhe era diíTemelhante ;
porém Thamaz, que tinha melhor juizo do que o
adulador , tanto que o vio , o mandou queimar ^
dizendo : Sinto muito ter Jemelhança com quem dej^
truio o Império da Ferfia^ Jpojlolo , hc palavra Gre^
( 379 )
ga , que fignifica Enviado y nome dado por Chrif-
tó Senhor noflb is Colunas da íua Igreja , que el-
le mandou por Embaixadores feus a todo o mun-
do, dignidade altiíEma, que elles fó gozarão: de-
pois da morte de Chrifto onze annos ( fegundo a
opinião de Godeau no primeiro livro da hiAoria
da Igreja) repartirão os Apoftolos entre íi as Pro-
vindas do mundo , para nellas eftabelecerem a Fé
de Chriíto ; e para maior conhecimento em fum*
ma do que obrarão vos participarei a Cronologia
de Riccioli , que chamão reformada , e verdadeira.
No anno 33 do nafcimento de Chrifto, em que el«
iemorreo por nós, foi martyrizado Santo Eftevão,
e Sant-Iago Menor deputado primeiro Bifpo de
Jerufalem: em 34 fe levantou a primeira perfegui-
ção contra os Chriftãos , que durou mais de hum
anno , fendo Saulo o Capitão dos perfeguidores :
ém 35" fuccedeo a conversão de S. Paulo , a fua
viagem a Arábia , donde voltou para Damafco , e
S. Pedro foi á Paleftina: em 36 S. Pedro em Jeru-
falem com os mais Apoftolos aflentárão em ad*
mittir os Gentios ao Baptifmo , compuzerão o
Symbolo da Fé , que vós fó conheceis pelo nome
Credo y efcreveo S, Mattheus o feu Euangelho :
£cárão em Jerufalem a Virgem Senhora com S.
Joâo^ eSant-Iago Menor: dividírão-le os Apofto-
los pelas fuás Provincias, e fundou S. Pedro aCa-
thedral de Antioquia : no anno 37 dizem viera
SantJago Maior a Hefpanha y e os que ncgão a
fua vinda , provão tpdo com o fundamento foiidõ
de que os Apoftolos fe não dividirão pelo mundo ^
íe não depois do martyrio dcfte Santo Apcftolo :
em
( 38o )
em 38 Irrroii Deos a S. Paulo da perfeguiçâo em
Damaíco , vifitou elle a Sant-Iago Menor , e a S.
Pedro em Jcrufalem , e dahi fe retirou para Ccft-
rca, e logo para Tarfo em Cilicia: em 39 foiS.
Bernabé a Tarfo bufcar S. Paulo , e o lerou a An-
tioquia j onde os Fieis fe chamarão Cbriftâos j e
forao os primeiros que tomarão eíTe nome: noan*
tio 40 o Profeta Agabo em Antioquia raticinoa
huma fome univerfal, motivo porque osC/iriAáos
daquella Cidade , e difcipulos juntarão eimolas ,
âue remettêráo aos de Judéa por S. Paulo , e S.
ernabé: em 41 perfeguio Herodes os CbriMos^
c martyrizoa Sant-Iago Maior : em 4^ IiVron o
Anjo a S. Pedro do cárcere , em que Herodes o
tinha prezo, foi a Antioquia, e logo a Roma, fa*
hírão daquella Cidade S. Paulo j e S. Bernabé pa-
ra Seleticia , e dahi para Chypre : em 43 S« Pau-
lo , e S. Bernabé fizerâo grandes milagres em Chy^
pre y chegou S. Pedro a Roma y e eftabeheceo nel-
la a fua fuprcma Cadeira ; em 44 S. Paulo , e S.
Bernabé paíTárâo a Pamfilia , e dahi a Antioquia
de Píidia : em 45* expulfirão os Judeos de Píidia a
S. Paulo , e a S. Bernabé , os quaes fe retirarão
para Iconio : em 46 forao para Lyftra , e depois
para Derbe : em 47 os mefmos vierão a Lyftra ,
onde forão tidos por Júpiter , e Mercúrio , reti-
rárão-fe para Derbe , vierão outra vez is Mifsôes
de Lyftra , e Iconio y e paíFando por Píidia y forão
a Pamfilia : em 48 pregarão em Pamfilia , e Ara-
bia^^ e vierão para Antioquia de Syria : em 40
forão lançados de Roma todos os Judeos , foi Sé
Pedro a Judea , celebrou ahi o primeiro Concilio>
em
( 38i )
em que fe decidio, que osCatHolicos não eftavâo
fujeitos á circumcisSo; e S. Paulo, e S. Barnabé^
que tinhão vindo de Antioquia y levarão o Decre-
to defte Concilio áquella Igreja y que logo viíitou
S. Pedro : em 50 S» Paulo , e S. Barnabé forâo
pregar o Euangelho a muitas , e diverfas Provin-
cias , e S. Paulo em Athenas converteo S. Diony-
fio Areopagita : em 5*1 paíTon S. Paulo de Athe-
nas a Corinthoy onde efteve anno e meio: em 5*2
no meio do anno foi S. Paulo de Corintho para
ft Syria com Aquila , e Prifcila , de quem fe íepa-
rou em Efefo j e foi fó a Cefarea , logo a Jerufa-
lem y depois a Antioquia y Galacia y e Frigia : em
53 , e 5*4 pregou S, Paulo a Fé em Efefo : em çf
paííbu a Macedónia y e Grécia : em $6 foi S. Pe-
dro a Roma , porque eftava revogado o Edi£lo do
Imperador Cláudio : em 57 pregou S. Paulo em
muitas Provincias , e Ilhas ; e vindo a Jerufalem
nas vefperas de Pentecoftes y foi prezo , e remertido
a Cefarea y e depois a Roma : em 5*8^ depois de
eftar trez mezes em Malta porcaufa do naufrágio,
foi S. Paulo levado a Roma, onde lhe íbi permit-
tido viver com hum foldado da guarda continuo :
em 59 lhe deo liberdade o Imperador Nero : em 60
fez muitas viagens, e miísôes: em 61 foi martyrí-
2ado S. Barnabé em Chypre , e Santo André em
Achaia : em 62 foi S. Marcos martyrizado em A-
lexandria: em 63 Sant-Iago Menor em Jerufalem,
S. Simão , e S. Judas na Perfia : em 64 S. Matbias :
em 6$ Nero , que mandou lançar fogo a toda Ro»
ma , imputou o incêndio aos Catholicos : em 66
S. Pedro % e S* Panlo forão para Roma : em 67
S.
( J80
& Pedfo fbi naqnella Cidack crucificado, e S. Paii«
la degottado par ordctn de Nero : em 70 conqoif»
tou 9 e deftruto Tito a Qdade de Jerii falem : em
71 foi S. BartbolQmeii marty rizado na Perfia : eoi
72 padeceo laartyrio na Cidade de Meliapor na
índia Oriental S. Thomé : em 73 o Pfocx)i>ful de
Eifefo rcRietteo prezo a Roma S. João , e fahíndo
iUéfo da caldeira de azeite fervendo , em que foi
metttdo y Q degradarão para a liba de Pathoios :
cm 94 eícreveo nefta Ilha o Apocalypfe aos vinte
e hum atHios do feu degredo : em 96 teve Uceo^^a.
4I0 Imperador Ncfva, e foi para o feu Bífpado de
Efefo: e no anoo loa morfeo na mefma Cidade,
tendo t^venta anno^^ Igaora-fe o anno , cm q»e íoi
snartyrizado S. Mattbet^ aa Ethiopia , e mmtas
oatrasi coufas' pertencentes á Chronología. Na re--
partição derão a S. Pedro aparte Occideiiral> em
que í'e comprehendia Roma ^ a Santo Aádré A-
chaia , Grécia , Epôrro , Trácia , Scythia, Egyp-
to, e Ethiopia : em quanto á fundação das igre-
jas de Conftantinopía , então chamada Byzancio y
e deNicea emBytbinia, ha muita dúvida,, e oPa^
pa Agappíto em huma carta efciita ao quinto Sy«
nodô aífevera , que S. Pedro eofinou a Fé neilas*
Sant^Ia^Q Menor não fahio de Jeruíalem ; S. Judas
Tadeo. pi^égou na Syria, Arábia, eMefopotamia;
S» Thomé na Perfia, índia, e Ethiopia \ S. Bar-
tholommi na Arménia maior ^ Lycaonia, Albânia,
e na índia da pa«e Occidental do Ganges ; S. Fi-
lippe na Scythia , e Afia Superior ; S. Mattheus
cm Judéa , e na Ethiopia ; em fim piré^rão. cm
todo o munda , poiéoi na America; & nao aclioa
mm-
( l«J )
imuca v&fttgi» dk^úé ridlá fo&A^ 6 Eââligélhl» ^
qoandõ alias eM todas as PrbVinciáS ínai3 rcitiOtas ^
eincúltas ha íirtats diílb. Apòfiolkos ^ fóifôbrenDine
d« tôdo6 ds Bifpas , qtíe fucGedêráb cegamente
aos Apolbk)^ tid òÉciô dè Paftorès j nlás tiSlo em
o de Enviados , e Âpoftõlos , cOmó Já fabeis : de-
pois fe d6o 6ft6 titulo fó aos Bifpos dás Igrejas ^
qúé ftíndárão os Apoftolofi, e de que forâo òs pH-
meifos Bifpos , coroo foi Jerhfaleih de SantJago,
At^thtdqUia de S. Pedro , «é. até que a Igreja ti-
rou áos Bifpos ô nome de Papas ^ que uíttrãò mui^
tos feculOs y còfíio fe vê nas Cattãs de S. Jerony-
mo a Santo Agóftinho no de 300, e em muitas de-
pois ; e juíbameilte ordenou /que fò ao Sdmnlõi
PontiSee (echamaíTe Apoftolico, eApoftolica a Sé
deRoma , que hc á Bafilica Latetarienfe^ de for-^
te, que quando nas Ladainhas oliVirêâ pronundaf
Dbmnum ApófttsUtUYH , hé oSummo Poritifice á péí^
foa pòf quem pedis a Dcos. Jipotheó/is ^ erô á ca-
fiof»!zaçSo dos Gentios Plonifcnos^ ifto hej é afto,
e cerèrtiòrtias gerttilicaí , com que dêcldhavio pof
Deos, ou Dèofa algum hotnem, ou miílhér: q(ie-
rèní alguns foflerti os Gr^egos oS pf irileií^ós inven-
tores defta )d(fCUra , t que o demónio falUndo eni
âigúm oráculo declafaVa por Deos o fogeito , nó
que fe féguiSo feftas, hyítlnos , jogos , erecçáa dd
altares, eíacrífidos. He certo qtte Alexandre Ma-*
fío bem peffuido de vinho fez Deos a fen amigo
feftiSo ; e hum certo Filippe , que enf âo chegava
de Babylónia . diíTe publicamente , par* liíongejrí
d miferia de Aléxanare , que o oracuío cíe Júpiter
Amoo ^ era AiiHMmi t>nh» dito f ^ue EfòftiSo era
Dcos y
(384)
Pcos I e como tal ordenara folTe adorado ; e Ale»^
«ndre^ que ainda náo tinha dormido j o mandoa
adorar 9 e lhe offereceo em facrificio dez mil viSúr^
mas. Os Âthenienfes não fó adoráráo por Deofes
PS homens mortos , mas também os vivos ; e os
Romanos , que aprenderão , e obfervárão as fa-
perftiçóes de todos os Gentios, aquém domináráO|
como mais politicos , e religiofos j defde o tempo
de Numa, eftabeleçêrão hum ceremonial mais rídi^
culo para eftas declarações dos Deofes , e Deoías
novos. A primeira acção era o Decreto do Sena-
do y que o declarava Deos , ou Deofa ; e publicado
elle j o Poncifice á cufta do erário publico fazia
todo o gafto j que 'julgareis agora por exceílivo :
apenas eípirava o Imperador, ou o que havia defer
canonizado , fe veftia o Imperador novo , e todo o
povo de luto ; e feitas as exéquias , de que já tendes
noticia com a maior pompa , fazião hiima c&ãtua
de cera bem parecida ao defunto, ou defunta, e a
collocavâo na principal fala dofeu Palácio em hum
leito de marfim cuberta com colcha bordada de
ouro , e tudo o mais preciofiífimo : alli vinhâo de
manha, e tarde os Senadores Romanos, e Senho»
ras da Cúria fete dias vifitar o enfermp de cera, e
lhe aíliftiáo junto ao leito fentados , as Senhoras
da parte direita , e os Senadores da efquerda, la-
mentando a fua doença , como fe eftiveífe alli vi-
vo; e os Médicos fazião as mefmas vilitas, e ob*
fervaçQcs no pulfo de cera , dizendo aos circum-
ftantes , que o enfermo cada vez eftava peior*
LI S B o A , Na Oíiidna de Migticl Manefcal daCoíU » Impreffor do
SaiKo Oíikio. Aano 17^4. C§m tjdas êsUcmfat, nçiifiaãt.
(J8f )
CONFERENCIA XXXIII.
AO dia oitavo ( continuou o Letrado ) os
principaes Senadores levav ao efte leito com
a eftatua á praça Romana , fazendo cami-
nho pela chamada Via Sacra : na praça eí*
tava hum grande tablado cor de pedra , no meio
delle outro leito mais preciolo de marfim , e ouro ^
e mais preciofa cama y com aíTentos para o 1mpe«
rador , e Nobreza , e arcos cubertos para as oe«
nhoras , porque todos eftes acompanhavâo o.de«
funto decera, veftidos de gala /atrás dos que oie«
vavâo na cama. Chegados ao tablado y deitavâo a
eftatua na cama de refpeito^ fentavão-fe todos , e
cantava a Mufica os louvores , e acções memorá-
veis do defunto; o que feito y começava a procii-
são para o Campo de Marte pelo modo feguinte:
Hiâo diante as eftatuas dos Varões illuftres Koma«
nos deíde Rómulo , logo as figuras das Cidades
fujeitas ao Império feitas debronze, íeguiâo-fe as
dos grandes Oradores y e homens celebres y atrás
os Cavalleiros Romanos y e íoldados y levando os
últimos hum altar de ouro, marfim , e pedras pre-
ciofas, logo a carnal refpeito, que eftava no ta-
blado, levada pelos Cavalleiros Romanos , prece-
dida de alguns Senadores y e atrás com os mais
o Imperador, Nobreza de ambos os fexos , e mi-
lícia. No Campo deM|M^:eftufa a pyra de finco,
on féis fobrados rechea^ps de 1h^ lenha miúda , c
cuberta de pannos de ouTQ. jefeda , guarnecida de
Tom. VIL J» fi-
(380
figuras de marfim: no alto delia eftara o carro tit*
untai do Imperador , fe tinha gozado triunfo em
vida, e nos (obrados eftava o Pontífice com os Sa-
cerdotes ; a eftes entregavão a cama com a efta-
tua, e eiles a collocavão no fegundo íobrado, lan-
çando preciofos aromas : então os Cavalleiros Ro-
manos davão muitas voltas ao redor da pyra , ie-
giitdos dos loldados infantes , e eftes de muitos ,
e preciofos carros rafios ; em fim , retiraráo-íè o
Pontífice , e Sacerdotes , e o Imperador com os
parentes do defunto, hião quebrar a eftatua de c&-
ra, fentavâo-fe para acabarem de rer acavalgata:
dava o Imperador fogo áquella maquina com hu-
ma tocha acceza , o mefmo Êizia o Conful , e Ma-
giJírados, e fahia de dentro da pyra huma Águia
roando , em que diziâo hia para o Ceo a alma da
novo Deos. Se a pefiba , que declararão no na-
mero dos Deofes , era Imperatriz , ou mulher il-
luítre, em lugar daÃguia fahia da p)^ra hum Pavão
Real. Reduzida a cinza toda efta preciofa maqui-
na , fe edificava hum Templo ao Deos , ou Deo-
fa novos, e fe deputavão Sacerdotes , e Miniftros
para lhe darem culto, eofferecerem facrificlos. AP
fim canonizou Roma a Rómulo , e a fua ama Lau-
rencia, Anna Perena, e outras, febem dizem mui-
tos , que então não houve mais ceremonias , que
publicallos Deofes ; e a primeira Apotheofis , oa
declaração com efta folemnidade fe fèz ajnlio Ce-
far, e depois a todos , ou quafi todos os Impera-
dores, e Imperatrizes bons, mios, e peflimos,,a
huns por agradecimento, a outros por lifonja aos
gareates, e amigos jriyos j loucura , que já fabeis
ain-
(387)
ainda hoje fe pratica na China , onde todos os Im-*
peradores, e Imperatrizes sâo adorados porDeo*
fes, e os Varões illuftres. Aquilea^ Cidade de Itá-
lia entre os rios Ânía , e Torre , foi tâo populofa j
que juftamente lhe chamão fecunda Roma : nella
aíEftio Áugufto Tibério , e foi acclamado Vefpa-
íiano. Os Teus moradores erao tâo leaes aos Ro-
pianos y que íendo cercados por Maximino^ e fal*
tando«lhes cordas para os arcos, asfizerâo dos ca^
bellos de fuás mulheres ; em memoria , e agrade*
cimento do que o Senado , para complemento da
loucura gentilica Romana , edificou hum Templo
«Vénus a Caíra. TeveAquilea doze milhas decir*
cnito, foi a defeza de toda a Itália contra os bar*
baros y que tantas rezes a deftruírâo , fujeitárâo*
na os Lombardos y depois a governarão os íeus
Patriarcas , feguírão-íc os Duques de Friul , Ve-
nezianos , Cala de Auftria , e ultimamente o Im-
pério , que hoje a poiTue no mais vil eftado , por-
que toda a fua antiga , e memorável grandeza ef«
tá reduzida a hum muito pequeno Lugar, em que
habitâo poucos , e pobres pefcadores ; cafiigo de
Deos por admittir o Arrianifmo , e muitos fcif-
mzs j depois de fer pátria de muitos Santos , e ter
recebido os documentos de Patriarcas, Concilios,
e Varões canonizados. Dizem eftá deferta , por-
que os feus ares sâo malignos , e eu creio o sâo ,
porque lhe falrâo os habitadores, e por iflb os fo-
gos , fe já não he que a herefia he pefte, que de-
pois de inficionar as almas, faz para lempre omef-
mo effeito nos ares, Jquitaniay Província deFran-
ça>^ que tanto fatigou of Authores antigos na def-
Kk ii cri-
( 388 )
crípçâo dos feiís limites em diverfos tempos : foi
Reino, que erigio Carlos Magno para feu filho Pe-
pino j accrefcentando^lhe Languedoc , Bifcaia ^ GaC-
cunha , Marca de Hefpânha , Condado de Barce-
lona j e outras terras : aíEm o gozarão muitos fi-
lhos dos Reis de França , até que Carlos Calvo j
que o deo a feu filho fegundo , íupprimio a hoa-
ra de Reino , e o fez Ducado. As guerras civis ,
e defordens o dividirão em feudos , hoje he Pro-
víncia, em que eftão os Condados dePotiers, Au-
vernia , Limoges , Ducado de Guiena , &c. Aroi^
bia , a quem os Orientaes chamão Arabíftan , os
Latinos Arábia , he hum dilatado Paiz da Afia y
cujos limites nunca fe hão de faber , porque cada
dia padecem novas mutações : efte nome fignifica
folidão , deferto , e coufa inhabitada , porque fe
deriva de Arabah , que fignifica o mefmo , c asL
verdade a maior parte defte Paiz he de/erto , fen<«
do hoje mais que nunca povoado. Pelo Oriente
confina com o Golfo Perfico , pelo Melodia com o
mar da Arábia , e eftreito de Babel mandei , pelo
Occidente com o mar roxo , e de Meca , e pelo Se-
ptentrião com a Syria , Diarbe , e Yerac. Divide-
íe em Pétrea, Deferta , e Feliz : a Pétrea confina
com o mar roxo , Egypto , Paleftina , Syria , e
montanhas , que a dividem da Arábia Feliz : em
outro tempo habitarão nella os Amalecitas , Moa-
bitas, Madianitas, e Idumeos, o que não obftan-
te era tão deferta , que nos feus deíertos viverão
quarenta annos os Ifraelitas : nella eílâo os mon-
tes fantos Oreb , e Sinay , de que já tendes muitas
noticias ^ e das coufas prodigiofas ; que ha neftes
def-
( 389 )
I
defertos , onde obrou Deos tantos prodígios cm
benefício daquelles ingratos , cegos , e depois re*
cebeo tantos louvores dos Catholicos. Nas vizi-
nhanças do mar fe acha o mais fino alabaftro , co-
ral , e tanto iman , que fingirão íó chegavâo alli
náos j que náo levavâo pregos y fob pena de lhes
voarem todos. Hoje he toda deferta 9 porque na«
da exifte das povoações , que occupárâo as nações
fobreditas ; porém he melhor para jornadas , do que
a chamada Deferta , porque náo tem os horriveis
areaes^ e ventos , que na outra são mortiferos. A
Arábia deferta fe não he a peior parte do mundo ^
ignora-fe qual feja, porque além do que agora dif-
íe, tem cobras , e outros bixos peçonhentos : não
tem eftradas certas « nem balizas para o governo
das Cáfilas , de forte que os guias delias fe gover-
náo pelo Sol , e pelas Eftrellas j fempre com o pe*
rigo de morrerem de fede j ou cubertos de arêa y
fc houver tempeftade , que a mude, como derepen-
te fuccede : tem poucos poços, e de aguas fulfu-
reas , e por iíTo fó os camelos , e dormidarios ,
que tolerão muitos dias a fede , podem fervir nejftas
viagens. A Arábia Feliz , aífim chamada , porque
nella fe criáo os melhores aromas , eftá dividida
cm muitos Reinos , e Provincias unidas , de forte
que nenhum Author dos que allega Moreri nefta
matéria , hoje merece credito pelas grandes mu-
danças, que efte Paiz todo padeceo deíde o reina-
do de Amurares IV. , no qual a guerra com os
Perías , e a civil em todo o Império Ottomano
animou os Arábios a facudir o jugo , e conhecer
que fó tinhão na união o remédio : não fó coroá-
Tom. VIL Kk iii rão
(59<5 )
rio novos Monarcas , e fizerão até das AMets
mais pobres grandes Republicas , mas povoarão,
e fizeráo inexpugnáveis muitas terras deferras , e
conquiftáráo muitas, que nunca forâo fuás, como
são Mombaça , Patê j Zanzibar , e o melhor da
contracofta de Africa fora do mar roxo , e Golfo
Perlico , onde , e no mar Arábico tem excellentes
portos de commercío ; e até o tempo do primeira
governo do Marquez do Louriçal na índia tiabâo
Armadas de alto bordo formidáveis a todo o Ori-
ente , e mais ás noíTas Conquiftas , para cuja dtte^
za confervámos até eíTe tempo a Armada do mac
roxo, e nella o refpeito, riqueza, e valor naquel-^
le Eftado. São os Arábios intrépidos, bríofos, íb*
berbos , deftros , e applicados á Medicina, Mathe^
matjca , e Filofofia : nas artes mecânicas ninguém
os excede , e menos na deftreza de mandar os ca-
vallos os iguala. São politicos , verdadeiros , ab/^
tinentes , e alheios de todos os vicios , que mal
informado lhes impõe Moreri, de forte que Álva-
ro Caetano perdeo Mombaça, por não caftigar os
vicios dos foidados Portuguezes , que efcandalizá-
râo os negros Mouros y e eftes chamarão para os
dominarem os Arábios , que havião repudiado por
caufa dos tributos , edificados do feu procedimen-
to» São morenos , usão as barbas crefcidas fem ali«-
nho, como todos os Orientaes, comem pouco, a
íua efpecial bebida he leite azedo , delicia barba*
ra , e na índia commua. He raro entre elJes ho-
mem , ou mulher gordos , porque o clima he ar«
dentií&mo , e as aguas de aço : os feus cavallos y
fendo pequenos, e magros, são os melhores, roais
li-
(390
ligeiros ) fieis , domáveis , fortes , e foffredores de
fome, e fede, que tem o mundo. A fua lingua he
tão univerfal, eeftímada no Oriente, como na Eu-
ropa a Latina: querem conferve ainda hoje a meí-
ma pureza, com que fahio da torre de Babylonía,
o que prováo com efcritos antiquiíEmos dos feus
Médicos, eAftrologos, como são Averroes, Avi-
cenna , e outros innumeraveis : e na verdade o feu
Diccionario excede o de todas as linguas, de que
temos noticia , porque o mais diminuto confta de
doze milhões trezentas e feflenta e finco mil equa^»
renta e duas vozes , de forte que íó Mafoma ( di-
zem elles ) a foubera toda , e nelle hão de fallar
osbemaventurados da fua lei. Efte maldito feu na«
tural os fubjugou no anno de 625* , em que total^
mente perderão a Lei Euangelica , c natural, por«
que a idolatria entre elles foi fempre a menor de
toda a Afia , talvez porque certamente defcendem
de Ifmacl , de que tem a maior vaidade , e ainda
hoje venerão a torre de Alçará, que dizem he fun-
dação fua : o mefmo refpeito tem fua mâi Agar ^
e por iíFo íe intitulão Agarenos , e límaelitas , o
que não obitante , no leu princípio adorarão os
Aftros , mas não confta que ainda deftes tiveíTem
Ídolos. Floreceo muito a Fé Catholica na Arábia^
e nella houve dous Concílios, no fegnndo dos
quaes Origenes convenceo os hereges , e os fez ab-
jurar. O feu principal commercio são aromas, dro*
Íras medicinaes , pérolas , e algumas pedras precio-
as : a praça maritima hoje mais frequentada he
Mafcate , que foi noíTa , e já não tem Armadas ^
que perturbem os vizinhos» Ha outros Arábios bar-
ba-
( 39^ )
bãtosy flagello dos Turcos, que vivem nos matos,
e delles fâhem a roubar os paíTageiros , aífim na
Arábia Pétrea, eDeferta, como naPaleftina: ou*
tros domefticos femifturárão, e confundirão total-
mente com os Mouros de África já no tempo, em
c]ue dominarão a melhor , e maior parte delia , já
quando paíTárâo a Hefpanha tantos mil , que fecu-
los a dominarão toda. Aragão^ he hum Reino an-
tigo da Hefpanha, o qual confina com osP/r/Vieos
pela parte de França , e com Navarra , Catalunha ,
Reino de Valença , Caftella nova , e velha : foi
habitado pelos Jaccetanios fundadores de Jacca , e
depois pelos Lacetanios , Acitanios , Sederaníos,
Surdoanios , e Ilergetes : o Paiz he afpero por cau*
fa dos montes, pedras, arêas, e nitro, o que tu-
do o faz cfteril. A Cidade principal he Çaragoça
fobre o rio ^bro , as outras de maior nome são
Huefca, Jacca , Tarragona , Monção, Albarazim ,
Balballro , Daroca , Calataiud , Teruei, &c. foi
Condado , logo Reino ; o mais vede nas vidas dos
Reis de Hefpanha. Aranjuez , he huma caía de
campo dos Reis de Hefpanha em Caftella a nova,
a quem os Tradutores de Moreri chamão Paraifo
da terra , como fe ifto o houveíTe de ler fó gente
ruftica , e não exiftiífem Verfalhes , e as cafas de
campo de França, Itália, e mais Príncipes da Eu-
ropa, a cuja vifta Aranjuez he nada: difta fete lé-
guas de Madrid , eftá fituada entre os rios Tejo',
e Xarama , e toda a fua precioíidade coníifte em
hum jardim fabricado em huma Ilha do rio Tejo,
no qual ha camarotes , flores , arvores , e tanque
com peixes. Arquiteíínra , he a arte de edificar ,
po-
( 393 )
porem lie muito y c muito mais moderna do que
os ediEcios: a torre de Babel teve principio no an^
no ICO depois do Diluvio j ( como querem mui-
tos ) depois admirou o mundo Babylonia , Tebas j
Mênfis , e milhões de edificios notáveis , e mara-
vilhas da arte , fcm que nos confie houve arte ,
nem artífices delia, como depois houve na Greda ,
Roma, &c.
De tantos mil Authores deftas naçòes não
exifte inteiro mais do que Vitruvio para fer li«-
do , e venerado , porque hoje confifte no que fó
he aprazível á vifta , o que muitos antes com def«-
gofto delia fujeitavâo a preceitos indifpenfaveis de
huma imaginada fciencia. Conferva porém hoje a-
inda a Arquiteâura por ceremonia alguns nomes y
como são Tofcana , que he fimples , dcfagradavel ,
e groíTeira , própria fó para edificios míticos , e
Anfiteatros , fendo , como dizem , parto da Itália ;
a Dórica natural de Grécia , que he menos grof-
feira , coni frizos ornados ; a Jónica delicada , e com
voltas nos capiteis ; a Corinthia formofa com pe-
nachos , folhagens , e retrocidos ; e a Compofta ^
Gue dizem participa deftas duas ultimas , e na ver-
dade he o que ao Arquiteélo lhe agradou , e pa-
receo melhor , e mandou executar , de forte que
aflim como hoje temos os melhores , e mais excd-
lentes Filofofos , depois que fe defpedírâo de A-
riftoteles, os melhores , e mais infignes Médicos,
depois que lançarão a benção a Hypocrates , e a
outros , aífim hoje temos os melhores Arquite-
âos , depois que cada hum delles fe refolveo a
fugir das regras de todos os chamados Authores
an-
( 394 )
antigos. Arciprefte ^ he dignidade EccTeíiaftica das
Igrejas Cathedraes , aíEm Latinas , como Gregas ,
ç em todas a primeira depois do Bifpo , mas hoje
fó em' Verona , Perufa , e outras : fignifica o pri^.
roeiro dos Presbyteros , e o que preílde a todos.
O Direito Canónico os diftingue em duas efpecies^
que são Arciprefte da Sé, erarocos: o feu o£cio
era dizer a MiíTa , e fazer as mais funções em aa«
fencia do Bifpo , dar*lhe a communhâo , que ío
dellc recebia , e reger os Presbyteros , é mais Cie*
rigos da Cidade , e Bífpado. Os Gregos lhe cVva«
ma vão Protopapas , ifto he , primeiro Papas ^ ou
primeiro Sacerdote : o P. Goar diz, que fuccedê*
râo aos Coepiícopos, ou Coadjutores áosBKpoSj
que he o mefmo , e que nas Ilhas dependentes dos
Venezianos ordena os Leitores , e julga as caufas
Ecclefiafticas. Ha Eucologios , em que íe acha o Rf*
tual para conferir efta dignidade , que o mefmo
Goar compilou : hoje em quaíi todas as Sés he in-
ferior ao Deáo , e também a outras Dignidades ,
e (ó prefenta ao Bifpo ( como antigamente em to»
das ) os Ordinandos, Jrtico , he o Polo do Nor-
te chamado aflim , e Septehtrional pelo capricho
de confervar muitos nomes antigos para confusão
dos ignorantes. Chamâo-fe terras Articas , ou Ar*
£^icas , as que fe defcubrírâo nefte Polo , como sSo
terra de Jeífo, nova Zembla , Groelandâ, Ilhas de
Islanda, terra de Spirzberga , e outras. Areópago^
ibi o celebre Senado de Athenas, fundado (como
dizem) uoanno , em que teve principio o Sacerdó-
cio da Lei efcrita em Aarâo : tinha cento c quaren-
ta paifos a caía , fundada em colunas excellcntes , c
fór-
. (390
forma de meia Lua : nella fe jantavãó de noite a
julgar as caufas os Senadores , chamados Áreopa-
gitas , para com maior recolhimento dos fentidos
attenderem á juftiça das partes , e não verem os
obje£los , que podiâo movellos a compaixão : no
feu numero primeiro iorão trinta e hum y depois
tantos , que chegarão a quinhentos : era dignida«*
de vitalícia , e tão venerada pela fua melancólica
inteireza , que os mais illuftres Romanos pedião a
honra de Âreopagitas extranumerarios. Arequipa^
he huma Cidade do Reino do Peru díftante do
mar fete léguas j onde fe acondicionava antigamen*
te Q peixe para os feus Imperadores chamados In-
cas , e de mão em mão o conduziâo pelas eftradas
muitos mil índios cento e vinte léguas até Cufco :
hoje he Bifpado , e foi depoílto do ouro do Poto«
£[. Fora da Cidade em pouca diftancia eftá hum
horrendo monte , e no alto delle hum grande po-
ço 9 donde faheu) continuamente fumo , e cinza :
no anno de 1600 vomitou ifto mefmo com cham-
jnas y e pedras queimadas com tal violência j e eí-
trondo , que fe ouvio em Lima , tendo antes em
1582 padecido muitos dias terremotos, que a def-
truírão. Jrgel , he hum Reino da Berbéria em A-
frica , cuja Cidade Capital tem o mefmo nome : he
feu Proteftor o Grão Turco , pelo que tem nellc
hum Baxá de ceremonia , porque nenhuma autho-
ridade , jnem poder teiti no governo , que he de
Republica. Da parte do Norte tem o mar Medi-
terrâneo , do Sul o monte Atlas ^ do Occidente
Fez , e do Oriente Tunes : he Paiz montuofo ^
nas fertiliíSmo ^ porque além de ter o frio ^ e ca«
lor
(390
lor fummamente moderados , o regâo excellentes
rios ^ que nafcendo no Atlas , bulcão o .Mediter*
raneo : tem íinco Províncias , que sâo Conilanti-
na, Argel, Bugia ^Gezaira , e Trcmecen : com-
prehende a antiga Numidia y e Mauritanias Ceia-
rienfe, c Sitifenfe. A Corte tem mais de cem mii
vizinhos , em que entrão doze mil loldados : as
ruas todas eftreitas , como era em Lisboa a Ferrai*
ria antiga , excepto a rua do mar , que tem moita
largura y e quaíi hum quarto de légua no compri-
mento : eftá fundada em huma cofta de monte çot
modo de Anfiteatro , e com grande femelhança
com Coimbra, e Bahia: he grande o feu commer-
cio , de forte que a fua Alfandega rende tanto ^
como o Reino todo : os muros sáo altos , muito
largos y quad todos de ladrilho , e hoje com ex-
cellcntes foíTos : os melhores edifícios s5o a MeA
quita maior, a MàOnorra dos cativos, que confi-»
na com ella , as caías do Baxá , a do Senado , e
alguns banhos públicos : não tem Conte alguma ,
ou eftalagem, motivo, por que (como cm Portu-
gal os de Miranda ) guardão a agua em talhas
grandes , e cada hum hofpeda os feus conhecidos :
os Judeos tem quartos feparados para hofpedarem
os Catholicos , e são alli , como em toda a par-
te , os mais ricos , e os mais defprezados : he
o afylo., e refugio de todos os piratas y e coíTa-
rios.
LISBOA , NaOfficina de Miguel Mancfcal da Coda, ImpfcíTor do
Santo Ófficio. Ànno I754. CQnttifdatasiictnfasnccefariêSt
- /
(397)
CONFERENaA XXXIV.
O Imperador Carlos V. (continuou o Letra-
do; os intentou caftigar no anno de is'40,
para o que em huma excellente Armada
lhe poz á viíta vinte e finco mil infantes ,
e mil e quinhentos cavallos. Deos por íeus altos
juizos impedio efta acçáo ^ porque huma horrhrel
tempeftade lhe desfez cento e quarenta navios j
obrigatido-o a voltar logo para Hefpanha com o
pouco que lhe ficara. Em 1688 a Armada France*
za, governada pelo Marechal de Eftrees, lançou den-
tro em Argel dez mil quatrocentas e vinte bom-
bas j as quaes arruinarão os dous terços da Cida-
de , e algumas náps, que eftavâo. no porto ; e os
Mouros em defpique prenderão o Conful de Fran-
ça a hum morteiro , e o fizerâo voar até cahir em
pedaços fobre a Armada. Argonautas j he huma das
maiores fabulas j que inventarão os antigos Poe-
tas 9 e com que macularão hiflorias verdadeiras :
forão huns Gregos avarentos ^ que governados por
Jafon aportarão em Scythia , e roubarão os the-
fouros do Rei Ethes , guardados com grande vi-
gilância em Colcos. JIrgonautas 9 forão huns Ca-
jralleiros de S. Nicoláo em Nápoles , inftituidos
or Carlos III. depois da morte da Rainha D. Ifa^
el para confervar a paz naquella Monarquia , por-
que o feu emprego era defender a Fé , confervar
paz entre fi , fobpena de infâmia , e expulforia y e
pacificar a todos : floreceo muito ^ porém acaboa
Tom. VIL Li com
i
com a vi Ja do feii Fundador efta excellente ^ e ne«
ceíTáfia Ordem Militar 9 cnja infignia era huma háo
paiccendo tormenta com o mote : Nbn credo tem^
pori , e manto branco, jirias Montano , he fobreno-
me bem conhecido do doutiíEmo Presbytero Ben-
to Árias M'>ntano Hefpanhol Andaluz natural de
Sevilha , Freire da Ordem de Sant-Iago : foube
admiravelmente as línguas Hebraica, Grega ^ Arã^
bica, e Caldaica, com cujas versões deo á íuz as
Biblias , em que fe empenhou Pilippe Prudente :
aífiftio no Concilio de Trento com o Bifpo deS^-^
govia , fez nos Paizes baixos o índice expurgaro-
rio j que ordenou o mefmo Concilio j rejeitou
muitos Biípados y foi amante da vida foHtaria , e
penitente , faleceo de fetenta e hum annos em Se»
yilha no Convento dos Cavalleiros da fua Ordem
no anno de 15*9 8. Arijioteles nafceo emSragira Ci-
dade de Macedónia 9 foi diícipulo de PJaráo, con-»
tra quem efcreveo , e eníinou antes , e depois da
morte de feu Meftre em toda a Grécia: foi Meftre
de Alexandre Magno , e entrou na conjuração de
Antipáter contra elle , invejofo das mercês , que fa«
zia a Xenocrates : depois de profpera , e adverfa
fortuna fe lançou no mar Euripo defeíperado de
nâo comprehender o feu fluxo , e refluxo. Diâava
pafleando, e por iflb lhe chamarão, e aosdifcipa->
los Peripateticos : duvida*fe muito dasíuas obras ,
€ honras, que fingem tivera. Aries ^ he humaCída*
<le de França na Provença com Arcebiípo: no tem*
po dos Romanos foi tão grande , que a dividia pe-^
lo meio o rio Ródano , em cuja margem eftá hoje
jo pouco que exiAe da fua antiga opulência > que
- ^ aia-.
( 399 )
ainda teftcmuo^âô parte de liom Anfifcatrô ^ W
hum Obelifco de fincoenta edous pés de altura ^
feito de huma fó pedra Granite, melhor que mar^
more. O Rei Carlos IX. o mandou defenterrar, e
(Conduzir para a Corte, mas não o confeguio, fen-
do certo , que os Romanos o troiixcrão do Egyw
pto: hoje fe conferva na Praça maior , e nelle gra^
rados elogios de Luiz XIV. Armas. As primeiras
que houve no mundo para fe oflFenderem , e defen-
«derem os homens forão as da natureza ^ máos ,
onhas, e dentes, depois uíárão de páos, bronze ^
e ferro | como diífe elegantemente Lucrécio :
Arma antiqua manus y ungues^ dentisque fuere y
Et lapides , (y item filvarum fragmina rami ,
Pqfterius ferri vis efiy ar is que reperta^
Sedjprior aris erat , quam ferri cognitus ufus.
Ignora^^fe quem inventou as primeiras armaã de-^
fenfivas, e oflFenfivas : o mais certo he que anecef-
fidade as períuadio úteis , e neceíTarías , e o defe-
jo de vencer as ideou , e fez lavrar em todas as
nações , lem mais regra , nem lei , do que offen-
der muito, e receber pouco, ou nenhum damno.
Os Romanos uíárSo de todas as que acharão in-
ventadas , e não confia que inventaíTem outras y
mas fim que aperfeiçoarão todas , efpecialmente ds
corpos de aço , com que tantos feculos (e armarão
cavalleiros, e cavallos, as (aias de malha, lanças ,
•picas, dardos, e fettas. De todas as armas offen-
fivas antigas a mais induftriofa foi a catapulta, ef*
pecie de béfta y ou beftão , com que Jançavão pe-
«dras, e fettas disformes dentro daâ P;'açfs fitiadas
<-.^ LI ii á for-
( 400 )
y íbrça de arcas de bronze. Ainda hoje na Afia
Qsão a antiga helepola, ou helepolis, que be huma
torre de madeira mais alta do que á torre, ou pra^
ça, que fepertende tomar, firmada fobre rodas, a
qual empurrão dous elefantes. Armas dasFamilias^
he matéria , que já teve principio , e cedo lhe ouvireis
com gofto o complemento. Arménia^ he hum vaA
tiífimoPaizda Afia, hoje quafitodo nodominio do
Grão Turco , fe bem o maior delia, e do mando
{ como já ou viftes ) o tem Deos cercado , e elcoodí-
áo : divide-fe efu maior , e menor ; aquella pelo
Norte confina com Albânia, chamada vulgarmente
Geórgia , e Ibéria , das quaes a dividem os montes
Mofchicos pelo Sul; os montes Tauro, eNifato
a dividem de Mefopotámia , e Aflyria ; pelo Occi-
dente o Eufrates da Afia menor , ou Natolia ; e
aqui dizem eftá fechado o caminho , por onde en«
-trárSo oslfraelitas, que fe prefume habitâo aauel-
']e grande, e incommunicavel Império: extenae-fe
a menor para o Ponto Euxino , mar negro ; ainda
:t]ue muitos fó querem dar efte' nome áquella pan-
-te, que fica .totalmente fechada nos eftados do
.Turco entre Capadócia , Eufrates , ^ Cilicia. He
-a Arménia Paiz deliciofo , e tanto , que os feus
fAuthores ,e tradições querem fofle neUa o Parai-
sfo terreftre : ,tem admiráveis rios , como sâo Evt-
'frates, Tigre, Araxo, Arethufa , Tofpitis , Ly-
vchnités: excellentes planícies, bons, e grandes Ja*^
gos; porém muitas , e afperas montanhas , cípe-*
-cialmente as da ferra de Ararat, e feguintes, por
-baixo das quaes doícubtrírâo aquelle Império incog-
:iiitoiòs>¥tfl^roâvdefgraçadoS| coma vos cootárâo
-iÁ ii cm
kjíl*
( 401 )
«m outras Conferencias. He fértil de tudo o ne-
ceíTario para a vida humana : produz aromas y e
teve rendoías minas: as Romanos aeftimáráo mui*
to. Depois de receber a Fé de S. Bartholomeu foi
Jardim da Igreja , até que a herefia de Neftorio a
inficionou para fempre toda, então experimentou,
como todas as Provincias icifmaticas, a efpada da
divina juftiça* Schach Abas Rei da Petfia a coih-
ijuiftou quafi toda, e feus fucceflores dominâo. ho-
je a maior , toda deftruida , os Turcos a inferior.
São os Arménios os melhores homens de toda a
Afia , gentis , afifáveis y verdadeiros , finceros , eí-
moleres , não tem cm matéria de Religião os er-
ros, que falíamente lhes imputão muitos: o cHma
he temperado , em partes frio , faudavel todo. Ce-
lebrárão-fe na Arménia muitos Concílios , flore-
cêrão muitos Santos , e houve grandes Prelados :
lioje o Patriarca fcifmatico, dizem, terá dous mi-
lhões de fubditos. JÍrouca^ he huma antiga, eboa
povoação defte Reino na Provincia da Beira, dif-
tante oito léguas de Lamego , e o mefmo do Por-
to , junto á montanha de Freitas : foi povoada por
hum Fidalgo chamado Anfur , cafado com D. Eiva :
pouco antes dous Portuguezes tinhSo fundado alli
perto hum Mofteiro , e fegundo os monumentos
•antigos fe chamavão Vandilo hum, eLoderico ou«
tro: a eftes , ou a (eus defcendentes , o comprou
Anfur, e bem dotado o deo ao Abbade Hermeni-
gildo no anno de 951. Santa Mafalda Rainha de
Cailella , filha do Rei D. Sancho L de Portugal ,
introduzio nelle as Religiofas de Cifter , com el-
Jas riveo , e acabou íantamente : tem obrado alli
Tom. VII. LI iii gran-
( 40i )
j^andes pródigios o feu cadáver. Jrtemifa , Rai-
nha de Caria, acompanhou o Rei Xerxes na guer-
ra contra os Gregos: moftroa o feu grande talen-
to j e deftreza na batalha naval j em que Xerxes
foi vencido pelos Gregos junto a Salamina ; por-
que vendo tudo perdido , tirou do feu navio a
bandeira Perílana , e inveftío com hum da fua na*
^o, eefquadra, o qual lançou a pique com tal for-
tuna , que não efcapou delle huma (ó peíToa, que
pudeflTe dizer aos Gregos a indúftria de Artecnifa ;
e eftes julgando fer navio de Gregos , o que obra-
ra a façanha , o não perfeguírão , e ella íe poz em
{alvo. Entregou-lhe Xerxes o governo da Períia y
e creação de feus filhos , quando por feu coníêibo
emprehendeo nova guerra : teve eftatua em Lace-
demonia entre as dos grandes Generaes da Perda;
foi opprobrio da nação Grega , que não perdoou a
diligencia alguma para lhe tirar ávida: conquiftou
a Cidade de La t mus , entrando-a com o paci&co
pretexto de viíitar no feu templo a mãi dos Deo-
fes : desluftrou a fua fama , namorando*fe depois de
velha do mancebo Dardano ; e vendo que eite a
^defprezava , lhe tirou os olhos , eftando dormin-
do,.^ deíefperada fe precipitou em Leucadia, on-
de Ihederão íepultura. Arfenioj Santo, Monge do
deferto de Scythis, foi illuftre por naícimento , e
muito douto : o mais certo he, que foi de nação
Grego. Era Diácono da Igreja Romana oo tem-
po de S. Damazo, o qual no anno de 383 o man-
dou a Conftantinopla para Meftre de Arcádio pri-
mogénito do Imperador Theodoíio , e feu compa-
nheiro no Império defde a idade de íete annos :
hum
f ■
( 403 )
iium dia por acafo entrou o pai no quarto ] on*
de Arfenio eníinava o filho , e vio efte Tentado , e
o Meftrc em pé , queixou- fe-lhe dizendo y fazia vil
a dignidade Magiftral , e Arfenio o fatisfez com a
defculpa , de que nâo devia fentar*fe diante de
quem já era Imperador ; mas Theodofio fabio , c
virtuofo tirou as iníignias Imperiaes ao filho , e
fez que em pé defcuberto déíTe lição a íeu Meftre
Arfenio fentado , dizendo : Meus filhos ferão dig^
nos do Império , quando fouberem unir a piedade com
a /ciência. Nada aproveitou a Arcádio eíle exem-
plo de feu pai Theodoíio , antes paífado pouco
tempo ordenou a hum Oificial de guerra mataíTe
•íea Meftre Arfenio : teve efte a bondade de o aví*
•iar logo 5 e elle defenganado de colher fruto em
tal difcipulo^ retirou-íc para o deíerto deScythis^
tendo entáo fó quarenta annos de idade. Dizem
que Arcádio depois da morte do pai , íabendo on-
ját eftava Arfenio , lhe efcrevêra com muita humil-
dade 9 e lhe mandara grandes prefentes , que elle
rejeitou com o fanto defintereíTe , que fempre ti-
vera ; pois levando-lhe hum OiEcial de juftiça o
teftamento de hum feu parente y que o inftituíra
herdeiro , perguntou ^quanto tempo havia que o
iofiituidor era falecido y e refpondendo que havia
poucos mezes , replicou elle : Muito mais tempo
ha que eu morri , e não pojfo morto fer feu herdeiro.
Hum dia eftando em oração , o affligírâo receios
de que fe nâo íalvaria, eouvio huma voz doCeo,
que lhe difle : Arjenio foge , cala j e defcança. Os
bárbaros o lançarão fora daquelle fanto ermo com
todos os outros Monges^ pouco antes de conquif*
s
C404 )
tarem Roma os Godos : reftituio-fe com elfes i
fnefma foiidáo j onde paflbu para a celeftial pátria
na idade de noventa e hum annos ^ e o celebra a
Igreja a 19 de Julho j os Gregos a 8 de Maio.
arfado Santo , de que tratâo os Martyrologios
Komanos a 1 6 de Agofto j foi Perla de nação ^
Monge emNícomedia depois de Soldado , e Guar-
da leões do Imperador : baptizou-fe no tempo em
que Licínio perfeguia a Igreja j e logo profeifbii o
Monacato : revelou ^Ihe Deos o caftigo que^avia
mandar a Nicomedia, e elle avifou os moradoiesA^
que fe não emendarão , até que no anno de 35S
hum horrível terremoto deftruio a Cidade , e íe-
pultou nasruinas quaíi todos os habitadores: 9chá^
rão depois o Santo morto em huma to^re da Ci*
dade, que lhe fervia de cella , proflrado no chao^
e na mefma poftura , em que orava ^ fem IcsSo al-
guma ; de forte que julgarão alcançara de Deos
preciofa morte antes de ver a ruína da Cidade.
Jrtois , he huma Província do Paiz baixo perten-
cente ao Rei de França com o titulo de Conda-
do : a Cidade Capital he Arras , tem outras mui*
tas 9 oitocentas e fíncoenta Aldeias , e grande nu«
mero de Mofteiros ^ e ricas Abbadias. Jffyria , he
huma grande parte da Afia , e foi hum dos maio-
res Impérios delia : confinava pelo Occidente com
vMédia j pelo Norte com Arménia , pelo Sul com
Sufiana , ou com Mefopotamia pelo Occidente y e
.pelo Oriente com Média. Somos tão limitados ,
que fendo efte o Império primeiro do mundo 9 nem
os limites j nem coufa alguma fabemos com certe-
za^ excepto o que exprefla a vulgata: o mais cer-
to
( 40ir )
to he^ que o fundou ÂíTur filho de Sem, neto de
Noe j e depois Nembrod filho de' Chus", neto de
Cham, itmão deSem, homem ferox, e grande ca-
çador, conquiftou efte Paiz , que Abrabâo achou
dividido em muitos Reinos. Nino foi o primeiro^
que fez efte Império podcrofo ,.e florecente , pc^
]o que foi adorado: ignora-íe o tempo que durou.
Ofeu ultimo Rei foi Sardanapalo, que fe queimou
em Ninive com todo o precioío que tinha. Efta
famofa Cidade , que foi Corte dos Áflyrios j def^
truírão Nabucodonofor , e Afliíero y depois oue
das ruinas dos AfiTyrios fe levantou o Império dos
Medos, efoi Babylonit a Corte principal domuiv-
do y de forte que huns o dividem huma vez , e ex-
tinguem outra ; aqueiles lhe confiderâo duas Cor-
tes , Babylonia , e NiniVe , outros fó efta , huna
querem duraiTc feifceâtos^.è trinta e féis annos y ou**
tros-maia^ alguns , e iiielhor , que menos : aflen*
ta-fe que- o* catalogo dos fens Imperadores he qua-
fi todo fabulofo. Náo ha coufa mais confula , e
tnenos certa nahiftoria , nem que mais teftemunhe a
furdencia deMoreri «m trasladalla, porextenfo y coe»-
feíTando o que digo. Ha* em Babylonia hum grande
pedaço de edificio , como dauftro redondo , fubmeb>
gido em ruinas de muitos^, donde fe tem cxtrahidò
algumas obras de pedras diverfas y excellentes y e
bem lavradas, que dizem fer da Palaciade Nabucd
JJlabat y kit huma Cidade da Arménia y ou Turcomi^
fiia na-fí-onteira da Perfia , diftante huma légua do
rio Araaco y pequena y mas bella , rica y e fertiliíEma :
he o único rbiz f que ncftè mundo produz oRooaay
ou Ronaz ^^ com que :áe tingem de encarnado vjh
< 4o6 )
fj^Y e excellente as roupas de toda acofta de Coro*
fnandei^ é he tal a abundância defta raiz, que na(^
ce, e fe extende por baixo da terra, que vem aiuú
cas Cáfilas de Camelos a Ormuz fò com efta mer«
^adoria , que logo comprão para tintas os merca*
dores de todo o Oriente. AJlarothy ídolo dosFilif*
jthcos^ Sidoníos,e outros Gentios do Oriente, a quem
adorou Salamáa , e os Ifraelitas , e a quem aores
lia via mandado reduzir a cinzas o Profeta Saoiiie/;
na melhor opinião era a Lua figurada na eftattta de
liuma ovelha , e o nome figntfica rebanho de ove\hts ^
« riqueza. Àftracâo ^ he bu ma excellente ProWocia
<io Império da Ruífia , no que chamarão Ducado de
Mofcovía fobre o mar Caípio , e boca do río VoI«-
-ga: foi fujeita a hum Rei Tártaro, que fó adomir
nava, depois ao Senhor da Tartaria como feudo ^
«Província até o anno de 15*5:4 , em que aconqitiA>
•tou João Bazilovitz Grão Duque de Mofcovía.. He
Empório grande de commercio com a Tartaria , Per*
iia, e Ruflia: padece exceífivos calores em Serem»
broy e Outubro; edous mezes fò delnvcrpo, em
que fegelão os rios , eadmittem carros , produí^oi
ibelhores melões , e hoje muitas uvas por iaduftria
de hum Monge Grego: confina com a Tartaria de-
derta, e não admitte Tártaros dentro das muralhas;
:inas elles a fazem rica de gados , que tem fora deW
ii& em cabanas. As cafas todas sio de madeira fem
aperfeiçoes^ e toda afbrniofura confifte em muitos ^
'ealtimmos campanários, e torres. Atbenasj^ mimo
da Grécia, pátria dasfcíencias, e valor, cabeça do
Paiz Attico, fundação de Aâ:eo, fegundo Paufanias ,
«O deCecrope^ como dizem outros : depois deíer
çtr ^ tão
C 407 }
tio cxcellente , política , abundante, c digna de ver-r
fk 9 que julgavâo bruto , a quem n$o habitava nelU
tflgum tempo para fer inftruido , e a quem depoi»
de inftruido a deixava para habitar em outra parte
do mundo: depois de muitos Reis , e Duques, que
a governarão , dosquaes íe ignora grande parte dos
nomes , e façanhas , foi dominada pelos Imperado-
res do Oriente , e diveríos Príncipes Italianos , Hef-
panhoes , logo pelos Turcos , e Venezianos , hoje (e
diama Setinas fundada em diverfo fitio , e já nada
^Gonferva do que efcreveo Moreri havia nella em o
íeculo paflado. Jttila Rei dos Hunnos , Scytha de
fiação j idolatra , intitulado Açoute de Deos y conquif-*
too , e deftruio todo o Oriente , venceo, e fez tribu*
tario o Imperador Theodoíio moço, deftruio Ale^
manha , e França , ficando fó illéfos Paris , e Troyes ^
âquella pelas orações de Santa Genoveva , efta pela
intercefsão do feo Bifpo S. Lupb« Quando havia de
caminhar efte raio para Itália , lhe preíentárão ba-
talha unidos Meroveo Rei de França , Âecio Gene-
ral dos Romanos , eTheodorico Rei dos Vicegodos
com tal fortuna , que nos campos de Solonia juntp
a Orleães perdeo Áttila duzentos mil foldados no
anno de45:i ; mas não baftou iSo para o decepar:
entrou na Itália, deftruio Áquilea, e outras muitas
Cidades , até que lhe fahio ao encontro S. Leão
Papa , e lhe pérluadio não deftruifle Roma , e o que
jreáava da Itália: pafmárão os Capitães, e amigos ^
vendo obedecer Attila aS. Leão ; eelle que os co*
nheceo , admirados de coufa tão rara no feu diabolí'*
CO génio, difle que lhe tinha obedecido, e o tinha
f efp^^tâdò , pçi^ junto a çHç;, Inrar Ipwtciii
(408)
reftídò de Pontifical, que lhe diíTera o havia matar
íeDao executaíTe o que o Papa lhe dizia : determinou
então deftruir toda a Afia , e África ; mas eftando
de caminho em Panonia , não obftante o ter hum
grande numero de concubinas y quiz receber outra
formoíiílima , e coroalla Rainha , por íer filha do Rei
dosBaârianos, e porque a amava com o maior ex«
tremo. Na noite da boda comeo , e bebeo com tal
excefib, que, oudiflb, ou do muito que fefiiíigotf
com a noiva , lhe refultou , eftando dormindo , hum
fluxo de fangue pelos narizes tão grande , que lhe
impedio a refpiraçâo , e tirou a vida : alguns duri«
dão da fegunda caufa , porque dizem tinha ceoto e
vinte e quatro annos quando morreo. &a pequena
de corpo , mas capaz de infundir medo com os olhos
nos homens mais intrépidos : teve aftucia para per*
fuadir ao (eu exercito que era divino, e que tinha
achado o alfange de Marte, (que todos os Gentios
adoravão) no qual tinhão vinculado os fados o Im-
pério de todo o mundo. Intitulava-fe filho deBen-
demo, neto deNembrot, creado emEngadíi , por
graça de Deos Rei dos Hunnos , Medos , Godos , c
Dacios , terror do Univerfo , açoute de Deos : dizia
que as Eftrellas cahião quando olhava para ellas , que
a terra tremia , quando colérico â calcava, e que era
martello de todo o mundo. Que foi açoute permit-
tido por Deos para caftigo do mundo naquel le feculo
quinto da noíTa redempção, he certo; que tinha todos
os vicios, e era doido, he innega vel; e que Deos o ma-
tou obrigado das orações dos juftos , e compadecido
das lâ grimas , e penitencia dos arrependido^^ certo»
Lisboa', tii Ofl^a'de^ígu«rmne{ha^iiC«(b, ithféaot áé
( 40? )
CONFERENCIA XXXV.
AVicena , Fílofofo , e Medico Arábio , fi-
lho de Áli , e Citara , nafceo em Bochara
Província deTranfoxana noanno dcChrií-
to 980, não foi ( como alguns fonhárâo)
difcipulo de Averroes em Córdova , e de Rhafis
em Alexandria : teve muitos Meftres , e excedeo 4
todos. Na idade de dezefeis annos era Filofofo j
Medico 9 eMathematico confummado; nos dezoi^
to lhe faltou que aprender , e fe applicou is politi-
cas: foi Medico, eGráo Vifir do Sultáo Chabous
na Geórgia : morreo de íincoenta e oito annos j
porque os feus exceíTos lhe adquirirão muitas en-
fermidades. O Papa Xifto IV. fez imprimir as íuas
obras em Roma na lingua Arábica em 1489 , de-
pois fe traduzirão em Latim com excellentes no-
tas , e fe imprimirão em Veneza , Roma , Franc-
fort, e outras partes. Ávila ^ he huma Cidade de
Hefpanha em Caítella a velha com Biípo fuffraga-
neo a Compoftella y célebre por íer pátria de San-
ta Terefa de Jefus, íituada em cabeças de montes
nas margens do rio Adaja : tem os feus muros an-
tigos nove mil e fetenta e íinco pés de circumfe-
xencia , e nelles oitenta e féis torres , cento e vin-
te e fete ruas , excellentes edifícios , Igrejas , e
Moiteiros : he rica , abundante , e quaíi inexpug-
nável. He pátria da fidelidade Hefpanhola , por<*
que os feus naturaes criarão nella occulto com mi^-
mo* refpeitO| lealdade adnniravel ^ e íegredo w^
' Tora. VIL Mm trc
( 4IO )
trc tantos prodigioío , ao grande Monarca D, A^
fonfoVlII. chamado Imperador, defendendo-o af-
fim da morte , que feu padrafto AflFonfo VII. lhe
maquinou; pelo que defde então as fuás armas são
huma torre , e na janella hum Rei com coroa , e
fceptro com a letra Ávila de El-Rei. He pátria de
D. Ximena Vafques , mulher de Fernão Lopes Tril-
lo, a quem D. Affbnfo VIL deo o privilegio, de
que aâ mulheres da fua deícendencia pudeíTem vo-
tar, e governar como os homens, em premio das
façanhas , que ella obrou em companhia de feus &«
lhos, e noras na defeza da pátria contra o Rei
Mouro Abdala Alhacera. Avinbão , he hum Efta-
do doSummo Pontífice, que toma o nome da Ci-
dade Capital em França na parte chamada Gallia
Provençal, ou Narboneníe : confta da Cidade , e
território de Avinhão , e do Condado de VeneA
lim : tem de comprimento onze léguas Francezas,
e íeis de largura , he banhado dos rios Sorgua j
Durança, e Ródano, he abundante de tudo, tem
hum Arcebifpo , etrezBifpos fuíFraganeos. He ce-
lebre a Cidade pelos íeus fete fetenarios , porque
tem; fete portas , fete Palácios , fete Freguezias ,
fete Igrejas Collegiadas , fete Hoípitaes , fete
Conventos de Religiofos , e fete de Religíofas.
He memorável a fua ponte altiífima com dezenove
arcos fobre o Ródano, cuja corrente he arrebata-
da , em tudo he formofa , e dizem fora mandada
fabricar por ordem efpeciat de Deos , de quem foi
menfageiro hum menino Santo de doze annos cha-
mado Bento ; e dizendo«lhe o Governador , que
íó lhe daria credito íe elie tomaíTe aos hombros
<4iO
huma pedra monftruofa, qué tinha prefentc, o me-
nino fem diíficuldade o fez , e elle convencido a
mandou edificar : o menino he venerado em Avi*
nhâo com o nome de S. Bentinho , e o prodígio
fuccedeo no anno de ii77- Não fe fabe com cer-
teza como veio efte Eftado para o dominio da
Igreja , porque Clemente V. j que levou para Fran*
ça a Cadeira de S* Pedro ^ o náo poíTuio y mas fim
Clemente VI. íeu terceiro fucceflbr , o qual di-
zem comprara efte Eftado j em que os Papas até
então aflíiftiâo por empreftimo , a Joanna Rainha
de Sicilia, eCondeça de Provença por oitenta mil
florins no anno de 1348 , em que ella o herdou
juntamente com o fceptro : huns dizem que houve
cfta^ venda , e que exifte a efcritura , mas que o Pa-
pa não dera o dinheiro , ou que a Rainha lho não
aceitara : alguns querem feja fabulofa a venda y e
que a Rainha o dera ao Summo Pontífice em lu-
gar do feudo , e tributo , que o Reino de Nápo-
les pagava áSé Apoftolica : o certo he que os Pa*
pas o poíTuem defde o fobredito anno j e defdc
que mudarão para Roma a Cadeira o governâo
^or hum Legado. Os moradores j ainda que cm
tudo y e por tudo são vafiallos do Papa y sáo re-
putados por Francezes , como os outros , e ad-
mittidos a todas as honras y e empregos Ecclefiaft
ticos 9 e Civis em toda a Monarquia de França.! A
Cathedral he primorofa y e nelle eftâo as fepultu<t
ras de Benedi£lo XIL , e João XXIL : excede a
todos o notável Maufuleo de Clemente VIL no
Coro dos Monges Celeftinos da mefma Cidade y
cujo commercio he grande. Aujlriay he hum Pai^
Mm ii de
(4iO
de Alemanha com titulo de Archiducado , com qne
fe hoorâo os primogénitos dos Imperadores j aa«
tes de ferem Reis dos Romanos : he a mefma Pro-
víncia , a quem os antigos chamâo Panonia fupe-
rior : confina do Nafcente com Hungria , do Po-
ente com Baviera j do Norte com Moravia ^ e do
Sul com Stiria : o rio Danúbio a divide em alta ,
e baixa , fendo a alta a que fica da parte de ca a
refpeito de nós : he fertiliíEma , e delicio/à. Era,
fronteira do Império contra os Húngaros , e mais
nações confinantes então bárbaros , e cruéis immi^
gos ; e o Imperador Henrique I. deo a enveâidura
defte Archiducado y quando erSo matos , e bofques
a maior y e melhor parte delle , a Leopoldo o II-
luftre para o defender, fò com o titulo de Conde:
Frederico Barbarroxa o fez Ducado, e ultimamenr
te foi unido i Caía de Auftria por Rodolfo L j
quando matou Ottocaro Rei de Bohemia ^ que o
havia ufurpado por morte do ultimo Duque Fre-
derico j qne morreo de garrote , e deixou Auftria
em a defefperação de pedir aos Marquezes de Mi&
nia a quizeíTem dominar. O Imperador Frederico
o Pacifico a fez Archiducado para feu filho M axi-
miliano , a quem deu o privilegio de crear em to-
da Auftria Condes, Baróes, eGentis-homens, que
defde o nafcímento foflem Confelheiros do Impe-
lador : que recebeflem a enveftidura dos Eftados
a cavallo , com hum manto Real , e coroa de duas
pontas, baftão de General na mâo, e outros gran-
des priviíegios. A Genealogia da Cafa de Auftria ,
fendo huma das mais illuftres da Europa ^ foi tão
viciada pelos mentirofos^ e aduladores^ que Car-
los
( 413 )
los V. 9 quando lhe fallavâo nella ^ para atalhar lí-
Ibnjas, e mentiras, dizia, que os feus afcendentes
erâo as fuás obras: alguns a deduzirão de Noé, e
fizerão mal não a contarem de Adão, porque am-
bos são primogenitores certos. Todos os ferios,
cordatos , e verdadeiros a contâo defde Rodolfo
Conde de Afpurg , familia antiga , nobiliflima , e
relígiofa de Alemanha , a quem Deos elevou ao
throno Imperial delia em remuneração da fé, pie-
dade , humildade , e veneração , com que acompa^
nhou a pé defcuberto o SantiíEmo Sacramenta,
que hum Pároco levava a pé a huip enfermo , fa^
zendo-o montar no feu cavallo , fegurando-lhe a
eftribo , e dando-lhe o cavallo : fuccedeo ifto no
anno de 1273 , e defde então até agora teve efta
Cafa Auguftiflima vinte e trez Imperadores , e a
Imperatriz reinante na fua defcendencia. Morerí
diz , que tem dado a Cafa de Auftria em quatro-^
centos annos ao Império de Alemanha vinte e qua-
tro Imperadores , e féis Reis a Heípanha , e que
Carlos VL , pai da Imperatriz Rainha de Hun^
ria, e Bohemia, fora o decimo fexto Imperador
la fua familia : nenhuma utilidade coniidero em
averiguar a conta. Auftria^ por fobrenome bem
merecido : D. João de Auftria , filho illegitimo de
Carlos V. , e de huma Senhora , cuja honra encu»
brio outra , que fe publicou mãi , nafceo em Ra-
tisbona no anno de 15^47, e íendo de hum anno,
foi conduzido a Hefpanha , e educado com o maior
fegredo por Luiz de Queixada , até que o Impera*
dor na hora da morte o reconheceo, e recommen-
dou a Filippe Prudente , o qual , paflados dons
Tom. VIL Mm iii an-
C 414 )
annos , muito contra fua vontade , o admittío na
CQmpanhia do Príncipe Carlos , e Alexandre Far-
aeíiò j íó com o tratamento de Excellencia ^ de que
nunca paíFou. Nâo quizD.Joâo ordcnar-fe, como
feu paidefejára, efeu irmão queria, eefta foi a ori-
gem de toda a ília defgraça: fugio de Madrid com
muitos Gentis-homens para a guerra de Malta; mas
retrocedeo com rara obediência , apenas recebeo
ordem do Rei em Barcelona : efta acção o fez amá-
vel, e muito mais o revelar a I^lippe as aleivofas
maquinas.do Principe D. Carlos. Fez acções memcH
ravcis de valor, e prudência na guerra de Granada
contra os Mouros: foi General da Liga Cathoiíca
contra o Turco, e venceo afempre memorável ba-
talha deLepanto: conquiftou depois as Cidades de
Tunes, eBiíTerta: entrou na Itália com triunfo ipd^
blico , levando nelle o Rei de Tunes prizioneiro^
Contra as ordens do Rei íeu irmão deixou Tunes
guarnecido, e procurou a enveftidara de Rei del-
le por intervenção do Papa, acções, que totalmen-
te defgoftdrãoFilippe; epara lhe cortar eftas«gran*
des efperanças, affim da Coroa de Tunes , quç pe*
dia, como da de Inglaterra, que dizião fe lhe of«
ferecia com o cafamento da Rainha Ifabel, o man-
dou pacificar, e fubjugar os Paizes baixos, faltan-
do*lhe com os foccorros , e meios neceíTarios. D.
João vendo^fe expofto a perder a liberdade , c cre»
dito , mandou a Hefpanha o feu Secretario , que
logo foi morto , e elle faleceo no primeiro de Ou-
tubro de I jr78 de paixão , ou veneno , como diz
Moreri, e querem os Hefpanhoes. Autom^ hc hum
monte 9 que vomita inceíTaatemente fogo^ ou cin<»
zas
(A^S )
zas com fumo negro , e fedorento na Província de
Chucuito Reino de Chile na America de Hefpa*
nha, junto ao nafcimento tio rio Riobio, para fer
mais admirável efta obra da natureza. Jtituna^ he
huma Cidade de França em Borgonha fobre o rio
Arroux, com Bifpado íuffraganeo a Leáo : he a
mais antiga Cidade daqueile Reino , fegundo di^
zem os Chroniftas delle: no tempo dos Romanos
tinha hum Magiftrado , que a governava cada an«
no, chamado Vergobreto , com dominio total nos
bens y e vidas dos habitadores. Os Druidas tinhão
nclla hum Senado, eosGauIas moços eftudos. Ti«
nhâo os feus muros quaíl dous mil paíTos em cir*
cuito, notáveis edificios, hum Capitólio, grandes
privilégios , e em fim os Romanos lhes chamavâo
irmãos : tudo deâruio Attila em 4$'i , e os Nor*
manos depois. Os Reis da Caía de Borgonha fo*
rão os feus maiores inimigos : teve depois Con-
des , e fe incorporon no Condado de Borgonha :
padeceo muito nas guerras civis ; mas foi tão beU
la , rica , e mageftofa , que depois de tantos , e táo
grandes infortúnios, ainda conferva antigos, e ad*
miráveis edificios, huma das melhores Cathedraes
da Europa, vinte e quatro Arcipreftes , feifcentas
Freguezias em toda a Diecefe, Bifpo com Pallio,
(efpecial privilegio) innumeraveis, e ricos MoAei^
ros , e Abbadias feculares : teve muitos Prelados
Santos, e produzio Varões doutiíEmos. Do Gen^
tilifmo exiftem eftatuas, colunas, aqueduélos , ar^
cos triunfaes , hum templo de Jano , a habitação
dos Druidas, o campo de Marte , e o de Júpiter.
Celebrárâo^le nella muitos Concilios y e muitos
íe-
( 4iO
feculos forâo oráculos os feus Ecciefiafticos por
doutos, e pios, Auvernia , ou Alvernia^ he huma
Província de França com título de Condado : tem
hum ribeiro, cujas aguas petríficáo o que nellas ef-
tá muito tempo : são glutinoías com tal exceflb ,
que as fuás partes fuperficíaes formarão huma pon-
te , que por fer maravilha da natureza a mais in-
crível y a foi examinar o Rei Carlos IX. peílbal*
mente. Tem outro de aguas tanto , ou mais glu-
tinoías , em que muitas vezes £cáo prezes os paf-
faros , como no v ifco : tem huma lagoa fem fun-
do , e fe lhe lançâo dentro huma pedra j levanta
hum vapor efpeíTo: he fértil efpecialmente de plan-
tas medicínaes no monte Cantai. Teve Reis, Go-
vernadores chamados Condes j depois Condes fo-
beranosy logo outros fujeitos aos Reis de França ^
que hoje são Senhores defta Província , em que os
Godos extinguirão todas as obras dignas de admi-
ração , e memoria. Âyamonte , he huoia Cidade de
Hefpanha fronteira de Caftromarim de Portugal
na margem do Guadiana em fértil j deliciofo , e
aprazível íitio , abundantiffima de peixe , e tudo
o mais neceíTario para ávida humana. O noflb Rei
D. Sancho 11. (diz Moreri) aconquiftou aos Mou-
ros em 1240 : creio fe engana , como também em
dizer a deo a D. Paio Peres Corrêa, Commenda-
dor de Alcacere do Sal na Ordem de San t lago ,
porque D. Paio, fendo Portuguez, era vaíTallo de
Caftella, elá Meftre da Ordem de Santiago: nef-
tc officio começou a conquifta do Algarve , reinan-
do em Portugal D. AflFonfo III. , a quem entregou
D. Paio os fete Caftellos , que tinha conquiftado ,
CO*
( 417 )
como já ouviftes na vida defte Rei , e muito an^t
tes 9 ( como confta dos Cartórios daquella Cida-
de então Villa ^ndada nomonte, onde hoje eilá o
Caftello)já não havia finaes de Mouros nella. Tem
huma fó rua boa, e nas mais rninas, que lhe fize^
râo as balas da Fortaleza deCaftromarim no tem-
po da guerra de Carlos IIL Carlos V. a deo ao
primeiro Duque de Bejar com o titulo de Mar-
quezado j e aflim fe conferva na fua defcendencia.
jízot , foi huma das finco principaes Cidades dos
Filifteos , em que elles detiverâo cativa a Arca do
Teftamento , e experimentarão o caftigo : conquif-
tárão*na os AíTyrios j e depois os Egypcios com
tão grande trabalho j confiancia y e defcommodo y
que gaftárão vinte e nove annos no fitio : Baldui-
no Rei de Jerufalem a tomou aòs infiéis no anno
de iioi y e fundou nella Bifpado fuffraganeo aCe-
farea y cuja Cathedral y e Palácio edificarão no lu*^
;ar onde os Anjos deixarão S. Filippe, depois que
laptizou o Eunuco da Rainha Candace. No tem-
po de S. Jeronymo era Praça de armas fortiífima y
hoje a dominão os Turcos y e he pequena^Aldea ^
a que chamão Alfcta. Jzpilcuita y he íobrenome
do Venerável Doutor Martinho de Azpilcueta , co-
nhecido pelo de Navarro y porque naíceo na Cida-
de de Pamplona , Reino de Navarra : foi gradua-
do, eMeftre em Tolofa, Salamanca, e Coimbra^
onde foi ouvido como oráculo do Direito : foi
Presbytero , e Cónego Regular da Congregação
de Roncefvalhes , Theologo, e defenfor do Arce-
bifpo de Toledo em Roma , Penitenciário do Pa-
pa, e venerado de toda a Europa pelas fuás letras^
vir-
( 4t8 •)
.virtudes j e efcritos copiofos , qae exiftem. Nim«
ca vid poJ^re, que oâo^Temediafle , de forte que a
fnula parava em vendo pobre y atites que lhe fuf«
pendeflfe as rédeas : morreo de noventa e dous an«
nos em Roma no de 15:86 , jaz com hum notável
epitáfio na Igreja de Santo António de Portugal
HE tempo ( difle o Soldado ) de completar-
mos a vida do Auguftiífimo Rei D. Pedro lí. ^
e referirmos a de feu filho o Senhor D.João V.
Publicada a paz entre a Coroa Portugueza, e ade
Hefpanha , como vos contei no fim da Confcren*
cia quinta do quarto Tomo , reconheceo a Corte
Romana ao Senhor D. Pedro legitimo Rei de Por-
tugal, e comefta felicidade veio a licença para no-
mear Bifpos no Reino , e Conquiftas , que havia
)i vinte e nove annos eftaváo íem Paftores. MoO^
trou logo Hefpanha quanto neceflitava do noffo
valor, e forças para defender a Praça deOrão , íi-
tiada por hum formidável exercito de Mouros, que
fez retirar Pedro Jaques de Magalhães, General da
noíTa^rmada , com que o invifto Rei D^ Pedro
mandou foccorrer a Praça. Segunda vez nos pedio
pouco depois Hefpanha auxilio para a deteza de
Ceuta, para onde partio logo de Lisboa com hum
Regimento de Infanteria o memorável heroe Pe-
dro Mafcarenhas , cuja prefença julgamos baftou
para affiigentar os bárbaros. Sendo elle Conde de
Sandomil , e Vice*Rei da índia me contou fcm a
menor fombra de ja£lancia , antes com humildade
virtuofa , que-ós Mouros entrarão ná' Praça de
Ceuta depois do meio dia , a tempo que elíe do-
en-
.«
( 419 )
ente , e fangrado no tneímo dia terceira vez def-
cançava na cama.: acordou com o eftrondo , que
faziâo os moradores fugindo y e gritando : foube
que as muralhas , e ruas eftavâo cheias de Mouros
vencedores , fahio da cama em roupa interior, co-
mo nella cftava y metteo os pés nas chenellas y ikh
movi o broquel 9 e efpada, fahio á rua, que achoiv
tomada de bárbaros ^ quQ. em poucos inftantes ca*-
hírão a feus pés mortos, fugirão logo os outros,
que vínhão foccorrellos , e aíEm atemorizados , e
confufos todos, os que já dominavâo as ruas, ba-
luartes , e muralhas^ fe lattçárâo no foíTo, em quê
perderão a maior parte as vidas , além dos mui-
tos , que não fugindo , as deixarão nos £os da ef-
pada de Pedro Mafcarenhas, o qual dava fim a ef-
ta memorável hiftoria , dizendo : Cr^io os encheo
de horror a vijla dék minha defcompojiura , pdrqtie os
animaes temem y e refpeitâo os homens mis. Intentou*
o Rei caiar fua filha primogénita a Senhora Infan-
' te D. Ifabel , Princeza jurada herdeira defies Rei-
nos, com o Duque de Sabóia feu primo, chamoa
a Cortes^ e nellaa fe^ dilpenfou a Lei .fundamental
das de Lamego, que probibe çafemcom Príncit:)esí
eftranhos as filhas herdeiras defte Reino : prepa-t
roíi-fe a mais luzida Armada, cuja Capitania cfaa-i
niárão Monte de ouro, porque na realidade o re-»
prelçntava , n^çUa foi o Duquç do ÇadavaJ paç^
conduzir o Príncipe, e ó General Pe(&ò Jaq^es de
Magalhães para governar a Armada , que chegan-
do felizmente a Turim , não teve eflFeito o feu dei-
tino , porque eftava o Principe gravemente enfer-
mo: pertendêrão também eíta Princeza os Duques
de Tofcflna j e Parma ; maa Deos que a 3,
tinado para melhor Coroa , a leFOU p iis
de Outubro de 1690 em Lisboa , ond/ ^y^
tada no Conrento das Capuchas Frar tcU
dação da Rainha lua mSi , que fete ■ Im-
bavia falecido em Palhavi , e jazia nr neím»
vento. Em 11 de Agofto de 1687 c ~ar po-
funda Tez com a Senhora O. Mar'^ lina/do,
IhadeFilippeVilhelmo, Eleitor P' , que foi
de Neoburg: foi conduzida a Rair roçai, (\|ae
huma Armada Inglesa , que gov .^fti mau çtt-
de Graffcon Henrique Fitz , fiíh<' .1 . làmi Moafaiw
II. de Inglaterra , a qual entron 1 jou o CafteUo ,
boa a II de Setembro de 1Ó87. 3I D. Fnaãíoa
faleceo em Madrid no primeirt. ..-rcito vinha foo^
Rei de Hefpanha Carlos IL U.. no Alentejo para
xando o Reino a feu fobrihho ijhio feiro em £■»-
Duque de Anjou , neto de LnK inimigoa j entrou
depois em Hefpanha Filippe Vq, &qneouy c qoci-
nomeaçSo ao Imperador Leopo|$ ét Março dei704
fundado em que a Infanta de)!, Pedro acompanhar
Terefa irmã de Carlos defuntq|jMÍ ii opeiaçfiea da
Luiz XIV. renunciara todo «^«IliTa o exerâco ,
feus filhos , e netos podião J|^||ina« y cnjo quar*
Hefpanha. ^ Mmmara as tropas
I ^QJlwyy, porque o
LISBOA, N.offidn» de Miguel M^dfelM* Inglaterra, e
SantoOflkio. Atuo ijí^ em^ng/m^t ICOS MíniA
^40 <tercÍtos na pàSa^
^ h Hefpanhoí de
r o Almci-
t it não dfr-
' 0» " '
;.ijL
( 4^i )
Beira , ganhou algumas povoações fem reílftencia ,
e por ^íHiho Mòníati^, e fdanha a nova, entroa
em Caftélíòbranco , pàflbu em Villa velha o Tejo
em ponte de barcas, rendeo Portalegre , e CafteU
lo de Vide , fujeitando outros lugares menos im-
portantes. Sahio em campanha na Beira ao mefmo
tempo o Marquez das Minas j mandou atacar pe^
lo Conde de S. João a Vilia de Fuente Guinaldo,
fica j e depoíito das riquezas de outras ^ que foi
rendida a pezar da valerofa defeza das tropas , que
a guarnecião , e entregue ao faque fem mais ptt-
da, que a de hum Toldado noflb: aviftou Monfath'
to prefidiado por Francezes , ganhou o Caftello ^
e venceo em campanha o General D. Francifca
Ronquilho , que com todo o exercito vinha foc**
corrello. O Conde das Galveas no Alentejo para
caftigar os damnos, que nos tinhâo feito em San-
to Aleixo j e outras Aldeãs os inimigos y entroa
' no Condado de Niebla , rendeo , faqueou , e quew
mou a Villa de Alqueria. A 28 de Março de 1704
fahio de Lisboa o noflb Rei D. Pedro acompanha-
do de Carlos III. para afliftirem is operações da
campanha na Beira , onde fe achava o exercito y
que governava o Marquez das Minas y cujo quar-
tel General era em Almeida : governava as tropas
Inglezas o General Conde de Galoway y porque o
deSchomberg fe havia retirado para Inglaterra, e
acompanharão as Mageftades todos os leas Minií^
tros , e Corte. Aviftárão-fe os exércitos na páfla-
geni do rio Águeda j e conftando o Hefpanhol de
muito maior numero de tropas do que o Almei-
rante figurava ) aflentárão os Monarcas fc nâo de-
via
ria expor a lium fó lance da fortuna ^ o qne diW-
dido podia melhor confeguir a conquifta de Hef-
paoha íem perda de gente tão valerofa , e neceíTa-
ria. Voltarão os Reis para Lisboa, e continuarão
felizmente os Generaes Portugoezes a guerra | por-
que o Conde das Galveas ganhou Valença de Al-
cântara , neíTe tempo huma das mais fortificadas Pra-
ças j e em trez dias rendeo Albuquerque : no mef-
mo tempo o Marquez das Minas na Beira recupe-
rou a Praça de Salvaterra , que tinha fido empre-
go da ira do Conde deBcrvich , ficando a guarni-
;ão prizioneira de guerra; faqueou o rico lugar de
larça prefidiado por Francezes « demolio os edifi-
cios , e queimou a ViJla. Nefte anno , que era já
o de 1705* 9 entrou em Lisboa a Armada de Ingla-
terra , e Hollanda , que deixando em Lisboa treze
tiáos da fua efquadra, com as mais conduzio o Rei
Carlos IIL a Catalunha , afliftindo-lhe como Em-
baixador de - Portugal o Conde de Afluman No
Outono feguinte pertendeo , íem efieito^ o Mar-
quez idas Minas a conquifta de Badajoz, tendo á
vjfta o exercito Ileípanhol governado pelo Conde
de Tcfle, que nem lhe impedio o valor, e glorio-
fa memoria defta acção a mais rara, nem tâo pou-
co a retirada de todo o exercito para Elvas com
paufii ,.íem dano , lou fadiga* No mefmo tempo
conqiiiftou Carlos IIL Barcelona depois de hum
porfiado fitio, e fendo logo cercada porFilippe V.
por mar com a Armada Franceza, que governava
o Conde de Todoía ,'e por terra com trmta e fin»
CO mil homens do Marechal deTeflfe, todos fe r&*
tirarão apenas chegou o foccorro dos Aliados f
Nn ii fen-
( 4M )
fendo na verdade o que os obrigou à fugir o ra*
Jor dos Porcuguezes, aflfás bem conhecido de am-
bas as nações nos feíTenta annos próximos. A 31
de Março de 1706 fahio á campanha o noflb exer-
cito çompofto de todas as tropas das Provindas ,
e governado em chefe pelo Marquez das Minas :
conquiftou Membrio, e S, Vicente , derrotou j e
venceo o Duque de Bervich , quando intentava de-
fender Brocas, que foi emprego da noifa ira,* reo-
deo a fámofa Praça de Alcântara a 14 de Abril ,
ficando a guarnição prizioneira,~Coria, CaUifteo^
Cáceres , e Trugillo , a Cidade de Placencia ^ on^ '
de fegunda vez triunfou do Duque , que intentava
foccorrelia , a Cidade de Rodrigo , julgada inex-
pugnável , todas as povoações de huma , e outra
margem do Tejo , Salamanca , Ávila , e ultima^
mente com gloria immortal Madrid , qne Fji/ppe
V. havia defamparadò , onde entrou o Marquez ,
e exercito no dia fempre memorável '27* de Junho,
em que foi naquella Corte acclamado Carlos IIL
Efta felicidade das armas Portuguezas'aflbiiibrou
toda a Europa, de forte, que o Summo Pontífice
Clemente XI. reconheceo por legitimo Rei deHcf-
panha a Carlos IIL logo , os Aliados , e inimigos
refpeitáráo o noflb valor, e intrepidez, os primei-
ros derâo parabéns ao nofib invi£lo Monarca ^ e
para os receber dos fegundos', Muley límael Im-
perador de Marrocos lhos deo em huma carta
cheia de refpeito , e temor das nofias armas , fa-
zendo nella memoria da fineza , com qtie oRciD^
Sebaftião expuzera vida , honra , e fazenda para
reftituir o Reino ao Xarife feu parente^ que antes
iem
( 4^5- )
fcm eflFeitò fe tinha valido do patrocínio de HeC-
panha, offerecendo refgate para todos os cativos,
e tudo o que era , e podia ao ferviço do Rei , a
quem tanto refpeitava j quanto temia. O Vifcon-
de de Barbacena , que governava as armas na Pro-
víncia de Alentejo , no meímo tempo rendeo a 20
de Maio Xerez de los Cavalheros depois de ven-
cer o Marquez de Bay y que intentou com exerci»
to foccorrer aVilla, ganhou as de Barcarrota , ÂI*
conchel , Salva Leão , e outros lugares menos con»
iideraveis , com que fe fez refpeitado , e obedeci-
do em toda a Fronteira. Eftâ era a otcaíiâo mais
opportuna para Carlos IIL dominar toda a Hefpa-
nha , eftabelecendo-fe na Corte de Madrid já con-
quiftada ; mas Deos , que tinha determinado para
Filippe V* efta Coroa , para o.Imperador Jofé a
da Bemaventurança , e para Carlos a Imperial de
Alemanha , fez que efte tardafle em vir tomar pof-
áe do throno ; e o Marquez das Minas vendo que
elle não vinha unir-fe com o feu exercito , ao mef-
mo tempo ^, em que os foccorros de França aug«-
tnentavâo o contrario , e algumas Praças conquis-
tadas feguião Filippe V. , fahio de Madrid a buf-
car o exercito de Carlos, que encontrou em Cara»
goça , Capital do Reino de Aragão , que logo o
«cdacnou : determinarão ambos atacar os inimigos
governados pelo Duque de Berwich a 8 de Âgof-
€o; mas vendo-fe faltos de alimentos, e forragens^
fe retirarão para Cinchon, a 15* paíTárão os Alia-
dos, e Hefpanhoeso Te^o^èm pouca diftancia dt
imns a ohtro^ ^ e fem mais operação alguota n6(^
ta eftação^ « aono, tomooqiiKarteifi^JQfita a Valea^
.Tom. VIL Nn iii ça
-• .
( 42^ )
ça o noíTo exercito. Nefte tempo faleceo no Paí^-^
do da Bempofta a Senhora D. Cathariná , Rainha
daGrâo Bretanha, viuva de Carlos IL, a qnal ti-
nha vindo para efte Reino no anno de 1693 , e foi
fepultada em Belém. A 9 de Dezembro de 1706
faleceo no Palácio de Alcântara o SereniíEmo Rei
D. Pedro j contando íincoenta e oito annos e
meio de idade , e vinte e trez de governo , e foi
fepultado no Mofteíro de S. Vicente de Fora: ti-
nha grande eftatura j robuftez admirável j afpeâo
mageftofo ^ cor trigueira y olhos grandes , nanx
aquilino , boca groua j cabello preto : foi dotado
defumma piedade, efta o obrigou a fuftentar o re-
£liíIimo Tribunal do Santo Oíficio contra os que
pertendêrâo em Roma íe alterafle o feu modo de
proceder , e fenteocear : degradou todos os com*
prehendidos em crime de herefia , mandou Mi/Zio-
narios a pregar a Fé entre bárbaros , foccorreo o
Papa Innocencio XL com grandes fommas de di*
nheiro para a guerra contra o Grão Turco Maho-
met IV. , que íitiou Vienna de Auftria , fubjugoa
com vitorias o Rei negro do Congo , mandou po-
voar as Minas geraes | que fe defcubrírão no fea
tempo y inftituio a Junta do Tabaco , extinguia
toda a moeda falíificada , ou diminuída ^ lavrando
^ cufta da fazenda Real outra augmentada : tlcati»
çou da Sé Apoftolica paíTalfe a fer Metropolitano
o Bifpado da Bahia , e fe creaflem de novo os do
Rio de Janeiro 9 Maranhão^ Pekim, eNankim na
China : por nomeação íua creou o Papa Clemen^
te X. Cardeal aCefar deEílrees^ Bifpo Duque de
Laon em 1672^ Innocencio XL aD« Veriffimo de
(4n)
Laocaftre, Inqnifidor Geral em i626y e Innoceficid
XII. a D. Luiz de Sottfa ) Aroebifpo de Lisboa em
1697: mandou para a Convento dejerufalem hoiri
preciofo ornamento bordado de ouro ^ huma no*
tavel bacia de prata para o lavapés y é duas lâm-
padas do . mefmo metal primorofamente obradas ;
e para arderem fempre^ coniignou na Gafa da ín-
dia fuperabundante renda. Fez Duque doGadavai
a D. Luiz Âmbrofio de Mello ^ e a feu irmão D.
Jaime de Mello , Marquez das Minas ao Gonde
do Prado D. Francifco de Soufa y Marauez de
Fronteira ao Gonde da Torre D. JoSo Mafcare*
nhãs , Marquez também ao Gonde de S. João y
Marquez de Alegrete ao Gonde de Villar maior
Manoel Telles da Silva , Gonde de Goculim a D.
Francifco Mafcarenhas, Gonde de Vianna aD.Jo*
fé de Menezes, Gonde do Redondo a D. Manoel
Goutinho y Gonde das Galveas a Diniz de Mello
de Gaftro y Gonde do Lavradio a Luiz de Men*
donça, Gonde deAflumar a D. João de .Almeida^
Gonde de Valladares a D. Miguel Luiz de Mener
zes , Gonde do Rio grande a Lopo Furtado de
.Mendonça, Gonde de Taroca a João Gomes da
Silva, Gonde de Alvor a D. Francifco, e Vifcon-
de de Fonte Arcada a Pedro Jaquez Magalhães.
Do primeira matrimonio tevit fó^&^inceza D* Ifa-
bel , do fegundo lete filhos : o Principe D. João,
que nafceo em Lisboa, e íó viveo dezoito dias; x>
Principe D. João , que reinou , e fuccedco a íea
Augufto Pai; o Infante D. Francifco y^que nafceo
em Lisboa a zf; de Maio de 1691 , é morreo. na
quinta de Gomes Freire junto ás Galdas em ai dê
''^^Êmmim
(418)
Jcdíi9'de 1742 ; o Infante O: Áatairio ^ qve mSxo
em Lfsbok ai ijr;de Março de í6^^; a Inãtata D.
Ttrefa ^ que nafceo em Lisboa a 24 de Ferereiro
de 1696 I e morreo a 16 de Fevereiro de 1704 *
o Infante D. Manoel , que nafceo em Lisboa a 3
de Agoflo de 161^7 ^ a Infanta D: Fraocífca j qnc
nafceo em Lisboa a 30 de Janeiro de 16999 ^^^^
reo a i ^ de Julho de 1736, Teve mais trez £lhos
illegitímos y que deixou reconhecidos : a Senhora
D. Luiza y que nafceo em Lisboa á 9 de ]aneiro
ite 1^79, càíou duasl vezos-^ primeira' com D, Lm
AmbroMO de-Mello^ Duque do Cadáv<il, e morren-
do eftc fem filho» '^ irafou com ftu cunhado o Du-
que D. Jaime 9 de quem n£o teve fucceísáo 9 e fa-
leceo a Jt3 de Dezembro de 1732 ; o Senhor D.
Miguel 9 que haíceo em Lisboa a 1$* de Outubro
de 1699 9 caiou com D. 'Maria Cafimira de Naf^
fab 9 herdeira da Caía de Arronches , e morreo laf-
timofamente afibgado. no Tejo em 13 de Janeiro
de 1724 ; .0 Senhor D. Jofé 9 que nafceo em Lif-
boa a 6 de Maio de ^703 , foi nomeado Arcebif--
po Primar de Braga em 1 1 de Ferereiro de 17399
fagrado na Bafilica Patriarcal a ^ «de Fevereiro de
1741 pelo Cardeal Patriarca, tomou poffe da fiia
Igreja em 23 de J^lho do meTmo ^nno. No feliz
ninado do SenhoriCX Pedro gòvernáráo a Igreja
de Deo6 Alexandre VIL, ClemcntòílX; 9 Clemen-
te X. 9 Innocencio XI. 9 Atexandrei.VIIL 9 Inno-
cencio XIL 9 è Clemente XI. No Imptrio deAIe-
roaoha reinarão Leopoldo L:yJafé.L9 e Carlos
VL>: conquiílir^o os Turcoá a Cidade de: Candim
Capital da Ilha dcfte nomefujeilta aos Venezianos ^
cu-
( 4^9 >
cujo fitio durou vinte e finco mezes : no mefino an-
no canonizou Clemente IX, a S. Pedro de Alcân-
tara j e a Santa Maria M agdalena dè Pazzi. No
anno de 1670 fe celebrou emBruíTellas^ Cidade da
Provinda deBrabante, humjubileo detrez mil ao*
nos em memoria do milagre fuccedido na Frcgue«>
zia de Santa Catharina no anno de 1370, em que
huns Judeos roubando humas hoftias confagradas y
e dando-lhe punhaladas , fahio delias fangue-, pe^
lo que os fez queimar vivos o Duque de Braban^
te : confervão-fe ainda as hoftias com os finaes do
fangue y e todos os annos fe moftrâo ao povo com
procifsáo folemne. Morreo em Roma no anno de
1677 o Padre Ottomano, bem conhecido por efte
nome 9 e pelas fuás muius letras, e grandes virtu*-
des ^ era filho , ou irmão do Imperador de Con&
tantinopla Ibraim y e fisndo- cativo no mar pelos
Maltezes , pedio o baptifmo , e habito de S. Do^
mingos, em cuja efclarecida Ordem viveo, e mor-
reo com fama de jufto. No mefmo anno cercou
Vienna de Âufiria o Grão Vifir Muftaíà por ordem
de feu fogro Mahomet IV. com trezentos mil Tur-
cos , e em 12 de Setembro foi vencido , e dcrro*
tado pelo Rei de Polónia , Duque de Lorena , Elei-
tor de Brandemburg , e de Baviera, perdendo os
Turcos o eftandarte do Império , toda a Artilha-
ria , e bagagem , e o Grão Vifir a cabeça , e vida
por ordem de feu fogro , a quem tinha aconfelha«*
do efta empreza. No anno feguinte . morreo am
Londres Carlos IL, cafado com a Senhora D.Ca-
thariha , filha do Rei D. João IV. , e íegUndo a
fama conftante reconciliado com a Igre^ Romana t
fttC*
(430 )
focccdco-lhcna Coroa feii írmâo o Duque de Yorch ,
chamado Jacobò IL , a quem difputou o Reino o
Duque de Montmout j filho illegitimo de Carlos
IL ; mas prezo , e degoiiado por fentença do Par-
lamento, focegou o Reino até 17 de Novembro^
em que entrou o Príncipe de Orange em Londres
com a mais poderofa Armada , e tirou a Jocoba
IL a Coroa. No anno de 169 1 a 19 de Agofto
venceo o Principe de Badem , General de L€opol^
do L , a celebre batalha de Salankemcnt y na qual
além de innumeraveis mortos, e prizioneiros ficou
toda a bagagem , cento e íincoenta e oito peças ^
quinze morteiros, e os mais preciofos armamentos
dos Turcos, fabricados com nova invenção para e/^
ta campanha. No anno de 1704 £tiárão os Ingle-
ses , e Hollandezes a Praça de Gibaltar por terra
com numerofas tropas , á por mar com oitenta,
náos , e a entrarão a 4 de Agofto : Filíppe V. a íi*
tiou no mefmo anno ', mas logo o obrigarão a le*
vantar o íitio fem efpeito ; o mais ouvireis a feu
tempo , a quem pertenéer , i]ue já nos convida o
gofto de ouvir as gloriofas acções do Sereniífimo
Rei D.João o Grande. Nafceo elle 322 de Outu-
bro de 1689, foi baptizado a 19 deNovembro pe-
io Arcebiípo D. Luiz de Soufa , foi jurado Prin*
cfpe noprimeiro deDezembro de 1697, dia o mais
fanfto para efte Reino por fer o da acclamação de
feu avô o Senhor D, João IV. No primeiro de
Janeiro de 1707 foi acclamadó Rei , fcrvindo neA
ta acção de Condeftavel feu irmão o Infante D.
Franciíco : fegurou logo aos Embaixadores de In*
glaterra , e Hòllanda , que continuaria na mefma
aU-
( 430
aliança, que feu pai tinha feito com o Imperador ^
e mais Potencias , em tefteniunho do que mandou
continuar vigoroíamente a guerra. O Marquez das
Minas , que governara o exercito Aliado em Ca-
talunha , expugnou o Caftello de Vilhena , quiz
atacar os inimigos em Ecla , e Monte alegre ; mas
evjtando-lhe efta acção o Duque de Berwích , fe-
guío o Marquez o caminho de Âlmança y onde a*
campou j e depois em Caudete , onde fe aviftáráo
os exércitos <! e depois de bem difputada a batalha ,
deixou ao Duque com grande perda do feu exer-
cito a vitoria : éfta infelicidade foi caufa de que
na Beira , theatro deftínado para a campanha defte
anno , fe malograíTe a interpreza , e a idéa do Du-
que do Cadaval , que governava o exercito ^ e fe
havia incorporar com o Aliado ; porque chegando*
lhe a noticia do ínfaufto fncceflb de %^ de Abril ^
aíTentárâo que acudiíTem as tropas ás íms Provia-
cias, de que fefeguio perdermos Alcântara; o que
vendo o Duque de OíTuna entrou na Província de
Alentejo, ganhou Serpa, que tinha pouca defeza,
e Moura com brecha aberta , depois de fer valero-
famente defendida porFranciíco de Mello, Senhor
de Ficalho : o Marquez de Fronteira , que já go-
vernava em Alentejo o exercito por aufencia do
Vifconde , fez retirar o Marquez de Bay do blo-
queio de Olivença; mas adoecendo, fe retirou para
a Corte, e o Conde de S.João, que Ihefuccedco,
não pode reftaurar Moura , por eftar bem guarne-
cida, e vir o Marquez de Bay foccorrelía. A9 dô
Julho de 1708 cafou o Rei com a Senhora D. Ma-
ria Anna de Auilria , filha do Imperador Leopol-
do
C 43» )
da I. : cclebroiwfe efte afto em Cloíftre Neobnrg ;
e ^m 17 de Outubro do cnefmo. anão entroii a Rai-
nha em Lisboa-, .conduzida pelo Conde de Villar-
maior em huma luzida Armada Ingleza, governa-
da pelo General Jorge Bings, a quem a Rainha de
Inglaterra tinha recommendado efte cortejo. Nefte
mòlmo annoichegou de:Catalunha o Marquez das
Miuas^e Milord Galoway General das tropas In-
glezàs j e Embaixador extraordinário. Intentarão
as Cortes de França , e Inglaterra feparar o Rei
da grande Aliança com condições ventajofas j (\\it
defprezou o feu incomparável èípirito com tanto
ardor, que fez angmentar o numero das tropas, e
asreduzio a melhor difciplina, extinguindo os Ter*
ços , formando Regimentos , e augmentando in-
comparavelmente o numero dos poftos , e gaftos^
Acabou a campanha deite annó com a valero/â ao-^
ção do Marquez de Fronteira , que á vi&a do Mar-
quez de Bay demolio Valença de Alcântara , de
que fe feguio deixarem os inimigos Moura , e Ser*
pa , e outros lugares , que haviâo occupado na
rrovincia de Alentejo , onde no anno feguiote de
1709 fahio de Eivas o noflb exercito governado
pelo Marquez de Fronteira , compofto de trinta e
finco batalhões , e treze Regimentos de cavallaria ,
e iabendo que o inimigo com toda a cavallaria oc-
çupaya as fearas de Campo maior , paíTou o exer-
cito o Caia , e quando fazia retirar os inimigos ^
que íó buícava , le vio empenhado em huma bata-
lha. .
LI S B o A , Na OfHdna de Miguel Manefcal da Coda , Impreíloc dqt
Saiuo Offido. Anuo 1754.. C^m tydas ^sliccifféis ni$^mi^*
( 433 )
» " »
CONFERENCIA XXXVII.
NEfta batalha ( continuou o Soldado ) pa«»
deceo todo o lado efquerdo do noflo Cor-
po y fendo rotos na primeira linha os In-
glezes com o fen General Galowai , e na
fegunda muitos Regimentos j fem que pudeíTe evi-
tar efta ruina o valor do Marquez , e do Meftre
de Campo General Pedro Mafcarenhas , que fe lhe
poz na frente y acompanhado do Conde de Alvor :
o mefmo padeceo a cavalleria da fegunda linha ^
fem a poder voltar o esforço do Conde da Ericei-
ra ; e o mefmo (uccedeo á do lado direito , que
governava o Conde de S. João j que ficou prizio-
neiro ^ e o Regimento de Dragões de Traz dos
Montes desbaratado : a Infanteria do lado direita
he que feconfervon impenetrável com grande per-
da do inimigo , fuftentada pelos Generaes D. João
Diogo deÂtaide, e D. João Manoel de Noronha ^
que íem perderem a forma íe retirarão com elU
para Campo maior : tivemos oitocentos homens
morros y e feridos y ficirâo dous Regimentos In-
glezes prizioneiros y fendo igual a perda dos ini-
iritgos* Continuava Carlos IIL com profpefo íuc*
ceuo a campanha em Catalunha y de forte que no
anno de 1 710 a 27 de Julho atacou o exercito ini«
migo junto ao rio Nogueira, que fervio de memo«
ravel fepulcura aos que efcapárâo dos fios das ef-
padas Portuguezas , deixando a Carlos a vitoria
com toda a bagagem « e artilhería. Succedeo lo«
Tom. VIL Oo go
f<
( «4 )
O o choque de Cundafnos junto a Aragão , a que
e tègjãiq i bafai Ka de Ç^r^g^Ç^^ úijc gifthimo^ a
ao de Àgofto com^Toria immòrtal dos cfous Ge-
neraes Conde de Aífumar , e Conde de Atalaia , e
do Marechal Guido Baldo , Conde de Eflarait^berj; y
que mandava as tropas Aliadas, eque ajndado fín-
oularmente dás noflTâs venceo a batalha de Villa-
Yiçofa a IO de Dezembro. Na Província de Traz
dos Montes tivemos a infelicidade de occiípareoi
6s inimigos a Praça de Miranda , fem mais difpen*
dio, que o vil preço , porque avendeb aosHe(ipa-
Ahoes hum Portugnez rico , que entre elles acabou ,
pedindo cfmola com fummo defprezo , pequeno
caftigo para deli£lo tão infame, e execrando. Da*
âui Te feguio penetrarem os mimigos até á Torre
e Moncorvo, tirando groíTas contribuições, que
fe não puderão evitar , porque eftavâo no Alentejo
as tropas , que lhe havião de rcfiftir. Neíla Provín-
cia lahio o Marquez de Fronteira a 30 de Setem*^
bro em campanha, rendeo Xeres , demolio a fop-
tificação, e encravou a artilheria. No mefmo tem-
po em Traz dos Montes Pedro Mafcarenhas to-
mou Carvajales no Reino de Leão, Alcaniças , Sa»
nabria Praça importante , e poz em contribuição
aquelles povos. Os inimigos , que poflTuião Mir|n«*
da , quizerão defaggravar-fç , pedindo huma grande
contribuição aos noiTos povos, que lhe impedio o
General de batalha Francifco Xavier. Intentarão
depois reftaurar por interpreza Carvajales , que de-
fcndeo valerolamente o feu Governador Manoel de
Almeida de Caftellobranco , ficando na empreza
mortos quatrocentos Hefpanhoes^ que mandava o
Mar-
t 435^ )
Marquez de Quiús : fegnío-fe a reftauraçáo de Mi*»
randa , que a 30 de Março entregou ao Conde da
Atalaia o feu Governador D. António de Almeida
Sandoval) ficando prizioneiro commil e trinta Tol-
dados , que tinha de guarnição. Na feguinte Pri-
mavera o Conde de Villaverdc , General do exercií-
to na Província de Alentejo, ganhou Almcndral ^
Nogales , e Safra , fero mais perda que eftragarera
os inimigos entre tanto as fearas de Borba. Nefte
mefmo anno o Rio de Janeiro , que tinha reíiftido
no antecedente á primeira invasão dos Franceses
em 6 de Agofto y foi íáqueado por elles a 13 de
Setembro : retirarão os moradores para o Ccrtâo
o que permíttio o tempo, e comprarão depois a
fahida do inimigo. Morto o Imperador Joíé 9 foi
eleito Carlos III. feu irmão, que íe achava em Bar^
celona , donde paflbu a Alemanha a fer Carlos VL
nó throno Imperial^ coroado em 21 de Dezembro
em Francfbrt : começarão logo as efperanças da
paz , e foi nomeada a Cidade de Utrech para o
congrefib, onde brevemente fe acharão os Embais
xadores de todas as Potencias belligerantes ; mas
entretanto o Marquez de Bay íahio em campanha
no Alentejo , intentou ganhar Barbacena , e Ar*
r«pche« fena eflFeitb 9 e perdendo muita gente nat
duas expedições, emuito mais na retirada para os
quartéis, em que o fegnío , e perfcguiovigor^a*
mente Pedro Mafcarenhas, General donoflb exer-
cito , e Província. Houve logo fufpensâo de ar»
snas entre Hefpanha ,* França , e Inglaterra j qtiè
«andou reíurmat* asÁias trtfpas'^ e ficámos nós fuí^^
iemattdo ÍÒ a guerra ,com a$ nacionaes.. A 2q^dé
Oo ii Sc-
( 43^ )
Setembro íahio em campanha o Marquez de Bay
com onumerofo exercito de oito mil cavallos, dez
mil infantes, trez mil gaftadores, vinte e deus ca-
nhões , dezoito peças de campanha , onze mortei-
ros , cem carros de faxina , e todos os tnftru men-
tos de expugnaçâo : juigou-fe que (e dirigia con*
tra Elvas efte grande apparato militar, que a 28 de
Setembro começou a marchar para Campo maior ,
que governava Eftevâo da Gama acompanhado de
valeroíos Oíficiaes , mas fó com quatro Regimen-
tos j e deíbes fó novecentos e quarenta e iete ioU
dados capazes de peleijar , trezentos paizanos ,
poucos artilheiros, e quarenta cavallos. Em dia de
S. Francifco começou o inimigo os ataques , e nef-
fe pelas dez horas da noite entrou de foccorro na
Praça com valor íiogular , e fortuna o Conde da
RibNsira com trezentos granadeiros , a pezar de
quaíi toda a cavalieria inimiga: com oitocentos ti-
ros cada dia baterão a brecha , de forte c\ue em
▼inte dias eftava capaz de fer enveftida : entretan-
to qniz o Conde da Ribeira encravar a artilheria ,
e mandou a eíTa temerária , ou mais que valorofa
expedição o Tenente Coronel André Ferreira com
Íiuatro Companhias de granadeiros , os quaes ^
el)em não obráráo o que fe defejára , tiverá%.a
gloria de degoUarem nos ataques trezentos inimi-
gos , e ferirem outros tantos , fem perderem mais
que hum Alferes , e finco granadeiros , como ou-
vi a muitos , que feachárâo nefta honrada eaipreza.
Pedro Mafcarenhas^ a quem dava o maior cuidado
cfte fitio, conftando^Uie que o baluarte de S. João
batido com riata c- quatro peças de huma parte %
ediías
(437)
e doas da outra permittia o aflalto y ordenou ao
Brigadeiro João MaíTé y que fizeíTe cortar grande
^quantidade de lenha , e bem alcatroada , e acceza
fe lançaíTe na brecha : fez marchar para foccorro
da Praça trez Companhias de granadeiros , c qui-
nhentos infantes ás ordens do Conde da Ericeira
D. Luiz de Menezes , e do General de batalha
Paulo Caetano , ao que tudo fe juntarão feifcentos
homens dos quartéis de Villa-Viçofa : e para co-
nhecer em EWas, donde fahio o foccorro, que en-
tra vão na Praça com bom fucceflb j derSo final
com foguetes na pafiTagem do Caia, para faber Pe-
dro Mafcarenhas que tinhâo paíTado livres as pri-
meiras íentinellas, as quaes julgarão que erão tro-
pas fuás : o mefmo.fizerâo na entrada da Praça ,
que confeguírâo com a efpada na mão , rompendo
as tropas, que lhes difputárâo ospaflTos; acção tão
rara , que tem raros exemplos na hiftoria. ÂíTaltá-
râo finalmente os inimigos a brecha , e não poden-
do foffrer o incêndio , e valor , com que lhes refif-
tião os da Praça , fe retirarão : fegunda , e tercei-
ra vez intentarão o mefmo obrigados do pejo , e
animados com vozes , e promefiTas do Marquez de
Bay ; porém defenganados de que fó conieguião o
pgrder temerariamente as vidas, deixarão a empre*
za , e levantarão o fitio , ficando no campo , bre«
cha , e ataques dous mil e duzentos homens mortos ^
numero , a que excederão os feridos , não perdendo
mais que fetenta os noflbs. No mefmo tempo que
íe feftejava em Lisboa efta fortuna das noílas ar-
mas , entrou no feu porto felizmente a pezar das
elquadras inimigas a firota do Brazil com íincoenta
Tom. VIL Oo iii mi«
(438)
milhões : a 6 de Fevereiro aíHnárâo os nolTos Ple-
nipotenciários Conde de Tarouca , e D. Luiz da
Cunha o tratado da paz , que foi publicada êm
Lisboa a 6 de Abril dd mefmo anno de 171^. Pa-
ra fer total , e confiante a paz neíle Reino , pro»
hibio logo o noflb Monarca as armas de fogo , ada-
gas 9 e facas , degradou os Siganos y eftabeieceo os
commercios y e premiou a todos os que tinhâo /èr-
vido na guerra com valor, e gloria daNaçáo. Pre-
miou Deos logo efta juftiça diftributiva ^ defentra^
nhando-íe no feu tempo o Brazil em ouro y e pe-
dras preciofas, taes, e tantas ^ como nunca ãs vi»
rão os Reis, e naturaes dolndoftâo, primeira pá-
tria defta incógnita matéria, e geração. Se acaba--
râo as fuás vitorias na Europa., foi para as confe-
guir maiores na Aíia , onde o General do mar ro-
xo D. Lopo de Almeida, depois de ycncidos em
batalhas navaes os Reis do Canará , e Sanda , em
17 17 reduzío a cinzas a Cidade de Porpatane , e
deftruio de forte a Armada dos Arábios , que fò
ficarão poucos, que fervirão de triunfo ao valero-
fiílimo António de Figueiredo Utra em 1719* Se-
guiofe defia fortuna huma fó difgraça , que foi
intorpeíTerem com o ócio os militares na índia ,
porque o Arábio ficou rencido para fempre , aca-
bou-fe a Armada do mar roxo , que fahia todos os
annos a peleijar com aquelle poderofo , e valente
inimigo , acabon-fe a Feitoria do Congo , defca-
hio a riqueza, e abundância da Índia, porque cei-
fou totalmente ocommercio daPerfia; e como na-
quelle ardente , e deliciofo clima fó vive quem
uabalba | morréráo em poucos anooa tantos Cai»
( 439 )
bos j e foi ciados Talerofos , qoâ quando o
Rei João de Saldanha da Gama intentou caftigar
o SardeíTai de Cuddale , já em Goa , como eu fui
teftemunha , fe promettiâo mais Novenas , do que
fe limpavão armas ; mas como a fortuna do noíTo
invjfto Monarca 9 e o feu agigantado efpirito pa-
rece animava aos feus vaflallos em todo o mundo ^
conquiftámos Bicbolim , que fendo importantiffi-
ma 9 como depois conheceo Portugal , fe largou :
queimámos Peligâo, Maim ^ e outras povoações y
e ceATárâo as vitorias , porque concedemos ao Sar»
deífai a paz. Annos depois hum temerário defcui-
do do General do Norte o perdeo todo , fem baf*
tarem para atemorizar o Maratá a noticia das fa«
canhas do Conde de Sandomil 9 a prefença do in^
comparável António Cardim Froes , e os fubíidios ^
que o Rei mandou de Portugal , eípecíalmente o
que acompanhou ao Conde da Ericeira , que foi
fucceder no governo com igual, ou menos fortu*
na, porque acabou a vida, quando a índia com a
fua amabiliflima prefença efperava ver-fe reftaurada.
Ficou para o Conde deAíFumar eíFa gloria, que fe
não reftaurou o Norte , que fó fe lhe fazia mais
dijfficultofo por diftante , conquiftou Alorna, fem»
pre avaliada por inexpugnável , Bicholim igUaU
mente proveitofa pela fua Alfandega , em fim toda$
as Praças, que faziâo ao SardeíTai rico, e por iíTa
atrevido , e poderofo , e fizerâo defde então rica
a Coroa naquelle Eftado, que nunca feria diminui^
àoy íe foíTe junto; nunca lhe ufurparião as nações
da Europa , e Aíia tantos , e tão grandes domi.
BH>8^ fenâo foflem aeceflarias Armacks ^ e munçóes
de
( 440 )
de tempos para foccorrellos j quando forão ataca-
dos. Na Africa triunfou o noíTo Rei ao meímo
tempo y porque o General D. Joáo Manoel de No-
ronha venceo y e domou , até pedir a paz , o re-
belde Principe negro deCaconda, vizinho deBen-
galla : o Tenente Coronel Rafael Alvares da Sil-
va venceo em trez batalhas ao Imperador Mono-
motapa, ouChangamira, vizinho de Sena: o Te-
nente Coronel Anfelmo de Moraes teve a mefma
fortuna, e além diíTo venceo, e matou ao celebra-
do Apoftata facrilego , que nem merece fer noroeti-
do j terror de todas noíTas Conquiftas no conti-
nente do Monomotapa , e profanador das Igrejas
de toda aquella Mifsâo, cujas alfaias fagradas fer-
vírâo de librés aos negros , que o carretarão para
a ultima batalha, em que foi vencido, e morto a
punhaladas por Aníelmo de Moraes. Na Amer/ca
triunfou o noíTo Rei na Colónia do Sacramento y
onde António Pedro de Vafconcellos , e JoCé da
Silva Paes alcançarão muitas vitorias , e taes , que
baftárão para nos rogarem depois com a troca de
muito mais extenfas , e defejadas terras. E para
que a Europa não julgaíTe que a falta de guerra
diminuia o brio dos vaÓTallos , que gozavão a fua
prefença , duas vezes triunfou do Grão Turco y
inftado pelo Papa Clemente XI. , que vendo já con-
quiílada Morea aos Venezianos , e ameaçada allha
de Corfú pelos mefmos Agarenos , íe valeo do
hoíTo fempre invi£lo , e Augufto D. Joáo o Gran-
de , por hum Breve expedido a 1 8 de Janeiro de
1715' , em que lhe pedia acudiíTe a efte perigo da
Chriftandade y o que elle fez com huma Armada f
que
( 441 )
que fahio de Lisboa em j de Julho do mefmo aiv^
no, c fe recolheo em 2$ de Novembro com a gloi-
ria, de que tendo o Turco noticia dcfte foccorro,
levantara ofitio daquella Ilha, que defendia o Ma-
rechal de Scoulembourg. No anno de 171 7 foi fe-
gunda vez amefma Armada, governada pelo meí»
mo General o Conde do Rio Grande, o qual avif-
tando a Armada Ottomana , que fe compunha de
vinte e duas Sultanas , vinte e féis navios de Ale-
xandria , e Barberia , fe poz em linha , e fem fahk
delia tolerou dez horas o fogo de toda a efqua-
dra inimiga , fazendo tal efirago em toda ella , que
nos deixou , depois de rota a lua linha, com a per»
da de muitas Sultanas, e náos, amais memorável
vitoria naval defte feculo, aíEftindo ao longe doas
navios de Malta , e huma fragata Veneziana , que
fó forâo teftemunhar o valor , e zelo , com que o
noflb Monarca era obfequio da Sé Apofiolica , e
bem da Chriftandade defendia os Eftados da íiia
Republica. No anno de 1716, á inftancia do Au»
gufto Rei D. João o Grande , eregio Baíilica Pa*
triarcal a Capella do Paço o Papa Clemente XI. ,
€ foi feu primeiro Patriarca D. Thomaz de Almei*
iia j que antes fora Bifpo de Lamego , e do Poiw
to , Chanceller daquella Relação , e Governador
das Armas, dignidades, a que precederão outraa
muitas. Extinguio a antiga Collegiada , e em feu
lugar entrou a celebrar os Officios Divinos hum
novo Cabido , compofto da Nobreza do Reina ,
e á imitação do de Braga , e outros muitos da
Europa : concedeo o Papa a todos vcâes PrelatH
cias 11 e ufo de Pontifical com o tratamento de Sfh
iiho«*
( 44^ )
«hom Illuftriílima , que então fò tinliSo os Bifpos : e
para melhor harmonia no governo, por Decreto de
1^ de Janeiro de 17 17, dividio o Rei a Cidade de
Lisboa em duas, feparando o governo efpiritual)
c temporal de ambas. Por Bulia de Clemente XII. ,
expedida a oito de Fevereiro de 1738 , fc unirão
ás rendas defta Santa Bafilica certas partes dos Bií*
pados, e mais Benefícios grandes do Reino, com
faculdade para fe inftituirem novas prebeodas com
diverfos titulos : e em virtude defta concefsão o
Patriarca já então Cardeal , crcado a 20 de De*
membro do anno antecedente , com confentimento
do Rei nomeou Principaes , os que antes íe cha-
mavâo Cónegos , e creou de novo fetenta e dous
Prelados com differença de ordens entre Presbytc-
ros, Prothonotarios , Subdiaconos, e Âcolythos^
vinte Canonicatos , trinta e dous Beneficiador , e
trinta e dous Clérigos Beneficiados , todos do Pa-
droado Real , a que fe juntou hum grande nume*
ro dos melhores Muficos nacionaes , além dos já
antigos Italianos , e com grande renda todos* O
tneímo Papa cedeo ao Rei em 8 de Março de 1737
para fempre a Sé Oriental , dando-lhe o Padroa*
do , e nella eregio aquelle Augufto Monarca a Ba-
filica de Santa Maria com novas Dignidades , e
Capellanias, compondo hum fò Cabido com aPa^
triarcal, para o que unio as duas Cidades por hum
Alvará de 3 1 de Agofto do mefmo anno , e extín-
^uio o fegundo Senado, que no tempo da fepart-
ção houve na Caía de Santo António. Em quanto
iè occupava neftas gloriofas fadigas , e na conti-
nua de enriquecer a Bafilica Patriarcal com o mais
prc*
( 443 )
preciofo thefouro devafos, e alfaias fagradas, què
fe vio na Europa, edificou a Baíilica deNoíTa Ser
«hora, e Santo António junto a Mafra, Conven-
to de Religioíos da Provinda da Arrábida , cerca*
do de dons Palácios Régios , e iromediata á cerca
ha huma excellentiíEma tapada , obra , que depois
de competir com as melhores , de que ha noticia ,
tem devido as primeiras attençôes á fama. E por-
que o feu incaníavel efpirito nem dividido em mui*
tos empregos era menos vigorofo , quando o cui-
dado deftas grandes obras o podiâo divertir de
outras , então fe occupou na erecção da Acade»
mia Real dasSciencias ; na fundação do Convento
do Louríçal de Religiofas da primeira Regra de
Santa Clara, comLaufperenne; na reedificação da
Praça deCampo maior, aquém deftruio hum raio;
e na do Convento das Commendadeiras de_ Avis ,
a quem abrazou hum incêndio ; na fabrica da Ca»
pclla de S. João Baptifta em S. Roque , de pedra
lapislafuli a maior parte , e com trez painéis de
obra Mofaica ; na de S. Benedifto em Xabregas ,
a quem feu Augufto pai a havia promettido ; na
fabrica da Igreja , Convento , Palácio , e Claítes
para eftudos de NoíTa Senhora das Ncceífidades ;
em fim o novo Hofpital , e banhos nas Caldas^da
Rainha; a fabrica da feda na Cotovia; e os Trens
de Eftremoz, e U^boa. Nada difto lhe imredía o
eftudo da Mathematica , para o que mandou bnf-
r^fl^n^ ^í!r ^'^/"^ ' ^"ft^^^^ inftrnmento.,
affiftmdo á obfervação dos eclipfes , e pftm. O
IST/r."? ' ^*"^^ ''^ e difpendio lhe devêríò
ípda6 aslçieoaaa, e artes, em que foi perito, ma„^
dan-
( 444 )
dando vir de Inglaterra, e França todas as maqui-
nas neceíTarias para a explicação daFiloíofia expe-
rimental chamada moderna j fendo a mais antiga ^
e para a Cirurgia. Fundou a Cadeira de Contro-
verfias na Univeríidade de Coimbra , cujo primei»
ro Lente foi o Doutor Fr. Nicoláo Valefio , Ere-
mita de Santo Ágoítinho : e quiz mandar fora do
Reino os melhores Anathomicos j para nas ob/cr-
vaçóes de Mompelher , e outras Cidades | em que
mais fe applicâo os Cirurgiões, fe fazerem os nof-
fos iníignes , c memoráveis ; e fe não teve effeito
efte feu defejo , foi porque elles lhe fouberâo per-
fuadir que labiâo tudo. Âccrefcentou a Capella
de feus avós os Sereniílimos Duques de Bragstnça
no edificio , aflfeio , riquiílimo thefouro de vafos
fagrados , e alfaias precioíií&mas , grande numero
de Capelláes, eMuíicos com groíTas rendas, tor-
re com muitos íinos , que fonoramente im/táo no
toque á Baíilica Lateraneníe : e ultimamente no-
meando Bilpo Capellâo mór delia , e Deão o Se-
nhor D. João da Silva , que fora antes Cónego j
e Vigário Geral de Braga. O mefmo cuidado lhe
deveo a Igreja de Santo Agoftinho de Villa-Viço-
ía dos Eremitas do mefmo Santo , fundação tão
antiga , que já no tempo do Santo Condeftavel
Nuno Alvares Pereira foi reftaurada i fua cufta , e
defde então do Padroado , e Cafa de Bragança y
cujos Duques forão Priores daquelle feliz Conven-
to , Padroeiros de toda a Ordem Auguftiniaoa , e
nelle jazem fepulcados em primorofos maufoleos.
LISBOA, NaOffidna de Miguel Maoe (cal daCofta, Impfeffot de»
Santo Offido. Aono 1764. Cmt^jhêMU^^S^Ji^^jf^J^
( 44f )
CONFERENCIA XXXVIII.
PÂra o notável Cruzeiro defta Igreja de San-
to Agoftinho deVilla-Viçofa, (continuou o
Soldado ) fundado novamente pelo Senhor
Rei D. João IV. j e acabado por feu filho
D. Pedro II. y mandou o liberaliíEmo Rei D.João
o Grande quatorze buftos de Santos da mefma
Ordem , feitos em Roma , de prata finiílima j efta-
tura agigantada , e groflTura mais que de pataca
antiga Uefpanhola, Cruz , e féis caftiçaes do mef-
mo metal de onze dinheiros , todas peças as mais
altas , e groíTas j que ha neíle Reino daquelle gé-
nero^ e ló proporcionadas para encherem com os
féis buftos a grande banqueta do Altar niór y que
fendo para tão grande Capella proporcionado, he
o maior do Reino : e para acompanharem os oito
buítos dos dous Altares coUateraes mandou doze
cajQiiçaes , e duas Cruzes do mefmo metal de onze
dinheiros,, proporcionados ás banquetas, tudo com
as Armas Reaes primoroíiífima mente lavrado , e
conduzido com capas de bombazina em caixas for-
radas por fora de carneira, e por dentro de pelli-
ca encarnada, eeftas em outras de madeira pintadt
como armários , acompanhado tudo de preciofos
ornameotos , pavilhões de Sacrário , pannos dos púl-
pitos, e livros do Coro, fem numerar o continuo
dífpendio em fundir fínos, concertar ruinas detém*
peáades ^ e outros.. beneficios. , que com fumma ^
Real, .e igual liberalidade contiwU feu filho nof-»
Tom. VIL Pp • fo
C440
fo Fideliílimo Augufto Rei D. Jofé I. Por carta
circular firmada da íua mio em 12 de Novembro de
1717, mandou o Rei D. Joáo o Grande a todos os
Prelados das Cathedraes , e Collegiadas celebraf-
fem com a maior folemnidade , e fagrada pompa a
ícfta da puriíEma Conceição da Virgem Maria nof*
ia Senhora , a quem fen Augufto avo fizera Padro-
eira do Reino. Feftejou á íua enfia com Real ma-
gnificência as Canonizações de S. Luiz Gonzaga ,
Sanro Eftanislao Koska^ S. João Francifco Re^^
S* Toribio Morovejo , S. Peregrino , e S. Vicente
de Paulo y Fundador dos Clerigo;^ Regulares Miífio-
narios y dando-lhes ao mefmo tempo licença y íi-
tio^ e dinheiro para fundarem o Convento deRí-
Ihafoies y aíEfiindo a todas eftas íunçdes ; e ultima-
mente a de S. Camillo deLcliis^ que mandou fef-
tejar com igual liberalidade trez dias na Igreja do
Hofpical. B porque cfte Reino , e todo o mundo
era pequena esfera para adequar a fua liberalida-
de , e beneficência , chegou efta ao Purgatório ,
mandando dizer todos os annos muitos mil croza>*
dos de MiíTas de doze vinténs de eímola pelas AI«
mas , e alcançando do Summo Pontifice Benediâo
XIV. faculdade, para que todos os Sacerdotes do
feu Reino, edominios pudeflem celebrar trez Mif»
^ fas no dia de todos os Fieis defuntos pelas Almas
delles. Enriqueceo com preciofos ornamentos , e
armação de veludo , boraado de ouro com as fuaa
Armas y a Igreja do Santo Sepulcro de Jerafalem.
Fundou novamente a Igreja dos ReUgiolos de S.
Francifco de Badajoz com tal liberalidade , e mag-
nificência^ que £esi pafmar Hdfpanba^ e fem outro
(447)
motivo 9 que pedir-lhe o Giiardião daqnelle Con«
vento htima cfmola para as obras delia : beneficio
que experimentarão outras muitas da mefma Or-
dem , e nação , que no tempo da íua doença lhe
mandarão alfaias de imagens milagrofas. Não ca^
be nos termos de todo o encarecimento o paternal
cuidado y que tinha de feus vaíTaltos : além dos
muitos contos, que defpendia em remediar pobres
pelas mãos de muitos thefoureiros j e efmoleres
occultos , aíliftio a todos os enfermos pobres de
Lisboa no contagio de 1723 com Médicos y Ci»
rurgiòes , remedips , e dinheiro : o mefmo nfoa
com os moradores de Campo maior j apenas lhe
confiou o incêndio de 1732 : e com os do Campo
de Ourique na laftimofa efterilidade de 17349 foc*
correndo-os com dinheiro , e alimentos. Com fum*
mo difpendio juntou no íeu Palácio a mais nume*
roía livraria de exquifitos Authores antigos, e mo*
dernos, enobreceo o Palácio de Villa-Viçofa , e o
da mefma Cafa de Bragança em Lisboa com edifi^
cios , e admiráveis pinturas : eftimou eftas , e os
feus artífices naturaes , e eftranbos , de forte que
8 todos os infignes fes ditofos, e ricos: íó Ronit
pôde dizer, o que nclla defpendeo, e os milhões^
com que a augmentou. A' fua iiÀancia creou a
papa Clemente Xf, o Bifpado do Grão Pará , ca*
ja Catfaedral mandou o Rei edificar á fua cufia , e
adornou como coftumava , nomeando para feu pri^
cneiro Bifpo o Senhor D. Fr. Bartholomeu do Pi-
lar , Religiofo Carmelita Calçado, Por nomína
fua forâo creados q«atro Cardeaes nefie Reino :
Nuno da Cnnba In^uifidor Ge»l ob 16 da Mar*
Pp ii ço
( 448 )
ço de 17x2 j D. Jofé Pereira de Lacerda Bifpo do
Algarve em 19 deNovembro de 1719 j ambos por
Clemente Xf. : D. João da Mota e Silva por Be-
nedito XIII. a 9 de Dezembro de 1726 , c D.
Thomaz de Almeida Patriarca de Lisboa ^ e Carw
deal nacional, dignidade para fempreanncxa á pri-
meira por Clemente XIL a 20 de Dezembro de
1737. Era infatigável noeftudo, e obíervancia dos
fagrados Ritos 9 e a elle íe dcveo o defengano de
que era grande , e intolerável abiifo nefte Keino
ter o Santiílimo Sacramento expofto cm Cuftoà\a
no dia, e noite de quinta feira íanta contra a Ru-
brica do MiíTal Romano, Ceremonial dos BifpoSf
e Decretos , dizendo que era privilegio das Hef-
panhas, coufa inaudita , e que nunca houve , co-
mo o Rei mandou publicar pelo Padre Fr. João de
S. Joíé do Prado , primeiro Meftre das Ceremo-
nias de Mafra , na Semana fanta illuftrada. No an-
no de 1725' ajuftou o Rei D. João o Grande o ca-
famento de feu filho o Príncipe D. Jofé com a Se-
nhora Infanta D. Marianna Vitoria , filha do Rei
de Hefpanha Filippe V; , e a Senhora D. Maria
Barbara coro o Prmcipe das Afturias D. Fernan-
do , fendo Embaixador na Corte de Madrid o Mar-
quez de Abrantes , e na de Lisboa o Marquez dos
Balbazes : celebrarão- íe os defpoforios do noflb
Principe em Madrid , e os do Principe . das Aftu-
rias na Santa Bafitica Patriarcal. Concordarão os
Reis no tempo y em que fe havlâo mutuamente en-
tregar as Princezas , e partio de Madrid toda a
Corte de Hefpanha em Dezembro de 1728 , o nof-
lo Augufio Monarca (ahio de Lisboa a 8 de Janei*
ro
( 449 )
ro de i7t9 com toda a Família Real, e Nobreza,
o Cardeal da Cunha , e o Patriarca com grande
5 arte do feu Sacro CoUegio^ e paflados nove dias
e feliz jornada , entrou em EIvas« No dia da en«
trega fe yíráo , e cumprimentarão as Mageftades
em hum magnifico Palácio , fabricado fobre o rio
Caia , limite das duas Monarquias j e acabou á
conferencia levando cada Rainha a Princeza , futu«
ra herdeira da fua Coroa. Em 28 de Fevereiro en-
trou em Lisboa o Rei com os novos Efpofos ; e
por cerco nâo vio Roma applauíos, e arcos triUn-
faes táo ricos nas entradas y e triunfos dos feus Im--
peradores vifloriofos y como então admirarão os
naturaes j e eftranhos. Teve o Rei a coftumada
providencia de obrigar com muitas mil MiíTas as
Almas do Purgatório, para que ihe alcançaflem de
Deos boni tempo em todo o da jornada , e triun-
fo 9 e com effeito admirarão os noflbs olhos os
Ceos encubertos , e as nuvens cheias y fem diftila-
rem buma fó gota em todo o tempo neceflario
para efta funçáo luzidiíSma. Continuoii efta nova
aliança entre o noíTo Rei , e o de Hefpanha y até
que efte começou a perturballa primeiro com a
uíurpaçâo de Monte Vidio, logo com a dífputa da
nova Colónia do Sacramento cedida no tratado de
Utrech, e ultimamente com adefattençâo feita em
Madrid ao Plenipotenciário defta Coroa Pedro Al-
vares Cabral , a quem o Prefidente de Caftella
mandou prender os criados dentro no feu Palácio y
quebrando aimmunidade maior, e direito das gen-
tes y e faltando á de;vida fatisfaçâo defte attenta-
do: oqnefabendaoQofibRei Ao^ftq^ prpcedeo
^Tom. VIL Pp iii com
( 45^9 )
C9m diferente : moderaçáô^; com o Embaixador do
Kei CathoHco q Marquez, de Capeceiatra y ãitidm
que lhe maodoa prender os criados: e paíTacido lo«
go a Londres por Enviado Marco Ámonio de Aze^
vedo, fez que expedi0e o Rei da Cirâo' Bertaiiht ^
aniigo:^ efideliffimo Aliado ^ hiuna poderofa Ar«
nada compofta de vinte eilnco náos de linha, bur«*
lotes de fogo , e outras embarcações governada
pelo famofo Almirante Henrique Noris : e oomeA
IDO tempo reclutadas as tropas y fe viráo em cam«
panlia quarenta mil foklados noíTos, e outros ttci-
tos Auxiliares também pagos , fendo General de
todo efte corpo D. João Manoel de Noronha Con^
de da Atalaia, General daCavalleria D. Pedro de
Almeida Conde de AíTumar , e da Artilhetia D»
António Telles da Silva y porém Inglaterra , ^ae
ceíTc tempo era neutral na guerra y que França^ a
Hefpanha faziáo ao Imperador em Alemanha , e
Itália, empenbou*íe em evitar efta guerra, confe-%
guindo com França ,: e os EAados Geraes a £u&
peasao defte rompimento , e harmonia entre os
dous^ Monarcas xto noefmo anno de i735'« Adoeceo
gravemente o Rei ^ fegundo jnlgáráo os Médicos^
de parlezia em 8 de Maio de 1742 : vio-fe com:^
pafmo das nações eâranhas o exceilb, com que os
Portugueses leaes arnSoaosíeus Reis, enaturaes
Senhores , nos extremos de íentinnento , que en-
tão obrarão em Lisboa f e todo o Reino ^ implo-
rando a Divina mifericordia , e clemência , para
que lhe déflfe faude , e dil^afle a vida , que Deos
IhecoiKedeo oito annos, nosquaes foi ofeu maior
«mprego wgmeour le.rirtudea^. que fempre tiver
( 4f X )
ra , e i^raticára j dando*1he pór mènós occupádor^
máfior exercício , até que a 30 de Julho de 17$^
efttrcgou ao Cfeador aqaelle-cfpirito , que tirado
ao corpo parece qile fó vivia para ibe dar culto j
e jaz lepultado em S. Vicente deFóra.. DaSerenit-
fitna Rainha D, Maria Anna de Auftria , íua unict
Efpòfa y que faleeeo quatro annos depois em B»
lém a 14 de AgoftO de i7S4 j e jaz cmS. João Np-
pomuceno 9 teve íeis filhos : a infanta D. Marra
mrbara y que nafceo a 4 de Dezembro de 171 ' f
foi Rainha de Hcípútíb^y e lá faleeeo: D: Pedro ^
Príncipe doBrazil^ que narfceo a rp de Outubro d«
2712 y e morreo em 29 de QtKubro de 17x4^ fie^
pultado em S. Vicente de Fora: o Serediffimo Se-^
nhor Rei D. Jòfé I. noflb Aogufto ^ e feiicífllmo
Monarca^ que Deos profpere, e guarde para con*
folaçâo y e amparo de kus leaes vaflallos y o qual
nafceo a 6 de Junho de 17149 e fdi baptizado a 27
deAgofto pelo Cardeal daCimha^ Capelláo mor^
começou a reinar em 31 de Julho de i7SO^ foi bo*
clamado em 7 de Setembro do roefmo anno : o io^
fante D« Carlos , que nafceo em doiís de Maro de
2716^ e morreo a 30 de Março die 1736, fepulta^í
do em S. Vicente de Fora : o Sereniffinfio Infante
D« Pedro^ que nafceo a 5 de Julho de 17 17 j foi
baptizado a 29 deAgofto pelo Patriarca de Lisboa'
D* Thomaz de Almeida > forâo feus Padrinhos or
Papa Clemente XI ^ e a Infanta D. Maria Barba-»
ra y fui irmã ; calou com a Sereniflima Princeza dtf
Brazil) herdeira doReino> em 6 de Junho de 1760^
e delia teve o noflb defejado de todas as getiteá
( como fe VÍ9 na alegria do íen nafeímentx) } o Se«^
re*
•s
( 45^1 )
^niíEmo Príncipe D. Jofé a 21 de Agofto de 17^1 ;
•o Infante D. Âleiandre , que nafceo a 27 de Se-
tembro de 1723 , é morreo a 2 de Agofto de 1728 y
/epultado em S. Vicente de Fora. Pez Duques de
Alafóes a feu fobrinho D. Pedro Henrique de Bra«
ganca e Soufa , e a fua mãi ; ao Ck)nde de Villa*
▼erde Marquez de Angeja ; ao Conde de Santa
Cruz Marquez de Gouvea ; ao Conde de Vimiofo
Marquez de Valença , e a feu filho Conde de Ví-
jnioío j continuando-lhe o tratamento de fobrinho ;
e com elle fez Marquez de Abrantes ao Marqutx
de Fontes 9 e a íeu filho Conde de Penaguião fez
Macquez.de Fontes 9 e depois de Abrantes: a D,
Luiz de Menezes quinto Conde da Ericeira ((|ue tír
nha fido Vice-Rei na índia com fumma teliadadé,
e fora roubado na Ilha de Mafcarenhas pertencente
a França no Oceano Indico j e contracofta de Afirim
ca por hum Coflario Francez , que rendeo a náo
totalmente deftruida de huma tempeilade , ancora*
da y efem gente) fez Marquez do Louriçal , quan*
do fegunda vez o mandou Vice^Rei para a índia
a fucceder ao Conde de Sandomil Pedro Mafcare-
nhas , e reftaurar o que inculpavelmente fe tinha
perdido no feu governo ; e a feu filho fez Conde
da Ericeira, e depois Marquez do Louriçal, hoje
Governador, e Capitão General do Reino do Al-
garve, onde he amado de todos , como pai beni-
gno , e compaillvo com o maior extremo , que fe
Tio entre Governador , e fubditos : ao Senhor de
^:ouvea fez Conde do Redondo ; ao de Víraiolo
londe da mefma Villa ; a D. António dê Almeida
Conde do Layr.adio.de juro ; a D. João. Diogo de
Atai-
( 45^3 )
Ataidé Conde de Alya ; a Vafco Fernandes Geíar
Conde de Sabugoía>, o depois a feu fiího Luiz Ce-?
far ; a Pedro Malcarenhas Conde de Sandomil j
quando o mandou para a índia Vice-Rei , fuccef-
for de Joáo de Saldanha da Gama , que fahio da*^
qnèlle Eftado comefpecial licença, deixando*o ea-
tregue a trez Governadores ; ao Conde de Monfan-
to fez Marquez deCafcaes com tmtamento de fo«
brinho , quando cafou com D. Joanna Perpetua , a
quem deo honras de Duqueza ; a D. João de Bra«
gança Soufa e Ligne , leu fobrinho j deo honras
de Marquez ; ao Conde de Afliimar , quando o
mandou Vice*Rei para a índia fucceder ao Conde
da Ericeira Marquez dòLouriçal lá defunto f Mar*
quez de Caftello novo , e depois da conquifta de
Alorha Marquez da mefma , e a feu filho Conde dè
AíFúmar : a feu fobrinho , filho do Infante D. Fran*
cifco, o tratamento de Senhor D. João, com pre*
cedência a todos os Grandes* No feu tempo rei*
náráo na Igreja de Deos quatro Summos Pontifi^
ces , Clemente XI. , Innocencio XIL , Benediâe
XIII. , e Benedifto XJV. ForSo Imperadores Jo-
íé I., Carlos VI. , Carlos VIL, eFranciíco I. Grão
Duque da Tofcana , cafado com a Rainha de Hun-
gria, eBohemia , a quem os Eleitores regeitáráp
por morte de Carlos /VI.,» pai ,da dita Rainha , e
elegerão o Duque de Baviera , que íendo coroado
em Francfort com exceífivo faufio , diífe fazia os
gafios do enterro , que não tardou muito. Defde
o anno de 1706 até 1714 foi íEurop»theatrod«
xnaior guerra entre o Impeeadqr , ç França , eÂa
perdeo varias batalhas efpecialmente adeRamiles:
no
(4r4)
no meftto anno a 7 <ie Setembro fez o Principt
Eugénio de Sabóia levantar o cerco , que Luiz XI V«
mandou pòr a Turim pelo Duque de la Fevillade,
que perdeo nefta empreza a maior parte das tro«
pas y e toda a artilheria. A xi de Julho de 1708
venceo o Príncipe Eugénio junto a Ordena rda ^
lugar da ProVincia de Flandres, o Duque deMart
bouroug ) General do exercito aliado , e uos On*
ques de Borgonha , e Vandoma y Generaes de Fran-^
ça j que perderão finco mil homens ncftabata\ha«
No anno de 1709 a 6 de Janeiro cahio hum t^o
eípeflb gelo em toda a Europa , que durou norc
femanas , fazendo o principal eftrago em França.
Carlos XII. Rei de Suécia foi vencido por Pedro I.
Imperador da Ruflia , e fe refugiou nas terras do
Turco. Tomou poffe Augiífto iSy throno de Poló-
nia j e lançou fóra delle a Eílanislao ^ a quem Car^
los Rei de Suécia haria introduzido víoíentamen*
te. Em 1 1 de Setembro perderão os Ftance^es a
célebre batalha de Mafaqtiet. Em 14 de Abril de
1711 morreo Luiz Delfim de França , filho único
de Luiz XIV., e de D. Maria Terefa do.Auftria,
Infanta de Hefpânha : feu filho primogénito Du-
que de Borgonha foi reconhecido Delfim , c mon-
reo èm 171 2, pouco depois de fua mulher : deo
Luiíi XlV, o titiilo de Delfim ao Duque de Breta-
nha, primogénito do Delfim defunto, cue morreo
de fincoenta annos , e paíTou o Delfiâa^o ao Dii»*
que de Anjou , irmão do defutito, bifneto de Luiz
XIV», emctfja mefnoridade sovemou França o Du-
que dé Orléaiis. Em 171 y fíkceo em Veríalhea no
t^rimeíro de Setembro ^ grande LuiaXlV. , liareti^
do
( 45íf )
do reinado fetentt e dous annos. No feguinte an«>
oo conquiftárâo os Turcos aos Venezianos a Mo-*-
rca , c o Príncipe Eugénio os cafiigoti , vencen-
do-os na batalha memorável de Petervaradin , ede^
pois lhes tomou a Praça de Trenoefvar. Em i8 de
Junho de 17 17 conquiftou o mefmo Principe Bel-
grado, Cidade capital da Servia ^ evenceooformi-^
davel exercito dos Turcos , quÈ vier ao foccorrella.
Em 1 1 do mez de Dezembro do dito anno morreo
de huma bala o grande Carlos XII. Rei de Suécia ,
no íitio de Frederixhal , e fuccçdeo-lhe no thro»
no fua irmã Ulriqua Eleonora : foi heroe , de que
nunca feefquecerá a fama, e para focego de muitos
acabou na breve idade de trinta cieis annos ávida.
Em 1720 fe eftabeleceo huma fufpénsâo de armas
entre o Imperador , e Filippe V. , em virtude da qual
tomou o Imperador poíTe do Reino de Sicília , com
a condição , de que os Inglezes reftituirião GibaU
tar , e Porto Mahon : e o Duque de Sabóia em atten*
çao ao Imperador fez deixaçâo do dito Reino de»
pois da paz de Badtâat , tomando o titulo de Rei de
Sait^denha. A 30 de Janeiro de 1724 cedeo Filippe Y^
a Coroa de Hcfpanha em feu filho primogénito ^ que
fe chamou Luiz L , que morreo em 3 1 de Agofto
do mefmo anno. No anno de 1728 foi achado em
Pavia o corpo do Exímio Doutor da Igreja Santo
Agoftinito j em hiima abobada debaixo do Presby**
terio, da parte do Convento dos Padres Eremitas >
onde o havia efcondido Luitprando , Rei da Lom*
bardia. E a 29 de Marco do dito anno canonizoa
Benediâo XIII. a S. João Nepomuceno , martyriza-
Úo em Praga noanno de i}9^ pdoRci Venceslaa
He
(4fO
HE tempo ( difle o Theologo ) de vos expli-
car as funçòes Pontifioaes, aífim dosBifpos,
como do Papa , as quaes nunca viftes , nem facil-
mente Vereis ; e como a mais abundante de cere-
monias , e myfterios he a fagraçâo de qualquer Igre-
ja, feja eíTa a primeira noticia. O Papa S. Silvef-
tre foi o Author deftes ritos , aífiftido pelo Efpiri^
to Santo, porque fe bem antes da milagro/a con-
versão, ebaptifmo do Imperador Conftantino Ma-
gno havia Oratórios , e lugares dedicados pata as
funções íagradas, aflim nos Cemitérios, como nas
cafas dos Catholicos , como }i ouviftes nas notí-
cias de Roma , nunca fe erigio Templo regular ,
e publico com Altar de pedra , ungido com Chríf-
ma figura de Chrifto , fcnâo quando o Imperador
Conftantino edificou no feu Palácio Lateranenfe a
primçiraSé , e Bafilica de todo o orbe Catboiico , jc
cAafoi a primeira., que foi fagrada pelo Papa S. SíU
veftre, de que reza toda a Igreja a^db^nez deDe^
zembro com o titulo Dedicação da Bafilica doSalva*
dor , em memoria do feu fantiíEmo retrato , que nel*
Jaappareceorndre dia, como já vos contarão. De^
de então começarão iaé fagraçóes dás Igrejas; enão
obítante (er a mais laboríofa função Eccleílaftica , em
Portugal creio forão innumeraveis as Igrejas íagrar
das, porque as vemos das peiores Aldeãs ,>fe já não
he quedos Fundadores déU as, e Párocos rfal tos de
noticias lhes puzêrâo as mefmas Cruzes , que fó tem^
€ podem ter naá .paredes as Igrejas fagradas ; ou
também o feria , porque naquelle tempo erão ralve^c
Gidadçs. populofas, o que hoje são pnbrits Aldeãs*
I I |■Piy^^^^^^i#^^^<^^^iPiWi^i^*^■^^^
LI5BO A, Na Officin& áe MÍiiuerMaiferckl daCofta, ImpreíTòr dtt
• -Santo Officio. Anuo 176V C«n^t«das mIícch^m n««t]f«nM«
( 4J7 )
CONFERENCIA XXXIX.
Freguezia dos dous bem peqaenos Luga-
res ÂJBÍalye Ramalhal, (continuou oTheo*
logo ) diftante de Torres vedras huma pe«
quena légua j he fagrada , e fazendo eu on*
ze anno3 todas as diligencias para faber que po-
voaçSò grande houvera na quelle íitíó^ ou fe forâo
povoados os montes defertoS| onde eftá fundada 9*
motivo y por que lhe tirarão o Sacrário para huma
Ermida , nenhuma tradição pude defcuorir ^ nem
ver a authentica do Bifpo ^ que a fagrou , porque
julgámos eftava profundamente enterrada 00 Altar
com as Reliquias', acção | que hoje fe faz mais fu-
perficiaL Dous dias antes daquelle ^ em que fe ha
de celebrar a função 9 o Arcediago , ou por elle
qualquer outro Miniftro éo Bifpo | deve avifar o
povo da Cidade, ou Villa, para que todos jejuem
na vefpera , porque o Bifpo Conlecrante ^ e o Pa^
droeiro, ou quem lhe pede que fagre a Igreja, de-
vem jejuar nefle antecedente dia. No meímo de tar-*
de o Bifpo accommoda as Reliquias dos Santos ^
que fe hão de fepultar no Altar mór , em huma
caixa .de metal ,. ou madeira incorruptivel ; mas or«^
dinaWamente ainda efta fe mete em outra de chum-
bo. Com as Reliquias pôe o Bifpo trez grãos de
incenfo, e hum pergaminho, que he a authentica ^
cujo formulário traduzido da lingua Latina, he o
íeguinte: No amo dè N. em tal dia de talmefn yen
ar. Bifpo de Zf. çonfygrei efia Igreja , e Altar dedi^
Tora. VII. Qa ^^-
(458)
caào a S. N.y e nelle fepuJtei as Relíquias dos SantBT
Mariyrts N. , tN. , e concedi neffe dia bmam^ de
Indulgência i^ edahi por diante quarenta dias no anni'-
verjario , fegundo o xojiume da Igreja. N. Bifpo de N.
Ifto feito y c fellado com as iuas armas d peq.iKna
tumulo das Rdiquias o pôe íbbre hum ef(|oife> ou
andor, em alguma Ermida y ôu Capella vizinha •
e quando a hâo haja , em huma de madeira fè/ra ío
para iflb defronte jda porta da Igreja ,:qiie ha de
fer iâgrada ,. fobre decente peanlia aita : e depois
de o cubrír com pan^o rico ^ o SacriMo fórcna o
íepulcro de luzes conforme a liberalidade do Pa-
droeiro y porque a obrigação he fó duas tochas de
cera y e duas lâmpadas. Ifto feito , no meímo lu--
car canta òBiípo com o Clero Vefperas^ e depois
Matinas y e Laudes em honra dos Santos , cujas
Reliquia^ aili fe achâo. Entre tanto osMeftres das
CeremoniaS) e Sacriftas preparâo na Igreja , c Sa-»
criftia o neceíTario para a função do dia fegaiate ,
a faber : Âmbula do Santo Chrifina y e a do olep
dos Catbecumenos y duas libras de incenfo y ame^
tade em grão y turibulo com naveta y e colher ^ fo-
gareiro com brazas y hum vafo com cin!i^ em abun-
dância , de lorte que cubra todo o pavimento da
Igreja efpalhada y hum vafo com fal , outro com
vinho, humAíperforio feito de hervá hy fopo , toar
lhas de liqho groflfo para limpar a meza do Altar ^
cada vez que for neceflario y huma toalha de linho
fino encerado para cubrir o Altar^ ele forem mui-
tos os que íe hão de fagrar y para cada hum fua^
finco Cruzes feitas de rolo mais delgado , algumas
colheres direicas ^ a que chamão c^tulas os Bo<«
ti-
( 4Í9 )
tícanos > para raípar o Altar > é vafo pára as cin<
zas dos rolos j e íncenfo j caí , e arêa miftiiradas
para tapar o (epulcro , colher de pedreiro de pra-
ta para a Bifpo dar principio a efta obra , falva ^
ou bacia do.mefma , em que fe lhe oferece. a ma-
téria , pedreiro para a finalizar , duas tochas parai
acompanharem íempre o Bifpo, bacia, e jarro pa«'
ra elle lavar as mãos , miolo de páo , e toalhas ,
duas libras de feda , algodão ^ oo eítopa fina para'
limpar os oleos , duas caldeirinhas de agua benta y
huma para fóta da Igreja , e outra para fervir na
Presbyterío, toalhas novas para os Altares. Alény
difto fe háo de pintar na Igreja doze Cruzes le-
vantadas da terra dez palmos , trez em cada huma
das quatro paredes > ena cabeça década huma hum
ferra como efcapxila , ê em cada ferro huma vélâ
de onça , huma efcada de madeira* com bons de*
;ráos , e corrimão para o Bifpo fobir , e comino^
lamente tocar todas as Cruzes , as pias dã agua' '
benta vazias, e limpas, e em fim o corpo da Igre-
ja por dentro, e poribra totalmente defemharaça-
do, de forte, que o Bifpo pofla andar em roda' dei-
la fem detrimento. Pela maUhá vem o Bifpo eÁí
habito quotidiano, pergunta fe eftá preparado tu^
doj manda accênder as doze velas das Cruzes , è
pôr o Faldiftorio no. meio da Igreja , arnádo íbbre'
hum tapete: ordena logo que todos, fe retireni da;
Igreja, e fe fechem as portas, efó deixa nella hum-
Diácono veftido com Amifhx, Alva , e Eftola braníp>
ca, í^m Oaimatka, o qual deve eftar aíEm prepa«-
Mdo^ ances que chegne o Bifpo» Ifto feito ^ vai a
Bifpo com o Clero ,..e povo á Capella onde efiio
Qg 11 aa
( 4<5o )
as Relíquias , e feita breve oração tio genniexo^
rio , levanta em voz baixa ^ e fem íolfa a Antífona
dosPfalmos Penitenciaes , que todos rezão de joe-
lhos, e elle entre tanto tira aMurça, toma o A-
miâo^ Alva^ Cinsnio, Cruz peitoral , Eftola, e
Pluvial branco , e Mitra fimples , o que tudo IheF
miniftra hum Diácono ^ ehum Subdiacono com to-
dos os paramentos, excepto as Dalmaticas ; e aca-
bados os Píalmos , precedido dos Acolythos com
tocheiros accezos , e mais Clero com fobrepelU«
zes y caminha para a porta principal da Igreja , que
eftá fechada , e diante delia deve achar fobre hum
tapete outro Faldiftorio, junto ao qual em pé fem
Mitra, nem Bago, levanta huma Antifbna; eaca«
bada pelo Coro , diz a Oração ; e logo tomando a
Mitra, reclinado fobre o Faldiftorio, começa as La-
dainhas , a que refpondem todos , até o veríb ^i^
omni maio , excluíive : então fe levanta o Bifpo y e
benze fal , e agua , com a qual fe toca , e aos cir-
cumftantes , dizendo a cofiumada Antífotui Afper^
ges ; e logo apenas a levanta começa o primeiro
circulo á roda da Igreja , começando pela fua par-
te direita , e lançando agua benta nas paredes , e
alicerfes , ifto he , em o nafcente delias , depois àc
a lançar até onde a pcSde elevar o impulfo do faf-
fope^ acabada a Antifona , canta o Coro hum Ref-
ponfof io , e acabado o circulo diante da porta prin^
cipal da Igreja , tira o Bifpo a Mitra , e diz a Ora-
ção virado para a porta : acabada ella , toma a Mi«
tra ^ e Bago , e çhegando-fe á porta da Igreja fe-
chada , bate nella com a parte inferior do Bago hu-
ma i6 yez ^ dizendo em vos alça 9 verío do PfaW
mo
( 4<íi )
mõ t^'. Jttoiite partas y ér^^y e o Diácono ^ qne d^
tá da parte de dentro , refponde com o íeguince
verío, perguntando: Quis ejl ifte Rex ghriat Co-
meça logo com o Clero ^ e povo o fegundo circu-
lo y dizendo o melmo , e lançando agua benta naa
paredes , e alicerces : entretanto o Goro xranta on^
tro Refponforio 9 e acabado elle juntamente Com
o círculo tira o Bifpo a Mitra , diz a Oração , e
logo tomando a Mitra ^ e Bago^ vai dar a fegun-
da pancada na porta da Igreja , dizendo o mefmo
Terfo, a que o Diácono refponde de dentro o mcfif
010, como fe fegue no Píalmo, e a Bifpo lhe re£«
ponde com orerfo feguinte; DominusfortiSj érc:
deixa logo o Bago ^ toma o Áfperforio , e faz a
terceiro circulo , dizendo o méfmo | canta o Cora
outto Kefponíoríoi ; e acabado o circulo , diz fem»
Mitra wterceíra Oraçilo ^ e logo ^cem ella vai dar
a terceira pancada na porta , dizendo o mefmo; e^
depois de refponder o Diácono : Quis eji ifte Rex
gloria ? refponde. o Bifpo o ultimo yerfo ; Dimi^
nus mrtutum ipfe eft Rex'glgria , é o Coro todd di2 ^
JÍperise^ Aperite y Aperite ^ eiítSo fáí o Bii^ coftf
o Bago huma Cruz grande com braços iguaes núi'
liminar da porta dizendo hum verfo ^ e aberta ell*
diz : Fax buic domui ^ a que rei ponde o DítfCònot
In intfoitu veftro j e todosi dizem Amev^ Entra í^ o
Bifpo com os Meftres das Ceremonias ^ Miniftros^
Cantores, e Pedreiros neceflarios para o fepulcro^
ou collocação da pedra do Altar , feeftá feparad*^
para cubrir o fepulcfo: fica defòra oQero, e po-
vo y fecha-íe a porta , cantão ^e dua9 Antífonas^
eftafido.oBifpoeki^ pé junto aô PaldiAoria com étf^
Tom. VIL Qa iii ^v-
(4»0
Miniftros<9 e Acolythos^ e acabadas ellaa ían Mi^
tra j nem Bago , de joelhos levanta o Hymno : Z^-
iri Creatar Spiritus ; e acabados os primeiros qua-
tro verfos I fe levanta , e fem Mitra efpera alli que
ie acabe. Entre tanto os Meftres das Ceremonias
com OQtroa Míniftcos lançâo a cinza no pavimento
da Igreja em fórma de afpa v ou X , e para maior
commodidade coftuma efta figura já eftar feita com
letras grandes de papelão de todo o Abcedario L^
tino , e Grego , em afpa hum com outro , começan-
do o Grego da parte, efquerda de quem entra na
Igreja até o lado da Epiftola no corpo da Igreja ^
e o Latino do lado direito de quem entra até o
lado do Euangelho , e (obre as ditas \ttns ãrmcs
lançâo a cinsa , de forte que .ficao cubertas. Aca-
bado o Hymoo^ toma a Mitra, reclina^fe noFjal^
diftoirio I t )OSf Cantores começão novamente a La-
dainha dos Santos , repetindo duas vezes o. nome
daqueUe> a quem he dedicada, e daquelics, cujas
Reliquias fe hão de fepult^r no Altar: dito over-
fo : . Úi^ omnibus fi^lihus y (^r. , levanta*fe o Bifpo y
toma na mâo efquerda o Bago, e diz finco verios,
os trez últimos com benção , em qne pede a Deos
vifite aquelle Templp , mande Anjos para afiifti*
rem nelle, abençoe, fantifique, e confagre aqueiia
Igreja , e Altar , e a cada hum refponde o Coro :
Te rogamus audi nos : deixa o Báculo , reclina-fe até
fe acabarem as Ladainhas, diz em pé fem Mitra
duas Orações, levanta humá Antífona, que íe n^
pete entre todos, os verfos do Cântico Benediãus
pelo Coro ; e elle tomando logo a Mitra , e Bago
na mão direita ^ efcreve com elle oa cinza 06 dous
Atâbetos^ pr&drot) Grego y édq)ois ò Latino'^
começando cada httm da parte que já diíTe y e na
mefma afpa, e para ifio fenrem as letras de pape«»
láo , porque facilmente as deícobre com a ponta
do Bago ,.^e faltando elbs , he.grande trabalho a
formatura do Alfabeto Grego, náo obAante o tei
di^té de íi pintado no Pontifical , e maior traba^
Jho para osMeftresdasCeremoniasocompaíTo das
letras 9 e perfeição da afpa. Feito ifto, caminha o
Bifpo até o Altar mór paraiiOifagfar'^ e perto xlel-;
Ip femLMitra,.% flgm BaTO ^iinplorfijrcz vezes o
aâxilío divitiT), dizendo de-joeihos,^e levantandd
cadai vez mais a voz : Deus in adjuttnrium mettm i^^
tende , a que refponde o Coro : ]evanta*fe ao G/ó^
tia fútfi y km Alleluiãj e entre tanto Ihesrbcgâi
ò Faldiftima^ onde-^Ue^emada^coso^Mitra-benz'
a efpecial agua para efia lagraçao y que leva lal ^
Cf nza 9 «e vinho I tudo primeiramente exbccizada,:' é
bento^ y excepto i o viíiho^^^que^fó be bento 9 ea^cjnzá.
Acabada a. wndlo' da agua -com faty!cioK*r^ v^
nho I toma jo -Bifpâ o Baga>Hem'á^|)Ofra da Sne^
ja',ecom aj^arte ipferioi! delle faz ndlâ duasCmé
zes, huma no mais alto ye outra junto ao liminar
tudo da parte de dentro :;e logo deixando o Ba»
go, diz huma dilatada Oraçãp: acabadaélla^vai
com Bago outta vez : para oUgar, émque^benzeo
a fobredita acrua y efemelle com Mitra exliorta em
Latim os affiftenteS) para que peçfo a Dèos íé di*
gne com a íiia benção , (que lança humá vez tó^<!t
com a afpersão daauella agua y fal y cinza y e vi*
nhQifantifiéaiviíquelle Templo : 6 que diroyáffim
como fiftá: con^ a £agfaçâo do Altar y levantan*
da
do* t Ahtifona : ! htrmbút ad altare Det-^ que o Och
to profegue com o Píaimo : jMáka me Deus^ ^c. ^
repetindo-a em cada Tcrfo com fumma pauía: che^
a o Biípo ao Altar ^ e molhando o dedo polVcx
a mâo direita, na agua efpeciai , fiiz huma Crazi
fiooieto da pedra ^ qoe o cobre todo com Oração,
e qnatro bençios ; molha fegunda rez o dedo j e
com elle faz quatro Cruzes nos quatro cantos do
Altar 9 dizendo em cada huma a meíma depreca-
^a^ ' € diípondo-as affim :
i
ifto feito, diz huma Oração fem A(itra, etoman-
do-a logo 5 anda á roda do Altar Tetc rezes, lan«>
gndo. agua henta da ultima benção natneza , é no
ndamento delle; Nor.prtociprâ de cada citculo
levanta a Antífona J^ftrges /que o. Coro profe^
gue com os trez vcrfosfeguintes no Pfalmo Mift^
rere y e em nenhum fe diz Ghria Patri : acabados
os círculos do Altar , faz^ trez por toda a Igreja in-^
tertormente , lançando agua benta .xlar. mefma íorte
oo alto das paredes , e naícente delias , cantando
o Coro huma Antífona. Ifto feito, o Biípo fe pôe
detrás do Altar virado para a porta da Igrga , e
dahi começa hum circulo a toda a Igreja , come-
çando pela parte^direita , e lançando ék tal agua
benta na parte infiicior dafi^ paiedes.:í ^cantando o
Co-
Cõft> liutna Antífonii , e Pfalintt^ àcBÍià o cir-
culo no mefino fitio 5 em que o começou : e logo
dá principio a outro , lançando a dita agua pelas pa-
redes na altura dofeu rofto, cantando o Coro ou-
tra Antífona, é Pfalmo, acaba tto mefmo lugar tf
Oftculo; e logo começa terceiro pela parte e^uer-»
da lançando a dita agua a maior altura das pare^^
des y a que a podem facudir as hervas hvlopos ^ can-
tando entre tanto o Coro outra Ântirana , e Pfat-
mo 9 todos tre% fem Gloria Patri. Acabado o cir-
culo ^ como os outros detrás do Altar ^' v«i direi-
to á porta principal da Igreja lançando a tal aguft
no pavimento j t depois bplca o meio da parede
direita , t vai lançando agua até o meio da pare^
de efquerda ,* piara ficar a ajíjpersâo em forma d&
Cruz 9 vetn logo^ ao meio da -Igreja \ e ahi parado
knça agua para ' a parte do Oriente no ar j logo
para o Occidei^te ^ oepois pára o Norte , e ultima*-
mente para o Sul ^^ç* entre tanto ò Coro íem ce(«
iar canta varias Antífonas competentes a eftas ac«
çôes : acabadas eílas , o Biftío-no mefmo lugar vira^
do para á porta da Igreja di2 duas Oraçfie^, a íe-»
funda dilatada , e com muitas: bênçãos , e no fini
ella bum grande Prefacio , que acaba fubmiífa vo^
ce ^ toma a Mitra , que tirou para as Orações, e
Tai para o Altar mòr, e junto aelle lança ã tal ef-»
pecial«gua benta fúbre a cal, earèa, queos MI-^'
niftros The prefentâo cm v afilha de prata , e cotti
colher de pedreiro do mefmo metaí miftura tuda
com brevidade , tira a Mitra , e bcní&e com Ora«
ção efpécial efta argamafla , que le guarda em' lu^
gar decente^ e to£i a oímís tgw^ de faly cinaa r «
vifthch) qttç.íob^eJQii ^ fe l»nçainiinedil|UQiciite á tc^
da dõ Altar pelojnafcenfcdeljo. lílo feito ^ ?ein a
Crnz,^ e fahe oBifpo em procifsâoa bufcar as R.e«^
liquiaaii e então fe abrem as portas ida Igreja ^ mas
Binguem «ntra«ne)}a j e, fai}m Sacerdote «coippinha
o Bifpo com a.ÇhriÁna. até á porta4:prioQJpiil vpor
cnderfaète a prOcíísao y c ahí fica com a AmbuU ^
e concha 9. ou p^CQOA prompta. Todo o QerA^ c
po iTQ ^qnc até çfte tempo efti iÒra da Igreja | íefii^
ver, «Pttfa. âlgnm$ do maito que: fe. obrou deptro
delia ^ .acoqiparibâo a procíísâo até á porta da Et*,
mtda 9 .onde.eftâo a$ &eli()uiás , mas ninguém en^
tra. Chega o Bifpo 4 porta j e diz Oremos ^ logo
o Diácono FhStamus genua , ajoelhâo todos ^ diz
O Subdiaçono hftvatty e levantâo-íe : ( « ífto mef-
mo tem |}rece()ii^Ta'qua(i todas advOraçôes , c^ue
o Bifpo tem d^to^e precede a outras íeis^ qoe ajiK
da faltâo para dizer ) levantados^ todos ^ e o Bif^
po fem Mitra diz hupa Oração ^ e \ogo toman^r
do^a, entra com. os Sacerdotes ^eGleco n^ Ermi-
da cantando muitas Antífonas 9 e o Píalmo Venite
exuUemtiffii Coros fem Qlaria Pai ri ^ ou hum Ref-,
ponforio dos Santos , cujqs sáo asReliquias : aca-
bado iftoy tira a Mitra ^ eeftando junto ao tumulo
diz outra Oração, tomn a Mitra ^e fahe a piodf*
são 9 tdiante aCru? com os tqcfaíeiros; fegii^íe o
Clero 9 e Corq cantando qu^ro AiKifooas , logo
Sacerdotes com muitas tochas accezas 9 e quatro
com o tumulo das Relíquias fuftentado nos bom-
bros , ultimamente Q Bifpo com os Miniftros , e
Mcftres das Ceremftpiaç, ? qqem feguc o Padroei-
ro d« Igrçjí , ç PPOYQ jíf^ á.iJCKt* 4q TproplQ %^
00-
on3e^cáo todas ^^i e q^ Biipo preeedlão dr Cras \
Acolythos , Turibnlario ^ e os quatro Sacerdotes
com o feretro das Reliqoias' , e fegoido :dò poTO
daoundo emaUas vozes Kytie ^eJçifanf ^ dá^liiuba
tòha.a toda algrgapela paiite^d^ fóra v cantando
o Garo. com aCDlero is ÀritffotnS' folmditis^ m
Adro y onde fe p6e logo hitm Faldiftorio^ para o
Bifpo > o qrkl V acabado o cfircolo v té aflenta nàU
k com Mitra ^!ê Bago^ tendo^' da^ fKarte direita o
toniulo das ReliqiEdas'; nos ibi[açÒ9^ dosirSaceiçdotM^
é dúm 18 cofta&('para*4i,povta^>^'%mja f ínÁhfiàk
breve Sermáo-ao povo , 'em quê trâtjHÍ da vei^nu
ção que devemos ter i Igreja e* no fim''mahda ler
em voz. alra^donsOecretoado Concilio Tridehti^
nú\ qnè sáa.Jo .«biSelfeáo asiTio0p.^sjji:de;J&^^
mafionr i e da Stl^ú a^f.cshx nsJ^da dieíirm ma^
teria : ifto còíhinia lerhnm^AAièídiago,^ c n!a'*fak
ta dellex|ualqueiiÍQUttt>^*'e lògo^^zoBíípo bnnii
breve Pxapíca ào Foadadorfòi) Padroeiro: di;Igré«
ja, fe o teoiyie efl»(^preí^te^ em qne^llw léinbra
o grandelervíço, qae tem hiw a^Ueos f^jhonrfí
que ha tèr^ jè como a Igre)a Ihehã deacndirfCOíiti
parte do que lhe deopará dote ^ fe elle necellitar t
depois lhe faz as perguntas neceflarias ; e refpon*
dendo elie;^< e o povo j ^quõ filão: promptos para
obedecerem* ièmitndo^ íe fazKpublico- inftnimetito
por Notário , ^para conftar. o dote da Igreja 9 qaainiL
tidade de Miniftros 9 « tudo o mais ^. que deoy oil
promette dar, e eftabelecer o^Futidadorr o quia
fei CQ ^ jidaaoefta a Biípo,iL|MffiQ.> 4ma^ íVK>J»att&a
Dcps pçlo Fuodadof r/r^í^SPÊTOiRP^? mm
fao da Igreja i porea leoaa lM(Siuidaav<ynicaba
da
( 4«8 )
dft a Plratlca di.twieraçãò 9* que £e tieVe ter iosla^
gares fagrados , íe levanta o Bifpo , e fem Mitra ^
oem Bago ^ canta o Goro hama Antífona , c dis
eUe huraa^ Oração : toma a .Mitra^ Uht o Clerigp
comoChnfma ^/fecha-íe. a porta da Igreja^ e o
Bifpo . a nngé com' o óleo íagradò; com deprecaçâo
coaipqtente, fazendo-^lhe trez Cruzes r a que feito,
p6em os Sacerdotes.t>&retro nosJiombroS| abre-íc
a porta , e eQ|tiia.a.prQcifsâa. na Igreja da meíoia
fofftclque veittida Qapella, cantando o Goro duas
Ant&tona9 :» {tftnix>.^« chegio ao Altar mór y àA-
canção o efqmfe das Relíquias no meio da Capei*
}a em lugar ^Iro com luzes por todas as partes , e
o Bifpo iíom Mitra levanta outra -Antífona , que o
Goro pròfegue«^ com xlous Pfálmos fem Glma Pa^
tri-} entorfim diza Oração^ Sobe logo com Mitra
ao Altar , e molhando o poUex no íanto Cbrífmã
unge os. quatro ângulos do íepulcro^ onde fe bio
de fépôltar as Relíquias , fazendo íiuiDa Cruz em
cada iringulo com deprecaçãocompetçntti c forma
quaíi commua de todas as fagfaçôes , que levão un-p
çao , tira a Mitra , e fepuita o caixão das Reli*
quias^ e depois as incenfa, toma logo a Mitra ^.e
na ipSo efquerda a taboa de pedra , que ha de ícT'^
FÍrjde campa do lépulcro ^ e com o poUex da di^
reítà : molhada > do Çhrifma íagrado- lhe. faz hutiia
Qxxm 00 meio. daquella: face > que ha de âcar para
baixo, eimmediata ao caixão das Relíquias ^ com
deprecaçloi e benção.
' Jíl^Jb^À : 'ija<)fficíb'àc iMigiicmincfai! daCofti, Imprcflbt do
( 4<!S> )
CONFERENCIA XL:
TOma logo o Bif po a colher de prata , ( con-
tinuou o Theologo ) e tirando com ella
argamaíTa benta lha pôe nos lados ^ e ta*
pa. com ella o fepulcro , entoando huma
Antífona , que profegue o Coro , e logo outra com
Gloria Patrij tira a Mitra ^e diz huma Oração, e
tomando-a, lhe oíFerecem a colher com argamaíTa
benta , com a qual dá principio á firmeza , e boa
claufura da campa: deixa a colher, e os Pedreiros
acabâo a obra com a meíma argamafla benta : o
que feito , o Bifpo molha o pouex direito no fa-
grado Chrifma , e forma com elle huma Cruz fo-
bre a campa com deprecaçâo competente , e ben-
ção 9 o que feito , os Pedreiros acabão o que faU
ta, ou pôe fobre o fepulcro direita a Ara, que ef«
tá para iíFo fufpenfa , conforme o fitio do fepulcro ;
porque huns Altares o tem no meio , outros na
Earte anterior dá Ara , que o cobre todo , e embe-
ido na fua grofliira , outros na parte pofterior da
mefma forte , alguns na parte anterior da meza ^
que fuftenta a pedra Ara, e outros (que parece fer
o melhor) no mero da dita meza, de forte que lo-
bre a campa defcahça bem ligada a grande Afa ,
com o que íe evitâo as curiofidades dever, e abrir
o fepulcro , e tumulo , ler a authentica , e fur*
tar as Reliquias , como eu vi fazer muitas vezes«
Quando o fepulcro he no meio da meza , o metho-
do mais commum he ter fobre ella a grande Ara
Tom. VIL Rr íuf-
\
( 470 )
fnípenfa em duas, ou quatro peanhas de madeira,
altas y de forte que o J9i(po iem ^ejui^o da Mi-
tra , ou deformidade nas acçòes , poíTa ungir , e
fagrar ofepulcro, collocar o caixão das Relíquias,
e aflentar a campa: o que. feito, osSacerdotes en-^
coftão os hombros á grande Ára , como quem a
íuftenta, os Pedreiros com gatos (inftrumenpo cé*
lebre para levantar os maiores pezos que ba , cm
diftancia de trez palmos, chamado gato cmPortu^
gal) a levantâo, tirão 'as peanhas , aflentâo ape-
dra fobre argamafla benta , e entre tanto canta o
Coro mais duas Ántifonas , que o Pontifical pref-
creve na fagração do Altar , que tem o fepulcra
nefte fitio. Outros põem a grande Ara fobre gran-
des peanhas no fuppedãneo ; mas depois dá ifto
grande trabalho , porque en^re elU , e a meza , on-
ae fepultâo as Reliquias, fica grande diftancia pa-
ra o Bifpo fazer os círculos , e mais acçóes , de
que fe fegue confusão , porque os Sacerdotes pe-
gão , os Pedreiros fuftentão , e o pexo obriga a
^ue fallem todos , não obftante o refpeito que in-
funde a prefença do Biípo , e a Religião , e pie-
dade deftas acções fantiíEmas , cuja formofura , e
harmonia fobeja para convencer, e confundir Athe-
iftas , Hereges , e Gentios. Fui Meftre de Cereino-
nias, vi íagrar muitas Igrejas , e com diverfos Se-
pulcros, o melhor he o que já dííTe com a Ara fuf-
penfa , que fó accreícenta o gafto de hum banco
largo com dous degráos de cada parte para o BiA
po fubir , e fazer no tempo competente as finco
Cruzes com agua benta na Ara. Acabada a obra
do fepulcro, de qualquer forte que elle feja, e ex-
pc-
( 471 )
pedito o Altar, o Bifpo com Mitra benze incenfo
no turibulo , tira a Mitra , levanta hama Ántifo*
na, que proíegue o Coro, toma a Mitra, e incen-
fa o Altar, como naMiíTa, em quanto dura aSoI^
fa , que deve fer pauíada : acabada ella , no meio
do Altar diz huma Oração; e tomando a Mitra , fe
aíTenta no lado da Epiftòla no Faldiftorio virado
para o povo , em quanto os Mimftros limpâo a
grande Ara com toalhas. Ifto feito , levanta-fe , e
com o turibulo faz íinco Cruzes , incenfando fobre
a dita pedra nos lugares, em que poz a agua ben-
ta , como fe vê na eftampa da Conferencia paíFa^
da , pôe logo fegunda vez incenío no turibulo com
benção , e o entrega a hum Sacerdote veftido de
fobrepelliz y ( que não tenha moleftia na cabeça ^
como vertigens , &c. ) o qual defde logo anda (em-^
pre "á roda do Altar todo , fem ceifar incenfando ^
e fó pára quando o Bifpo incenfa , o qual lhe en-
trega logo o turibulo , e elle vai continuando os
círculos, até que fe acaba a fagração do Altar, tra*^
balho que fó o pôde avaliar , quem o experimen-»
tou. Ifto feito , o Bifpo levanta' com Mitra huma
Antifona, que profegue o Coro; e logo tomando
o turibulo , com que faz os contínuos círculos o
Clérigo , com elle faz trez círculos á roda do AU
tar incenfando , entrega o turibulo ao Sacerdo«
te, levanta outra Antifona, que profegue o Coro
com hum Pfalmo fem Gloria Patri , e entre tanto
molha o dedo poUex da mão direita no fanto óleo
dos Cathecumenos , e faz finco Cruzes no Altar
nos mefmos lugares , ecom a mefma difpofição^ com
qM fez as outras com água benta ^ e fe vê na ef#.
Kr ii tam-
( 47^ )
tampa y dizendo em cada htima das Cruzes a de^
precação y e forma das fagraçôes , a fabcr : Satt^
ííi ^ ficetur , eS^ confe i^t cretur lápis ijie in nomine
Pa ^ tris j ir Fi^ IH j & Spiritus iji Sanai , m
honor em Dei , ^ glorio f a Virginis Mari£ , atque om^
nium San£íorum , ad nometi , é^ memoriam SanHi N.
Pax tibi. Ifto feito , e limpo o dedo , põe novo
incenfo bento noturibulo, comqae anda o Sacer-
dote j e com elle faz hum circulo ao Altar iaccor
fandoy em quanto o Coro canta hum Reíponforio,
a que elle dá principio antes de começar o circulo >
no fim do qual entrega o tu ribulo ao Sacerdote pa-
ra os continuar, eíem Mitra , precedendo (como
quaíi íempre ) genuflexão de todos , diz duas Ora-
ções , e levanta huma Antifona j que o Coro pro-
iegue com hum Pfalmo grande , toma logo a Mi-
tra j e em quanto elle fe canta , molha o dedo pol-
lex no fagrado Chrifma , e faz finco Cruzes no Al-
tar , onde fez as outras , dizendo o mefmo , põe
novo incenfo bento no turibulo do Sacerdote , que
faz os círculos, levanta outra Antifona , e em quan-
to o Coro, a canta faz elle hum circulo ao Altar,
começando pela parte efquerda; e acabado elle, e
o Canto, tira a Mitra , e diz outra Oração com
Fleílamus genua : levanta logo outra Antifona , que
proíegue o Coro com hum rfalmo, toma a Mitra ^
e pegando com a mão direita na ambula do fan*
to Chrifma , e com a efquerda na do óleo íanto
dos Cathecumenos, lança ao mefmo tempo partes
iguaes de ambos os fantos óleos no meio do AU
tar , e com a mão direita aberta unge a pedra to--
da pela parte íuperior^ limpa a mão ^ levanta ou»
tra
t 473 ?
ttà Antífona , <jue oCbro profegue com huniPfalf
mo , fem Gloria Patri , como todos , e no fim dcl^
le com Mitra virado para o povo em pé diz em
Latim huma inftrttcçâoy.ijue conjDém o mMivâ das
unções daquella' pecha, xqnefae. paira Deos neUa rér
ceber osnofibs votos ^e facríficios , e convida á
todos j para que peçâp a Di^os iftb mefmo , refponf
de o Coro Jímen : levanta lo^ outra Antífona ^^
que o Coro profegue • com linm Pfalmo ^^ e dous
Refponforios em tom pfiufado',. porque .entre tan^
to tem o Bífpo- o tiiaior , e mais dilatado, trabalho ^
porque em quanto áit a ioftrucção lhe pôe a e(ca<»
da detrás do Altar^ e levantada aAntifona, molha
o dedo pollex. no fantOiCbrifma, ^íbbe pela efcada^
e unge á iprimeira Crut {nntàda» Da^ poTrede da. par^
ce dàreita /em cuja cdoiéç» cftá .atvÀa ardçDda né
gahc6o , fazendo netla/finco Crazea^^' e difcendo t
Sanai ífificetur^ érc9nfe(í^cretur boc temphtm^ irc.í^
o que afeito ^ limpa o dedo^ e tomando o tURtbulo^
incenfa a. Cruz trez vezes ^ xiefce i efcadi jáí£srii
o^tuTÍbulo , e «fpera i^ueL» a, Icvem^para itic^mc
Oiuz 9 onde faz a meÁna unção , e coríficaçâo;, e
cm todas a» mais ^ que são doze-, como -^ vos dâír
fe, movendo^fcjpacajtodas amefma efcàda ^ aconif^
4)inHando o^ Bifpo òs.Mttiiftro&i^ AccQ^^lBâs tsom
tochas , Saoerdvte coÃOyrííma^ sqtybs.ioom mi»-
4o de pko, ^ftda ^ eAopas^ ou algodiò^^pnaciiibpár
Os iantos 4>lèos ,. Meu/es das Coreaumias /^ejiòi^
pellSes do V(M|tifical , ^eferuia oomTéèa aocsza ^ ob
èSÁttz^ do Bago^ e ieiK Anccdnfpò^yré Ak^Gtoz^
*<^ie<indifpanri(f dn^fM)éí)vaá diantbdft
«09 cifouios diaN^fltti^-^ito fioJDOíiOti^xodis; as 4^916-
•-Tom. VII. Rr iii dcs
de$ :da l^rejff:, Cttja ultima Cruz cftá detrás dò AI*
tar, como a primeira que fe ungio , vera o Biípo
para o meio do Altar ^ e o incenfa levantando ha»
ma Andfona^ a.quai acabada^ pelo Coro, diz com
'Mitra ^ que. ainda 'Cohíerva-, huma depcecaçâo y e
logo benze com efpeciat bepção oJncenfo, que fe
ha de queimar fobre o Altar , para o que tira a Mi-
tra , e a toma depois de lhe lançar agua benta : eP
te incenfo ha dé fer do mais puro de hgryma ^ c
hão de fer vinte e. finco .grãos limpos , e foltos ;
porque acabada a bènçSo , lO Bifpo-iòrma com os
ditos grãos dé incenfo finco Cruzes iobre a pedra
do Altar , nos mefmos lugares , e da melma forte
que formoti as Cruzes com agua benta, oleo dos
Cathecumenos , e Griímá^ fazendo cada Cruz coni
finco grãos de^iocénfo , bum no meio., e quatro
nosiados; logo toma o rolo* de cera bem delga*
do , e cortado em bocadinhos iguaes ao compri-
mento das Cruzes feitas dos grãos de incenfo ^
fómm fihco X>uzes de rolo , as quaespôe fobre
as Cruzes de jncenfo , e com outro rolo accezo ,
acceride as quatro pontas das Cruzes de rolo , .pa-
ra fazerem arder o incenfo : o que tudo feito , em
quanto ardem tira a Mitra, e pofto de joelhos di-
ante do Altai^ áÀzAlleluèa , Fetd Smãe SfiritMS ,
4yc^ cantando; e fe afagração he em tempo depoia
da Septuagefima , diz fó o Verfo itmAlleluia ; e taiif-
to que o acaba de cantar o Coro , íe levanta o Bií-
})o , e começa outro com fegunda Aotifona , a que
è ifegue'X>ração cóm Fleãamus genua\ entre tanto
fçiiaçabao de queimar os rolos , e grãos de incet^
é}y eldgo oBifpo diz outra Oração, como apre«-
>,
<47f)
cedente na genuflexão!' ^ c^ogo ham bem éxtenía
Prefacio com muitas bênçãos j a que refponde o
Coro Amen ^ e o Bifpo levanta huma Ántifona ^
que o Coro profegue com Pfalmo extenfo y e en-
tretanto o Bifpo com Mitra molha o poUex no
Crifnía fagrado ^ e unge a face da pedra do AU
far, que refpeita a porta da Igreja ^ fcm dizer cou*
fa alguma ao fazer da Cruz: acabado o canto, ti-
ra a Mitra j e diz huma grande Oração : entretan«
to rafpãp os Sacerdotes com as efpatulas y ou co^
Iheres de páo o Altar , e lançâo as cinzas dos ro^
los j e incenfo no fumitorio : acabada a Oração y o
Bifpo molha o pollex no fanto Crifma , e forma
quatro Cruzes com elle nos quatro ângulos do Al-
tar^ as quaes Cruzes hão de abraçar apedra delle^
ns jimtas^ e a bafe, ou mcza, que fuftenta a An
total ligada') dizendo em cada Cruz In nomne Pof
trisy ^c. com trez bênçãos: tira logo a Mitra, e
diz no meio do Altar huma Oração íem Fleãamus
genua y^\ogo tomando a Mitra, fe fenta noFaldií^
tório,, esfrega, as mãos com .miolo de pão , e de-
pois as lava, eftando todo o Clero, epovo dejoe»
lhos em quanto faz ifto , excepto dous Sacerdotes^
que esfregão ao mefmo tempo a pedra do Altar
com toalhas. groflas, e o limpão todo dos óleos , e
cinzas , as quaes toalhas fe queimão logo na Sa«
Cfiftia, e a cinza delias fe lança no fumitorio: aca^
bado o lavatório das mãos, dous Subdiaconos fem
Dalmaticas , ou dous Acolythos na falta delles^
com iobrepeUi;^es., de joelhos prefentão ao B(tfpo
todos os valos ^ e toalhas, que hÍo de fenri^ na
%eja :^ i£kô he , jÇalices ., . Fyxides j Ornamentas
(470
dts todflt M cores j ie já nâo sCtf intigos ^ c be»
tos por tlie ) ou por t)iiem tem anthorídade parj
iflTo ; porque fendo affim , acabada a ablu^áo das
mãos 9 fe levanta oBifpo, e tirada a Mitra, íe in«
clína á Cruz^ que já eftá no Altar entre cafttçaes ^
éelle com toalhas, tudo preparado pelos Sacriftas,
c Acoiythos, começa a Antífona Oínms terra ado^
ret te , é^ pfa/lat ttbi y istc. e em quanto o Coro
« canta , elle inctnfa o Altar ,^ fazendo nelle coib o
turibulp huma Crus; acabada a Antífona, a torna
« priífcipiar ^ e entretahto , fórma coa o tufibu\o
oqtra Ct-uz ) e acabada dia , a começa terceira
vez, e faz terceira Cruz com oturibulo em qaan*
to ella fe canta: oque feiro, diz duas Oxzij6tSj e
«depois Dominns vohifcum <, e Bene^camms Dimifto.^
1 <^ue refpohde oCoro i>^o^r^?fitfr.,.e.$âo as uUiv
nas palavras da HlgraiçSo da Igrejiu Porém íe os
vafos fágrados , toalhas do Altar , e ornamentos
não eftãò bentos , como fó colhi ma Aicceder nas
Igrejas novas, o Bitpo, depois de purificar, e k^
var as mSos, benze «m pé fetii Mitra tudo, ^o que
JbepreíentSo os Subdiacohos , feA^ythos,e logo
ps oacriftas p6em fobre o Altar o Crifoial ^ ( iSô
he , tx>alha de linho fino encerada ) e logo as ou-
'trás, e o Bífpo em ipé levanta • Antífona Ciram^
iate Levita áltwe Domíni ^ érr* eiogo outra cona
4Kim BLefponforro ^ e o PfalmO fSi^ vom Gloria P^
tri ) no fim do qual o Bilpo fiiz o qoe já diffelnos
até o Benedkãmus Domino \ e tanto que o Coto rtG
fronde Deo igraiim ^ totoa a Mjtm ^ \ iVaí pahi a Sa-
criília , titã o Piuvífil , calça as^fandaNis ^> e tudo
« «ais 5 e vem ò(Mti os ^Miniftirès. cohrfietepVBS ce^
le-
{ 477 )
lebrar Miffa Pontifical. Entre tanto feorna algrèd
ja com muitas luzes , e fe repicáo os finos ^ mas
não fe barre o pavimento , nem fe tirão y ou apa**-
gão as letras dos dons Abcdarios, fenSo depois de
acabada a Mifia Pontifical, que então fe lança tn-
ijo no fnmitorio. No fim da MiflTa ha Sermão da
dedicação da Igreja , a que afijfte o Bifpo , e to»
dos ; e fe elle quer fagrar os mais Altares , em ca-
da hum ha de fazer o mefmo, que temos dito do
Altar mór, e em cada hum ha de fepultar hum cai*;-
xãozinho de Reliquias ; porém os circulos para as
fagraçôes das Cruzes , de toda a Igreja y hão de
começar detrás do Altar mór. Eftou certoporém,
que fe o Bifpo fagrar todos os Altares j por mais
perito que elle feja nos ritos , e expedito nas ac^
çôes , como também os Muficos no canto , hiú
de gaftar vinte e quatro horas na função, ifto he^
hão de começar pela meia noite , e hão de acabar
na meia noite feguinte : exemplo temos bem per^
to na fagração dS Sacrofanta Bafilica de NofiTa So^
nhora , e Santo António de Mafra , a qual come-
çou de noite o Patriarca D. Thomaz de Almei*
da, então fó Patriarca , íagrou fó o Altar mór,
porque os outros fagrárão no mefmo tempo ou-
tros Bifpos , o que não obftante , foi a confagra*
ção da Mifia Pontifical na hora , em que fe havia
tocar ás Ave Marias, e no tempo do Sermão dor»
mião no Coro mais de trezentos Sacerdotes , fati-
gados , porque todos eftavão em jejum : nem me
alleguem com a brevidade, nunca vifta , com que
04nefmo Patriarca , já Cardeal , fagrou a Sacró^r
fanta Bafilica Patriarcal j e menos digão^ que eftar
C 478 )
»Ío então os Meftres das Cerémonias mais ezpe*
;ditos , ( porque eu os conheci , e me conhecerão
todos, efempre forâo peritíífimos , e únicos , e tal
ivez mais expeditos em Mafra , por terem menos
annos ) porque toda eíTa brevidade y de que pa&
ináráo aquelles, que nunca aprenderão ritos , con-
fiftio na difpenía de muitos , que erão impoífiveis,
c que a Igreja dirpenfa, quando o são , como erão
os circulos externos todos , que fó voando, e pe-^
xietrando as paredçs do Palácio , e vizinhos , fe
podião fazer , e outros muitos j todos dilatados.
Já tendes noticia da função Pontifical mais dilata-
da y e laborioía ,. agora a tereis de outra mais ra*
ra j e que o povo ainda menos goza , que he a
Coroação de hum Rei , e Rainha. Ávifa o Rei
todos os Bifpos dos feus Dominios , para que ve-
phão aiEftir*lhe á Coroação , que ha de fer em hum
Domingo 9 e elle na femana antecedente jejua na
quarta feira , íèxta , e fabbado , e fe prepara para
a commiinbão do dia feguinte depois de Coroado:
arma-fe a Igreja o melhor que he pofllveli na Ca-
jpella mór tudo o neceflario para MiíTa Pontifical ,
jTobre o Altar fe põem a efpada , Coroa , e Scep*
tro do Rei , em íegunda credencia a Ambula ^ e
jconcha do oleo dos Cathecumenos ^ feda para U*
gar , e limpar os Santos olcos^ e faixa do meímo
para eífe fim , throno para o Rei cm parte compe-
tente ^ e que não exceda na altura o ultimo degráo
ào Altar j no Cruzeiro hum pavilhão rico para o
:Rei mudar os veftidos ; e íe a Rainha ha de fer
juntamente Coroada , no throno do Rei cadeira
.para ella ^ e no Cruzeiro outro pavilhão para fe
vef-
( 479 )
Tcftir: prepan-fe além do throno Pontifica}, Fal-.
diftorio para oBifpo, que faz a fnnção, epara ca»,
da Bifpo aíHfiente o feu. No Domingo pela manha
íe ajimcão quafi todos os Bifpos na Igreja , o que
ha de coroar vefte tudo o neceffario para celebrar
MiíTa, e os outros fobre os Roquetes fò Eftolas,
e Plnviaes da côr da fefta , e com Mitras fe aíTen-
tão todos junto ao Áltar , o Celebrante no meio
com as coftas para elle , e os mais em circulo , os
Miniftros nos degráos do Altar j e os familiares
nos do throno : entretanto vem o Rei acompanha-
do de alguns Bifpos , e Prelados em habito ordi-
nário, e com hum veftido militar, que facilmente
fedifpa, onde for neceíTario para as unções : tan-
to que chega perto do Presbyterio , os dous Bif-
pos paramentados, que eftâo mais próximos íe le^
vantâo , e com as Mitras na cabeça lhe fazem itiM
cHnação , a que elle correfponde ; e mettendo-o na
meio, o prefentâo ao Celebrante fentado, aquém
o Rei faz huma inclinação profunda : entretanto fe
levantão os outros Bifpos paramentados, e os mie
vierâo com o Rei tomâo aíTentos no plano da Ca*
Êella da parte do Euangelho , e os Grandes da
Leino, que o feguírâo, da parte da Epiftola, os
mais no Cruzeiro com a meima ordem. Feita a in-
clinaçSo ao Celebrante , fica o Rei em pé no mei0
dos dous Bifpos ^ e o mais digno delles , que fae
o da mão direita , diz ao Celebrante na lingua La«
tina: Reverendiffima Padre ^ a Santa Mai Igreja Ca^,
tholica vos pede y que eleveis ejie exceUente Soldado â
dignidade Real^ ifta diz Xem Mitra ^ e q Cel^^ran-
te íentado com ella y refponde perguntando : Sa-
beis
( 48o )
Sabeis que elle be digno ^ e útil para ejla dignidade}
ao que refponde o Bilpo : Sabemos , e cremos , que
elle be digno , e útil para a Igreja de Deos y e gover--
no dejle Reino y ao que o Celebrante refpoade : Deo
gratias. Toma o Bifpo a Micra | e retirando-fe to-
dos trez hum pouco para trás , fe fentão j fican-
do o Rei no meio dos dous Bifpos ^ fentado em
cadeira raza preciofa, elles nos Faldiftorios , e to-
dos virados para o Celebrante ^ o qual lhe lé eai
voz alta a admoeftaçãò ^ e inftrucçâo para o gover-
no do Reino , que traz o Pontifical ; e acabada e\-
la , fe levanta o Rei 9 e pofto de joelhos junto ao
Celebrante com as mãos no livro dos Euangelhos y
que elle tem fobre o Gremial , faz o juramento de
bem governar o feu povo, adminiftrarjuftiça, &c.
na lingua Latina , como o tem o Pontifical , e no
fim beija a mão do Celebrante , o qual tira logo
a Mitra , o que também fazem os outros j e tcti^
do o Rei de joelhos aos feus pés , diz em voz alta
fobre elle huma Oração , a qual também os outros
Bifpos dizem em voz fubmiíTa y míniftrando a cada
lium hum Capellão o Pontifical, e omefmo fazem
até o fim da Coroação : quando na Oração difpôe
a Rubrica benção, todos os Bifpos com o Cele-
brante a lanção fobre o Rei ; e acabado ifto , to-
mão todos as Mitras , e poftos de joelhos, le re-
clinão fobre os Faldiílorios , virados para o Al-
tan
LISBOA, NaOfficina de Miguel Mancfcal daCofta, Impreífor do
SamoOfficio. Anão 17^4. C^mt^iaiaiikenfaímcej^ariãít
(40
índice
DO SÉTIMO TOMO DA ACADEMIA
dos Humildes , e Ignorante^.
...'■■ ' .■ -•.■'..■ •■ • ;..
ADVERTÊNCIA NECESSÁRIA.
• *• • • ■ . .
AS obras compoftas.por Alfabeto , conjo Mo-
rerirj e outras ^.não tem , nem devem ter In-^i
dice, porque ellas o são , e ocpntrarjp' fe-
ria índice de índice, e obrigar os.curioíbs
a comprar dous volumes quaíi iguaes ^ e hum total-^
mente fuperliuo» Na Conferencia IV. e pag.37. co-
meça o Âlfa^efo da Arte Militar^ ç Fortificação ,
e acaba na Qppferencia X* pag* ipi9» No principio
delle achará ,o Leitor todas as noticias á^ Fortifir
cação antiga, depois em Abçedario a moderna , e
commua , e Arte Militar , e no fim a FortilScaçáo
deThomaz Koulikan. Naí Conferencia X. pag. 113.
começa o Alfabeto da tracíucçáo , recopilação , e ad-
ditamentbS <le A/íTrm y que contém alçtra^^í, e i^íf-
te achará o Leitor todos os nomes , e fobrenodhes
de Cidades , Villas , Aldeias , rios, montes , e vários
{Uuftres, ceremonias , &ç. qi\e pertencem a çfta le-
tra, até a Conibrencia XXXV. pag. 418, e tadq o
mais que fe não contém neftes dousAlfabetos , que
vão no corpo da obra, hum completo, e outrp co-
çK^a^o , fe achará ,neáe índice, no qual o Ci:figQÍ-
fica Conferencia > e o P. pagina.
' 1. •
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('48» )
ív"' •'■-«fc,^ ■rA"T "^^t'" T
ABolimiqiíe;t^rincípec!eMarrócog. C. t. p. ii.
D. Affonfp Sábio ^ Rei dè HêrplAhà. C i.
p. I. até IO,., ,,, :
D. AíFonío de Gufmâo. Sua conftancia. C.i.p.6.
D. Affbnfó.*dé'Lacerda. Rei de Murcia. G. i.p.7.
D. Affbnfo j undécimo Rei de Hefpanha. Sua vida.
C. I. p. 8, até C 2. p. 4.
Santo AgoftinhO) invenção do feii corpb em Pavia.
'C.3».p.45'5'. ■
Alcântara cotaquiftada. Q^^^. p.424;
Akravala , tributo. C. i«p. 3.
Andronico Emperador. Chama os Catalães para o
defenderem dos Turcos. C; 2. p.is»
Apologia de toda a obra. C. i o.- p; 9. até 12.
Armada de Henrique Noris em LisboarCjS. p. 45-0.
Atar. Senhor de Málaga. C. i. p»3;
■■ B
.1 <
BAncfuéte rnemMàvel dôs Grandes de Hèfpabhâ.
Q 3. p. 25-. eió.
Barcelona tonqniftada. Q 3<í. p. 413.
Baíilicas erigidas iib reinado do Setítiõt Bcéi D&m
Joâô V* Q 37.p. 441% e feguintesv'
Batalha de Àlmáttça'. Cé^7.fK433. e4^4« ' . ' ^
Batalha de Raitviks. C.3«.p. 45- 3.^4^4.
IX Beltrão Claquim, Ge^ral Francez, t^.Uj^.ã^.
e 15. • '•* '^''
Birpados, e Dignidades, que fe erigirão no tempo
do Senhor Rei D. Pedro IL C,36. p.426.
Cam*
c
CAmpo Maior cercado» G37-p.43^«€43jr. T
Gafidía conquiftácMu^ Q 96Í p; 4x8;. y H^^
Carlos II. Rei de Hefpanbai^Stia snórte^^ e.tofta*
mento. C. 35'.p. 420.
Carlos III. coroado Relede Hefpanha em Viennar
C. 36. p. 421. Sua entrada em Portugal y ibi.
Oarlôs 11/ Rfsri de Ihglaserra« Sua morte. C. ^'ó. p.
429, ■ '1 : -. . ' . ;; V M
C^fa de Lara. C. i.p. 1. * >" i
Catalogo dos Reis de Hefpanha. Cr i.p.^.e lo, e
C. 3. p. 34. até 36. *
D. Catharina , Rainha de Inglaterra. Sua morte.
C. 36. p. 426. [
Cifneiros, Cardeal. Seu confelho, e governo. C. 3.
p.32. e33. ^
Condes 9 como fe infiituiâo em Hefpanha. C. 2. p.
Coiide de Sandomil. Seu valor, e dito' célebre* C.
3$-. p. 418. 0419. * '
Conde de Galowai j General de Inglaterra hefte Rei-
no. C. 36. p.422.
Conde das Galveaa. Sua$ acçóes. C.3tf.{:(.422.até
C.37. p.438.
Conquiílas dos Catalães em Grécia. C.2.p. 16.
Coroação dos Reis. Como fe faz. C. 40. p. 478.
até o fim.
Conradino Príncipe , degollado; C. i. p^ 3.
Conílantinopla^rdida*^ C. 3«p<28.
Ss ii CkC-
,t
DEfcubrimento d'i nora Hefptnha. C. j. p.31.
Ouque de Saboyá.* Ocftiíiada Briocipe de&es
I « "
• ■ E •
EUgeoio j Principe<jfeQcraI do Império» Soas ri-
tlorias. C. 38,p,45r4. e 4jr5.
Exercito do Senhor Rei D.João V. .contra Hefpa-
nha. C. 38*p*4yQ*
Expulsão dos j udeos de Hefpanha. C 3. p. 3 1.
F
f \
D Fernando de Lacerda. C. i. p. 4. até 8.
.Dom Fernando Infante. Soa lealdade. C. j.
p. 27. Accções, pag. 28.
D. Fernando y Rei Gatholico 4e Hefpanha toda.
O primeiro, que a dominou aifim depois de Dom
Rodrig09.t)ltin}oReidosGodos.C.3.p«28.até 32.
Filippe, Arquiduque de Auftria, pai de Carlos V.
C. 3. p. 32./Saa jnorte, p. 33. .
G
GIbaltar (Itiada. C»3é,p.43o.
Gginíalo Fernandes de. Córdova , GeneraL
Suas acções.. C, 3%p.;32^ ;,i j
Gregos» Sua aleivofia. C. 2. p. ijr.
Guerra da grande aliança. C. 36. p.421. até C. 37#
p^438. D.Hea-
{4S5)
H
D Henrique, Rei de Caftella. C. 2. p. 17, Sua
acclamaçáo, p. 20. até 22.
D. Henrique IIL Rei de. Caftella. Sua vida. C. 3.
p. 23. até 27.
D. Henrique IV. Rei de Caftella. C. 3.p. z8.c 29.
Hudiel , Rei de Murcia. C. i. p. 2.
DJayme , Rei de Aragão. C. i. p. 6.
.Igrejas. Sua fagraçâo, e ritos delia. C. 38.
p. 456. C. 39. toda, e C. 40. até p. 438.
D. Joanna , Princeza de Hefpanha , mâi de Carlos
V. C. 3. p. 32.
D. João, Conde de Guipofcoa. Sua morte. C. i.
p. II.
D. João I. Rei de Caftella. Sua vida. C. 2. p. 22.
até 24.
D. João II. Rei de Caftella. Sua vida. C. 3. p. 27.
até 28.
D.João V. Seu nafcimcnto. C. 36. p. 427. Sua ac-
clamação, ibi p. 430. Suas vi6lorias , ibi p. 432.
e C. 37* p. 438. até 441. Sua doença , e morte.
C. 38. p. 450. c 45 1. Sua magnificência nos Tem-
plos. C. 37. p. 441. até C. 38. p. 446. Seus fi-
lhos. C. 38.p.45'i. Títulos que deo. C. 38.p.4f3t
S.João Nepomuceno canonizado. C. 38. p. 45*5'.
D. Joíé I. noíTo Senhor. Seu nafcimento felícifiimo.
G. 36. p. 430. Seu augufto derpoforio. C 3'.
p. 448, e 449.
DaCa-
-'.• t
( 48<5 )
D. Ifabel , e D. Fernando , Reis Catholícos de Caf-
tella, Aragão, &c. C. 3. p. 28. até 32.
D. Ifâbel , Princeza jurada deftes Reinos. C i^.
p. 419. Sua morte. C. 35'. p. 420.
Jubileç de trez mil annos emBruflelas. C^^ó.p.j^z^
L
LEâo , Rei' de Arménia y recebido em Hefpanha.
C. 2. p. 23.
D. Leonor Nunes de Gufmão. Sua morte , c def-
graça. C. 2. p. 17.
Luiz XIV. Rei de França. Sua morte. C. 38. p. 43:4.
M
D Maria Sofia , Rainha de Portugal. Seu defpo-
. forio. C. 35r. p. 420.
Marquez das Minas. Suas vidlorias. C. 36. p. 424.
e 425-.
Miranda reftaurada. C. 37. p. 435:.
Mouros expulfos de Hefpanha. C. 37. p. 43 5^*
N
N
Uno de Lara degollado. C. i. p. 3.
O
ORão conquiftado. C. 3. p* 32.
Orâo defendido por Pedro Jaques de Maga-
lhães. C. 35'. p. 4x8.
Or-
(487)
Ordem daMonteza. Sua fundação^ e infignias. C.
2. p. 14. e ijT.
O P. Otcoinano. Sua vida. C. 36. p. 429.
P
PAz em 17 ly. C. 374 p. 438. até 4^0.
D. Pedro, Rei de Aragão. C. 2. p. xy.
D. Pedro, Rei de Caftella. Sua vida. C. 2. p. x^.
até 19.
D.Pedro II. Rei de Portugal. Sua vida. C. 35'. p*
418. Sua morte. C. 36. p. 426. Seus filhos, ibi.
R
R
Io de Janeiro faqneado. C. 37. p. 43?.
Roberto de Rocafort, General. C. 2. p. 16,
s
SAgração das Igrejas. C. 38. p. 456. C. 39* to-
da, e C. 40. até p. 438.
Salado. Batalha memorável. Q i. p. 12. até Q 2.
p. 13.
D. Sancho de Lacerda. C. i. p. 4. até 8.
D. Sancho , filho de D. Affonfo. C. i, p. 4. até 6.
Amaldiçoado por feu pai. C. i. p. 4.
D. Sancho Infante , Arcebifpo de Toledo. C. i.
p. 2. Sua morte defgraçada, p. 3.
Ti.
(488)
T
Títulos , que deo o Senhor Rei Dom Pedro.^
C. 36. pag. 427.
Titulos, que deo o Senhor Rei D. João V. C. 38.
p. 4y3*
V
VIenna de Auftria íltiada. C. ^6. p. 42^.
D. Violante, Rainha. Q i. p. 4.
FIM DO SÉTIMO TOMO.
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